quarta-feira, 14 de julho de 2021

Série de mensagens sobre a Mulher Samaritana. Biografia

 



 Por Jânio Santos de Oliveira

 Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra
Pastor Presidente: Eliseu Cadena


Contatos 0+operadora 21 36527277 ou 21 xx 990647385 (claro)

Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!


Resultado de imagem para a mulher samaritana

1 Quando, pois, o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos que João 

2  (se bem que Jesus mesmo não batizava, e sim os seus discípulos),

 3  deixou a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia.

 4  E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria.

 5  Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José. 

6  Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. 

7  Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. 

8  Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. 

9  Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?

10  Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. 

11  Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? 

12  És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado? 

13  Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; 

14  aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. 

15  Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la. 

16  Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá; 

17  ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido; 

18  porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade. 

19  Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta.

20  Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. 

21  Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. 

22  Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. 

23  Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores.

 24  Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. 

25  Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas. 

26  Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo. 

27  Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela?

 28  Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: 

29  Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?

 30  Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele (Jo 4.1-30)



A partir de agora estaremos apresentando aos irmãos internautas uma série de mensagens sobre "a Mulher Samaritana. 



Durante todo esse período estaremos apresentando a  seguinte sequência:



  1. A biografia da mulher samaritana;
  2. Quebrando as barreiras e dificuldades;
  3. Dá-me de beber;
  4. Jesus a fonte da água viva;
  5. Se conheceras o dom de Deus;
  6. Jesus repudia a relação fora do casamento;
  7. A onisciência de Deus;
  8.  Adorando a Deus em espírito e em verdade;
  9. Deixando o cântaro para ser missionária;
  10. Jesus o sétimo marido da Mulher samaritana;
  11. A salvação que vem dos Judeus;
  12. Por último:" O lugar certo da adoração".




Apesar de anônima, ela desempenhou um papel importante nas área das missões transculturais; além da sua conversão, ela nos deixou um legado através das suas relutâncias em discriminar aquele que ela a princípio considerava apenas mais um dos tantos homens que a vitimaram oportunisticamente.

Pelo outro lado, o desempenho do Senhor Jesus  no sentido de conduzir aquele diálogo  por um longo período até convencê-la do seu estado de pecado nos mostra que o Mestre por excelência (como homem) sabia como lidar com as pessoas difíceis como era o caso seta mulher.



Durante esta série de conferências estaremos nos debruçando sobre 10 temas diferentes referentes a este assunto; espero que todos os irmãos que acessarem ao estudo possam ser edificados para a glória do nome do Senhor!



Nesta primeira matéria estaremos falando sobre a sua biografia. Apesar de ser ela anônima, cujos dados pessoais não nos seja fornecidos, procuraremos na medida do possível( mesmo sem inventar) fornecer aos irmãos algumas informações relativas ao seu povo; região; circunstâncias;

a o seu encontro com o Mestre.

 A mulher desconhecida.


- A Bíblia não registra o nome nem a genealogia da mulher samaritana. Diz, apenas, que ela era natural de Samaria, capital do antigo Reino do Norte.
- Tratava-se de uma mulher humilde, pois ela mesma cuidava dos seus afazeres domésticos, não tendo, certamente, quem os fizesse. Era, pois, uma mulher laboriosa. seu nome não aparece; não importa aqui descobrir seu nome, pois o mais importante para Deus são: os atos de fé na graça do Senhor.
- Pela vaidade do homem ele importa que seu nome seja aparecido, e isto nos vários lugares de comunicação.

O encontro de Jesus com a mulher samaritana poderia ser descrito como “a vitória do evangelho sobre os preconceitos sócio-culturais”. Os judeus e samaritanos não se entendiam desde os tempos de Oséias, o último rei de Israel.

Tudo começou quando Oséias conspirou contra Salmanasar, rei da Assíria. Samaria, a capital de Israel, foi sitiada pelas tropas assírias por três anos e, posteriormente, seus moradores foram transportados para a Assíria (2 Rs 17.3-6). Isto aconteceu em 722 a.C. Somente os pobres puderam ficar em Israel (cf. Jr 39.10). Logo, vieram também estrangeiros e se estabeleceram na região devastada.

Diz o relato bíblico: “O rei da Assíria trouxe gente de Babilônia, de Cuta, de Hamate e de Serfavaim, e a fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dos filhos de Israel; tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas cidades” (2 Rs 17.24). Da mescla com a população que havia ficado, surgiu uma nova raça denominada de samaritanos (nome derivado de Samaria, a metrópole fundada por Onri, pai de Acabe, por volta de 880 a.C.).

No princípio, quando os estrangeiros passaram a habitar em Samaria, eles não temeram ao Senhor; pelo que o Senhor mandou leões invadirem suas terras, os quais mataram a alguns do povo. Com razão atribuíram esta praga à ira de Deus. Então, rogaram ao rei da Assíria que enviasse um sacerdote israelita para lhes ensinar “como servir o Deus da terra”.

E assim aconteceu que um judaísmo adulterado foi enxertado ao culto pagão. Quando uma parte dos judeus voltou à terra de seus pais (principalmente, mas não exclusivamente, parte dos que haviam sido deportados para a Babilônia em 586 a.C.), construiu-se um altar para o holocausto e pôs-se os fundamentos do templo, samaritanos zelosos e seus aliados interromperam as obras (Ed 3 e 4). Assim fizeram porque negaram a eles a permissão de cooperar na obra de reconstrução.

Sua petição foi: “Deixa-nos edificar convosco, porque, como vós, buscaremos a vosso Deus, como também já lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos fez subir para aqui”. A resposta que receberam foi a seguinte: “Nada tendes conosco na edificação da casa do nosso Deus”. Ao receberem esta dura resposta os samaritanos passaram a odiar os judeus. Logo começaram a construir seu próprio templo no monte Gerizim. Porém, João Hircano, um dos reis macabeus, destruiu este templo em 128 a.C. Os samaritanos, não obstante, continuaram adorando em cima da montanha, onde haviam erigido o templo sagrado.

A aversão dos judeus para com os samaritanos pode ser vista ainda em Jo 8.48 e no livro apócrifo de Eclesiástico 50.25,26.1 E a mesma atitude por parte dos samaritanos em Lc 9.51-53.

1. O historiador judeu Flávio Josefo disse que, por volta do ano 19 d.C., um grupo de samaritanos entrou no templo de Jerusalém e espalhou ossos humanos sobre o altar, profanando o santuário e acirrando contra si o ódio judaico. Este ato causou revolta e indignação por parte de todos os judeus das sinagogas de Israel, que passaram a encerrar suas orações diárias lançando uma maldição sobre os samaritanos. Cf. A Missão da Igreja, (Missão Editora, Belo Horizonte,1994), pp. 65,6.

Dois fatores principais ocasionaram o encontro de Jesus com a samaritana. O primeiro foi a desconfiança por parte dos fariseus e a conseqüente “tempestade” que começava a se armar (Jo 4.1). Os fariseus viam surgir diante de seus olhos outro profeta como João Batista. É certo que a verdadeira preocupação dos fariseus não era com o batismo de um ou do outro, mas eram as multidões que Jesus arrastava que começava a incomodá-los. A fim de evitar um confronto antes do tempo, o Mestre decidiu deixar a Judéia e partir para a Galiléia (v3).

O segundo fator que ocasionou o encontro está no verso 4: “E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria”. Por que era necessário que Jesus passasse por Samaria? Seria por causa das chuvas que transbordavam o rio Jordão, dificultando o caminho costumeiramente seguido pelos judeus que queriam ir até a Galiléia, como sugerem alguns? Acredito que não. Será que o Mestre apenas queria cortar caminho por Samaria para chegar na Galiléia? Muito menos, visto que não era normal um judeu passar por Samaria, seja qual fosse a circunstância.


Os samaritanos representavam uma ofensa tão grande que eles nem queriam por os pés na Samaria. Embora a rota mais curta atravessasse essa província, os judeus nunca usavam esse caminho. Eles tinham a própria trilha, que ia ao norte da Judéia, a leste do Jordão, entrando na Galiléia. Jesus bem poderia ter seguido por essa rota, muito usada, que unia a Judéia à Galiléia.

A questão era: Jesus necessitava ir por aquele caminho e chegar numa

cidade samaritana de nome Sicar porque “precisava atender a um compromisso divino junto ao poço de Jacó”.V.3
Não há unanimidade entre os estudiosos quanto ao horário da chegada de nosso Senhor ao poço (v6). João estaria usando o horário judaico (meio dia) ou o horário romano (seis da tarde)? Este detalhe não é tão importante. Basta saber que Jesus chegou na hora certa. Nem antes; nem depois. “Ele estava no local e no tempo indicados por Deus, determinado a fazer a vontade do Pai. Ele estava lá para buscar e salvar uma única, triste e desventurada mulher”.4



“Nisto veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber” (Jo 4.7).
“Então lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou mulher samaritana...” (Jo 4.9).
Com uma simples petição (dá-me de beber), o nosso Senhor declara que a separação entre os povos em geral, e judeus e samaritanos em particular, estava, de certa forma, com os dias contados. A parede divisória desaparece onde o evangelho se faz presente (cf. Gl 3.28; Ef 2.14).

No simples fato de viajar por Samaria e pedir água à uma samaritana, Jesus estava derrubando barreiras centenárias de preconceito racial. “A 
misericórdia de nosso Senhor transpôs as barreiras do ódio nacionalista, como se vê não somente aqui, João 4, mas também em Lc 9.54,55; 17.11-19; e na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.25-37)”.5 É interessante observarmos que o encontro de Jesus com a mulher samaritana foi precedido pela ida dos discípulos à cidade de Sicar para comprar alimentos (v8). Mandar os discípulos comprar alimentos foi um santo pretexto do Mestre. Nem tanto para ficar simplesmente sozinho e conversar sossegado com a mulher. Muito menos porque precisasse de comida naquela hora (veja vv31-34). É que as barreiras deveriam ser destruídas em seus discípulos também (cf. Lc 9.51-56).

Embora estivesse verdadeiramente cansado e necessitasse de água (vv6,7), Aquele que pedia tinha muito mais a oferecer. Pedir água àquela mulher fazia parte de uma estratégia evangelística, se é que podemos dizer assim. “À medida que o Grande Evangelista procura ganhá-la, Ele orienta sabiamente a conversa, levando-a de um simples comentário sobre beber água à revelação de que Ele era o Messias”.6 Aquele que pedia água fria estava oferecendo água viva, a saber, a Si mesmo.

Conhecendo a tradição discriminatória, a mulher ficou perplexa com o pedido de Jesus. Nos tempos do Novo Testamento havia uma desigualdade muito grande entre homem e mulher. Nos tempos bíblicos (e em muitos países orientais de hoje) os homens não conversavam com mulheres em público, mesmo sendo suas esposas. Se entre um judeu e um samaritano existiam preconceitos profundos, imagine-se entre um judeu e uma samaritana, e uma samaritana de vida imoral! Independente do modo em que vivia uma samaritana, os judeus sempre consideravam-nas em estado de perpétua contaminação. Um judeu preferia morrer de sede a tomar água da mão de um samaritano, muito menos de uma mulher samaritana, sobretudo pecadora. Haja vista a surpresa dos discípulos ao virem Jesus falando com a mulher (v27).

A mulher estava surpresa com o fato de Jesus se dirigir a ela, pedindo água de seu cântaro “impuro”. Mas a impureza não estava no cântaro, e sim, na vida dela. E era aquela vida que o Senhor Jesus queria purificar.
É provável que na mente da samaritana, moldada por uma sociedade culturalmente preconceituosa, passasse também o seguinte pensamento: “Tu és judeu, estás necessitado de água e não podes valer-te. Eu sou mulher samaritana, sou auto-suficiente e, portanto, posso ajudar-te”. Jesus, pois, mostrou que a realidade era completamente outra. A mulher é quem precisava de água de verdade e Ele era a única fonte que podia sacia-la (v10).

Ainda que a mulher samaritana não entendesse à princípio que a verdadeira água viva estava fora e não no fundo do poço, os progressos começavam a aparecer. Ela já não vê Jesus como um simples forasteiro judeu afoito. Agora ela O chama de “senhor” (v11) e não mais “tu” (v9). Os preconceitos sócio-culturais que impregnavam tanto judeus como samaritanos começam a arrefecer da parte dela.
Convém ressaltar, ainda, que a mulher samaritana não era desprezada apenas pelos judeus, mas também pelo seu próprio povo, em razão da vida libertina que levava. A vida dela era um emaranhado de adultérios e divórcios. “Na sociedade de então, isso fazia dela uma pessoa rejeitada e proscrita, com um status social igual ao de uma prostituta comum”.

7Perto de Sicar haviam muitos poços nos quais ela poderia buscar água. “As mulheres costumavam cumprir esta tarefa num horário mais fresco e em grupo, pois era mais seguro e mais cômodo”.8 Entretanto, a condição de vida que levava a obrigava fazer longas caminhadas, sozinha, até o poço de Jacó. Além disso, buscava sua água no horário em que provavelmente não encontraria as suas conhecidas.

O encontro da mulher samaritana com o Senhor Jesus revela como Ele derrubou três barreiras: racial, social e religiosa.



I.      Fundo Histórico:


A Palestina, nos tempos do Senhor Jesus, estava dividida em três províncias: Galiléia, ao norte, Judéia, ao sul, e Samaria, entre as duas. Uma viagem, da Judéia à Galiléia, poderia durar três dias (se o viajante passasse pela Samaria) ou seis dias se, evitando a passagem pela Samaria, cruzasse o rio Jordão, seguindo pela margem oriental, cruzando novamente o rio ao norte da Samaria, chegando, assim à Galiléia. Devido à inimizade entre os judeus e os samaritanos, muitos judeus usavam a rota mais longa para evitar a passagem pela Samaria.



Para entender o nascimento dos samaritanos, precisamos lembrar que o reino de Israel, depois da morte de Salomão, foi dividido em Reino do Norte (também conhecido como Israel), cuja a capital era Samaria, e Reino do Sul, com sede em Jerusalém, conhecido como Reino de Judá. O Reino do Norte era composto por 9 tribos e abrangia a maior parte do território de Israel. Cada um dos reinos seguiu uma história diferente. Cerca de 700 anos antes de Cristo, o Reino do Norte acabou, sendo tomado pela Assíria e seus habitantes foram deportados. Alguns habitantes ficaram na terra. Provavelmente eram agricultores, gente mais pobre. Do ponto de vista dos habitantes de Jerusalém, esses habitantes que ficaram na Samaria começaram a perder a própria identidade religiosa, misturando-se com os pagãos, perdendo as características que os ligavam ao Deus único de Israel.

O Reino do Sul, cuja capital era Jerusalém, sobreviveu ainda por cerca de 200 anos, quando em 587 a capital foi destruída e os moradores levados para o exíliio em Babilônia. Segundo a Bíblia, quando esses deportados voltaram do exílio e tentavam reconstruir o templo, os Samaritanos queriam frear a contrução. Também teriam se aliado contra os judeus na época de Antíoco IV.

Do ponto de vista histórico, todavia a história parece ser diferente. De fato os samaritanos preservaram a fé em YHWH, o Deus único, tanto que chegaram a construir, em Garizim, um templo que era cuidado por sacerdotes da descendência sacerdotal. E, em ralação à reconstrução do templo de Jerusalém, há indícios que os samaritanos quiseram ajudar os judeus a reconstrui-lo, mas foram esses últimos que não aceitaram a ajuda dos "primos" samaritanos. Os samaritanos até mesmo adotaram o Pentateuco (com algumas 'correções' onde se sublinha sobretudo a importância do templo no Monte Garizim invés de Jerusalém) e eram fiéis aos mandamentos dados por Moisés.

Na bíblia temos um conflito muito interessante entre esses dois grupos de hebreus. Uma parte da Bíblia (Esdras e Neemias) conta como a comunidade de Jerusalém era decidida a separar os judeus que regressaram do exílio em Babilônia dos judeus que ficaram na terra, que não foram deportados, a "gente da terra". Por outro lado, transparece que essa separação entre os dois grupos foi o auge de um longo batalha política que, num primeiro momento, parecia prevalecer a ideia daqueles que queriam a união entre as duas correntes.



Samaria é o nome de uma província referenciada por diversas vezes no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, situada no alto de um monte entre a Judeia e a Galileia. Atualmente, a região está situada na Palestina, entre Israel e a Cisjordânia, no Oriente Médio. No total, existem cerca de 700 samaritanos que vivem em Holon, Israel, e em Nablus, Cisjordânia.

Em sentido figurado, a palavra samaritano significa uma pessoa caridosa, que tem bom coração e se preocupa com os outros. Este significado teve origem na parábola do "Bom Samaritano", contada por Jesus em Lucas 10:30-37.

O povo samaritano não se considera um povo judeu, e sim descendentes dos antigos israelitas que habitaram a histórica província de Samaria. Os Samaritanos eram considerados impuros pelos judeus. Da Bíblia do Judaísmo, seguem apenas o Pentateuco. Os samaritanos têm a sua própria doutrina religiosa: o Samaritanismo.

Atualmente, a língua falada pelos samaritanos é o hebraico e o árabe. Nos cultos religiosos, resgatam a antiga língua falada pelos seus ascendentes: o hebraico e o aramaico samaritano.



a)      Inimizade entre judeus samaritanos
Essa inimizade tem suas raízes nos anos 720 a.C., quando o rei da Assíria derrotou Samaria, deportou os israelitas para a Assíria (II Reis 17.6) e trouxe pessoas da Babilônia e de outros países pagãos, estabelecendo-os nas cidades da Samaria, para desalojar os israelitas, de acordo com II Reis 17.24. O casamento entre esses estrangeiros e os israelitas que haviam escapado do exílio, contribuiu para as tensões entre samaritanos e israelitas.
Mais tarde, sob a liderança de Esdras e Neemias, quando os israelitas regressaram do exílio, os samaritanos quiseram participar da reedificação do templo de Jerusalém; porém, como eram odiados, sua oferta foi veementemente rechaçada. Essa inimizade aumentou quando, em 450 a.C, o filho de Eliasibe, o sumo sacerdote, se casou com a filha de Sambalat, o heronita (Neemias 13.28) e, ao negar divorciar-se de sua esposa estrangeira, foi proibido aproximar-se do templo do Senhor em Jerusalém. Além disso, foi induzido por Sambalat a construir um templo especial para os samaritanos sobre o Monte Gerizim. Desde então, adoraram em seu próprio monte, e isso levou a mais desprezo da parte dos judeus. A religião samaritana se assemelhava ao judaísmo, mas nos pontos chaves haviam tomado seu próprio caminho. Aceitavam somente os primeiros cinco livros da Torá, e insistiam que o Monte Gerizim, não Jerusalém, era o lugar apropriado para adorar a Deus. Afirmavam, também, que Deus havia pedido a Abraão que sacrificasse seu filho Isaque no Monte Gerizim e não no monte na terra de Moriá, como está escrito em Genesis 22.2.
Os samaritanos insistiram que poderiam adorar ao Deus único em Samaria; os judeus mantiveram que isso somente poderia realizar-se no templo de Jerusalém. Por tanto, Jesus, como judeu, está em uma região em conflito com judeus e isolada deles. Por causa das leis acerca da pureza ritual e da comidakosher (limpa) os samaritanos e os judeus não estavam comendo juntos. Tudo isso desempenhou um papel no diálogo entre Jesus e a mulher samaritana.
b)      Uma mulher vem tirar água
Sim, esta situação pode acontecer diariamente em milhões de lugares em todo o mundo. A água é o elemento de que se necessita para sobreviver, em mais de uma maneira. A água é mais importante que a comida. A água limpa é chave para a sobrevivência e para a boa saúde. Onde a água está contaminada, as enfermidades e a pureza estão intimamente ligadas. A boa saúde está diretamente relacionada à importância de se ter água limpa. Nos dias atuais, cerca de 884 milhões de pessoas no mundo não têm fácil acesso à água limpa. O transporte de água é um trabalho duro, leva tempo e é feito principalmente pelas mulheres. A UNICEF afirma: "O acesso à água local aumenta as oportunidades para as mulheres e aumenta os direitos das mulheres no mundo em desenvolvimento". Nos lugares onde a água potável não é proporcionada pela comunidade, as mulheres têm de caminhar longas distâncias para encontrá-la. Esse era também o caso nos tempos de Jesus. A mulher veio tirar água.
2.      A Ocasião
Jesus estava viajando com seus discípulos desde a Judéia, no sul, até a Galiléia, no norte. Em vez de evitar passar pela Samaria (como fazia a maioria dos judeus), escolheu a rota mais curta, que passava pela Samaria. Eles chegaram a um lugar da Samaria chamado Sicar, localizado próximo ao deserto, onde estava o poço de Jacó (com uma profundidade de 100 metros), próximo da terra que Jacó havia dado a seu filho José (João 4.5-6; Gênesis 28.22). Esgotado, Jesus sentou-se próximo ao poço, enquanto seus discípulos entraram na cidade para comprar alimentos. O poço foi o mesmo onde Isaque se encontrou com Rebeca, e onde Jacó reconheceu Raquel (Gênesis 24.11; 29.10) Era a hora sexta (meio dia), uma hora quando usualmente o lugar estava vazio por causa do calor. A referencia à hora sexta está vinculada a Jesus (João 19).
(Nota da tradutora: No texto, a hora sexta era a hora da condenação de Jesus perante Pilatos. As costas foram traspassadas no v. 34, porque se aproximava o por do sol). A hora poderia ser uma referencia de como Jesus morreu e o que fez por nós, dando-se a si mesmo como a água viva.
3.      Os Fatos
*  Jesus, um homem sedento em um lugar deserto, lugar de muito calor, mostra sua própria necessidade à mulher samaritana, pedindo-lhe de beber.
*  A mulher, atônita, questiona porque ele a escolheu: ele é judeu, enquanto ela é samaritana: ele é homem, e ela é mulher. Jesus inicia uma conversação com um pedido e ela segue com suas próprias perguntas. Um diálogo se inicia. Ela tem conhecimento de sua tradição e pode falar claramente acerca das distinções entre os judeus e os samaritanos.
*  "Mas Jesus, deixando de lado as barreiras raciais, religiosas e sociais, responde: "Se conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias e ele te daria água viva."
*  "Senhor", objeta a mulher, "não tens com que tirá-la e o poço é fundo. Donde, pois, tens a água viva? Acaso tu és maior que nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele bebeu"?
*  Jesus, ignorando a pergunta, procura dirigir sua atenção para o sentido espiritual de suas palavras: "Qualquer que beber desta água voltará a ter sede; mas quem beber da água que eu lhe der, jamais terá sede." Muito emocionada, a mulher responde, "Senhor, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede, nem venha aqui para tirá-la."
*  Embora a mulher samaritana não pudesse entender a dimensão espiritual, ficou profundamente comovida pela maneira respeitosa que Jesus havia se dirigido a ela.
*  Jesus lhe pede que vá e chame seu marido e ela responde com a verdade, que não tem marido.
* A mulher samaritana frequentemente é mostrada como uma pecadora de má fama. Mas esta imagem deve ser examinada. Sabemos de outras passagens do Antigo Testamento, e do relato de Rute, que quando um homem casado morria sem filhos, era dever de seu parente mais próximo casar-se com a viúva. Seria provável que esta mulher tivesse sido forçada a aceitar seus esposos sucessivamente, ao morrer um em seguida ao outro. O homem com quem ela vivia na ocasião podia ter sido um parente próximo aproveitando dela, negando-se a legalizar o vínculo matrimonial.  Mais que isso, ela poderia estar na situação de ser vítima de pecado em vez de pecadora. Houve pecado contra ela, em vez de ela haver pecado.
*  Dando conta de que Jesus sabia de sua situação, ela o reconhece como um homem de Deus.  "Parece que tu és profeta," comenta.
* Havendo descoberto que Jesus não é um homem comum, busca sua opinião sobre a problemática judeu /samaritano sobre a adoração: "Nossos país adoraram neste monte" (em seu próprio templo, destruído em 129 a.C.), "e vós dizeis que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar."
* Alguns comentaristas contrastam o relato de Nicodemos, o fariseu visitando Jesus à noite, com a mulher samaritana. Jesus começa sua missão com a comunidade judaica, mas abre a missão aos gentios, passando por Samaria.
* Quando a mulher expressa a Jesus sua fé no Messias esperado, sua resposta é: "EU SOU (quem fala contigo)", chamando-se a si mesmo pelo mesmo nome que Jesus utilizou para referir-se quando falou com Moisés: EU SOU (Êxodo 3.14).
* Quando os discípulos regressaram ao poço, surpreenderam-se ao encontrar Jesus conversando com a mulher samaritana; mas não disseram nada.
*  Havendo conhecido o Messias por si mesma, e havendo bebido da água viva que Ele deu, a mulher esqueceu seu cântaro e correu para a cidade para compartilhar as boas novas com seus concidadão.
4.       A Água viva oferecida por Jesus
Esta "água viva também está mencionada no Antigo Testamento: "Tirareis com gozo águas das fontes de salvação" (Isaías 12.3);" ... Meu povo: deixou-me a mim, fonte de água viva..." (Jeremias 2.13).
O significado disso é que o chamado de Jesus à mulher samaritana foi o mesmo chamado que Deus fez a seu povo no Antigo Testamento. É o mesmo chamado que nos faz hoje:
"Não vos lembreis das coisas passadas,
nem considereis as antigas.
Eis que faço coisa nova,
que está saindo à luz; porventura, não o percebeis?
Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo." (Isaías 43:18-19)
Depois de conhecer Jesus, a mulher samaritana deixa seu passado e, bebendo de sua Água Viva, faz-se missionária aos demais, produzindo muito fruto. Como essa mulher, somos chamadas a beber da Água Viva, e a viver uma vida frutífera no presente.


O capítulo que relata a história de Jesus encontrando a mulher Samaritana junto ao poço de Jacó, em João 4, começa definindo o cenário para o que acontecerá mais tarde em Samaria e está firmado no que aconteceu na Judeia no tempo em que já  se desenvolvia o Evangelho. A popularidade crescente de Jesus resultou em um significativo número de seguidores.

Seus discípulos realizaram um antigo ritual Judaico de lavagem cerimonial com água, assim como fez João Batista e seus discípulos. O ritual representava a confissão dos pecados das pessoas e seu reconhecimento da necessidade do poder purificador do perdão de Deus. Quando ficou claro para Jesus que as multidões estavam se tornando maiores, mas especialmente quando soube que muitos fariseus estavam alarmados, ele decidiu que era hora de ir para a Galiléia para continuar seu ministério (versículos 1-3).

II. A  Geografia

O texto simplesmente diz que Jesus “teve de passar por Samaria” (vs.4). Talvez, neste momento uma curta aula de geografia seja útil. As terras Samaritanas ficavam entre as terras da Judéia e da Galiléia. O caminho contornando Samaria levava o dobro do tempo, ao invés dos três dias necessários indo direto da Galiléia a Jerusalém, porque evitando Samaria era preciso atravessar o rio Jordão duas vezes para seguir um caminho a leste do rio (Vita 269). O caminho através de Samaria era mais perigoso, porque eram comuns os ânimos se exaltarem entre Samaritanos e Judeus (Ant. 20,118; Guerra 2.232). Não nos é dita a razão pela qual Jesus e seus discípulos precisavam passar por Samaria. João simplesmente diz que Jesus “tinha que ir”, implicando que para Jesus isto não era comum. Talvez Jesus precisasse chegar à Galiléia relativamente rápido. Mas o texto não nos dá nenhuma indicação de que ele tinha um convite pendente para um evento na Galiléia para o qual ele estava atrasado. Ele saiu quando sentiu a iminência de um confronto com os fariseus sobre a sua popularidade entre os Israelitas. Isto estava associado à compreensão de Jesus que o tempo para tal confronto ainda não tinha chegado. Na mente de Jesus, o confronto com a liderança religiosa da Judéia, (e não se enganem sobre isso, os principais fariseus eram parte integrante de tal liderança) neste momento era prematuro e que muito precisava ser feito antes de ir para a cruz e beber do cálice da ira de Deus, em nome da antiga aliança com o povo  e as nações do mundo. A maneira como Jesus via os Samaritanos e seu próprio ministério entre eles pode nos surpreender à medida que continuamos a examinar esta história.

Sabemos que os movimentos e as atividades de Jesus foram todas feitas de acordo com a vontade e a liderança do Pai. Ele só fez o que viu o Pai fazer (Jo 5: 19). Sendo este o caso, podemos estar certos de que a jornada de Jesus através de Samaria, neste momento foi dirigida por seu Pai e assim, também, foi a sua conversa com a mulher Samaritana.

A surpreendente jornada  de Jesus através de território hostil e herético tem um significado além de qualquer explicação superficial. Em um sentido muito real, desde o momento que Seu filho real foi eternamente concebido na mente de Deus,  o plano insondável de Deus e sua missão, era  ligar em uma  unidade redentora toda a sua amada criação. Jesus foi enviado para  produzir a paz entre Deus e as pessoas, bem como entre as pessoas e os povos. A realização desse grande propósito começou com um encontro desagradável  entre Jesus e aqueles que praticamente moravam ao lado – os Samaritanos.

III. Os Samaritanos 

As fontes nos apresentam, pelo menos, duas histórias diferentes dos Samaritanos. Uma – de acordo com Samaritanos Israelitas, e a outra – de acordo com Judeus Israelitas. Enquanto existem dificuldades sobre a confiabilidade dos documentos antigos contaminados pela polêmica Judaica- Samaritana, bem como a datação tardia das fontes de ambos os lados, algumas coisas podem, contudo, ser estabelecidas. A estória Samaritana de sua história e identidade correspondem aproximadamente ao seguinte:

1) Os Samaritanos chamavam-se a si mesmos de Bnei Israel (Filhos de Israel).

2) Os Samaritanos eram um grupo considerável de pessoas que acreditavam  preservar a religião original do antigo Israel. O nome Samaritano traduzido literalmente do hebraico significa Os Guardiões (de leis e tradições originais). Embora seja difícil falar em números concretos, a população Samaritana no tempo de Jesus era comparável àquela dos Judeus e incluiu a grande diáspora.

3) Os Samaritanos acreditavam que o centro de adoração de Israel não deveria ter sido o Monte Sião, mas sim o Monte Gerizim. Eles argumentaram que este era o local do primeiro sacrifício Israelita na Terra (Deut. 27: 4 ) e que continuou a ser o centro da atividade sacrificial dos patriarcas de Israel. Este era o lugar onde as bênçãos foram pronunciadas pelos antigos Israelitas. Os Samaritanos acreditavam que Betel (Jacob), o Monte  Moriá (Abraão) e o Monte Gerizim eram o mesmo lugar.

4) Os Samaritanos tinham  essencialmente um credo quádruplo: 1) Um Deus, 2) Um Profeta, 3) Um Livro e 4) Um  Lugar.

5) Os Samaritanos acreditavam que as pessoas que se chamavam Judeus (crentes no Deus de Israel situados na Judéia) haviam tomado o caminho errado em sua prática religiosa pela importação de novidades para a Terra durante o retorno do exílio Babilônico.

6) Os Samaritanos autênticos rejeitaram a supremacia da dinastia Davídica em Israel. Eles acreditavam que os sacerdotes levitas em seu templo eram os legítimos líderes  de Israel.

Agora que fizemos um resumo parcial levando em conta o outro lado da história e as crenças dos Samaritanos, vamos nos voltar para a versão Judaica da mesma história. Este registro essencialmente origina-se de dois Talmuds e sua interpretação da Bíblia Hebraica, de Josefo e do Novo Testamento.

1) Os Samaritanos eram um grupo de pessoas com misturas teológicas e étnicas. Eles acreditavam em um Deus único. Além disso, eles associavam seu Deus, com o Deus que deu a Torá ao povo de Israel. Os Samaritanos são geneticamente relacionados aos remanescentes das tribos do norte que foram deixados na terra após o exílio Assírio. Eles se casaram com  gentios, que foram transferidos para Samaria pelo imperador Assírio. Este ato de desapropriação e transferência de sua terra natal foi feito em uma tentativa estratégica de destruir a identidade do povo e prevenir  qualquer potencial de futura revolta.

2) Nos escritos rabínicos Judaicos, os Samaritanos são geralmente referidos pelo termo “Kuthim.” O termo está provavelmente relacionado a um local no Iraque do qual foram importados exilados não Israelitas para Samaria (2 Reis 17:24). O nome Kuthim ou Kuthites (de Kutha) foi usado em contraste com o termo “Samaritanos” (os guardiões da lei). Os escritos Judaicos enfatizaram a identidade estrangeira da religião e prática Samaritanas, em contraste com a verdadeira fé de Israel, que eles chamariam especialmente em um período posterior, como Judaísmo Rabínico [1]. A interpretação rabínica dos Samaritanos não foi totalmente negativa.

3) De acordo com 2 Crônicas 30:1-31:6, a alegação de que as tribos do norte de Israel foram todas exiladas pelos Assírios e, portanto, aqueles que ocuparam a terra (Samaritanos) eram de origem não Israelita é rejeitada em uma leitura mais atenta da Bíblia Hebraica. Esta passagem diz que nem todas as pessoas do reino do norte foram exiladas pelos Assírios. Alguns, talvez confirmando a versão Samaritana, permaneceram mesmo após a conquista Assíria da terra no século 8 AC.

4) Os Israelitas situados na Judéia (os Judeus) acreditam que não só os Samaritanos optaram por rejeitar as palavras dos profetas a respeito supremacia de Sião e dinastia Davídica, mas  também deliberadamente mudaram a própria Torá para ajustar sua teologia e práticas heréticas. Esta é uma das visões que podem ser tiradas da comparação dos dois Pentateucos, a Torá dos Samaritanos e a Torá dos Judeus. O texto Samaritano permite leitura muito melhor do que o mesmo Judeu. Em alguns casos, as histórias da Torá Judaica parecem truncadas, com pouca  lógica e fluxo narrativo não claro. Em contraste, os textos da Torá Samaritana parecem ter um fluxo narrativo muito mais suave. Superficialmente, isto torna a Torá Judaica problemática. Após uma análise mais aprofundada, no entanto, isso poderia levar ao argumento de que o Pentateuco Samaritano seria uma revisão ou edição tardia de texto Judaico anterior. Com base neste e em outros argumentos, estamos de acordo com a visão Judaica  argumentando que a Torá Samaritana é uma revisão magistral e teologicamente dirigida  dos primeiros  textos Judaicos correspondentes.

Para receber mais informações sobre o  aprendizado de Línguas Bíblicas na Universidade Hebraica de Jerusalém  /  programa bíblico on-line da eTeacher a um custo acessível, por favor, clique aqui.Para se inscrever nas mensagens semanais do Dr. Eli, por favor, clique aqui. É recomendado pelo Dr. Eli que você leia tudo, desde o início, de seu estudo de João. Você pode fazê-lo clicando aqui – “Comentário Judaico-Samaritano”.

IV. O Encontro

Ao descrever o encontro, João faz várias observações interessantes que têm grandes implicações para o nosso entendimento dos versículos 5-6:

“Então ele veio a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno  que Jacó tinha dado a seu filho José. O poço de Jacó estava lá, e Jesus, cansado como estava da viagem, sentou-se ao lado do poço. Era cerca da hora sexta”.

Primeiro, João menciona a cidade Samaritana chamada Sicar. Não está claro se Sicar era uma vila muito perto de Siquém ou a própria Siquém [2]. O texto simplesmente chama a nossa atenção para um local perto da  terra que  Jacó deu a seu filho José. Se não era o mesmo lugar, foi certamente na mesma vizinhança, no sopé do Monte Gerizim. Embora isso seja interessante e mostre que João era realmente um morador do local, conhecer a geografia detalhada da antiga Palestina Romana, não é menos importante, e talvez ainda mais importante, uma vez que o autor do Evangelho chama a atenção do leitor para a presença de uma testemunha silenciosa para este encontro – os ossos de José. Isto é como o livro de Josué fala sobre o evento:

“Agora, eles enterraram os ossos de José, que os filhos de Israel trouxeram do Egito, em Siquém, no pedaço de terra que Jacó havia comprado dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro, e se tornaram a herança dos filhos de José “(Js.  24: 32).

A razão para esta referência a José, no versículo 5 só se tornará clara quando vemos que a mulher Samaritana sofreu em sua vida de forma semelhante a José. Se esta interpretação  da história é correta, que assim como na vida de José, o sofrimento inexplicável que passou teve a finalidade de levar a salvação a Israel, do mesmo modo o sofrimento na vida da mulher Samaritana   levou à salvação dos Samaritanos Israelitas naquela localidade (4 : 22).

João continua: “Ali ficava o poço de Jacó, e Jesus, cansado como estava da viagem, sentou-se ao lado do poço. Era quase a hora sexta “(v. 6). Tradicionalmente se assume  que a mulher Samaritana era uma mulher de má fama. A referência à hora sexta  (cerca de 12:00 hs) tem sido interpretada como se ela estivesse evitando a multidão de outras mulheres da cidade tirando água. A hora sexta bíblica era supostamente o pior momento possível do dia para se deixar a moradia e se aventurar no calor escaldante. “Se alguém for tirar água, neste horário, poderíamos concluir apropriadamente que estava tentando evitar as pessoas”, diz o argumento.

Vamos, no entanto, sugerir uma outra possibilidade. A teoria popular a vê como uma mulher particularmente pecadora que havia caído em pecado sexual e, portanto, foi chamada por Jesus a prestar contas sobre os vários  maridos em sua vida. Jesus disse a ela, como a teoria popular diz, que Ele sabia que ela anteriormente teve cinco maridos e que atualmente ela estava vivendo com seu “namorado”,  sem os limites do casamento e que ela não estava apta para jogar jogos espirituais com Ele! Deste ponto de vista, a razão pela qual ela evitou a multidão é precisamente por causa de sua reputação de compromissos familiares de curta duração.

Primeiro, 12:00 hs  ainda não é o pior horário para andar no sol. Se fosse 15:00 hs (hora nona) a teoria tradicional faria um pouco mais de sentido. Além disso, não fica claro se isso ocorreu durante o verão, o que poderia tornar o tempo em Samaria irrelevante nos dois horários. Em segundo lugar, é possível que estejamos dando muita importância a sua ida para tirar água em “um momento incomum”? Nós todos, por vezes, não fazemos coisas normais em horários incomuns? Isso não significa necessariamente que estejamos escondendo alguma coisa de alguém. Em terceiro lugar, vemos que as filhas do sacerdote de Midiã foram dar água aos seus animais por volta da mesma hora do dia, quando as pessoas supostamente não vão aos  poços (Êx 2:15-19).

Quando lemos essa história, nós não podemos ajudar mas, podemos perguntar como é possível, em uma sociedade conservadora como a  Samaritana, que uma mulher com tal histórico ruim, apoiasse os valores da comunidade e tivesse motivado toda a aldeia a largar tudo e ir com ela ver Jesus, um profeta Judeu “herege para os  Samaritanos”.  A lógica padrão seria como segue.  Ela tinha levado uma vida tão sem Deus que, quando outros ouviram de sua excitação e do encontro de um novo interesse espiritual  eles se admiraram e foram ver Jesus por si mesmos. Esta interpretação, ainda que possível, parece improvável para os autores deste livro e parece compreender enfoques teológicos muito mais tarde nessa história antiga, que tinha o seu próprio ambiente histórico. Estamos convencidos de que ler a história de uma maneira nova é mais lógico e cria menos problemas de interpretação do que a visão comumente aceita.



“Quando uma mulher Samaritana veio tirar água, Jesus lhe disse: ‘Você vai me dar de beber? (Seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida). A mulher Samaritana lhe disse: ‘Você é um Judeu e eu sou uma mulher Samaritana. Como você pode me pedir água? ” (Pois os Judeus não se dão com os Samaritanos.) “(Vs.7-9).

Apesar do fato de que para a visão moderna as diferenças eram insignificantes e sem importância, Jesus e a mulher Samaritana sem nome eram de dois povos diferentes e historicamente antagônicos, cada um considerando que o outro  se desviou drasticamente da antiga fé de Israel. Em suma, suas famílias eram inimigas sociais, religiosas e políticas. Isto não era porque eles eram tão diferentes, mas precisamente porque eles eram muito parecidos.

De acordo com a perspectiva tradicional, a mulher Samaritana provavelmente reconheceu que Jesus era Judeu pela sua roupa Judaica tradicional. Jesus certamente estava usando franjas rituais em obediência à Lei de Moisés (Nm.15: 38 e  Dt 22:12 ). Desde que os homens Samaritanos  também  observavam a Lei de Moisés, é provável que os ex-maridos da mulher Samaritana e outros homens de sua aldeia também usassem a roupa ritual com franjas. A observância da lei Mosaica pelos Samaritanos ‘(lembrar que o termo Samaritanos significa os “guardiões” da lei e não as pessoas que viviam em Samaria)’ estava de acordo com a sua própria interpretação e diferia da visão Judaica em algumas questões, mas é importante lembrar que eles eram considerados pela comunidade Judaica Israelita mais como irmãos rivais  do que como estranhos não relacionados. Continuando a leitura:

“Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é o que lhe pede água, você lhe teria pedido e ele te daria água viva.” ‘Senhor’, disse a mulher, “você não tem nada com que tirar água e o  poço é fundo. Onde você pode obter essa água da vida? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço e bebeu ele mesmo, como também os seus filhos e os seus rebanhos e manadas? Jesus respondeu: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Na verdade, a água que eu lhe der se tornará  nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna. ” A mulher disse-lhe: ‘Senhor, dá-me dessa água, para que eu nunca mais fique  com sede e tenha que continuar vindo aqui para tirar água. ” Ele lhe disse: Vai, chama o teu marido e volte. ‘ “Eu não tenho marido”, ela respondeu. Jesus disse-lhe: “Você tem razão quando diz que não tem marido. O fato é que tiveste cinco maridos, e o homem que você tem agora não é seu marido. O que você acabou de dizer é verdade ” . ‘Senhor ‘, disse a mulher, “Eu posso ver que você é um profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém. ”

Esta passagem tem sido frequentemente interpretada da seguinte forma: Jesus inicia uma conversação espiritual (vs.10). A mulher começa a ridicularizar declaração de Jesus apontando a incapacidade de Jesus fornecer o que ele parece oferecer (vs.11-12). Depois de um breve confronto em que Jesus chama a atenção para a falta de solução definitiva para o problema espiritual da mulher (vs. 13-14), a mulher continua com uma atitude sarcástica (vs.15). Finalmente, Jesus teve o suficiente e ele então expõe com força  o pecado na vida da mulher – um padrão de relacionamentos familiares interrompidos (vs.16-18). Agora, indo direto ao coração pela visão onisciente de Jesus, a mulher reconhece seu pecado em um momento de verdade (vs.19) chamando Jesus de profeta. Mas então, como todo incrédulo normalmente faz, ela tenta evitar os problemas reais do seu pecado e sua necessidade espiritual. Ela começa a falar sobre questões doutrinárias (versículo 20), a fim de evitar lidar com os problemas reais da sua vida. Embora esta maneira de ler este texto possa não ser a única, ela é acompanhada de uma visão geralmente negativa da mulher Samaritana.





Como foi sugerido anteriormente, é possível que a mulher Samaritana não estivesse necessariamente  tentando evitar qualquer pessoa. Mas, mesmo que ela estivesse, há outras explicações para sua fuga que não o sentimento de culpa por sua imoralidade sexual. Por exemplo, como se sabe as pessoas quando estão deprimidas não querem ver ninguém. A depressão estava presente no tempo de Jesus, assim como ela está presente na vida das pessoas hoje. Em vez de assumir que a mulher Samaritana trocou de maridos como quem troca de roupa, é  razoável pensar nela como uma mulher que tinha experimentado a morte de vários maridos, ou como uma mulher cujos maridos podem ter sido infiéis a ela, ou mesmo como uma mulher cujos maridos se divorciaram dela por sua incapacidade de ter filhos. Qualquer uma destas sugestões e muitas outras são possíveis  neste caso.

É importante notar que, ter cinco maridos sucessivos era inédito na sociedade antiga, especialmente em uma conservadora como a dos Israelitas Guardiões da Lei (Samaritanos). Este fato fez com que alguns comentaristas antigos e modernos sugerissem erroneamente que este encontro não era histórico, mas metafórico. O argumento usado foi de que ‘desde que os Samaritanos representavam gentios e, portanto, a situação absurda de ter cinco maridos deveria ter dado uma pista para o leitor que esta não é uma história real e nem uma mulher real’. Naquela sociedade, a menos que a mulher fosse rica, adotar para si um estilo de vida sem compromisso era uma impossibilidade econômica. Uma vez que não era  seu servo, mas ela mesma que foi  tirar água, concluímos que ela provavelmente não era rica e, portanto, simplesmente não podia pagar o tipo de estilo de vida com  que a temos dotado ao longo de séculos de interpretação cristã. Sem sequer considerar outras possibilidades como opções viáveis, aqueles que nos ensinaram, e aqueles que lhes ensinaram, têm consistentemente retratado essa mulher sob uma luz totalmente negativa. Acreditamos que isto seja desnecessário.

Se estivermos corretos em nossa sugestão de que essa mulher não era particularmente uma “mulher caída”, então talvez possamos ligar o seu testemunho incrivelmente bem sucedido na aldeia com a inesperada, mas extremamente importante referência de João aos ossos de José. Vale ressaltar que para os gentios e até mesmo hipotéticos leitores “Judeus” deste Evangelho, o lugar onde os ossos de José foram enterrados não seria tão importante, embora ainda significativo, do que teria sido para os Samaritanos Israelitas, uma vez que os ossos do Patriarca também ligam a presença de Deus com a vizinhança do Monte Gerizim e a cidade santa de Siquém. Quando ouvimos que a conversa ocorreu  ao lado de ossos de José, imediatamente lembramos da  história de José e  principalmente de seu sofrimento imerecido. Como você se  lembra, apenas parte dos sofrimentos de José foram auto impostos. Ainda no final, quando ninguém esperava por isso, os sofrimentos de José acabaram por tornar-se os eventos que salvaram o mundo da fome.

Agora, considere a conexão com José em mais detalhes. Siquém foi uma das cidades de refúgio, onde se proporcionava um paraíso seguro a um homem que tivesse matado alguém sem intenção (Js 21:20-21). Como os habitantes de Siquém estavam vivendo suas vidas sob a sombra da prescrição da Torá eles eram, sem dúvida, bem cientes do estado incomum de graça e função protetora de Deus, que foi atribuído à sua cidade especial. Eles deveriam proteger as pessoas infelizes, cujas vidas foram ameaçadas de vingança pelos membros da família, mas na verdade eram inocentes de qualquer crime intencional que justificasse o castigo ameaçado .

José nasceu em uma família muito especial, onde a graça e a salvação deveriam descrever sua característica. Jacó, o descendente de Abraão e Isaac, teve outros 11 filhos, cujas ações, ao invés de ajudar seu pai a levantar José, variavam de explosões de ciúme ao desejo de se livrar para sempre de seu mimado, mas “especial” irmão. Mas havia mais. Foi em Siquém que Josué reuniu as tribos de Israel, desafiando-os a abandonar seus antigos deuses em favor de YHWH e depois de fazer a aliança com eles, enterrou os ossos de José lá. Lemos em Josué 24:1-32:

“Então Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém. Ele convocou os anciãos, os líderes, os juízes e os oficiais de Israel, e eles se apresentaram diante de Deus … Mas se servir ao Senhor parece indesejável para vocês,  então  escolham hoje a quem vocês vão servir, se aos deuses que seus antepassados serviram além do Rio  ou aos deuses dos Amorreus, em cuja terra habitais. Porém, eu e a minha família serviremos ao Senhor. “… Naquele dia, Josué fez uma aliança para o povo, e em Siquém ele elaborou  decretos e leis para o povo (vs.26)  E Josué registrou essas coisas no Livro da Lei de Deus. Então ele pegou uma grande pedra e a erigiu ali debaixo do carvalho perto do lugar santo do Senhor… 31 Israel serviu ao Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que sobreviveram e que tinham experimentado tudo o que o Senhor tinha feito por Israel. E os ossos de José, que os israelitas haviam trazido do Egito, foram enterrados em Siquém, no pedaço de terra que Jacó comprara dos filhos de Hamor , pai de Siquém, por cem peças de prata. Esta terra tornou-se a herança dos descendentes de José”.

É interessante que o lugar deste encontro com a mulher Samaritana foi escolhido pelo Senhor da providência de uma forma tão bonita: uma mulher emocionalmente alienada que se sente desprotegida, enquanto ela vive na ou perto da cidade de refúgio, está tendo um fundamento na fé, uma conversa de compromisso  com o Renovador da Aliança de Deus – o Real Filho de Deus,  Jesus. Ela faz isso no mesmo lugar onde os antigos israelitas renovaram sua aliança, em resposta às palavras de Deus, selando-as com duas testemunhas: 1) a pedra (Js.24 :26-27), confessando com a boca as suas obrigações para com a aliança e a fé no Deus de Israel, e 2) os ossos de José (Js.24 :31-32), cuja história os guiou em suas viagens.

Em certo sentido, a mulher Samaritana faz a mesma coisa que os Israelitas antigos ao confessar a seus concidadãos a sua fé em Jesus como o Cristo e o compromisso com o Salvador do mundo. Lemos em João 4:28-39.

“Venham, ver o homem que me disse tudo o que eu já fiz. Poderia ser este o Cristo? “Eles saíram da cidade e foram para o lugar onde Jesus estava… Muitos dos Samaritanos daquela cidade creram nele, por causa do testemunho da mulher…”

A ligação entre José e a mulher Samaritana não termina aí. Lembrar que José recebeu adiantada uma bênção especial de seu pai, no momento da morte de Jacó. Era uma promessa de que ele seria uma videira frutífera subindo pela parede (Gênesis 49:22). O Salmo 80:8 fala de uma vinha sendo trazida do Egito, cujos ramos espalhados por toda a terra, acabaram por levar a salvação ao mundo através da videira verdadeira. Em João 15:1, lemos que Jesus se identifica como esta videira verdadeira e assim como o antigo Israel, Jesus também foi simbolicamente tirado do Egito (Mt. 2: 15 ). Em sua conversa com a mulher Samaritana, Jesus – a videira prometida na benção de Jacó a José – está de fato escalando o muro da hostilidade entre os Judeus Israelitas e Samaritanos Israelitas  para unir estas duas partes do seu reino através de Sua pessoa, ensino e ações. De uma forma profundamente simbólica esta conversa ocorre perto de um poço que foi construído por Jacó, a quem foi dada a promessa!

Agora que nós analisamos alguns simbolismos relevantes do Antigo Testamento, vamos reler essa história através de um olhar diferente. Ela pode ter sido algo como:

Jesus inicia uma conversa com a mulher: “Você vai me dar de beber?” Seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. A mulher se sente segura com Jesus, pois, como ele não é de sua aldeia, ele não sabe sobre sua vida ou  mesmo quão deprimida ela pode ter se sentido durante meses. Em sua opinião, ele era parte relacionada de uma comunidade religiosa herética. Jesus não teria tido nenhum contato com os líderes Samaritanos Israelitas  de sua comunidade. Ela estava segura. Esta abertura da mulher para Jesus é muito semelhante aos trabalhadores cristãos que procuram fora aconselhamento para seus problemas familiares. As pessoas que conhecem e amam são agradáveis, mas também podem ser perigosas. Quem sabe?! Elas podem transmitir informações que em alguns casos podem terminar a carreira ministerial do trabalhador. Assim, em casos difíceis, os trabalhadores do ministério cristão costumam optar por pagar especialistas em aconselhamento que são independentes e não ligados à suas igrejas e ministérios. O especialista é seguro. É o seu trabalho. Isto é tudo. Nesse sentido Jesus era seguro. Ele não era um Samaritano mas, Judeu.

O problema aqui não era simplesmente que Jesus era Judeu e ela uma Samaritana; seus povos, seus pais e avós, eram inimigos ferrenhos em áreas religiosas e políticas. Ambos os povos consideravam o outro como impostores. Os estudiosos apontam, apelando para o Talmude Babilônico, algumas declarações rabínicas talmúdicas tais como ” As filhas dos Samaritanos menstruam desde o berço” e,  portanto, qualquer coisa que eles manusearem seriam impuras para os Judeus  e “É proibido dar a uma mulher qualquer saudação “. É importante que estejamos conscientes de problemas metodológicos quando apelamos para o Talmud. O Talmude Babilônico foi codificado e editado muito mais tarde do que os Evangelhos (início dos anos 200 d.C contra o inicio dos anos 600 d.C). Portanto, devemos ser cautelosos ao usar o Talmud para explicar os Evangelhos, escritos muito antes. Ele não somente foi escrito muito mais tarde, mas também, como é amplamente aceito, não foi reconhecido como o único representante ou até mesmo maior do ensino Judaico até em algum momento entre os séculos 6º e 8º. Em outras palavras, ao contrário de hoje, representava apenas a elite e as classes rabínicas marginais e não o modo de pensar de toda a  comunidade Judaica. Tudo isso para dizer que a regra de não cumprimentar uma  mulher  pode não ter sido de todo  praticada por Jesus, o Judeu e, portanto, não pode ser usada sem critério na interpretação. Por outro lado, a referência as mulheres Samaritanas passando por períodos de menstruação desde o seu nascimento, embora , obviamente, mítica se encaixa perfeitamente com outras coisas que sabemos sobre o ódio profundo entre Samaritanos e Judeus. Mas  um bom nível de cautela deve ser exercido  em uma interpretação livre.

Jesus responde: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é o que lhe pede água, você lhe teria pedido e ele te daria água viva.” É importante que nós imaginemos a mulher. Ela não estava rindo, ela estava tendo uma discussão informada, profundamente teológica e espiritual com Jesus. Esta foi uma ousada tentativa de apurar a verdade que estava fora de sua estrutura teológica aceita e certamente não passaria no teste das sensibilidades culturais dos Samaritanos “fiéis”. Ela discorda do  problema com Jesus, precisamente porque ela leva a sério a palavra de Deus (Torah Samaritana):

“‘Senhor’, disse a mulher,” você não tem nada com que tirar água e o poço é fundo. Onde você pode obter essa água da vida? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço e bebeu ele mesmo, como também os seus filhos e os seus rebanhos e manadas? Jesus respondeu: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Na verdade, a água que eu lhe der se tornará  nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna. “A mulher disse-lhe: ‘Senhor, dá-me dessa água, para que eu nunca mais fique com sede e tenha  que continuar vindo aqui para tirar água”.

Após a interação acima, que bate em  uma corda familiar para o cristão que experimentou o poder de dar vida pela presença de Jesus e da renovação espiritual, Jesus continua a conversa. Jesus deixa a mulher Samaritana sem nome saber que Ele entende seus problemas muito mais completamente do que ela pensa, mostrando-lhe que ele está ciente de toda a dor e sofrimento que ela sofreu em sua vida.

“Disse-lhe: Vai, chama o teu marido e volte. ‘ “Eu não tenho marido”, ela respondeu. Jesus disse-lhe: “Você tem razão quando diz que não tem marido. O fato é que tiveste cinco maridos, e o homem que você tem agora não é seu marido. O que você acabou de dizer é verdade. ”

Lembrar a referência aparentemente obscura aos ossos de José  terem sido enterrados perto deste exato lugar onde a conversa aconteceu? No início da história, João queria nos lembrar de José. Ele foi um homem que sofreu muito em sua vida, mas cujo sofrimento foi finalmente usado para a salvação de Israel e do mundo conhecido. Sob a liderança de José, o Egito tornou-se a única nação que agiu com sabedoria, armazenando grãos durante os anos de fartura e, em seguida, foi  capaz de alimentar os outros durante os anos de fome. É altamente simbólico que esta conversa aconteceu na presença de uma testemunha silenciosa – os ossos de José. Deus em primeiro lugar permitiu que José passasse por uma  terrível injustiça física, psicológica e social,  mas ele então usou esse sofrimento para abençoar grandemente aqueles que entraram em contato com José. Em vez de ler esta história em termos de Jesus pregando a mulher imoral na cruz do padrão de moralidade de Deus, devemos lê-la em termos da misericórdia e compaixão de Deus pelo mundo destruido, em geral, e pelos Israelitas marginalizados, em particular.

De acordo com o ponto de vista popular, é, neste momento, condenada pela repreensão profética de Jesus, que a mulher procura mudar o assunto e evitar a natureza pessoal do encontro envolvendo-se em uma controvérsia teológica sem importância. O problema é que estas questões não são importantes somente para o leitor moderno. Elas eram uma preocupação muito real para os leitores antigos, especialmente aqueles cuja casa ficava na Palestina Romana. Portanto, vamos considerar a interpretação alternativa de que, vendo que Jesus conhecia sua situação íntima miserável e  também sua empatia compassiva, a mulher se sente segura o suficiente para quebrar a tradição e também para escalar o muro das associações proibidas. Ela faz uma afirmação que convida a um comentário de Jesus sobre uma questão que tem a ver com a diferença teológica fundamental entre os Judeus e os Samaritanos.

“‘Senhor’, disse a mulher,” Eu posso ver que você é um profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que o lugar onde se deve adorar é em Jerusalém”.

Como se pode lembrar os Samaritanos eram Israelitas situados  no Monte Gerizim de acordo com  sua compreensão do Pentateuco (Torá), enquanto os Judeus eram situados no Monte Sião em sua interpretação da mesma literatura, é certo que com variações ocasionais. Esta questão parece trivial para um cristão moderno que normalmente pensa que o que é realmente importante é que se pode dizer: “Jesus está em  minha vida como Salvador pessoal e Senhor”. Mas enquanto esta questão não incomoda ninguém hoje, era uma questão importante para os Samaritanos Israelitas e Judeus Israelitas e, por extensão, para  Jesus Judeu e a mulher Samaritana. Na verdade, esta conversa profundamente teológica e espiritual foi um encontro muito importante no caminho da história humana, por causa do tremendo impacto da mensagem cristã em todo o mundo desde que  este  encontro ocorreu.

Com medo e tremor a mulher Samaritana, guardando o seu sentimento de humilhação e amargura para com os Judeus, fez sua pergunta na forma de uma declaração. Ela recebeu de Jesus algo que ela definitivamente não esperava ouvir de um profeta Judeu:

“Jesus declarou: ‘Acredite em mim, mulher, vem a hora em que você não vai adorar o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. Os Samaritanos adoram o que não conhecem nós adoramos o que conhecemos porque a salvação vem dos Judeus. Mas a hora está chegando e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, pois são estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e em verdade”.

Em nossa leitura, portanto, a pergunta da mulher Samaritana reflete uma  boa, honesta e justa suposição de que o ministério de Jesus e chegada em Samaria já tinha se tornado obsoleto. No livro de Hebreus (Hb.12 :1-24), o autor dirigiu-se à comunidade crente. Ele afirmou que a grandeza da fé no Deus de Israel por meio de Jesus, o Messias deve provocá-los a uma resposta muito maior do que os consagrados na tradição Judaica. Ele exortou os crentes a perseverar na fé, como segue:

“Vamos fixar nossos olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé … Você não vem para uma montanha que pode ser tocada e que está ardendo em fogo … Mas você veio ao Monte Sião, à Jerusalém celestial, a cidade do Deus vivo. Você juntou-se a milhares e milhares de anjos em alegre assembléia, à igreja dos primogênitos, cujos nomes estão escritos no céu. Viestes a Deus, o juiz de todos os homens, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o sangue de Abel”.

Para receber mais informações sobre o  aprendizado de Línguas Bíblicas na Universidade Hebraica de Jerusalém  /  programa bíblico on-line da eTeacher a um custo acessível, por favor, clique aqui.Para se inscrever nas mensagens semanais do Dr. Eli, por favor, clique aqui. É recomendado pelo Dr. Eli que você leia tudo, desde o início, de seu estudo de João. Você pode fazê-lo clicando aqui – “Comentário Judaico-Samaritano”.

O argumento básico é que a responsabilidade de observar a Nova Aliança é muito maior do que qualquer nível de compromisso de responsabilidade que foi encontrado pelo povo de Deus no passado. Portanto, manter este compromisso é essencial, apesar das circunstâncias difíceis. O autor apela para tudo o que é maior: Jesus é maior do que o grande Moisés, a Nova Aliança é maior do que a grande Antiga Aliança, o sangue do homem justo (Jesus) é maior do que o sangue do justo Abel. Basicamente, quanto maior for a aliança, maior é a responsabilidade. Um dos argumentos incluídos na comparação geral no livro de Hebreus é que o Monte Sião celeste é melhor e maior que a grande Sião terrena.

Jesus já havia afirmado que o centro da adoração terrena teria que ser transferido da Jerusalém física para a Jerusalém espiritual celestial concentrada em si mesmo, quando ele falou com Natanael. Por favor, permita-nos explicar. O incidente é relatado em João 1:50-51 .

“Jesus disse: ‘Você crê porque eu disse que te vi debaixo da figueira. Você verá coisas maiores do que istas. ” Em seguida, ele acrescentou: “Digo-lhes a verdade, você verá o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”.

Jesus invocou a grande história da Torah do sonho de Jacó, dos anjos de Deus subindo e descendo sobre a Terra Santa de Israel, onde ele estava dormindo (Gn.18: 12). Ele disse a Natanael que muito em breve os anjos estariam subindo e descendo, e não em Betel (em hebraico – Casa de Deus), que os Samaritanos acreditavam estar identificada com Monte Gerizim, mas sobre a última Casa de Deus – o próprio Jesus (João 1: 14).

A religião Samaritana oficial, tanto quanto sabemos, não incluía quaisquer escritos proféticos, pelo menos, tanto quanto sabemos por fontes mais antigas escritas sobre os Samaritanos. “A mulher disse, ‘Eu sei que”o Messias “(chamado Cristo) está chegando. Quando ele vier, vai explicar tudo para nós “” Então Jesus declarou: “Eu que falo contigo, sou ele” (vs. 25-26). Lemos em Dt.18 :18-19:

“Vou levantar para eles um profeta como tu dentre seus irmãos, vou colocar as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as minhas palavras que o profeta falar em meu nome, eu o chamarei para dar conta”.

Apesar de um antigo texto Samaritano falar figurativamente de alguém  semelhante ao Messias – Taheb (Marqah Memar 4: 7, 12), os Samaritanos do tempo de Jesus somente esperam um grande mestre-profeta. O “Messias” como Rei e Sacerdote era um Judeu Israelita, não um conceito Samaritano Israelita, tanto quanto sabemos. Por essa razão, a resposta da mulher Samaritana mostra que esta não era uma conversa imaginária ou simbólica (ele vai explicar para nós tudo). Em vista disso, parece que agora a mulher graciosamente usava terminologia judaica para se relacionar com Jesus – o Judeu [5]. Entre os Samaritanos isto não era habitual. Assim como Jesus estava escolhendo escalar o muro de tabus, agora foi a mulher Samaritana. A história deste encontro “dá orientações sobre como lidar com feridas e divisões, especialmente antigas… no periscópio Samaritano ele é apresentado como um reconciliador de antigos inimigos.” Iremos considerar este tema no capítulo final da aplicação deste livro intitulado – A Chamada.

A história muda rapidamente com o retorno dos discípulos, a sua reação e interação semelhante a um comentário com Jesus. Este intercâmbio é encaixado entre o encontro da mulher Samaritana e os homens da sua aldeia. Os discípulos ficaram surpresos ao vê-lo conversando com a mulher Samaritana, mas ninguém o desafiou sobre a inadequação de tal encontro.

“27 Naquele momento os seus discípulos voltaram e ficaram surpresos ao encontrá-lo conversando com uma mulher. Mas ninguém perguntou: “O que você quer?” Ou “Por que você está falando com ela?” 28 Então, deixando o seu cântaro, a mulher voltou à cidade e disse ao povo: 29 “Venham, vejam um homem que me disse tudo o que eu já fiz. Poderia ser este o Cristo? “30 Eles saíram da cidade e foram em direção a ele. 31 Enquanto isso, os seus discípulos pediram a Jesus: “Mestre, coma alguma coisa.” 32 Mas ele lhes disse: “Eu tenho um alimento para comer que vocês não conhecem.” 33 Então os discípulos diziam uns aos outros: “Será que alguém já trouxe comida para ele? “34” A minha comida “, disse Jesus,” é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. (João 4:27-39 )”.

Embora seja possível que os discípulos tenham ficado surpresos que ele estivesse sozinho com a mulher, o contexto geral da história parece indicar que a resposta do discípulo tinha que, em vez disso, faze-lo conversar com a mulher Samaritana. Deixando para trás o seu cântaro, a mulher correu para a cidade para contar ao seu povo sobre Jesus. Faz uma pergunta importante para eles: seria este aquele a quem Israel tem esperado por muito tempo? Falando como se ele estivesse no contexto do encontro, Jesus aponta aos seus discípulos que o que ele estava fazendo era a pura e simples vontade de Deus. Que fazer a vontade de seu Pai, deu-lhe a divina energia da vida.  Esta energia divina lhe permitiu continuar seu trabalho. Continuamos a leitura:

“Vocês não dizem: ‘Daqui a quatro meses chegará a colheita? Eu digo a vocês, abram os olhos e olhem os campos! Eles estão maduros para a colheita. Até agora, o ceifeiro recebe  seu salário, até agora ele colhe o fruto para a vida eterna, para que o semeador e o ceifeiro possam ser felizes juntos. Assim é verdadeiro o ditado ‘Um semeia e outro colhe ‘. Eu vos enviei a colher o que vocês não plantaram. Outros fizeram o trabalho duro, e vocês tem colhido os benefícios de seu trabalho”.

Nestes versículos, Jesus desafiou seus discípulos. O escritor do Evangelho de João está desafiando seus leitores a considerar a plantação que está pronta para a colheita. É quase certo que os discípulos de Jesus pensavam que a colheita espiritual pertencia sozinha à comunidade Judaica. Jesus desafiou-os a olhar para fora, para a comunidade vizinha herética e contraditória para a colheita – um campo que não tinham considerado até este encontro. O significado do comentário de Jesus sobre o encontro não foi para destacar a importância da evangelização em geral, mas sim para chamar a atenção para os campos que antes não eram vistos ou considerados  inadequados para a colheita.

Enquanto Jesus, sem dúvida, estava conversando com seus seguidores sobre a adequação de ensinar os caminhos de Deus  para os Samaritanos, ele ouviu ao longe as vozes da multidão aproximando-se dele. A testemunha fiel deste evangelho, descreve o fato  assim:

“Muitos dos Samaritanos daquela cidade creram nele, por causa do testemunho da mulher,” Ele me disse tudo o que eu já fiz. ” Assim, quando os Samaritanos foram a ele, pediram-lhe que ficasse com eles, e ele ficou dois dias. E por causa das suas palavras, muitos outros creram. Eles disseram à mulher: “Agora  não acreditamos apenas por causa do que você disse,  agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (vs.39-42).

Para receber mais informações sobre o  aprendizado de Línguas Bíblicas na Universidade Hebraica de Jerusalém  /  programa bíblico on-line da eTeacher a um custo acessível, por favor, clique aqui.Para se inscrever nas mensagens semanais do Dr. Eli, por favor, clique aqui. É recomendado pelo Dr. Eli que você leia tudo, desde o início, de seu estudo de João. Você pode fazê-lo clicando aqui-“Comentário Judaico-Samaritano”.


A interpretação da Bíblia é tarefa difícil. É tão difícil como interpretar qualquer outra coisa na vida. Nós trazemos nosso passado, as nossas noções preconcebidas, nossa teologia já formadas, os nossos pontos cegos culturais, a nossa posição social, nosso sexo, nossos pontos de vista políticos e muitas outras influências para a interpretação da Bíblia. Em suma, tudo o que somos, de alguma forma determina a forma como nós interpretamos tudo. Isto não implica que o significado do texto é dependente de seu leitor. O significado permanece constante. Mas a leitura do texto difere e depende de todos os tipos de coisas que rodeiam o processo de interpretação. Em outras palavras o que um leitor ou ouvinte retira do texto pode diferir  muito de pessoa para pessoa.

Uma das maiores desvantagens na empreitada de interpretação da Bíblia tem sido a incapacidade de reconhecer e admitir que uma interpretação particular pode ter um ponto fraco. O ponto fraco é geralmente determinado por preferências pessoais e desejos sinceros de provar uma teoria particular, independentemente do custo. Nós, os autores, consideramos que ter a consciência de nossos próprios pontos cegos e estar honestamente dispostos a admitir problemas com nossas interpretações, quando existem, são mais importantes do que o brilhantismo intelectual com que defendemos nossa posição.

Uma oportunidade de exercer uma abordagem honesta é quando comentaristas reconhecem que há algo na sua interpretação, que não parece se encaixar com o texto e os comentaristas não sabem bem como explicar isso. O que sentimos pode ser legitimamente sugerido como um desafio para a nossa leitura da história da mulher Samaritana são as palavras que o autor do Evangelho coloca em seus lábios quando ela diz a seus concidadãos sobre seu encontro com Jesus. Ela diz: “Ele me disse tudo o que eu já fiz “O que teria correspondido perfeitamente a nossa interpretação  se suas palavras tivessem sido” Ele me disse tudo o que aconteceu comigo “ou melhor ainda” foi feito por mim”.

Existem várias opções viáveis para resolver este problema. Algumas das opções incluem questões de gramática e a existência hipotética de uma versão anterior em aramaico do Evangelho de João. Embora levando em conta estas possibilidades, os autores consideram que a melhor resposta é  se referir a um manuscrito do Evangelho de João, que tem a frase em uma versão mais curta. Neste manuscrito, as palavras da mulher não terminam com “Ele me disse tudo o que eu já fiz “, mas com “ele me disse tudo”. Estas palavras podem referir-se ou a qualquer circunstância auto imposta ou por outros e não por si só apresentar qualquer tipo de problema para a nossa leitura da história.

A próxima pergunta seria por que a leitura deste manuscrito deve ser preferida em relação ao comumente usado? Para explicar isso, vamos precisar introduzir uma importante ferramenta de estudos bíblicos que pode ser desconhecida para muitos leitores. No entanto, muitos de vocês têm encontrado os resultados da aplicação desta ferramenta muitas vezes por pessoas que trabalham com novas traduções da Bíblia. Por exemplo, muitas Bíblias modernas colocam entre parênteses o texto de João 8:1-11 e mencionam que os manuscritos mais antigos e os mais confiáveis não contêm a amada história da mulher apanhada em adultério que foi trazida a Jesus (Marcos 16: 9-20 é tratado da mesma forma). Esta história pode ser verdade e pode ter sido transmitida oralmente antes de ser incorporada ao texto de João, mas deve-se reconhecer que, mesmo se essa história for verdadeira, ela deve ter sido inserida só mais tarde por um copista. A ferramenta interpretativa que foi usada aqui é chamada de crítica textual. A nomenclatura é enganosa, uma vez que o texto não está sendo criticado, mas analisado e comparado com outros manuscritos. Em outras palavras crítica textual refere-se a uma análise cuidadosa de um texto, em comparação com outros textos, com o objetivo expresso de determinar os mais antigos e precisos manuscritos.

A crítica textual considera vários manuscritos antigos, uma vez que não temos um único original de qualquer livro bíblico, a fim de determinar o texto que seria o mais próximo possível do original. A crítica textual usa todos os manuscritos descobertos, recentes e antigos. Embora para alguns cristãos, propor a relevância de tal método poderia implicar em incredulidade, estamos convencidos de que, quando utilizado de forma responsável este método pode ser uma ferramenta importante nas mãos de intérpretes de textos antigos que sejam honestos, capazes e, principalmente, crentes. Como pode este método científico ajudar?

Um exemplo é o princípio geral que a crítica textual usa para determinar qual manuscrito é mais antigo, um princípio que poderia ser chamado de “prioridade do manuscrito mais curto.” Um manuscrito mais curto é preferido, porque os antigos escribas eram mais propensos a expandir o texto que eles estavam copiando do que a torná-lo mais curto. A expansão do texto era feita com alguma liberdade no mundo antigo, em contraste com o desconforto geral com tal prática dos leitores modernos, um desconforto compartilhado pelos autores deste livro.

Ainda, é claro, era possível que o texto mais longo (no nosso caso, “Ele me disse tudo quanto tenho feito”) fosse o original. Mas o método da crítica textual afirma que, em geral, o oposto é o caso. O texto mais curto é mais provável que tenha sido o original (no nosso caso “Ele me disse tudo”) e só mais tarde teria sido expandido por um escriba que considerou que o texto poderia ser melhorado e seu significado esclarecido se ele acrescentasse no final “eu já fiz”. Se estivermos corretos em nossa compreensão e o contexto da história argumenta a nosso favor, então seria justo dizer que o escriba cristão em seu desejo de ajudar o leitor melhorando o fluxo da narrativa, na verdade, acabou enviando o leitor para um sentido interpretativo diferente


V. As Lições da personagem


Essa história é rica demais para que se possa observar todas as suas grandes mensagens em apenas um único artigo breve. Mas antes que você feche a sua Bíblia e comece a pensar em assuntos mundanos, pare um pouco para observar algumas das maravilhosas lições que aprendemos aqui:

1. Estamos rodeados de oportunidades. O que parece ser um simples encontro entre Jesus e uma mulher desconhecida vira uma tremenda oportunidade para evangelizá-la. Talvez Jesus não voltasse a passar por aquele caminho outra vez, mas ele tirou completa vantagem da oportunidade em suas mãos. Nossos encontros "oportunos" num ônibus, numa loja, ou numa fila de banco, poderiam ser justo uma de tais ocasiões. Vemos campos prontos para serem ceifados?

2. Não ofereceremos a salvação ao mundo com conversa mundana. Quando Jesus usou a linguagem espiritual e a mulher pensou em água do poço, o Senhor não se desviou de seu rumo. Ele encontrou um modo de trazer os pensamentos dela do poço para as elevadas verdades que poderiam mudar a eternidade dela.

3. Jesus usou as perguntas dela como um trampolim para os importantes assuntos que ela precisava ouvir. Ela falou de um monte, e Jesus foi para o seu coração. Ela pensou no Messias como uma esperança futura, e Jesus colocou-a face a face com o Cristo.

4. Para alcançar a salvação, precisa-se ver a verdade penosa da própria condição espiritual. O ponto crítico da conversa foi quando Jesus implicitamente revelou duas coisas: (a) Que a mulher estava num triste estado de pecado e, (2) Que ele é aquele que pode reconhecer e resolver tais problemas da alma.

5. Para alcançar a salvação, não se pode confiar somente no testemunho de outros. Precisamos ouvir as palavras de Jesus. João, e outros discípulos, registraram cuidadosamente as palavras e atos de Jesus para dar a todas as futuras gerações uma base para crerem (João 20:26-31)..



Nos tribunais democráticos seguimos o princípio “inocente até prova em contráro.” Em certo sentido, estamos declarando aqui para o tribunal de nossos leitores que acreditamos que temos apresentado provas suficientes para mostrar “a presença de uma dúvida razoável.” Estamos argumentando que as acusações de “imoralidade e não buscar a verdade espiritual” contra a mulher Samaritana devem ser descartadas. Os motivos são a falta de provas e a presença de outros cenários prováveis que poderiam explicar a interação entre ela e Jesus de uma forma mais satisfatória. Argumentamos que esta história deve servir como um exemplo e uma chamada para reconsiderar a mensagem das Sagradas Escrituras em seus contextos históricos e com maior disposição para pensar fora das tradições aceitas que podem, em última análise, não ter nada que as apoie adequadamente. No início do capítulo dissemos que não estamos apresentando um caso hermético. Nós, contudo, sugerimos uma alternativa possível para a interpretação usual. Acreditamos que a nossa alternativa é aquela mais responsável. Nossas reivindicações são, portanto, modestas, mas permanecem desafiadoras. Foi Mark Twain que disse: “A lealdade a uma opinião petrificada  nunca quebrou uma corrente ou livrou uma alma humana.”


Isto foi só o começo! estaremos de volta com a sequência do estudo sobre a personagem bíblica, até mais!


Nenhum comentário:

Postar um comentário