domingo, 18 de julho de 2021

Série: As sete cartas às Igrejas. 3ª Carta, à Igreja de Pérgamo

 Por Jânio Santos de Oliveira



 Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra
Pastor Presidente: Eliseu Cadena


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Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!




Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra no Livro do Apocalipse 2.12-17 que nos diz:



12 E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios:

 13 Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. 

14 Mas umas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se prostituíssem. 

15 Assim, tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu aborreço. 

16 Arrepende-te, pois; quando não, em breve virei a ti e contra eles batalharei com a espada da minha boca. 

17 Quem tem ouvidos ouça o que o ESPÍRITO diz às igrejas: Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.




Nós estamos apresentando uma série de estudos bíblicos sobre as sete cartas que Jesus escreveu às Igrejas da Ásia menor com a seguinte sequência:

  • Introdução
  • Primeira Carta, à Igreja de Éfeso
  • Segunda carta, à Igreja de Esmirna
  • Terceira Carta, à Igreja de Pérgamo



I. Análise preliminar do texto. 

A cidade de Pérgamo

Esta carta foi dirigida especificamente à Igreja que estava em Pérgamo e neste versículo aparece a expressão: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Essa expressão é amplamente comentada em Apocalipse 2:7 e ocorre em todas as cartas do Apocalipse. Além de ser uma solene ordem para que se dê ouvido ao que se dizia, ordenando para que o homem aja segundo o que lhe é ordenado, assegura-nos que é o Espírito de Deus quem transmite a mensagem. Por conseguinte, não deixando nenhuma alternativa, por se tratar de um “imperativo” – e recuar do mesmo leva o indivíduo a sofrer as consequências dos seus atos. Podemos dar ouvidos ou não às ordens do homens, dependendo da autoridade que estes exerçam sobre nós, mas, as ordens vindas de Deus não estão sujeitas à obediência opcional.   

Quem tem ouvidos ouça;
Mas todos não têm ouvidos?
Afinal de contas, ouvir o quê?
Ouvir de quem?
O que o Espírito diz às Igrejas;
Por quê que essa ordem aparece no imperativo?
Não seria opcional ouvir, ou não?
A priori, às 7 da Ásia;
Ao que vencer;
Vencer corrida?
Vencer jogos olímpicos?
Vencer luta de vale tudo?
Briga?
Darei eu a comer do maná escondido;
Que maná é este?
Escondido de quem?
Escondido aonde?
Escondido por quem?
Escondido para quem?
Escondido porque?
E dar-lhe-ei uma pedra branca;
Por que Pedra Branca?
E na pedra um novo nome escrito?
A pedra trazia o nome do julgado, seria isto?
Nome que ninguém conhece senão aquele que a recebe; somente ele é quem conhecia seu nome;
Mas, que nome?
O que interessa isso?
Quando será?
E, essas coisas já estão próximas a acontecer? Ou ainda vão demorar?



Esse "maná escondido" sugere o alimento espiritual que todos os crentes fiéis receberão no futuro com Jesus. Quando os israelitas viajaram em direção à Terra Prometida, Deus enviou-lhes o maná do céu para que fosse o seu alimento físico (Êx 16.13-18). Jesus, que é o Pão da Vida (Jo 6.51), nos concede um alimento espiritual que sacia a nossa fome mais profunda. Nos sacia sem nos causar empachamento ou mal estar.

Não está claro o que seria essa pedra branca, ou qual seria exatamente o nome escrito nela. Como está relacionada ao maná escondido no céu, ela pode ser um símbolo do alimento eterno dos crentes ou da vida eterna. Essas pedras são muito importantes porque cada uma delas terá o novo nome de cada pessoa que verdadeiramente crê em Cristo. Elas serão a prova de que uma pessoa foi aceita por Deus e declarada digna de receber a vida eterna. O nome de uma pessoa representava o seu caráter. Deus nos dará um novo nome e um novo coração.



Embora não constar sobre o que realmente será essa pedra branca - há escritos que afirmam que nos tribunais da Grécia Antiga, quando um réu estava na frente do Juiz sendo julgado, sua expectativa estava na cor de uma pedra que o Juiz lhe entregasse na conclusão do julgamento – se a cor fosse branca, seria porque o réu estava de livre de punição – se fosse preta, significava que estava condenando.  



II. Visão panorâmica

A igreja em Pérgamo se encontrou numa situação difícil. Por todos os lados, os vizinhos praticavam idolatria e deram honra aos governantes romanos. Os cristãos não abandonaram a verdade do Senhor, o único verdadeiro Soberano. Mas, tanta influência de falsas doutrinas teve um impacto negativo na igreja, poluindo a congregação com doutrinas falsas que incentivavam os irmãos a praticaram idolatria e imoralidade. Jesus chama a igreja ao arrependimento para evitar o castigo divino.
Ao Anjo da Igreja em Pérgamo (Ap 2:12-17)
A igreja em Pérgamo (12): O único livro do Novo Testamento que cita a cidade ou a igreja em Pérgamo é o Apocalipse. Com a ajuda dos romanos, Pérgamo ganhou independência dos selêucidas em 190 a.C., e passou a fazer parte do império romano a partir de 133 a.C. Durante mais de 200 anos, foi a capital da província romana da Ásia. Teve a maior biblioteca fora de Alexandria, Egito. Foi o povo de Pérgamo que começou a usar peles de animais para fazer pergaminho, substituindo o papiro.
Aquele que tem a espada afiada de dois gumes (12): A espada representa autoridade e o poder para julgar e castigar. É Jesus, e não o governo romano, que segura esta espada (1:16).
Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás (13): Os cristãos em Pérgamo eram vizinhos do diabo! Jesus, sempre vigiando para ajudar o seu povo, sabia muito bem da circunstância difícil naquela cidade. Desde 29 a.C., foi o local de um templo dedicado a Roma e Augusto (idolatria oficial do governo romano). Mais tarde, foram erigidos outros templos para a honra dos imperadores Trajano e Severo. Além desses templos para o culto imperial, o povo de Pérgamo adorava outros “deuses”, tais como Zeus, Atena, Dionisio e Asclepio. Encontramos em Pérgamo uma mistura dos poderes do mal – religiões falsas e o poder oficial do governo romano. Enquanto seus vizinhos sacrificavam aos demônios ( 1 Co 10:19-20), os discípulos de Cristo reconheciam o único Deus como Senhor.
E que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas (13): Jesus elogia a perseverança dos cristãos de Pérgamo, que foram fiéis à fé de Jesus, mesmo sob perseguição intensa. A minha fé (a fé de Jesus) é a palavra de Cristo revelada aos homens ( Judas 3). Antipas é mencionado somente aqui. Evidentemente foi um mártir, provavelmente da própria congregação em Pérgamo. Foi morto entre eles, na cidade onde Satanás habitava. Antipas se mostrou fiel até a morte (2:10). Testemunha vem da palavra grega martus. É a mesma palavra usada para descrever Jesus em 1:5. Com tempo, passou a ser usada para identificar pessoas que morreram por seu testemunho de fé, e assim usamos a palavra mártir.
Tenho, todavia, contra ti algumas coisas (14): Apesar da perseverança dos cristãos em Pérgamo, haviam problemas graves ameaçando o bem-estar da congregação. Eles se mostraram tolerantes em relação a falsas doutrinas, especificamente dois erros citados nesta carta.
A doutrina de Balaão (14): A descrição da doutrina de Balaão refere-se à história do Velho Testamento (Nm 22-25; 31:16). No final dos 40 anos de peregrinação, os israelitas chegaram perto da terra prometida. Acamparam-se nas campinas de Moabe, e os moabitas e midianitas ficaram amedrontados. Balaque chamou Balaão para amaldiçoar o povo, mas Deus frustrou todas as suas tentativas de falar contra os israelitas. Balaão desistiu de suas maldições, mas procurou outra maneira de vencer o povo de Israel. Deu o conselho de convidá-los a participarem de uma festa idólatra. Nesta festa, muitos israelitas se envolveram na idolatria e na imoralidade, e Deus mandou uma praga que matou 24.000 israelitas.
[A doutrina de Balaão foi a doutrina que Balaão ensinava, não apenas a doutrina sobre a pessoa de Balaão. Semelhantemente, a doutrina de Cristo não é apenas o ensinamento sobre a pessoa de Cristo. A doutrina de Cristo inclui o que Jesus ensinava. Considere a importância deste fato em relação a textos como Tt 2:10; Hb 6:1, 2 Jo 9. Se alguém for além do ensinamento dado por Jesus, não tem Deus.]
Na igreja em Pérgamo, algumas pessoas agiam como Balaão. Incentivavam o povo a tolerar outras religiões, até participando da idolatria e da prostituição. A sua doutrina foi basicamente igual às idéias atuais de pluralismo (aceitação de diversas religiões como igualmente boas) e sincretismo (juntando duas ou mais religiões).
A doutrina dos nicolaítas (15): A Bíblia não identifica esta doutrina. Mas, diz que Jesus odiava as obras dos nicolaítas e elogia os efésios por rejeitar esses ensinamentos (2:6). Infelizmente, a igreja em Pérgamo tolerava esses falsos mestres.
[Deus condena a tolerância de falsas doutrinas. Às vezes, os homens valorizam tanto a unidade entre pessoas (dentro de uma congregação ou até entre congregações diferentes) que desvalorizam a doutrina pura de Jesus. Toleram falsos ensinamentos e até práticas proibidas, como a imoralidade e a idolatria, mas insistem na importância de manter uma “igreja unida”. Se persistir nesse erro, o próprio Jesus trará o castigo. A unidade entre discípulos é importante, mas a pureza da palavra é mais importante do que a paz entre homens (Tg 3:17). Uma igreja que serve a Jesus necessariamente rejeitará falsos mestres e suas doutrinas erradas.]
Portanto, arrepende-te; e, se não, ... contra eles pelejarei (16): O arrependimento exigido é da igreja, pois ela tolerava esses falsos mestres. Os professores das doutrinas de Balaão e dos nicolaítas precisariam se arrepender, também, ou serem rejeitados ( Rm 16:17-18; Tt 3:10-11). Uma igreja que tolera falsos professores se torna cúmplice do pecado. Se ela não se arrepender, Jesus usará a espada de dois gumes (2:12; 1:16) para trazer seu castigo sobre ela.
Quem tem ouvidos, ouça (17): Como em todas as sete cartas, Jesus chama os ouvintes a darem a atenção devida a sua palavra.
Ao vencedor (17): Todas as cartas, também, incluem a promessa sobre a vitória. Aqueles que persistem até o final receberão a recompensa. Nesta carta, a bênção para o vencedor é descrita em duas partes:
● O maná escondido: Aqueles que recusaram qualquer participação na mesa dos demônios seriam sustentados pelo maná de Deus. Jesus é o maná dado pelo Pai ( Jo 6:31-65). Ele sustenta os fiéis e lhes dá vida. A mensagem de Jesus continua oculta para os sábios deste mundo (veja 1 Co 2:6-10).
● Uma pedrinha branca com um nome novo escrito: Um nome novo, freqüentemente, sugeria uma nova direção na vida, especialmente de uma pessoa abençoada por Deus (exemplos: Abrão > Abraão; Sarai > Sara; Jacó > Israel). Em Isaías 62:2-4, Desamparada e Desolada recebem nomes novos: Minha-Delícia e Desposada, mostrando a bênção de estar com Deus. Veja, também, 3:12. A pedrinha branca pode incluir vários significados, conforme os costumes da época. Pedras brancas foram usadas para indicar a inocência de pessoas acusadas de crimes; Jesus inocenta os seus seguidores fiéis. Pedras brancas foram dadas a escravos libertados para mostrar sua cidadania; os fiéis não são mais escravos do pecado, pois se tornaram cidadãos da pátria celestial (Filipenses 3:20). Foram usadas pelos romanos como um tipo de ingresso para alguns eventos; Jesus permite os fiéis entrarem na presença dele para o seu banquete ( 19:6-9). Também foram dadas aos vencedores de corridas e aos vitoriosos em batalha. Os fiéis são vencedores que receberão o prêmio (2 Tm 4:7-8).



III. O contexto circunstancial da carta à Igreja de Pérgamo



De uma forma impressionante os fatos históricos a respeito da cidade de Pérgamo ajustam-se aos fatos descritos na terceira carta de Cristo ( Ap 2:12-17). Atualmente chamada de Bergama, Pérgamo foi nos tempos antigos uma importante cidade da Mísia, situada na Ásia Menor, a 80 quilômetros ao norte de Esmirna e foi construída num monte, numa altitude de 350 metros. Por isso, o significado de Pérgamo é altura e/ou elevação. Ela começou a se destacar depois que o seu rei, Átalo III, em 133 aC. legou em testamento o seu reino aos romanos.

A fama de Pérgamo fundamentava-se principalmente em sua preeminência religiosa.. Quando os persas conquistaram os babilônios, eles deram liberdade a seus habitantes. Mas os sacerdotes pagãos, mais tarde, revoltaram-se e saíram da cidade de Babilônia, fugindo para Pérgamo. Ali estabeleceram o seu quartel general. Era o centro de quatro grandes cultos pagãos: Zeus, Atenas, Dionísio e Esculápio. Também foram erigidos templos em honra dos imperadores Augusto, Trajano e Sétimo Severo. O monarca governante tornou-se o líder do sistema. Seu título “Pontífice Máximo” tem o significado de “máximo construtor de pontes”. Nisto vemos uma semelhança com a construção da torre de Babel, cujo propósito era unir todos os povos e estabelecer uma ponte entre o céu e a terra. A falsa religião estabelecida em Pérgamo tinha as mesmas pretensões.

Quando Átalo III transferiu o seu reino aos romanos, todo o culto pagão foi conseqüentemente transferido para Roma, que desde então passou a ser o centro deste falso sistema de culto. Pérgamo tornou-se assim um elo entre a antiga Babilônia e a moderna Roma.

Todas estas informações históricas são muito significativas e elas nos dão os indícios necessários das razões de Pérgamo ter sido escolhida para representar simbolicamente a terceira fase vivida pelo povo de Deus. Foi um período de grandes mudanças no campo espiritual. Quando Constantino tornou-se Imperador Romano, um dos seus primeiros atos foi juntar-se ao seu co-imperador Licínio na publicação do Edito de Milão, em fevereiro de 313 dC., que não só confirmava a tolerância religiosa para com os cristãos, como a estendia aos adeptos de todas as religiões. Estava formado um poder político-religioso de grandes proporções, com a finalidade de assegurar a paz religiosa em todas as províncias romanas. Esta mútua transigência entre o paganismo e a fé cristã resultou no desenvolvimento de um gigantesco sistema de religião falsa, uma obra prima do poder de Satanás.


1. Constantino e o cristianismo

Esta fase da história da igreja de Deus cobre o período em que se estabeleceram os fundamentos da falsa religião. Sempre foi o objetivo de Satanás atacar aqueles que se propuseram a obedecer a Deus. Como ele não conseguiu destruir o povo de Deus com as perseguições, tentou destruí-lo por outros meios.

Ao tornar-se Imperador Romano, Constantino conseguiu alterar o curso da História. Mesmo dizendo ter-se convertido ao “cristianismo”, ele conservou o título de “Pontifex Maximus” do paganismo ou sumo sacerdote da religião do Estado. Ele atribuiu a sua vitória ao “deus sol-invictus”. O cristianismo defendido por Constantino nada tinha a ver com a fé defendida pelo verdadeiro povo de Deus. Dentre este povo muitos foram batizados sem conseguirem abandonar inteiramente os velhos costumes e doutrinas trazidos das religiões pagãs. Assim a pureza do evangelho de Cristo foi aos poucos se corrompendo com as falsas doutrinas ensinadas por aquelas religiões.

Constantino considerava a Igreja como uma grande força unificadora e estava ansioso para que o cristianismo se tornasse a religião universal do Império Romano. Ele queria evitar todas as lutas internas da Igreja, arrazoando que deveria haver uma igreja unida e conseqüentemente um império unificado. Como resultado, muitos cristãos não foram capazes de manter pura a adoração ao único e verdadeiro Deus.

Ao intrometer-se em assuntos eclesiásticos, exercendo a sua influência apaziguadora, o Imperador Constantino, em 07 de março de 321, ditou a primeira lei tornando obrigatória a observância do domingo, dia em que os pagãos prestavam culto ao deus Sol, prática que posteriormente foi incorporada no seio do cristianismo. O primeiro dia da semana tomou o lugar do sábado bíblico. A lei determinava o seguinte:

“Todos os juízes, pessoas da cidade e artesãos devem descansar no dia venerável ao Sol. Mas as pessoas do campo podem sem objeções dedicar-se à agricultura, pois muitas vezes acontece ser este o dia mais favorável para semear cereais ou plantar vinhas.” Depois de Jesus o triunfo do cristianismo, p. 239.

Foi também durante o seu reinado que a doutrina da Trindade foi pela primeira vez discutida em assembléia, na presença de 318 bispos, durante o Concílio de Nicéia em 325 dC. Nesta assembléia foram tomadas decisões importantes, porém, contrárias aos ensinamentos de Cristo e de Seus apóstolos.

O cristianismo de Constantino, com suas tradições humanas e costumes pagãos, transformou-se num forte desafio para o verdadeiro povo de Deus.



“Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois gumes: Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; mas reténs o Meu nome, e não negaste a Minha fé, mesmo nos dias de Antipas, Minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Entretanto, algumas coisas tenho contra ti; porque tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, induzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem. Assim tens também alguns que de igual modo seguem a doutrina dos nicolaitas. Arrepende-te, pois, ou se não, virei a ti em breve, e contra eles batalharei com a espada da Minha boca. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” Apocalipse 2:12-17.

1. A  espada de dois gumes

Diz o texto bíblico que o Senhor Jesus apresentou-Se à Igreja em Pérgamo como “aquele que tem a espada aguda de dois gumes.” Ap 2:12.

A espada foi considerada como o símbolo de ordem mais elevado de autoridade oficial na cultura romana e era também um símbolo de guerra. Aqui é Jesus quem segura a espada de dois gumes, significando que neste período da história cristã seria travada uma importante batalha espiritual. Somente aqueles que desembainhassem esta espada venceriam esta luta. O que seria esta espada? A Bíblia nos dá a resposta:

“Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” Hb 4:12.

2. O Trono de satanás

“Sei onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; ...” Ap 2:13.

Pérgamo era uma cidade totalmente tomada por adoradores dos falsos deuses. Por esta razão ela foi citada na carta como lugar onde estaria o trono de Satanás. A igreja em Pérgamo representa simbolicamente o período da história cristã em que o arqui-inimigo de Deus se infiltraria entre o verdadeiro povo de Deus sob o manto de religiosidade com o objetivo de seduzi-lo, levando-o a perverter a verdadeira fé.

Confirmada a tolerância religiosa que abrangia os adeptos de todas as religiões, o Imperador Constantino procurou induzir o povo a fazer parte de uma igreja que seria elevada à condição de Igreja Imperial e à categoria de Igreja do Estado, estabelecida por ele. Mais tarde este falso sistema religioso ganhou força em todo o Império Romano e um dilúvio de mundanismo, corrupção, ritos e cerimônias pagãs foram ali praticados. Constantino introduziu através os seus concílios as doutrinas pagãs, entre elas a adoração de imagens e a doutrina da trindade. Satanás deu ao Império Romano “o seu poder, e o seu trono e grande autoridade.” (Ap 13:2 ).

Mesmo neste período de terrível apostasia, houve aqueles que permaneceram fiéis, os que combateram o bom combate da fé e não desanimaram mesmo em face da morte: Estes não se uniram ao falso sistema estabelecido por Constantino. A estes foram dirigidas as seguintes palavras:

“… mas reténs o Meu nome, e não negaste a Minha fé, mesmo nos dias de Antipas, Minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.” Ap 2:13.

Com relação à Antipas não há registro histórico e em nenhuma outra passagem bíblica o seu nome é mencionado. Alguns supõem que Antipas representa uma classe de cristãos que se opunha ao poder do clero romano. Outros o apresentam como um personagem real, mártir numa das perseguições contra os cristãos. O destaque, porém é que Antipas recebeu o título de “fiel testemunha”, o mesmo título dado a Jesus ( Ap 1:5), pois com a sua morte selou seu testemunho a favor de Cristo.

3. A doutrina de Balaão

Na repreensão dada à igreja do período simbólico de Pérgamo, o Senhor Jesus diz que alguns dentre o povo de Deus seguem a doutrina de Balaão (Ap 2:14).

Encontramos a história de Balaão em Números capítulos 22-25. No final dos 40 anos de peregrinação no deserto, o povo de Israel chegou perto da terra prometida. Os israelitas acamparam-se nas campinas de Moabe, deixando os moabitas e midianitas amedrontados. Balaão era considerado pelo povo de Israel como um profeta de Deus. Porém, segundo o relato bíblico, por amor à exaltação e ao dinheiro, Balaão une-se aos pagãos para armar ciladas contra o povo de Deus. Procurado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar Israel que avançava vitorioso, Balaão concordou em atender o seu pedido, mas Deus frustrou todas as suas tentativas. Ao chegar Israel à margem oriental do Jordão, Balaão sugeriu um plano ao rei moabita para afastar os israelitas de Deus. Deu o conselho de convidar o povo de Israel a participar de uma festa idólatra. Nesta festa muitos israelitas se envolveram na idolatria e na imoralidade. Como castigo, Deus mandou uma praga que matou 24.000 israelitas.

Esta era também a tendência durante o quarto século da simbólica igreja em Pérgamo. Algumas pessoas agiam como Balaão. Incentivavam o povo a tolerar as mais diversas práticas pagãs e o pluralismo religioso. O cristianismo pagão, com suas doutrinas, cerimônias e superstições, têm se propagado rapidamente, tornando-se um desafio à fé e culto dos professos seguidores de Cristo.


4. A doutrina dos nicolaítas

O termo “nicolaita” é composto no idioma grego por duas palavras e que tem o seguinte significado:

NIKAO = conquistar (no sentido de dominar);
LAOS = povo, gente, multidão.

Assim, o termo “nicolaitas” tem o sentido de “Dominadores do Povo”. A doutrina nicolaita concebeu a idéia da formação de uma hierarquia na Igreja, o chamado Clero. A formação de uma hierarquia eclesiástica tinha a finalidade de exercer o poder sobre o povo. Apenas o Clero tinha autoridade para interpretar ao povo as Escrituras Sagradas e exercer o domínio em questões de fé. Infelizmente este sistema de governo centralizador é atualmente praticado em quase todas as denominações religiosas.

Possivelmente foram os nicolaitas os formadores do pensamento da recém formada Igreja Romana. De acordo com o relato bíblico, houve uma frustrada tentativa de exercer o poder sobre o povo de Deus já no final do século I (ver Apocalipse 2:6). A partir do século IV, ao se institucionalizar a Igreja Romana, disseminou-se a idéia de se formar uma Igreja Universal, com sua sede e poder hierárquico centralizador. Em meados do século VI, ou seja, no ano 533 dC., através um decreto do Imperador Justianiano, o bispo de Roma foi elevado à condição de Chefe da Igreja Universal. Estabeleceu-se desta forma uma hierarquia sem o devido respaldo bíblico:

 O Sumo Pastor nunca poderia ser o bispo de Roma. Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote, Sumo Pastor e cabeça da Igreja de Deus (Hebreus 4:14; 6:19,20; 8:1,2; I Pedro 5:1-4; Efésios 5:23).

2. Dentro do modelo apostólico não existe a idéia de um líder regional, nacional ou mundial. Nenhum ministro pode exercer autoridade sobre o outro (I Coríntios 3:4-9, 21-23).



IV. Análise geral da carta de Jesus à Igreja de Pérgamo





1. O destinatário
A . Um anjo numa cidade infernal. Não era nada fácil ao anjo de Pérgamo habitar nessa cidade. Se por um lado, era coagido pelos pagãos a incensar o altar no qual César era divinizado; por outro, era constrangido a conviver com o paganismo que, a princípio sutil, ameaçava agora o remanescente fiel da igreja. Mas o Senhor Jesus estava de tudo ciente: “Eu sei as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás” (Ap 2.13). Denota-se, pois, que os crentes infiéis e casados com o mundo, haviam entronizado Satanás na casa de Deus.
Pérgamo era uma cidade infernal, mas o Senhor queria o seu anjo ali, para que ali fosse manifestado o Reino dos Céus.
O paganismo não ficou restrito a Pérgamo. Nestes últimos dias, o Diabo vem repaganizando o mundo através dos meios de comunicação. Há um panteão em cada praça.
B . O testemunho e a perseverança de um anjo. Embora habitasse num lugar espiritual e moralmente hostil, o anjo da igreja em Pérgamo porfiava em manter o seu testemunho, como realça o próprio Senhor. “[…] reténs o meu nome e não negaste a minha fé” (Ap 2.13). Ele mantinha uma postura impecável como servo de Deus. Se parte de sua igreja achava-se casada com o mundo, ele e o remanescente fiel encontravam-se aliançados com o Cordeiro de Deus.
C. Antipas, a fiel testemunha. Mui provavelmente, Antipas havia precedido o destinatário da carta no pastorado de Pérgamo. E pelo que depreendemos das palavras do Senhor, o fiel Antipas, cujo nome em grego significa “contra todos”, levantara-se para combater os apóstatas que haviam entronizado o Diabo naquela igreja. Por isso, ajuntaram-se todos para tirar-lhe a vida, conforme denuncia Jesus: “o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita” (Ap 2.13).
Sim, Antipas não foi morto pelas autoridades romanas. Ele foi morto pelos que se diziam irmãos. Por conseguinte, caberia ao atual anjo de Pérgamo continuar a luta de Antipas. Levantar-se-ia ele contra os que detinham a doutrina de Balaão e sustentavam o ensino dos nicolaítas.

O pastor da igreja em Pérgamo manteve uma postura impecável como servo de Deus, mesmo vivendo em uma cidade idólatra e maligna.
2. As heresias de Pérgamo
1. Doutrina de Balaão. Ensino pseudo bíblico que, torcendo as Sagradas Escrituras através de artifícios teológicos e hermenêuticos, corrompia a graça de Deus, apresentando aos santos uma teologia permissiva e eticamente tolerante (Jd 4). O objetivo dessa doutrina era levar o povo de Deus à prostituição e à idolatria, a fim de, enfraquecendo-os moral e espiritualmente, extorquir-lhes os bens materiais. Era a teologia dos ladrões.
O patrono desta doutrina era Balaão, filho de Beor que, embora profeta e teólogo, utilizou-se da profecia e da teologia para levar a maldição ao arraial hebreu (Nm 25). Subornado por Balaque, rei de Moabe, ensinou-lhe como levar a maldição às tendas hebreias. Por isso, o apóstolo Pedro taxa-o de louco (2 Pe 2.15,16). E Judas acusa-o de venalidade (Jd 11).
Balaão tinha os seus discípulos em Pérgamo. Estimulados pela ganância, utilizavam-se de sua influência teológica sobre a igreja, a fim de levá-la a noivar-se com o mundo.
2. A doutrina dos nicolaítas. Não sabemos muita coisa acerca dos nicolaítas. O que sabemos é que a sua doutrina não destoava quase nada do ensino de Balaão. Pelo menos quanto ao conteúdo.
Se Balaão era dissimulado, sutil e teológico, os nicolaítas, fazendo abertamente comércio dos santos, publicamente apregoavam a repaganização da igreja, afirmando ser possível servir a Deus e aos ídolos. Utilizando-se de um linguajar bem elaborado, levaram muitos fiéis a se desviarem pelos caminhos da fornicação, do adultério e da idolatria.

Na igreja de Pérgamo havia falsos mestres que seguiam e ensinavam a doutrina de Balaão, cujo objetivo era levar o povo de Deus à prostituição e à idolatria.

Devemos imitar a perseverança dos discípulos em Pérgamo, mantendo firme a nossa fé, mesmo se encararmos ameaças e perseguições. Ao mesmo tempo, não devemos negligenciar outras responsabilidades diante de Deus. Servimos um Deus puro, e devemos manter e defender a doutrina pura que ele revelou. Qualquer doutrina que incentiva a idolatria ou a imoralidade vem do diabo. Procuremos o maná que vem de Deus para nos sustentar para sempre.

Em breve estaremos de volta dando sequencia a esta série.

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