Por Jânio Santos de Oliveira
Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra
Pastor Presidente: Eliseu Cadena
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Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!
Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra na epístola aos Hebreus 3:1-19 que nos diz:
1 — Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão,
2 — sendo fiel ao que o constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa.
3 — Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou.
4 — Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus.
5 — E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar;
6 — mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim.
7 — Portanto, como diz o Espírito Santo, se ouvirdes hoje a sua voz,
8 — não endureçais o vosso coração, como na provocação, no dia da tentação no deserto,
9 — onde vossos pais me tentaram, me provaram e viram, por quarenta anos, as minhas obras.
10 — Por isso, me indignei contra esta geração e disse: Estes sempre erram em seu coração e não conheceram os meus caminhos.
11 — Assim, jurei na minha ira que não entrarão no meu repouso.
12 — Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.
13 — Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado.
14 — Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.
15 — Enquanto se diz: Hoje, se ?ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação.
16 — Porque, havendo-a alguns ouvido, o provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés.
17 — Mas com quem se indignou por quarenta anos? Não foi, porventura, com os que pecaram, cujos corpos caíram no deserto?
18 — E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes?
19 — E vemos que não puderam entrar por causa da sua incredulidade.
A história de Moisés começa no capítulo 2 do livro de Êxodo,ele foi um homem escolhido por Deus para tirar o povo do Egito.
Já discorremos sobre os seguintes temas:
- Introdução
- A natureza da fé.
- A fé dos antediluvianos
- A fé dos patriarcas
Agora falaremos sobre " A fé de Moisés".
I. Análise preliminar do texto.
A fé de Moisés (Hb 11.23-29)
Moisés também recebe um tratamento extenso, porque tanto ele quanto o Êxodo têm muita importância na história do povo de Deus, no AT. Sua vida inteira fora marcada pela consciência da presença e do poder de Deus, além da crescente obediência à palavra do Senhor. Algumas lendas judaicas creditavam a Moisés um vasto conhecimento de aritmética, geometria, poesia, música, filosofia, astronomia e outros ramos do saber. Mas a Escritura afirma “Que nunca mais se levantou em Israel outro profeta como Moisés, (Dt 34.10 Êx 33.11).
O autor da carta destaca dois aspectos da fé de Moisés: pessoal e nacional. O esboço a seguir nos ajudará a cobrir os principais destaques do parágrafo a ser estudado.
A autonegação de Moisés (v.24).
A solidariedade e a santificação de Moisés (v.25).
O sofrimento voluntário de Moisés (v.26).
A fé durante o Êxodo (v.27).
A fé na celebração da Páscoa (v.28).
A fé na travessia do mar Vermelho (v.29).
. A fé em Cristo é superior (Hb 11.39-40)
Na época que Moisés nasceu, Faraó,um rei que governava Egito estava com medo de uma revolta pois o povo de Israel só aumentava, por isso ele passou uma ordem, que todos os bebês israelitas homens que nascessem deveria ser mortos. A mãe de Moisés não queria ver seu filho ser morto, assim , colocou ele em um pequeno cesto na beira de um rio com esperança de que alguém o encontrasse.
Aconteceu que a filha de Faraó estava tomando banho no rio e encontrou o cesto, aconteceu que ela ficou com muita dó e resolveu ficar com a criança, mas ela precisava de alguém para amamentar, foi então que Miriam, irmã de Moisés se ofereceu para encontrar alguém que pudesse cuidar do bebê, e sem que a filha de Faraó soubesse, ela trouxe a mãe de Moisés para que pudesse cuidar dele.
Quando Moisés cresceu, foi devolvido a filha de Faraó, que colocou esse nome pois das águas havia sido tirado.
Muita coisa aconteceu na vida Moisés, e ele descobriu que não era filho da filha de Faraó, e se revoltou quando viu um Egípcio ferindo um Hebreu, assim ele matou esse Egípcio, fazendo com que Faraó ficasse contra ele, então Moisés fugiu para que não fosse morto.
Mas Deus já tinha preparado o destino de Moisés e depois de algum tempo, apareceu para ele na sarça ardente “um tipo de árvore pegando fogo, mas que não queimava”. E então Deus ordenou Moisés a voltar ao Egito e a convencer Faraó a libertar o povo de Israel.
Deus sabia que isso não ia ser fácil,então Ele deu a Moisés sinais de que ele não estava só, Deus estaria com ele, e estes sinais serviriam para que o povo e Faraó acreditassem que o que Moisés dizia era verdade.
Chegando à Faraó, Moisés conforme Deus mandou,lançou sua vara no chão e ela se transformou em uma cobra, então Faraó chamou seus feiticeiros, que fizeram o mesmo, mas a cobra de Moisés engoliu as cobras dos feiticeiros. Mas isto não convenceu Faraó, que não acreditou em Moisés e mandou aumentar o castigo sobre o povo de Israel.
Moisés continuou tentando convencer Faraó usando os sinais de Deus, que desta vez lançou pragas sobre o Egito. E só assim o coração de Faraó amoleceu e deixou o povo de Israel sair do Egito, e para comemorar Deus ordenou ao povo de Israel que fosse feita uma festa em forma de culto de agradecimento.
Com tudo isso, Faraó ainda não se rendeu e perseguiu o povo de Israel até cerca-los em frente ao Mar Vermelho. Então, mais uma vez Deus agiu, abrindo o Mar para Seu povo passar e fechando novamente quando o exército de Faraó tentou atravessar, matando todos os seus soldados afogados.
II. Visão panorâmica
Por 40 anos, Moisés se beneficiou com tudo o que o Egito tinha a oferecer. Mas só depois que deixou o Egito pela primeira vez foi que começou a aprender o que realmente era importante. E foram necessários outros 40 anos no deserto para Moisés descobrir como Deus pretendia usá-lo. Até lá, ele foi quebrantando e refeito por Deus. Aprendeu a ser humilde.
Muitas pessoas tem tanto medo de assumir um risco que passam a vida toda no Egito, na terra do INSUFICIENTE. Poucas pessoas se dispõem a sair de sua zona de segurança e, consequentemente, entram no deserto, na terra do SUFICIENTE.
Mas Deus quer mais para nós! Ele quer que nós deixemos o deserto e entremos na terra prometida, a terra do MAIS DO QUE SUFICIENTE.
Moisés decidiu encarar todos os desafios que Deus tinha para sua vida. Moisés decidiu perseverar pelo poder da fé, deixando a sua zona de conforto para desfrutar das coisas sobrenaturais e extraordinárias que Deus já havia liberado sobre a sua vida. Porque perseverou pelo poder da fé, Moisés desfrutou dessa incrível experiência:
“O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com seu amigo.” (Êx 33.11)
III. O nascimento de Moisés
1. Os israelitas no Egito.
Moisés nasceu em um momento desfavorável aos filhos de
Abraão no Egito. O livro de Êxodo começa indicando que “os
filhos de Israel frutificaram, e aumentaram muito” (Êx 1.7).
Esse cenário nos parece bastante favorável à existência de
um povo, tendo em vista que as relações sociais entre os
hebreus são descritas como propícias à expansão
demográfica. Os israelitas podiam se casar, ter filhos e criá-
los, e estes cresciam, tinham seus filhos e os criavam, e assim
sucessivamente.
Mas no versículo 8, a história nos mostra uma mudança no
cenário político do Egito que traria muito sofrimento aos
filhos de Israel. “Depois, levantou-se um novo rei no Egito,
que não conhecera a José”. Este verso mostra o que eu
chamo de “princípio das dores” para os hebreus que
moravam no Egito. Até esse momento, não há indicação de
que eles eram vistos como uma massa de trabalho escravo
pronta para satisfazer os desejos de reformas e construção de
novas estruturas no Egito. Os hebreus tinham seus afazeres, e
ao que tudo indica, não influenciavam negativamente em
qualquer fato social dos egípcios.
Mas não foi isso que o novo rei do Egito viu. Ele assumiu o
poder e entendeu que três situações poderiam ocorrer.
Conforme Êxodo 1.11, a) os israelitas, como um grande
grupo de pessoas, estava crescendo bastante; b) ele imaginou
que em um caso de guerra futura, os israelitas se associariam
com os inimigos dos egípcios; c) ele também entendeu que no
caso de uma guerra, os israelitas sairiam do Egito (“suba da
terra”), o que traria uma grande frustração aos planos de
expansão e de reformas estruturais de construção civil
nacional.
Podemos extrair dessas observações que o homem sem Deus
vai buscar razões malignas para justificar seus feitos, e vai
convencer a si mesmo e aos que o cercam. Faraó não
percebeu que se o povo de Israel estava crescendo, era um
sinal claro da bênção de Deus. Além disso, não há registros
de que Israel tivesse intenções de se associar a outras nações
em uma guerra futura contra os egípcios. Mas a Bíblia
declara que os pensamentos de Faraó estavam relacionados
a trazer prejuízo aos israelitas.
Êx 1.7 Grande Posteridade e Grande Prosperidade. Uma das
provisões do Pacto Abraâmico falava na grande posteridade
de Abraão, a qual desfrutaria abundância de riquezas
materiais. Ver as notas sobre Gn 15.18 quanto a uma
descrição detalhada desse pacto e suas provisões.
Aumentaram muito. No hebraico, “enxamearam”, como se
fossem insetos a zumbir em razão de seu grande número. Ver
Gn 7.21. Houve extraordinária multiplicação; e foi
precisamente isso que assustou os egípcios, levando-os a
subjugar a grande massa que aumentava mais e mais.
Israel se desenvolvera, impondo sua própria identificação e
seu poder. Havia muitos jovens em idade de serviço militar. A
situação tornara-se explosiva. A hostilidade egípcia tinha
sido assim despertada.
A terra se encheu. Ou seja, a terra de Gósen , a região que 0 Faraó havia concedido à família
de Jacó (Gn 45.10). Ela era também chamada terra de
Ramessés (Gn 47.11), aquela porção do Egito que Faraó
Ramsés II, mais tarde, desenvolveu, construindo ali muitas
cidades. O tempo que se escoou entre Gn 50.26 e Êx 1.7
foi, talvez, de cem anos. Uma posteridade numerosa fazia
parte do Pacto Abraâmico desde sua versão original (G n.
12.1-3). A nação de Israel haveria de formar-se; receberia
seu próprio território; e, então, ser-lhe-iam conferidas sua
constituição nacional e suas leis.
Êx 1. 7. O texto hebraico repete deliberadamente três verbos
usados em Gênesis 1: 21,22 e que podem ser traduzidos “
frutificaram ... aumentaram muito ... se multiplicaram” . Esse
aumento foi interpretado como a bênção prometida por Deus
à Sua criação. Um tempo considerável já passara desde a
morte de José: na menor das estimativas, Moisés era a quarta
geração depois de Levi (Nm 26:58) e ele pode ter vivido
centenas de anos depois (12:40). E a terra se encheu deles se
refere ou à terra de Gósen (provavelmente o Wadi Tumilat,
que se estende do Nilo à linha do atual Canal de Suez) ou
então, em linguagem hiperbólica, todo o território do Egito.
Esta última interpretação, embora estatisticamente incorreta,
expressa bem os sentimentos dos egípcios, que em algumas
partes haviam sido reduzidos a uma minoria diante dos
indesejáveis imigrantes.
O cumprimento da promessa de Deus (1.7). Os filhos de
Israel frutificaram, e aumentaram muito. Ainda que os
homens que Deus escolheu morram, Ele cuida dos filhos que
ficam. Deus prometeu para Abraão que lhe aumentaria a
semente (Gn 12.2; 15.5; 17.1-8) e aqui, no Egito, esta
promessa foi cumprida. Quando Israel saiu do Egito o total
computava cerca de 600.000 homens, além das mulheres e
crianças (12.37). Levando-se em conta o tempo decorrido,
não se tratava necessariamente de crescimento incomum.
Mas considerando o ambiente hostil, esse aumento mostrava
a providência especial de Deus. O que Deus prometeu ao
gênero humano na criação (Gn 1.28) agora estava tendo
cumprimento na sua família escolhida. As palavras
aumentaram muito provêm do hebraico que significa
“abundar ou enxamear” como se dá com os insetos e na vida
marinha (ver Gn 1.20; 7.21).3 Os israelitas não somente
eram muito numerosos, mas foram fortalecidos grandemente.
E lógico que esta expressão indica saúde e vigor. Moisés
reconheceu esta providência graciosa quando escreveu: “Siro miserável foi meu pai, e desceu ao Egito, e ali
peregrinou com pouca gente; porém ali cresceu até vir a ser
nação grande, poderosa e numerosa” (Dt 26.5).
A terra que se encheu deles diz respeito a Gósen, onde Jacó e
seus filhos se instalaram (Gn 47.1,4-6,27). Não há dúvida de
que com o passar do tempo eles cresceram a ponto de este
lugar se tornar pequeno demais, levando-os a se relacionar
com os egípcios em outras regiões do país. O aumento
numérico logo chamou a atenção do rei.
2. Um bebê é salvo da morte.
Como foi dito, Moisés não veio ao mundo em um período
propício ao nascimento de um menino hebreu. Quanto mais os
israelitas eram afligidos, mais se multiplicavam, a ponto de o
rei dar ordens às parteiras das hebreias, Sifrá e Puá, para
que matassem os meninos recém-nascidos. Faraó acreditou
que poderia contar com a obediência dessas mulheres, mas
estas temeram a Deus e não obedeceram ao rei, sendo
posteriormente recompensadas por Deus. Quando chamadas
para prestar contas, disseram ao rei que as mulheres
hebreias eram “vivas”. A Versão Atualizada da Bíblia usa a
expressão “vigorosas”, e a Nova Tradução na Linguagem de
Hoje diz que as mulheres hebreias “dão à luz com
facilidade”. Independentemente das versões utilizadas, os
textos mostram que as parteiras foram inquiridas por Faraó e
deram a ele uma resposta que as isentou de sujarem as mãos
com sangue inocente. A nossa fé em Deus deve sempre nos
motivar a fazer o que é certo e justo, e acima de tudo, a não
compactuar com o que está errado.
Mas os planos de Faraó não pararam. Se as parteiras
hebreias não cumpriam as ordens dadas, a ordem agora
passou para o povo egípcio: “Então, ordenou Faraó a todo o
seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis
no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida” (Ex 1.22).
Isso significa que qualquer egípcio ou egípcia poderia entrar
nas casas dos israelitas, pará-los nas ruas ou em qualquer
lugar onde estivessem, pegar a criança recém-nascida,
conferir-lhe o sexo e, se fosse um menino, tomá-lo da sua mãe
e ir direto ao Rio Nilo para jogar o bebê, a fim de que ele se
afogasse ou fosse devorado por crocodilos. Os planos de
Satanás eram cruéis, e deixavam um sinal claro do que ainda
estava por vir para os filhos de Abraão. Outra coisa a se
observar é o fato de que a maldade humana cria métodos
malignos para conseguir seus feitos. Mas se Satanás tinha um
plano de opressão, escravidão e morte contra os hebreus,
Deus também tinha um plano, mas de livramento, libertação e
de vida para os seus filhos.
A Bíblia diz que um casal da tribo de Levi teve um menino, e,
não podendo mais escondê-lo, colocou-o em um cesto de
juncos, uma construção bem frágil para proteger uma
criança. Aquele cesto simples foi colocado na borda do rio,
entre as plantas. E exatamente naquele lugar a filha de Faraó
foi se banhar, e vendo o cesto, ordenou que uma de suas
criadas o fosse pegar. A filha de Faraó se compadeceu do
menino, decidiu criá-lo e dessa forma Deus preservou a vida
do menino Moisés, usando a filha de Faraó para tal
livramento.
Êx 1.17 As parteiras... temeram a Deus. As parteiras hebreias
ouviram e assentiram com a cabeça (a fim de salvarem a
própria vida). Mas, na hora critica, poupavam da morte aos
meninos. Humanidade, misericórdia e temor a Deus foram,
para elas, motivos mais poderosos que 0 da autopreservação.
O temor a Deus e a misericórdia fazem parte da verdadeira
religiosidade.
Humor. Yahweh frustrou o plano genocida do Faraó. Foram
baixadas ordens de uma origem ainda superior às do Faraó,
o próprio trono do Altíssimo. Assim, Israel continuou a
multiplicar-se e a prosperar, apesar de todos os planos do
Faraó e suas ordens genocidas.
Quando Israel finalmente partiu do Egito, segundo disse
Moisés, os israelitas pediram “emprestadas” coisas dos
egípcios. E quando Arão tentou desculpar-se diante de
Moisés sobre por que fizera um bezerro de ouro, Arão lançou
culpa sobre o fogo, dizendo: “e eu o lancei no fogo, e saiu
este bezerro" (Êxo. 32.24), como se ele tivesse ficado tão
admirado quanto qualquer outra pessoa. Portanto, há
bastante humor no livro de Êxodo. Mas podemos estar certos
de que, no tocante às parteiras, a questão era tão
mortiferamente séria quanto uma questão de vida e morte.
Alguns estudiosos pensam que neste versículo há alguma
indicação de que também estavam envolvidas parteiras
egípcias, e não apenas hebreias. O fato foi que as parteiras,
como uma classe, responderam “sim” ao Faraó, mas agiram
com um “não”, no que toca ao decreto real da matança dos
meninos hebreus.
Êx 1.18 Por que... deixastes viver os meninos? “Por que
vocês desobedeceram às minhas ordens e agiram de modo
contrário ao que eu tinha ordenado?" Assim perguntou 0
Faraó. Tratava-se de algo que não podia ser ocultado. O vs.
19 dá uma resposta ridícula em que 0 Faraó dificilmente
poderia ter acreditado. Mas não lemos que ele tenha
mandado castigar as parteiras. Talvez 0 autor sacro tenha
querido poupar-nos dos detalhes sangrentos da vingança. Ver
Ez 16.4 quanto a itens envolvidos no antigo processo de
nascimento.de nascidos. Alguns estudiosos supõem que
estaria envolvido em tudo isso um “esperto uso dos fatos”, ou
seja, talvez o que as parteiras disseram até ocorria com certa
frequência; mas o fato é que o autor sagrado contou aqui
uma pequena piada. Ver uma demonstração de vivido humor
em Gn 29.26. Vários eruditos fazem grande esforço na
tentativa de ilustrar como algumas mulheres dão seus filhos à
luz, com grande facilidade, especialmente entre as classes
laboriosas. Apesar de alguns casos poderem ser apresentados
como comprovação disso, temos aí meras exceções, e não a
regra do que acontece no ato do parto.
Êx 1.20 Deus fez bem às parteiras. Elas negaram-se a
praticar uma imensa maldade, e Deus as abençoou. E assim
Israel aumentou mais ainda em número e em poder por certo
período de tempo. Por quanto tempo, o autor sagrado não
nos informa. Mas o tempo passava, e o problema do Faraó ia
apenas se acentuando, deixando-o vexado. Deus estava
ganhando em cada “round” da luta. Uma de minhas fontes
informativas diz que Deus abençoou àquelas mulheres,
apesar de suas mentiras. Mas outros supõem que mentiras
capazes de salvar vidas não se revestem de maldade.
Obedecer a Deus, e não aos homens, sempre será dever dos
homens (Atos 5.29).
Êx 1.21 Ele lhes constituiu família. Essa tradução é uma
interpretação, O hebraico diz “fez-lhes casas", dando a
entender que os outros israelitas, vendo o bom serviço que
elas tinham prestado, construíram casas para elas. Mas
alguns estudiosos dão ao Faraó o crédito: ele as teria posto
dentro de casas, para que pudessem ser mais bem
controladas. Todavia, o mais provável é que temos aqui uma
alusão à fertilidade. Aquelas boas mulheres, ao ajudarem os
casais israelitas, por não obedecerem às ordens de Faraó,
foram abençoadas juntamente com suas respectivas famílias.
Este versículo amplia a ideia da bênção divina, referida no
vs. 20. Como Deus poderia recompensar meto àquelas
mulheres? Conferindo-lhes filhos delas mesmas.
Êx 1.22 Tirania Redobrada. Visto que 0 decreto dado às
parteiras não funcionou, agora 0 Faraó deu ordens à sua
própria gente para que se desvencilhasse dos pestíferos
hebreus, lançando seus filhos de sexo masculino no Nilo,
para que se afogassem. Entre outras coisas, o autor sagrado
nos está dizendo aqui que a perseguição contra Israel tinha
de chegara um ponto culminante para que o povo de Israel
fosse forçado a sair do Egito. Sem a perseguição, Israel ter-
se-ia contentado em permanecer em uma região tão fértil.
Somente a adversidade poderia fazê-los querei· partir dali.
Assim, quanto pior se tornasse a pressão exercida pelo
Faraó, tanto melhor para o plano divino.
Quando Israel estava prestes a partir, por causa da opressão,
então seria provido o agente da libertação, Moisés. Deus tem
uma cronologia em Seu plano eterno, e também conta com os
meios, humanos e outros, para satisfazer a essa cronologia.
Infanticídio. Esse crime, tão chocante para os ouvidos
cristãos, tem uma história muito rica. Sua contraparte
moderna é o aborto. Todos estamos familiarizados com a
exposição às intempéries de crianças, nos tempos antigos,
especialmente no caso de meninas, que eram deixadas ao léu
a fim de morrerem, marcando-se um certo prazo. Se uma
criança chegasse a resistir a tão cruel tratamento, então é
que os deuses queriam que ela vivesse. Mas visto que
usualmente a criancinha morria, chegava-se à conclusão de
que os deuses não queriam sua sobrevivência.
“Em Esparta, o estado decidia se uma criança viveria ou
morreria. Em Ate- nas, uma lei de Sólon deixava essa decisão
ao encargo dos pais. Em Roma, a regra era que os infantes
eram mortos, a menos que seus pais fizessem intervenção,
declarando que sua vontade era que a criança vivesse. Os
sírios ofereciam crianças não-queridas a Moloque, em
sacrifício. Os cartagineses sacrificavam-nas a Melcarte”
(Ellicott, in loc). Visto que o rio Nilo era considerado um
tanto divino, lançar crianças ali era um ato encarado como
sacrifício feito aos poderes divinos. O rio Nilo vivia cheio de
crocodilos, e as crianças ali lançadas serviam de comida
para os répteis, e assim seus corpinhos não poluíam o rio.
Êx 1.19. São vigorosas e antes que lhes chegue a parteira já
deram à luz os seus filhos. Não somos informados se as
parteiras estavam mentindo ou se os rápidos partos dos bebês
israelitas eram um fato biológico.
Driver cita paralelos árabes mas Raquel certamente teve um
parto difícil (Gn 35:16). E mesmo que tivessem mentido, não
foi pela mentira que foram elogiadas, e sim por se terem
recusado a tirar a vida aos recém-nascidos, dádivas de Deus.
Seu respeito à vida era fruto de sua reverência a Deus, o
doador da vida (20:12,13), e por isso foram recompensadas
com suas próprias famílias. A relevância deste incidente para
a controvérsia atual sobre o aborto deve ser cuidadosamente
examinada.
Êx 1. 22. O termo hebraico para o Nilo é uma palavra
emprestada da língua egípcia e significa “ o rio” por
excelência, isto é, o Nilo. (Outros termos tomados por
empréstimo ao egípcio são “ junco” e “ rã” ; além disso,
vários nomes próprios egípcios ocorrem, especialmente na
tribo de Levi.) A execução por afogamento era um método
óbvio em países tais como o Egito e Babilônia, tal como o
apedrejamento era o método óbvio num país rochoso como
Israel (Josué 7:25). Se a nação israelita em geral obedeceu o
mandato de Faraó não sabemos: com certeza, os pais de
Moisés desafiaram a ira do Faraó (Hb 11:23). Todas as
filhas. Estas, presumivelmente, se tornariam concubinas
(esposas-escravas) e poderiam ser absorvidas pelos egípcios
em uma geração. Essa vã tentativa de eliminar o povo de
Deus encontra seu paralelo no Novo Testamento quando
Herodes tenta destruir toda uma geração de meninos em
Belém (Mt 2:16). Todavia, como no Novo Testamento, o
agente escolhido de Deus é protegido; nem Faraó nem
Herodes podem se opor ao plano de Deus. Expositores judeus
veem paralelos entre o plano de Faraó e a tentativa de
genocídio contra Israel feita por Hitler e outros; expositores
cristãos têm buscado tais paralelos nas severas perseguições
sofridas pela Igreja ao longo de sua história.
A matança de meninos hebreus recém-nascidos (w. 15-21).
Se esse plano tivesse dado certo, o Faraó teria exterminado o
povo hebreu. A futura geração de homens estaria morta, e as
meninas acabariam se casando com escravos egípcios e
sendo assimiladas pela raça egípcia. No entanto, de acordo
com Gênesis 3:15 e 12:1-3, Deus não permitiu que isso
acontecesse e usou duas parteiras hebréias para frustrar o
plano do Faraó. Esse é o primeiro caso nas Escrituras
daquilo que chamamos, hoje, de "desobediência civil", a
recusa em obedecer a uma lei perversa tendo em vista o bem
comum.
Textos das Escrituras, como Mateus 20:21-25, Romanos 13 e
1 Pedro 2:1 T, admoestam os cristãos a obedecer às
autoridades humanas. Contudo, Romanos 13:5 nos lembra de
que essa obediência não deve ofender nossa consciência.
Quando as leis de Deus são contrárias às leis dos homens,
"Antes importa obedecer a Deus do que aos homens" (At
5:29). Vemos um exemplo disso não apenas no caso das
parteiras, mas também no de Daniel e de seus amigos (Dn 1;
3; 6) e no dos apóstolos (At 4, 5).
As parteiras estavam mentindo para o Faraó? Provavelmente
não. Os bebês nasciam antes que as parteiras chegassem,
pois Sifrá e Puá haviam pedido a suas assistentes que se
atrasassem! Deus abençoou às duas parteiras-chefes por
arriscarem a vida a fim de salvar a nação israelita da
extinção. No entanto, honrou-as de um modo estranho: deu-
lhes filhos numa época em que isso era tão arriscado! Talvez
tenha lhes dado filhas ou, então, protegido seus filhos como
fez com Moisés. De qualquer modo, essa bênção de Deus
mostra quão preciosas são as crianças para o Senhor: ele
desejava conceder a essas mulheres a mais alta recompensa
e, assim, deu filhos a Sifrá e a Puá (Sl 127:3)
Terceira medida - o afogamento de bebês do sexo masculino (v. 22).
Quando o Faraó descobriu que havia sido enganado, mudou
seu plano e ordenou a todo o povo que providenciasse para
que os bebês hebreus do sexo masculino fossem afogados no
sagrado rio Nilo. Os guardas do Faraó não tinham como
vigiar cada uma das parteiras hebreias, mas o povo egípcio
podia ficar de olho nos escravos hebreus e avisar quando um
menino nascia. No entanto, estava para nascer um menino
que o Faraó não conseguiria matar
As Parteiras Hebreias
Os versículos finais deste capítulo oferecem-nos uma lição
edificante com a conduta dessas mulheres tementes a Deus,
Sifrá e Puá. Arrostando com a ira do rei não executaram o
seu plano cruel e por isso Deus lhes fez casas."...aos que me
honram, honrarei" (1 Sm 2:30). Recordemos sempre esta
lição e atuemos de acordo com ela.
O FRACASSO DE SATANÁS
Esta parte do Livro do Êxodo abunda em princípios
profundos de verdade divina— princípios que podemos
subdividir da seguinte forma: o poder de Satanás, o poder de
Deus e o poder da fé.
No último versículo do primeiro capítulo lemos: "Então,
ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos
que nascerem lançareis no rio". Este era o poder de Satanás.
O rio era o lugar da morte; e, por meio da morte, o inimigo
procurou frustrar os propósitos de Deus. Tem sido sempre
assim. A serpente sempre tem vigiado com olhar maligno os
instrumentos que Deus está prestes a usar para realizar os
Seus desígnios. Vejamos o caso de Abel, em Gênesis, capítulo
4. A serpente não estava espreitando aquele vaso de Deus
para o pôr de parte por meio da morte? Vejamos o caso de
José, em Gênesis, capítulo 37. Aí o inimigo procura pôr o
homem escolhido por Deus num lugar de morte. Vejamos o
caso da "semente real", em 2 Crônicas, capítulo 22; a
matança promovida por Herodes, em Mateus 2; e a morte de
Cristo, em Mateus 27. Em todos estes casos vemos o inimigo
procurando, com a morte, interromper a corrente de atuação
divina.
Mas, bendito seja Deus, há qualquer coisa depois da morte.
Toda a esfera de ação divina, pelo que respeita à redenção,
está para além dos limites do domínio da morte. Quando o
poder de Satanás se esgota é que o de Deus começa a
mostrar-se. A sepultura é o limite da atividade de Satanás;
mas é aí que começa também a atividade divina. Isto é uma
verdade gloriosa. Satanás tem o poder da morte; porém,
Deus é o Deus dos vivos e dá a vida que está fora do alcance
e poder da morte—uma vida na qual Satanás não pode tocar.
O coração encontra doce refrigério nesta verdade, num
mundo onde reina a morte. A fé pode contemplar calmamente
Satanás empregando a plenitude do seu poder; ela pode
apoiar-se sobre a potente intervenção de Deus na
ressurreição. Pode postar-se junto da sepultura que acabou
de fechar-se sobre um ente amado e beber dos lábios
d'Aquele
que é "a ressurreição e a vida" a elevada garantia de uma
imortalidade gloriosa. Ela sabe que Deus é mais forte que
Satanás e pode portanto esperar, serenamente, a
manifestação desse poder superior, e enquanto assim espera
encontra a sua vitória e a sua paz.
Temos um nobre exemplo deste poder da fé nos primeiros
versículos do capítulo que estamos considerando.
3. A mãe de Moisés (Êx 6.20).
A Bíblia apresenta a mãe de Moisés como uma mulher que
descendia de Levi, um dos irmãos de José. Ela teve um
menino, e tentou escondê-lo por três meses. Precisamos
concordar que esse foi realmente um grande feito, pois em
uma época em que os egípcios caçavam bebês meninos dos
hebreus, essa mulher arriscou-se muito para preservar em
vida o fruto do seu ventre. Foi um ato de fé. Observe que a
Palavra de Deus não cita o nome dos pais de Moisés nesse
momento, mas cita o de Miriá. Léo G. Cox, comentarista do
livro de Êxodo no Comentário Beacon, sugere que Moisés
não era o primeiro filho do casal, pois a irmã Miriã tinha
idade suficiente para cuidar do irmão (4; Nm 26.59). Além
disso, o irmão de Moisés, Arão, era três anos mais velho que
ele (6.20; Nm 26.59). Parece que o édito do rei entrou em
vigor depois do nascimento de Arão, sendo Moisés o primeiro
filho deste casal cuja vida estava em perigo por causa da
proclamação do rei.
O certo é que essa mulher colocou seu filho em um cesto de
juncos pela fé, e pela fé viu a vida de seu filho ser preservada
por Deus. O Senhor não apenas guardou a vida do menino,
mas fez com que a mãe de Moisés fosse remunerada para
cuidar do próprio filho.
Êx 6. 20 Joquebede. No hebraico, glorificada por Deus ou
Yahweh é a glória. Esse era o nome de uma filha de Levi,
irmã de Coate, esposa de Anrão, mãe de Míriã, Arão e
Moisés (Êx 6.20; Nm 26.59). Alguns eruditos põem em
dúvida o sentido desse nome, que parece ser composto com o
nome divino Yahweh (ver no Dicionário). Isso eles alegam
porque estão convencidos de que o uso do nome divino,
Yahweh, vem da época de Moisés. Há evidências, porém, de
que esse nome realmente pré-datava os dias de Moisés, e que
era usado entre os povos semitas antigos. Em Êxodo 6.20 está
registrado que Joquebede era irmã de Anrão, pelo que era tia
de seu próprio marido. Visto que casamentos entre parentes
assim chegados foram posteriormente proibidos (Lev. 18.12),
várias tentativas têm sido feitas para aliviar a situação de
incesto. Mas essas tentativas são inúteis, visto que há provas
claras de tais relações de sangue em outros casos. Abraão
casou-se com Sara, sua meia-irmã (Gn 20.12). A
Septuaginta faz de Joquebede uma prima de Anrão, mas isso
somente reflete uma antiga modificação no texto sagrado.
Expus um estudo detalhado sobre as incidências de incesto no
Antigo Testamento, na introdução ao décimo oitavo capítulo
do livro de Levítico. Os costumes sociais se modificam, e há
ensinos bíblicos que têm acompanhado essas mudanças. A
revelação é progressiva, e não fixa e estagnada. Coisas que
antes não eram consideradas erradas passavam a ser
consideradas erradas, acompanhando o progresso da
iluminação espiritual, e vice-versa.
Anrão viveu até ao cento e trinta e sete anos. E esse detalhe é
mencionado por ter sido ele o pai de Arão e Moisés.
Êx 6. 20. Anrão se casou com sua tia paterna. Tal casamento
seria proibido pela lei mosaica (Lv 18:12,13), logo tal
detalhe jamais poderia ter sido inventado mais tarde. Quanto
a outras
“ transgressões” antigas, compare o casamento de Abraão
com sua meia-irmã.
Joquebede. Muito já se debateu quanto à possibilidade de a
primeira sílaba deste nome conter o nome YHWH ;em sua
forma abreviada Yo (como em Josué, por exemplo). Caso isso
seja verdade, segue-se o argumento de que o nome YHWH
poderia já ser conhecido e usado pela família de Moisés
como um título familiar para Deus, antes de ganhar uso mais
amplo em todo o Israel. Mesmo se fosse conhecido apenas
pelos descendentes de Coate, seria válido pensar que tivesse
havido mais de uma única ocorrência. Se a vocalização
tradicional é correta, o nome significa “ YHWH é glória”
(compare Icabô, “ não há glória” ).
Provavelmente é melhor vocalizar a palavra como yakbid, “
que Ele (o Deus não identificado) glorifique” , que segue um
padrão comum entre os nomes israelitas: assim vocalizado,
não haveria referência ao nome YHWH. Nomes formados a
partir da terceira pessoa do singular são frequentes: cf Jacó
e Ismael.
Arão e Moisés. Em todas as genealogias, os dois aparecem
como a quarta geração a partir dos patriarcas. Isso pode ser
irrelevante. Em árvores genealógicas israelitas é comum a
omissão de alguns ramos, quer seja por simetria (como
aparentemente é o caso na genealogia de Cristo) ou por
outra razão qualquer. Se “ quatro gerações” for tomado
literalmente, então a permanência no Egito não deve ter
excedido em muito um século, e os “ quatro séculos” de
Gênesis 15:13 devem ser vistos como uma aproximação
geral, “ quatro gerações” .
Os pais de Moisés eram Anrão e Joquebede (Êx 6:20), e,
enquanto o texto de Êxodo enfatiza como a mãe teve fé,
Hebreus 11:23 elogia tanto o pai quanto a mãe por terem
confiado em Deus. Sem dúvida, foi preciso que os dois
tivessem fé para ter relações conjugais numa época perigosa
em que os bebês hebreus estavam sendo mortos.
Moisés tornou-se um grande homem de fé e aprendeu sobre
isso primeiramente com seus pais, um casal temente e Deus.
Anrão e Joquebede tinham mais dois filhos: Miriã, a mais
velha, e Arão, três anos mais velho que Moisés (Êx 7:7).
Desde o princípio, Moisés foi considerado "formoso aos
olhos de Deus" (At 7:20; ver Hb 11:23),9 e ficou claro que
Deus tinha um propósito especial para ele. Crendo nisso, os
pais contrariaram o édito do Faraó e protegeram a vida de
seu filho. Não foi nada fácil, uma vez que todos os egípcios
haviam se tornado espiões oficiais do Faraó à procura de
bebês para serem afogados (Êx 1:22).
Joquebede obedeceu à lei ao pé da letra quando colocou
Moisés nas águas do Nilo, mas certamente desafiou as ordens
do Faraó na forma como seguiu essa lei. Confiou na
providência de Deus e não foi decepcionada. Quando a
princesa foi até o Nilo para realizar suas abluções religiosas,
viu o cesto, descobriu o bebê e ouviu-o chorar. Seguindo seus
instintos maternos, salvou o menino e cuidou dele.
Deus usou as lágrimas de um bebê para controlar o coração
de uma princesa poderosa.
Usou as palavras de Miriã a fim de providenciar para que o
bebê fosse criado por sua mãe e ainda recebesse por isso! A
expressão "frágil como um bebê" não se aplica ao reino de
Deus, pois quando o Senhor deseja realizar sua obra
poderosa, com frequência começa enviando um bebê. Foi o
que aconteceu quando ele mandou Isaque, José, Samuel, João
Batista e, especialmente, Jesus. Deus pode usar as coisas mais
fracas para derrotar os inimigos mais poderosos (1 Co 1:25-
29). As lágrimas de um bebê foram as primeiras armas de
Deus em sua guerra contra o Egito.
"E foi-se um varão da casa de Levi e casou com uma filha de
Levi. E a mulher concebeu, e teve um filho, e, vendo que ele
era formoso, escondeu-o três meses. Não podendo, porém,
mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos e a betumou com
betume e pez; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à
borda do rio. E a irmã do menino postou-se de longe, para
saber o que lhe havia de acontecer" (versículos l-4).
Aqui temos uma cena de tocante interesse, qualquer que seja o ponto de vista por que a encaramos. Na realidade, era
simplesmente o triunfo da fé sobre as influências da natureza
e da morte, deixando lugar para que o Deus da ressurreição
agisse na Sua esfera e no caráter que Lhe é próprio. É certo
que o poder do inimigo está patente, visto a criança ter de ser
colocada em tal posição — em princípio, uma posição de
morte. E, além disso, era como se uma espada atravessasse o
coração da mãe ao ver o seu filho precioso exposto à morte.
Satanás podia agir e a natureza podia chorar; contudo, o
Vivificador dos mortos estava detrás daquela nuvem sombria
e a fé via-O ali iluminando o cume dessa nuvem com os Seus
raios brilhantes e vivificadores. "Pela fé, Moisés, já nascido,
foi escondido três meses por seus pais, porque viram que era
um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei"
(Hb 11:23).
4. A Filha de Faraó (Êx 2 5,6).
A filha de Faraó entra em cena na história do povo hebreu.
Deus tem um senso de humor interessante: Se o rei do Egito
ordenara a morte dos meninos hebreus, Deus graciosamente
usaria a filha do Faraó para preservar em vida o menino que
seria, anos mais tarde, o libertador dos israelitas. Quase
nada é falado acerca dessa mulher, mas o que temos aqui é
suficiente para entender que a providência divina pode
utilizar pessoas que desconhecemos, e que nem mesmo têm o
mesmo temor a Deus que nós, para nos ajudar e fazer
prosperar os planos divinos.
A filha de Faraó não apenas se sentiu comovida com a
situação daquele menino colocado no cesto de juncos. Ela
soube imediatamente que aquele bebê era dos hebreus, e
apesar de haver uma ordem para que os egípcios jogassem os
bebês do sexo masculino do rio, a filha de Faraó decidiu não
obedecer. Ela guardou o menino em vida.
'Moisés passou seus primeiros quarenta anos pensando que
era alguém.
Os segundos quarenta anos, passou aprendendo que era um
ninguém! Os últimos quarenta anos ele os passou
descobrindo o que Deus pode fazer com um ninguém'."
Êx 2.5 A filha de Faraó. Ver as notas sobre Êxo. 1.8 e 2.1
quanto a conjecturas sobre quem seria esse Faraó. Ver
também no Dicionário 0 artigo Faraó, em sua terceira seção,
quanto aos faraós ligados ao Antigo Testamento. As tradições
judaicas fantasiam a história, dizendo que a filha do Faraó
era leprosa, mas, ao tirar 0 cesto de dentro da água, ficou
curada. A arqueologia desenterrou 0 mural de uma antiga
sinagoga em Dura-Europos que retrata a cena deste
versículo. As mentes estavam ligadas. A mente da mãe de
Moisés; a mente da princesa egípcia; a mente do infante
Moisés. As coincidências não ocorrem por acaso. Nada
sucede por acidente. Deus estava envolvido em tudo aquilo.
“Com frequência não podemos ver nenhum sentido ou razão
na maneira como as coisas sucedem a outras pessoas, mas
conforme envelhecemos vamos vendo uma espécie de
providência na maneira como as coisas têm acontecido
conosco mesmos... Somos por de- mais adolescentes,
espiritualmente falando, para chegarmos àquela fé que Jesus
possuía, mas percebemos que há algo ali que podemos seguir
de longe” .
As Donzelas Perderam a Oportunidade. Elas estavam por
demais preocupadas em obedecer ao decreto do Faraó. Mas
a princesa não teve medo, e, por isso, a recompensa foi dela.
Josefo chamou essa princesa pelo nome de Thermuthis,
adicionando elementos fabulosos à história. Esses elementos
tornam-se uma leitura agradável, mas são distantes da
realidade. A princesa foi à beira do rio tomar banho, sem
dúvida um lugar onde as mulheres estavam acostumadas a
fazê-lo. Talvez a mãe de Moisés o tenha deixado
propositadamente onde as mulheres egípcias costumavam ir,
na esperança de que alguma delas usasse de misericórdia. E
foi precisamente o que aconteceu.
Êx 2.6 O menino chorava. O choro de um infante derrete o
coração de qualquer mulher, e também da maioria dos
homens. Nada existe tão impotente quanto um infante
humano,
o qual, por tanto tempo, se mostra tão dependente. A princesa
teve compaixão, embora soubesse muito bem que o menino
era um hebreu. Mas o amor não faz as distinções que o ódio
faz. O choro da criança representava o choro do mundo
inteiro que Deus amou, pois os homens, diante de Deus, nada
mais são do que infantes impotentes. Alguns homens, por
meio de sua teologia, fazem esses “infantes” ser odiados e
destruídos, em vez de ser tirados das águas perigosas. Mas o
amor de Deus é suficiente para todos (João 3.16), e houve
provi- são para todos (I Jo 2.2; I Pe 4.6). Assim como a
princesa estendeu a mão e salvou o bebê, assim também o
longo braço da provisão divina realmente acode a todos os
homens, e não apenas potencialmente. Não bastava que,
potencialmente, a princesa pudesse tirar Moisés das águas.
Foi mister tirar Moisés das águas, ou nada mais teria
sentido.
A providência de Deus mostra-se claramente evidente na
natureza e em todos os aspectos da vida humana. Portanto,
permitamos que flua o amor de Deus.
"E a filha de Faraó desceu a lavar-se no rio, e as suas
donzelas passeavam pela borda do rio; e ela viu a arca no
meio dos juncos e enviou a sua criada, e a tomou. E, abrindo-
a, viu o menino, e eis que o menino chorava; e moveu-se de
compaixão dele e disse: Dos meninos dos hebreus é este"
(versículo 5-6). Aqui, pois, começa a soar a resposta divina
em doce murmúrio aos ouvidos da fé. Deus intervinha em
tudo isto. O racionalismo, o cepticismo, a infidelidade, e o
ateísmo, podem rir-se desta ideia. E a fé também; mas são
risos diferentes. Os primeiros riem com desprezo da ideia da
intervenção divina num banal passeio duma princesa real
pela margem do rio. A segunda ri de cordial contentamento
ao pensar que Deus está em tudo. E, de fato, se alguma vez
Deus interveio em qualquer coisa foi neste passeio da filha do
Faraó, embora ela o não soubesse.
Uma das mais ditosas ocupações da alma regenerada é
seguir as pegadas divinas em circunstâncias e
acontecimentos que a mente irrefletida atribui ao acaso ou à
fatalidade. Por vezes a coisa mais banal pode ser um
importantíssimo elo numa cadeia de acontecimentos de que
Deus Se está servindo para levar avante os Seus grandiosos
desígnios. Vejamos, por exemplo, Ester 6:1; que
encontramos? Um monarca pagão que passa uma noite
inquieta.
Nada há de extraordinário nisso, podemos supor; e no
entanto, esta circunstância constitui um elo numa grande
cadeia de acontecimentos providenciais, ao fim da qual surge
a maravilhosa libertação dos descendentes oprimidos de
Israel.
Assim sucedeu com a filha do Faraó e o seu passeio pela
margem do rio. Mas ela não pensava que estava ajudando os
intentos do "Senhor Deus dos hebreus"! Mal ela sabia que o
bebé que chorava na arca de juncos viria ainda a ser o
instrumento do Senhor para abalar a terra do Egito até aos
seus alicerces! E contudo era assim. O Senhor pode fazer
com que a cólera do homem redunde em Seu louvor (SI
76:10) e restringir o restante dessa cólera. Como a verdade deste
fato transparece claramente nas palavras que se seguem!
"Então, disse sua irmã à filha de Faraó: Irei eu a chamar
uma ama das hebreias, que crie este menino para ti! e a filha
de Faraó disse-lhe: Vai. E foi-se a moça e chamou a mãe do
menino. Então, lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino e
cria-mo; eu te darei teu salário. E a mulher tomou o menino e
criou-o. E, sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de
Faraó, a qual o adotou; e chamou o seu nome Moisés e disse:
Porque das águas o tenho tirado" versículos (7a 10).
A fé da mãe de Moisés encontra aqui a sua inteira
recompensa; Satanás fica embaraçado e a sabedoria
maravilhosa de Deus é revelada. Quem poderia supor que
aquele que havia dito às parteiras das hebreias "se for filho,
matai-o", acrescentando, "a todos os filhos que nascerem
lançareis no rio", havia de ter na sua própria corte um desses
próprios filhos? O diabo foi vencido com as suas próprias
armas, porque Faraó, de quem queria servir-se para frustrar
os propósitos de Deus, foi usado por Deus para alimentar e
educar esse Moisés, que havia de ser o Seu instrumento para
confundir o poder de Satanás. Providência notável!
Maravilhosa sabedoria! Certamente, "até isto procede do
Senhor" (Is 28:29). Possamos nós confiar n'Ele com mais
simplicidade, e então a nossa carreira será mais brilhante e o
nosso testemunho mais eficaz.
Êx 2. 5. A filha de Faraó. O livro Apócrifo de Jubileus (47:5)
a chama de Tarmute; o comentário de Hyatt (p. 64) menciona
“ Merris” e “ Bitia” como outros nomes que lhe são
atribuídos. É difícil descobrir uma razão por que tais nomes
seriam inventados, de modo que é bem possível que tenhamos
aqui um fragmento de uma tradição extra-bíblica digna de
confiança. Compare o caso de Janes e Jambres, os nomes dos
mágicos que se opuseram a Moisés (2 Tm 3:8). Se o Faraó
em questão foi realmente Ramessés II, ele tinha perto de
sessenta filhas. Ele também possuía vários ‘ ‘chalés de caça’ ’
espalhados pela área do delta, onde havia uma abundância
de patos e outros tipos de caça, assim, não há necessidade de
presumirmos que os pais de Moisés viviam perto da capital,
Zoã.
Êx 2. 6. Teve compaixão dele. Mãe alguma no oriente seria
capaz de abandonar um menino robusto como aquele.
Podemos suspeitar que uma menina não teria tido sorte tão
favorável, mas elas não estavam sujeitas à pena de morte
decretada por Faraó. Em tudo isso, a providência divina estava em ação.
A graça de Deus está revelada na compaixão mostrada pela
filha de Faraó (6). Mesmo quando os homens maus fazem o
pior que podem, Deus, por seu gracioso poder, coloca boa
vontade e amor tenro no coração das pessoas que estão perto
do tirano. Mal sabia o rei ímpio que Deus estava executando
seu plano secretamente, mesmo quando parecia que o
monarca mundano estava tendo sucesso. Também é
interessante notar que, para criar o próprio filho, a mãe
hebreia foi paga com parte do dinheiro de Faraó (9). Este é
outro exemplo de que a ira do homem é posta para louvar a
Deus.
IV - A precipitação de moisés e a sua fuga (Êx 2.11 22)
1. Moisés é levado ao palácio (Êx 2.10).
Êx 2.10 Adoção de Moisés pela Princesa. Com a passagem
do tempo, averiguou-se que Moisés não era um menino
ordinário. Veio a ter duas mães: sua mãe natural, que foi
quem 0 criou, e sua mãe adotiva, a princesa egípcia, que o
adotou oficialmente como seu próprio filho. É lindo quando
uma criança tem duas mães, pois há tantas crianças que não
têm ao menos uma. O trecho de Atos 7.22 conta que Moisés
foi educado nas escolas do Egito, tendo absorvido toda a
sabedoria dos egípcios. Filo nos dá uma informação similar.
Moisés recebeu uma educação de primeira classe como parte
de sua preparação para a missão que lhe competi- ria
realizar. Finalmente, depois de quarenta anos, Moisés
repudiou a sua herança egípcia, porquanto, em sua vida, já
havia ultrapassado aquele estágio preparatório (Heb.
11.24,25). Mas durante os primeiros quarenta anos, tal
educação lhe era necessária, tendo-lhe sido útil para o resto
de seus dias, embora ele não quisesse viver como egípcio.
Filo dizia que a princesa egípcia era uma mulher casada, mas
sem filhos, e que corrigiu essa falha da natureza ao adotar a
Moisés . Artafanos ajunta
a isso que o marido da princesa era homem revestido de
grande autoridade no Egito, que governava o Egito na região
que ficava ao norte de Mênfis
Sendo o menino já grande. Sem dúvida depois de desmamado.
O menino cresceu de forma extraordinária, física e
espiritualmente. Josefo via nessas palavras algo de
extraordinário [Antiq. Jud. ii.9 par. 6). Moisés era um vaso
escolhido para uma elevada missão; e desde começo deu
sinais disso.
Esta lhe chamou Moisés. Mui provavelmente, esse nome vem
do egípcio Mes, que significa “filho” ou “criança". A forma
hebraica desse nome, com som semelhante, Mosheh, quer
dizer “tirado”, uma referência ao modo como foi tirado do
Nilo, talvez também prevendo a “retirada" para fora do
Egito, quando o êxodo tivesse lugar.
Êx 2. 10. Moisés, mõseh, seria o particípio ativo do verbo
hebraico mãsâh, “ tirar, retirar” . Uma vocalização diferente
nos daria o particípio passivo, “ retirado” , mas não há
necessidade de forçar esse significado. Como ocorre
frequentemente no Velho Testamento, este nome não é um
exercício filológico perfeito, mas um trocadilho baseado
numa assonância.
Possivelmente a filha de Faraó escolheu o nome egípcio que
aparece na segunda metade de nomes como Tutmoses,
Amoses e muitas outras formas semelhantes. É impossível
saber se o nome “ Moisés” era considerado uma abreviatura
de alguma forma mais longa, mas isso não tem importância.
A Bíblia, além de indicar que o nome de Moisés é capaz de
sustentar tal trocadilho (que para o israelita era rico em
significado espiritual), sugere que o nome foi escolhido
deliberadamente por causa desta capacidade. Nada há de
impossível aqui; dialetos semitas ocidentais eram
amplamente
entendidos, e mesmo falados, na área do delta. Uma patroa
egípcia podia muito bem entender e usar a língua de seus
empregados para dar suas ordens, como as “ mensahib” do
Império Britânico em dias mais recentes.
Moisés é honrado como filho da filha de Faraó (v.10). Parece
que os seus pais não tinham em vista apenas a necessidade,
ao cuidarem dele para a filha do Faraó, mas estavam muito
felizes pela honra feita, desse modo, ao seu filho. Porque os
sorrisos do mundo são tentações mais fortes do que as suas
caras fechadas, e mais difíceis de resistir. A tradição dos
judeus diz que a filha de Faraó não tinha filhos, e que era a
filha única de seu pai, de forma que quando ele foi adotado
como seu filho, passou a ter direito à coroa. Embora seja
certo que ele estivesse destinado a desfrutar tudo o que a
corte tivesse de melhor no momento devido, neste ínterim
Moisés teve a vantagem de receber a melhor educação e o
melhor desenvolvimento que a corte poderia oferecer. Este
preparo, aliado a uma grande capacidade pessoal, fez com
que Moisés se tornasse mestre em todo o conhecimento
legítimo dos egípcios, Atos 7.22. Observe: 1. A Providência
às vezes se alegra ao levantar os pobres do pó para colocá-
los entre os príncipes, Salmos 113.7,8. Muitos que, por seu
nascimento, parecem marcados para a obscuridade e a
pobreza, através de eventos surpreendentes da Providência
são trazidos para se sentarem na extremidade superior do
mundo. Assim os homens passam a saber que o Céu governa
todas as coisas. 2. O precioso Deus sempre conhece a
maneira mais adequada para qualificar e preparar com
antecedência aqueles que Ele nomeia para lhe prestar
grandes serviços. Moisés, sendo educado em uma corte, é o
homem mais adequado para ser um príncipe e rei em
Jesurum. Tendo recebido a sua educação em uma corte
instruída (pois assim era a corte egípcia naquela época),
Moisés era o homem mais capacitado para ser um
historiador.
E pelo fato de ter sido educado na corte egípcia, Moisés é o
homem mais adequado para ser empregado, em nome de
Deus, como um embaixador para esta corte.
2. O preparo de Moisés (Êx 3.9,10).
Deus escolhe pessoas capacitadas para fazer a sua obra?
Com certeza. Não há referências na Palavra de Deus que
indiquem que Ele despreza talentos pessoais ou a experiência
adquirida por seus servos. Saulo era versado em três línguas
diferentes, e as utilizou para falar de Jesus em suas viagens
missionárias. Mateus era um cobrador de impostos, e utilizou
seus conhecimentos para escrever seu Evangelho. Davi era
um combatente, mas também era um poeta que compôs
diversos cânticos de adoração ao Senhor. Daniel era um
profeta, mas também era um estadista. Portanto, entenda que
Deus utiliza nossos recursos em prol do seu Reino.
Deus capacita pessoas para a sua obra? Com certeza.
Ninguém pode dizer que está totalmente pronto para dar
passos definitivos na caminhada com Deus. Elias, o tisbita,
ressuscitou um menino morto, mas para isso teve de passar
uma temporada no anonimato em Querite, sendo mantido por
corvos, e depois que o ribeiro secou, foi direcionado por
Deus para ficar uma temporada sendo mantido por uma
viúva
pobre em Sarepta, uma localidade de Sidom, terra natal de
Jezabel. Ele foi capacitado por Deus para os desafios que
enfrentaria. O mesmo se deu com Moisés: sua formação no
Egito e o tempo no deserto, pastoreando as ovelhas de seu
sogro, fizeram dele o homem escolhido por Deus para uma
obra sem igual. Como cristãos, somos desafiados a usar
nossos talentos pessoais em prol do Reino de Deus, e isso
inclui buscar uma formação sólida e coerente.
Há uma frase que circula em adesivos de carros que diz:
“Deus não chama os capacitados, mas capacita os
escolhidos”. É uma frase estranha, ao menos em minha ótica,
pois Deus não costuma desprezar a nossa experiência de
vida, como se nada em nossa existência prestasse. Deus pode
usar qualquer pessoa em sua obra, mas ao longo do texto
bíblico Ele chama pessoas capacitadas, ainda que
limitadamente, para servi-lo. Na prática, Deus utiliza nossos
dons, estudos e demais recursos que adquirimos ao longo da
vida para serem utilizados em prol do seu Reino. Portanto,
quanto mais recursos obtemos ao longo da vida, mais eles
poderão ser usados no serviço do Mestre. E é nossa função
estar capacitados dentro de nossas forças para prestar o
melhor ao Senhor. Em sua sabedoria, Ele complementará o
que nos falta.
Deus sempre tem um objetivo quando chama um de seus
servos para que exerça alguma função ou ministério e tem
sua forma própria de preparar seus escolhidos, como
aconteceu com Moisés. Na prática, nunca estaremos sempre
prontos para atender à voz de Deus. Sempre faltará alguma
atitude da qual só teremos ciência quando estivermos no meio
da jornada. Ainda assim, em sua paciência, Deus nos pede
que andemos confiando nEle, e não que acumulemos a
bagagem de conhecimento e experiência antes para depois
decidir que vamos obedecer.
Quando foi chamado por Deus, Moisés estava apascentando
as ovelhas de seu sogro. Após ter passado quarenta anos no
Egito como membro da corte de Faraó, tendo recebido uma
educação própria de sua classe social, Moisés foge do Egito
por ter matado um egípcio. Ele passou a próxima temporada
de quarenta anos auxiliando seu sogro a cuidar de ovelhas
em uma região desértica, onde aprendeu os caminhos do
deserto,
a forma como sobreviver nele, os tipos de animais existentes
na região e questões relacionadas ao clima. Eram questões
simples para quem tivera uma educação de ponta no Egito,
mas foi dessa forma que Deus preparou Moisés. A sabedoria
dos egípcios ele já possuía. Ele precisava agora aprender
como viver fora da corte egípcia e a depender de Deus em
uma jornada que duraria anos.
“Moisés passou seus primeiros quarenta anos pensando que
era alguém. Os segundos quarenta anos, passou aprendendo
que era um ninguém! Os últimos quarenta anos ele os passou
descobrindo o que Deus pode fazer com um ninguém”
Êx 3. 10. Eu te enviarei. Davies aponta esta passagem como a
comissão apostólica de Moisés. Não há contradição entre o
envio de Moisés e a intenção declarada de Deus de realizar
pessoalmente a obra, Deus normalmente trabalha através da
obediência voluntária de Seus servos, realizando Sua
vontade. Cristo pode ter tido esta passagem em mente quando
deu uma comissão apostólica semelhante a Seus discípulos
(João 20:21).
O plano divino (3.7-10). Deus se envolveu na situação difícil
do seu povo. Ele disse: Tenho visto atentamente, tenho ouvido
e conheci (7). Pode ter esperado muitos anos, mas sabia o
tempo todo. Estas palavras garantem que Deus ouve
atentamente os clamores de tristeza e conhece os apuros
humanos.
Deus sempre está agindo no mundo, “porque nele vivemos, e
nos movemos, e existimos” (At 17.28). Interfere na história
em ocasiões especiais para se revelar e realizar sua vontade.
Ele disse a Moisés que desceu para livrar seu povo do Egito
(8). Havia um lugar preparado para eles numa terra boa,
larga e que mana leite e mel. Esta descrição não significa que
Canaã era mais fértil que o Egito, mas que era uma terra
boa, frutífera e suficientemente espaçosa para Israel. Tratava-
se de uma terra identificada pelos nomes dos povos cuja
iniquidade
estava cheia, tendo de renunciar a terra a favor dos
escolhidos de Deus (Gn 15.16-21).19 Embora Deus pudesse
ter livrado Israel diretamente por uma palavra, preferiu fazer
sua obra por seu servo. Disse Deus a Moisés: Eu te enviarei a
Faraó (10). Este homem, outrora auto designado libertador,
tinha de ir à presença do orgulhoso rei e tirar Israel do Egito
sob a direção de Deus.
Identificamos “O Envolvimento de Deus com o seu Povo” em
cinco declarações: 1) Tenho visto atentamente, 7; 2) Tenho
ouvido, 7; 3) Conheci, 7; 4) Desci, 8; 5) Eu te enviarei, 10.
Moisés passou os primeiros quarenta anos de sua vida (At
7:23) trabalhando para o governo egípcio. (Alguns
estudiosos
acreditam que ele estava sendo preparado para tornar-se
Faraó.) O Egito parece o lugar menos provável para Deus
começar a treinar um líder, mas os caminhos do Senhor não
são os nossos caminhos. Ao capacitar Moisés para seu
serviço, Deus usou várias abordagens.
Educação. "E Moisés foi educado em toda a ciência dos
egípcios e era poderoso em palavras e obras" (At 7:22). O
que fazia parte dessa educação? Os egípcios eram uma
civilização extremamente desenvolvida para sua época,
especialmente nas áreas de engenharia, matemática e
astronomia. Graças a seus conhecimentos de astronomia,
desenvolveram um calendário de precisão extraordinária, e
seus engenheiros planejaram e supervisionaram a construção
de estruturas que existem até hoje. Seus sacerdotes e médicos
eram mestres na arte de embalsamar, e seus líderes possuíam
grande competência em organização e administração.
Aqueles que visitam o Egito hoje em dia inevitavelmente se
impressionam com as realizações desse povo da Antiguidade.
O servo de Deus deve aprender tudo o que puder, dedicar esse
conhecimento a Deus e servi-lo fielmente.
3. A fuga de Moisés (Êx 2.11-22).
Êx 2.12 Matou o egípcio. Isso seguia 0 princípio de “vida por
vida” (Êx 21.23), uma espécie de defesa em favor da vida,
embora o texto não diga que o egípcio estava prestes a tirar a
vida do israelita. Moisés exagerou, não havendo como
desculpar o crime. Uma de minhas fontes informativas fala
em uma “ultrajante” combinação de precipitação e
prudência. Moisés agiu por sua própria autoridade,
mostrando uma audácia singular. Mas a coragem audaciosa,
por si só, não é uma virtude. O diabo é audaz; resolveu
enfrentar o próprio Deus. Mas isso não faz dele um ser justo.
Conta-se como David Livingstone se sentiu revoltado diante
do tratamento brutal dado aos escravos em um mercado
árabe de escravos. Muitos homicídios sem base estavam
sendo cometidos contra os escravos, sem motivos suficientes.
E Livingstone confessou que sua primeira reação foi “atirar
nos assassinos com sua pistola”
.
Mas a vingança vem do Senhor, e não deve provir de algum
indivíduo. A lei promove a vingança divina; e a vindicação
que não ocorre, a vontade de Deus cuida disso, afinal. Não
há erro que não venha a ser corrigido. Ver Rom. 13.1 ss. e
12.19. A violência parece inevitável, pelo menos em algumas
ocasiões, mas ela sempre envolve um erro. Muitos pais
castigam seus filhos tomados por uma ira violenta,
usualmente por causa de alguma inconveniência trivial que
sofreram.
“Os comentadores judeus geralmente apreciavam o ato [de
Moisés], ou mesmo elogiavam-no como uma ação patriótica e
heroica. Mas sem dúvida foi um feito precipitado, efetuado em um espírito indisciplinado”
.
Êx 2.13 Provocação. Moisés ocultara as evidências de seu
crime; mas a questão não terminou com o egípcio sepultado
na areia. No dia seguinte, Moisés tentou interromper uma
briga entre dois hebreus. Mas acabou sabendo, da parte de
um dos antagonistas, que seu ato homicida tinha sido visto e,
sem dúvida, discutido entre os observadores. Isso significava
que, em breve, a história inteira seria descoberta, e Moisés
passaria a ser caçado pela justiça do Faraó. Talvez o hebreu
tencionasse matar ao outro; mas afinal isso foi o que Moisés
tinha feito. Ver II Sam. 14.6. A desintegração social e
psicológica havia tomado conta do escravizado povo de
Israel, e eles estavam abusando uns dos outros. O espírito de
Moisés, pois, vexava-se diante do que via entre sua própria
gente. Seu coração estava sendo preparado, mas um longo
tempo seria necessário até tornar-se o instrumento devido do
poder de Deus. Ver Atos 7.26 quanto ao paralelo
neotestamentário deste versículo.
Êx 2.14 O autor sacro segredava aqui que não chegara ainda
o tempo de Moisés receber autoridade. Os israelitas ainda
não estavam preparados; o próprio Moisés também não
estava preparado. Moisés era um príncipe no Egito, por ser
filho adotivo da filha do Faraó, e seu pai adotivo sem dúvida
era também homem de grande autoridade (vs. 10). Para os
hebreus, porém, ele nada significava. Não lhe cabia decidir
quem estava com a razão e quem estava errado, ainda que,
posteriormente, ele se tivesse tornado o grande legislador a
quem todo o povo de Israel devia obediência. No Antigo
Testamento, a justiça (no hebraico, mishpat! não era um
conhecimento positivo nem um princípio metafísico, como se
dá com a filosofia ética. Era a lei imposta pelo Deus vivo. Os
atos potencialmente altruístas de Moisés, sua preocupação
com os oprimidos, não foram bem acolhidos, e isso deve ter
parecido difícil para o jovem Moisés (então com quarenta
anos de idade). Uma lição que devemos aprender de início é
não esperar aplausos. A maioria das pessoas teme as
verdades recém-descobertas que ameaçam os dogmas
tradicionais.
O Erro Fatal de Moisés. Moisés tinha aplicado a violência;
tinha assassinado; tinha perdido 0 respeito dos outros. Agora
seria preciso muito tempo para ele vencer essa situação.
Êx 2.15 Moisés fugiu da presença de Faraó. Este estaria
agora ouvindo a notícia ou em breve a ouviria, de que Moisés
matara a um egípcio. E então mandaria executar Moisés.
Nisso consistia o maior temor de Moisés. E assim Moisés
fugiu para seu exílio de quarenta anos, na terra de Midiã, o
segundo grande ciclo de sua vida. Ver o vs. 11. Ele começara
a tornar-se uma figura ameaçadora, intervindo onde não
devia, agitando o povo. Alguns intérpretes veem neste texto
um esforço abortado de emancipação. Mas o autor sacro
apresenta 0 episódio como um simples passo na preparação
divina do caminho de Seu servo. Este precisava internar-se
no deserto por quarenta anos. Tudo isso fazia parte de sua
preparação.
Terra de Midiã. Moisés fugiu na direção sudeste, afastando-
se de onde vivia talvez quatrocentos quilômetros. Midiã tinha
sido um dos filhos de Abraão e Quetura (Gên. 25.1-6). Assim,
os midianitas eram parentes distantes de Moisés, uma tribo
árabe que vivia na região ao sul do Sinai e na porção
noroeste da Arábia. Esse deserto diferia muito da favorecida
região de Gósen, no Egito, que era onde estava 0 grosso da
população israelita. Ver Gên. 45.10. Os midianitas eram
seminômades. Seu centro ficava às margens do golfo de
Ácaba. O local tradicional do monte Sinai ficava naquela
região, Os nabateus, mui provavelmente, foram os sucessores
dos midianitas na região, tendo sido os que edificaram a
famosa cidade de Petra (ver a respeito no Dicionário).
Junto a um poço. Local muito valorizado em uma terra
ressequida. Ver no Dicionário os artigos intitulados Poço e
Cisterna. Moisés armou sua tenda nas imediações. Havia
perdido sua exaltada posição de filho da filha do Faraó, e
agora era tão sem importância quanto antes era importante.
Êx 2:11-15. Rejeição e fuga de Moisés. 11. Sendo Moisés já
homem. Atos 7:23 afirma que Moisés tinha quarenta anos na
época. Exodo afirma somente que ele tinha oitenta anos
quando se apresentou perante Faraó (7:7) e que passara
muitos dias em Midiã (2:23). É possível que quarenta anos
seja representativo de uma geração, que para o mundo
ocidental é um espaço de trinta anos. Atos 7:22 está
absolutamente correto ao afirmar que “ Moisés foi educado
em toda a ciência dos egípcios” , uma vez que fora criado
com outros príncipes. Este era o outro lado da preparação
divina. Com as possíveis exceções de Salomão, Daniel e
Neemias, nenhum outro personagem do Velho Testamento
recebeu treinamento semelhante (Dn 1:4). Os códigos de
direito da época provavelmente faziam parte de tal
treinamento. O Código de Hamurábi, por exemplo, era
amplamente estudado e comentado por escribas egípcios, de
modo que Moisés possivelmente o conhecia bem.
E viu seus labores penosos. Esta frase significa mais do que
simplesmente ver. Significa “ ver com emoção” , quer com
satisfação (Gn 9:16) ou, como aqui, com tristeza (Gn 21:16).
Moisés partilhava das emoções do coração de Deus. Deus
também via o que os egípcios estavam fazendo aos israelitas
e estava prestes a intervir (3:7,8). Não era o impulso de
Moisés em salvar a Israel que estava errado, mas a ação em
que ele se empenhou. Espancava, “ matou” (12) e “ mataste”
(13) são três formas diferentes do mesmo verbo hebraico.
Isso dá à narrativa uma continuidade que não é possível
reproduzir em português. Comunica também a impressão de “
olho por olho, dente por dente” (21:24). Talvez o egípcio
fosse um dos odiados feitores de obras; e, se hebreu tem
mesmo o significado amplo sugerido acima, então a frase um
do seu povo é uma restrição necessária, para indicar um
verdadeiro israelita. Êx 2.12. E o escondeu na areia. Eis aqui
um toque de colorido local. Não havia areia na maior parte
de uma terra rochosa como Israel, e seria muito mais difícil
ocultar um cadáver na Palestina do que no Egito.
Êx 2.13. E disse ao culpado. Temos aqui um termo jurídico.
Compare a descrição que Faraó faz de si mesmo, como sendo
culpado (ARC “ injusto” ) enquanto Deus é chamado “justo”
(9:27). Simples percepção psicológica foi o que fez o culpado
rejeitar Moisés, em termos que o próprio Faraó pode ter
usado mais tarde (5:2). Sem dúvida, o outro hebreu, o
inocente, aceitou alegremente a ajuda de Moisés, tal como os
publicanos e pecadores receberam a Cristo com alegria
séculos depois (Mt 9:10).
Êx 2.15. A terra de Midiâ. A localização é bastante incerta,
mas sem dúvida ficava além das fronteiras do Egito, para o
leste. Algumas partes da Península do Sinai, ou da Arabá (a
região do sul do Mar Morto), ou ainda a parte da Arábia a
leste do Golfo de Aqaba são localizações possíveis. Nos dias
de Ptolomeu, a terra de “ Modiana” ficava localizada ao
leste do golfo. Se, como em Gênesis 37:25, os midianitas
viajavam extensamente, quer por razões comerciais ou
pastoris (3:1) ou ainda bélicas (Jz 6:1), todas essas regiões
poderiam ser cobertas. Pelo fato de, mais tarde, os israelitas
terem se tornado inimigos mortais dos midianitas, é
inadmissível que a tradição da peregrinação de Moisés por
Midiã tenha sido inventada. É possível que “ ismaelitas” (Gn
37:25) e “ queneus” (Jz 4:11) fossem nomes tribais usados
em Midiã. Por outro lado, Juízes 8:24 pode sustentar o ponto
de vista de que o termo “ ismaelita” era bem mais amplo que
“ midianita” ; o mais provável, porém, é que os termos eram
usados de maneira bem livre. Junto a um poço. Onde quer
que houvesse um poço no deserto, lá haveria uma povoação;
e para os que lá viviam, aquele seria sempre “ o poço” . O
poço de aldeia era o lugar natural onde encontrar o estranho
ou visitante. Encontros semelhantes foram narrados em
Gênesis 29:10 (Jacó) e João 4:6,7 (Jesus); nos três casos,
oferece-se ajuda (quer material quer espiritual) a quem é
indefeso e incapacitado, um retrato daquilo que Deus mesmo
irá fazer.
Êx 2:16-22. Moisés em Midiã. 16. O sacerdote de Midiã.
Alguns estudiosos buscam apoio nesta frase para a chamada
“hipótese quenita” , que presume que a religião mosaica se
originou na de Midiã, e no sogro de Moisés em particular. Os
midianitas, por tradição, pertenciam à mesma árvore
genealógica de Israel, com raízes em Abraão (Gn 17:20) e é
altamente improvável que Moisés tivesse aprendido com eles
algo que já não conhecesse da “ lei comum” dos semitas
ocidentais. Além disso, o relato bíblico deixa bem claro que a
nova revelação foi entregue a Moisés no “ monte de Deus”
(3:1) e que seu sogro só a aceitou posteriormente, quando a
viu validada pelos acontecimentos (18:11). Sete filhas.
Novamente o número ideal ou sagrado; pode bem ter sido
usado literalmente neste caso. As mulheres árabes (nunca os
homens) ainda apanham água nos poços em Israel e na
Jordânia, enquanto os rebanhos são normalmente vigiados
por meninos e meninas.
Êx 2.18. Reuel. Talvez signifique “ amigo de Deus” ou “
pastor de Deus” , este último um significado muito
apropriado numa sociedade pastoril. Um significado menos
provável seria “ Deus é pastor/amigo” . Assim como há
dúvidas quanto à localização de Midiâ e até mesmo do Monte
Sinai, há também dúvidas quanto ao nome exato do sogro de
Moisés. O nome Reuel é uma forma de boas possibilidades, e
em Gênesis 36:4 aparece como um nome edomita. Em 3:1 o
mesmo homem é chamado de Jetro, a forma nominativa de
um nome árabe relativamente comum. Em Números 10:29
aparece um Hobabe, o filho de Reuel de Midiã: o texto não
deixa claro qual dos dois é o sogro de Moisés. Hobabe é um
simples nome semita e Juízes 4:11 certamente descreve
Hobabe como o sogro de Moisés. Isso significa que, ou várias
tradições sobreviveram quanto â identidade do sogro de
Moisés, ou então ele tinha pelo menos dois nomes.
Evidentemente não há problemas em supor que ele tivesse
dois (ou mais) nomes, já que nomes duplos são conhecidos de
fontes da Arábia Meridional. Em tais casos o editor bíblico às
vezes especifica ambos os nomes, como em “ Jerubaal (que é
Gideão)” (Jz 7:1): às vezes porém, os dois são usados
independentemente no espaço de uns poucos versos (Jz 8:29).
O assunto não tem importância teológica e é melhor presumir
que o nome significava tão pouco para Israel que tal
incerteza era possível. A tradição, contudo, é unânime em
afirmar que Moisés se casou com a filha de um sacerdote
semita da região desértica oriental, e lá viveu por período
consideravelmente longo.
ÊX 2. 21. Zípora. Pode ser traduzido como “ canora”, ou
menos polidamente, “ pipilante” ; é o nome de uma pequena
ave da região. Compare com os nomes igualmente simples de
Raquel (ovelha) e Léa) (novilha) em Gênesis 29.
Êx 2. 22. Gérson. Este nome contém um trocadilho por
assonância, pois foi traduzido como se fosse a expressão
hebraica gêr sãm, “ um peregrino ali” . Filologicamente, é
provavelmente um antigo nome derivado do verbo gãras, com
o significado de “ expulsão” ; o sentido geral é, assim,
aproximadamente o mesmo. Como é frequente no Velho
Testamento, a observação é mais um comentário sobre o
significado do nome do que uma tradução exata (cf 2:10).
Consultar Hyatt quanto à sugestão de que Gérson é o
ancestral do clã levita de Gérson “ Gersan” (Nm 3:21-26),
com a mudança da última consoante.
As ações prematuras de Moisés (2.11-15). As injustiças que
os israelitas sofriam deram a Moisés um senso de missão.
Quando tinha idade para agir por conta própria, examinou
pessoalmente a carga que seus irmãos suportavam. Quando
viu que um varão egípcio feria a um varão hebreu (11), seu
desejo de ajudar o povo veio à tona.
Percebeu que tinha razão em punir o malfeitor, ainda que
soubesse que tal ação seria perigosa. Feriu ao egípcio (12),
matando-o, depois de se certificar de que ninguém estava
olhando. Moisés não tinha autoridade do Egito para corrigir
estes males, e Deus ainda não o comissionara. Agindo por
conta própria, entrou em dificuldades.
No dia seguinte, quando tentou resolver uma diferença entre
dois hebreus, Moisés ficou sabendo que o assassinato do
egípcio fora descoberto (14). Também ficou sabendo que
havia injustiça entre seus irmãos. O povo que não apoiava o
homem que queria ajudá-lo ainda não estava preparado para
ter um libertador. E um autodesignado maioral (ou
“príncipe”, ARA) e juiz também não estava preparado para
ser o libertador. Moisés teve de esperar o tempo de Deus para
receber mais instruções de uma Autoridade superior. O rei
logo tomou conhecimento do que Moisés fizera, mas antes de
Faraó agir, Moisés fugiu para a terra de Midiã 15 onde
quarenta anos depois (At 7.30) seria comissionado.
c) Moisés em Midiã (2.16-25). Os midianitas eram
descendentes de Quetura e Abraão (Gn 25.1-4). Habitavam
pelas redondezas do monte Sinai, na península do Sinai a leste
do Egito, do outro lado do mar Vermelho. Esta montanha
também era conhecida por “Horebe” (3.1).13 O sacerdote de
Midiã (16) chamava-se Reuel (18), que significa “amigo de
Deus”.14 Em outros pontos do texto, é conhecido por Jetro
(e.g., 3.1; 4.12). Tinha sete filhas que apascentavam as
ovelhas do pai, mas que passavam maus momentos com os
pastores que maltratavam as moças. Moisés, sempre pronto a
ajudar os desvalidos, levantou-se para socorrê-las. O texto
não fala como conseguiu lidar sozinho com o grupo de
pastores, mas conseguiu mantê-los afastados enquanto as
moças davam de beber ao rebanho (17). Em consequência
desta bondade, Moisés achou uma casa e uma esposa (21).
Aqui se tornou pai do primeiro filho em terra estranha (22).
O nome Gérson “não sugere apenas ‘estranho’, mas indica
exílio, banimento”. Durante o tempo da permanência de
Moisés em Midiã, o povo oprimido no Egito sentiu mais
intensamente o peso esmagador da escravidão (23). Os
líderes do Egito tinham recorrido à servidão cruel para
manter os hebreus em sujeição, descontinuando a política de
matar os recém-nascidos do sexo masculino.
Mas Deus estava cuidando dos seus. Ele ouviu o gemido do
povo e se lembrou do concerto (24). Deus adiou a libertação
de Israel até que Moisés e Israel estivessem prontos. Moisés
precisava das disciplinas do deserto, e o desejo de Israel por
liberdade precisava aumentar. A escravidão continuada no
Egito uniu o povo de Israel no desejo por liberdade e na fé de
que só Deus podia livrá-lo. Deus ouve os clamores do seu
povo, mas espera até “a plenitude do tempo” para dar a
vitória. Conheceu-os Deus (25) significa “Deus se
preocupava
com eles”.
Fracasso (w. 11-14).
Apesar de algumas pessoas se confundirem com a etnia de
Moisés (v. 19), ele sabia que era hebreu, não egípcio, e não
podia evitar identificar-se com o sofrimento de seu povo.
Certo dia, tomou a corajosa decisão de ajudá-los, mesmo que
isso significasse perder sua posição de nobre como filho
adotivo da princesa (Hb 11:24-26). Os prazeres e tesouros do
Egito desvaneceram quando ele se viu ajudando a libertar o
povo escolhido de Deus.
É possível que o oficial egípcio não estivesse apenas
disciplinando o escravo hebreu, mas espancando-o com a
intenção de mata-lo, pois é isso que pode significar a palavra
hebraica usada nesse caso. Assim, quando Moisés interferiu,
provavelmente estava salvando a vida de um homem. E se o
egípcio voltou-se contra Moisés, o que deve ter acontecido,
então Moisés também estava defendendo a própria vida.
Contudo, se o plano de Moisés era libertar os hebreus
matando os egípcios um por um, estava prestes a ter uma
surpresa. No dia seguinte, descobriu que os egípcios eram
apenas parte do problema, pois os hebreus não conseguiam
nem chegar a um entendimento entre si! Quando tentou
reconciliar os dois hebreus, eles rejeitaram sua ajuda! Além
disso, Moisés também ficou sabendo que seu segredo havia
sido revelado e que o Faraó estava atrás dele para matá-lo. A
única coisa que lhe restava fazer era fugir.
Esses dois episódios revelam Moisés como um homem
compassivo e de motivações sinceras, mas ao mesmo tempo
impetuoso em suas atitudes. Sabendo disso, é de se admirar
que, mais tarde, ele tenha sido considerado "mais [manso] do
que todos os homens que havia sobre a terra" (Nm 12:3).
Moisés deve ter ficado desolado com sua tentativa fracassada
de ajudar a libertar os hebreus. Por isso, Deus o levou a
Midiã e fez dele um pastor de ovelhas durante quarenta anos.
Ele precisava aprender que o livramento viria das mãos de
Deus e não das mãos de Moisés (At 7:25; Êx 13:3).
Solidão e serviço humilde (w. 15-25).
Moisés tornou-se um fugitivo e escondeu-se na terra dos
midianitas, parentes dos hebreus (Gn 25:2). Agindo de
acordo com sua natureza corajosa, ajudou as filhas de Reuel,
o sacerdote de Midiã (Êx 2:18). Com isso, recebeu a
hospitalidade daquele lar, casou-se com Zípora, uma das
filhas de Reuel, e esta lhe deu um filho.11 Posteriormente,
Zípora teve outro filho ao qual deu o nome de Eliezer (Êx
18:1-4; 1 Cr 23:15). Reuel ("amigo de Deus") também era
conhecido como Jetro (Êx 3:1; 18:12, 27), mas é possível que
Jetro ("excelência") fosse seu título como sacerdote e não seu
nome.12 O homem "poderoso em palavras e obras"
encontrava-se, agora, em pastos solitários cuidando de
ovelhas obstinadas, mas era justamente esse tipo de preparo
que precisava para liderar uma nação de pessoas obstinadas.
Israel era o rebanho especial de Deus (Sl 100:3), e Moisés, o
pastor escolhido pelo Senhor. Assim como nos treze anos que
José viveu como escravo no Egito e como o intervalo de três
anos na vida de Paulo, depois de sua conversão (Gl 1:16, 1
7), os quarenta anos de espera e de trabalho de Moisés
preparam-no para toda uma vida de ministério fiel. Deus não
envia seus servos imediatamente, mas capacita-os para sua
obra.
Quando há demora, não se trata de desinteresse de Deus,
pois ele ouve nossos gemidos, vê nossas lutas, sente nossas
tristezas e lembra-se de sua aliança. Cumprirá o que
prometeu, pois jamais quebra sua aliança com seu povo.
Quando chega a hora certa, Deus põe-se imediatamente a
trabalhar.
"E aconteceu naqueles dias que, sendo Moisés já grande, saiu
a seus irmãos e atentou nas suas cargas; e viu que um varão
egípcio feria a um varão hebreu, de seus irmãos. E olhou a
uma e a outra banda, e, vendo que ninguém ali havia, feriu ao
egípcio e escondeu-o na areia" versículos (11-12). Moisés
mostra aqui zelo por seus irmãos "mas não com
entendimento" (Rm 10:2). Ainda não chegara o tempo
determinado por Deus para julgar o Egito e libertar Israel, e
o servo inteligente deve aguardar sempre o tempo de Deus.
Moisés era "já grande" e "instruído em toda a ciência dos
egípcios"; e, além disso, "cuidava que seus irmãos
entenderiam que Deus lhes havia de dar liberdade pela sua
mão" (At 7:25). Tudo isto era verdade, todavia, ele correu,
evidentemente, antes de tempo, e quando alguém procede
assim o resultado é o fracasso (1).
E não só o fracasso como também manifesta incerteza, falta
de serena devoção e santa independência no progresso de um
trabalho começado antes do tempo determinado por Deus.
Moisés olhou a uma c outra banda." Não há necessidade
disto quando se age com e para Deus e na plena
compreensão dos Seus pensamentos quanto aos pormenores
da Sua obra. Se o tempo determinado por Deus tivesse
realmente chegado, e se Moisés sentisse que havia sido
incumbido de executar a sentença de Deus sobre o egípcio, se
sentisse ainda a presença divina consigo, não teria olhado "a
uma e outra banda."
A Morte do Egípcio, um Ato Impensado e Prematuro
Este ato de Moisés encerra uma lição profundamente prática
para todos os servos de Deus. Duas circunstâncias se ligam
com ela, a saber: o receio da ira do homem e a esperança do
favor humano. O servo do Deus vivo não deve atentar numa
nem outra. Que importa a ira ou o favoritismo dum pobre
mortal àquele que está investido da incumbência divina e que
goza da presença de Deus?-Para um tal servo estas coisas
têm menos importância que o pó dos pratos duma balança.
"Não o mandei eu!- Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes,
nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo, por
onde quer que andares" (Js 1:9). "Tu, pois, cinge os teus
lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto eu te mandar-,
não desanimes diante deles, porque eu farei com que não
temas na sua presença. Porque eis que te ponho hoje por
cidade forte, e por coluna de ferro, e por muros de bronze,
contra toda a terra; e contra os reis de Judá, e contra os seus
príncipes, e contra os seus sacerdotes, e contra o povo da
terra. E pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti;
porque eu sou contigo, diz o SENHOR, para te livrar" (Jr
1:17-19).
Colocado assim sobre este terreno elevado, o servo de Cristo
não olha a uma e outra banda, mas atua de acordo com o
conselho da sabedoria celestial: "Os teus olhos olhem
direitos e as tuas pálpebras olhem diretamente diante de ti"
(Pv 4:25).
A sabedoria divina faz-nos sempre olhar para cima e para a
frente. Sempre que olhamos em redor para evitar o olhar
desdenhoso de um mortal ou para merecer o seu sorriso,
podemos estar certos que há qualquer coisa que está mal;
estamos fora do terreno próprio de serviço divino. Falta-nos
a certeza de termos a incumbência divina e de sentirmos a
presença do Senhor, ambas as coisas tão essenciais.
É verdade que há muitos que, por ignorância profunda ou
excessiva confiança em si próprios, entram para uma esfera
de serviço para a qual Deus nunca os destinou e para a qual,
portanto, os não preparou. E não só o fazem como aparentam
uma frieza de ânimo e uma confiança em si próprios
perfeitamente espantosas para aqueles que podem formar um
conceito imparcial dos seus dons e dos seus méritos. Contudo
essas aparências depressa cedem à realidade, e não podem
modificar em nada o princípio que nada pode impedir
realmente o homem de olhar "a uma e outra banda" senão a
convicção íntima de ter recebido uma missão de Deus e de
desfrutar a Sua presença. Quando possuímos estas coisas
somos inteiramente livres das influências humanas e estamos
independentes dos homens. Ninguém está em tão boas
condições de servir os homens como aquele que é
independente deles; contudo, aquele que conhece o seu
verdadeiro lugar pode baixar-se e lavar os pés dos seus
irmãos. Quando desviamos o olhar do homem e o fixamos
sobre o único Servo verdadeiro e perfeito, não o encontramos
"olhando a uma e outra banda", pelo simples motivo que
nunca procurou agradar aos homens mas a Deus. Não temia
a ira do homem nem cortejava o seu favor. Os Seus lábios
nunca se abriram para provocar os aplausos dos homens,
nem jamais os fechou para evitar as suas críticas. Por isso, o
que dizia e fazia tinha uma santa estabilidade e elevação.
Jesus é o único de quem se pôde dizer com verdade, "cujas
folhas não caem e tudo quando fizer prosperará" (Sl 1:3). Em
tudo que fazia prosperava, porque fazia todas as coisas para
Deus. Cada ação, cada palavra, cada movimento, cada olhar,
cada pensamento era como um belo cacho de frutos enviados
ao alto para refrescar o coração de Deus. Jamais receou
pelos resultados da Sua obra, porquanto sempre trabalhou
com e para Deus na compreensão plena da sua vontade. A
Sua própria vontade, posto que fosse divinamente perfeita,
nunca se confundiu com o que, como homem, fazia sobre a
terra, e assim podia dizer: "Porque eu desci do céu, não para
fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou"
(Jo 6:38). Por isso, deu "o seu fruto na estação própria" (Sl
1:3), e fez sempre o que agradava ao Pai (Jo 8:29), e,
portanto, nada teve que temer, nem necessidade de
arrependimento nem de "olhar a uma e a outra banda".
V. A fé em Cristo é superior (Hb 11.39-40)
O autor dá início ao capítulo três fazendo um contraste entre Moisés e Cristo. Ele estava consciente da grande estima que seus compatriotas tinham pela figura do grande legislador hebreu, Moisés. Em nenhum momento desse contraste o autor deprecia a pessoa de Moisés, mas sempre o coloca como um homem fiel a Deus na execução de sua obra. Entretanto, mesmo tendo assumido a grande missão de conduzir o povo rumo à Terra Prometida, Moisés não poderia se equiparar a Jesus, o Autor da nossa fé. O contraste entre Moisés e Cristo é bem definido: Moisés é visto como um administrador da casa, Jesus como Edificador; Moisés é retratado como servo, Jesus como Filho; Moisés foi enviado em uma missão terrena, Jesus numa missão celestial, eterna.
1. Uma tarefa superior
. A. Uma vocação superior.
O autor introduz a seção vv.1-6 tomando como ponto de partida o que havia dito anteriormente — Jesus era o autor e mediador da nossa salvação (Hb 2.14-18). Tomando por base esse conhecimento, seus leitores, a quem ele chama afetuosamente de irmãos santos, deveriam ficar atentos ao que seria dito agora (Hb 3.1). Eles não eram apenas um povo nômade pelo deserto escaldante à procura da Terra Prometida, mas herdeiros de uma vocação celestial. Eles deveriam se lembrar de quem os fez aptos e idôneos dessa vocação. Nesse aspecto, os leitores de Hebreus não deveriam ter dúvida alguma de que Jesus, como Aquele que os conduzia ao destino eterno, era em tudo superior a Moisés, a quem coube a missão de conduzir o povo à Canaã terrena.
B. Uma missão superior.
O autor pela primeira vez usa a palavra apóstolo em relação a Jesus (Hb 3.1). A palavra apóstolo se refere a alguém que é comissionado como um representante autorizado. Não havia dúvida de que Moisés havia sido um enviado de Deus em uma missão, todavia, ele não foi o “apóstolo da grande salvação”. A missão de Moisés foi tirar o povo de dentro do Egito e conduzi-lo à Terra Prometida, mas a missão de Jesus é a de conduzir a Igreja à Canaã celestial. A missão mosaica era daqui, a Canaã terrena; a missão de Jesus possuía uma vocação celestial. Cristo não foi apenas um enviado em uma missão, mas acima de tudo, o apóstolo da nossa confissão, alguém com autoridade na missão de nos conduzir ao destino eterno.
C. Uma mediação superior.
Depois de afirmar que Jesus era “o apóstolo”, o autor também diz que Ele é o “sumo sacerdote da nossa confissão”. Jesus era superior a Moisés, não apenas em relação à missão, mas também em relação à função que exercia. O autor fará um contraste mais detalhado entre o sacerdócio de Cristo e o araônico mais adiante, mas aqui os crentes deveriam ter em mente que a mediação de Jesus era em tudo superior ao sistema mosaico e levítico. Cristo era o mediador da nossa confissão. A palavra “confissão” traduz o termo original homologia, que tem o sentido primeiro de “concordância”. Quando confessamos Jesus como Salvador, concordamos que Ele em tudo tem a primazia. Ele é o Senhor. Ele é maior do que tudo e do que todos; Ele, e somente Ele, é a razão do nosso viver.
2. Uma autoridade superior
A. Construtor, não apenas administrador.
O autor destaca que tanto Moisés como Jesus foram fiéis na “casa de Deus” (Hb 3.2). Eles foram fiéis na missão que lhes foram confiada. Isso mostra o apreço que o autor possuía pelo legislador hebreu. Todavia, ao se referir a Jesus, o autor usa a palavra grega aksioô, traduzida como “digno”, “valor”, “mérito”. Duas coisas precisam ser destacadas no uso desse vocábulo pelo autor. Primeiramente ele quer mostrar que o mérito de Jesus era maior do que o de Moisés. Nosso Senhor era o construtor do edifício, da casa de Deus, e não apenas o mordomo, como fora Moisés. Os crentes precisavam enxergar isso e, assim, valorizarem mais a sua salvação. Por outro lado, ao usar o pretérito perfeito (tempo verbal grego), ele demonstra que a glória de Moisés era desvanecente, enquanto a de Jesus era permanente.
B. Filho, não apenas servo.
O autor sabe da grande estima que Moisés possuía dentro da comunidade judaico-cristã e por isso é extremamente cuidadoso no uso das palavras. “E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” (Hb 3.5,6). Em vez de usar o termo doulos (servo), vocábulo usado para se referir a um escravo ou serviçal, ele usa outro vocábulo, therápôn. Essa palavra só aparece aqui no Novo Testamento e é traduzida como servo ou ministro. A ideia expressa é de um serviço que é prestado de forma voluntária entre duas pessoas que se relacionam bem. Assim era Moisés com o seu Deus. Mas o autor deixa claro que esse relacionamento de Moisés com Deus não podia se equiparar ao de Deus com o seu Filho, Jesus.
C. Uma igreja, não apenas tabernáculo.
Alguns autores entendem que a expressão “casa de Deus” usada em relação a Moisés pode se referir ao tabernáculo como centro do culto mosaico no deserto, enquanto outros veem como uma referência à antiga congregação do povo de Deus do êxodo. Em todo caso, a ideia gira em torno do povo de Deus que adora na Antiga Aliança. Moisés foi um ministro de Deus no culto da congregação do deserto. Mas Jesus, como Filho é o ministro da Igreja, o povo de Deus na Nova Aliança, “a qual casa somos nós” (Hb 3.6).
3. Um discurso superior
A. O perigo de ouvir, mas não atender.
Seguindo a redação da Septuaginta (tradução grega da Bíblia Hebraica), o autor cita o Salmo 95.7-11 para trazer uma série de advertências. Se o povo de Deus no Antigo Pacto precisou ser exortado, maior exortação precisava os que tinham maiores promessas. Primeiramente havia o perigo de ouvir e não atender (Hb 3.7,8). No passado, o povo de Deus tinha ouvido a mensagem divina; entendido, mas não atendido! O mesmo erro estava se repetindo. O Espírito Santo, falando profeticamente pela boca do salmista, advertia os o leitores para que seus corações não se endurecessem. É um apelo atual, porque o povo de Deus muitas vezes demonstra ser tardio para ouvir.
B. O perigo de ver, mas não crer.
“ E viram, por quarenta anos, as minhas obras” (Hb 3.9). Erra quem pensa que só acredita quem vê. Parece que quem muito vê, menos acredita. Acaba ficando acostumado com o sobrenatural. O sobrenatural se naturaliza. É exatamente isso o que aconteceu no deserto e era exatamente isso o que estava acontecendo com a comunidade do autor de Hebreus. Tanto Moisés, como Jesus, foram poderosos em obras, mas isso não estava sendo suficiente para segurar os crentes. É preocupante quando o cristão se acostuma com o sobrenatural e nada mais parece impactá-lo.
C. O perigo de começar, mas não terminar.
“Estes sempre erram em seu coração e não conheceram os meus caminhos” (Hb 3.10b). Com estas palavras o autor mostra o perigo de começar, mas não chegar. De andar, mas se desviar. Alguns do antigo povo de Deus haviam começado bem, mas terminaram mal. Muitos caíram pelo caminho, desistiram da estrada. O mesmo risco estava ocorrendo com os cristãos neotestamentários — haviam começado bem, mas estavam correndo o risco de caírem e perderem a fé. O alerta é para nós também.
Ao mostrar a superioridade de Jesus sobre Moisés, o autor da Carta aos Hebreus não tencionava exaltar o primeiro e desprezar o segundo, mas pôr em relevo a obra do Calvário, bem como esclarecer como os crentes devem valorizá-la. Ora, se Moisés que não era divino, que não se deu sacrificalmente em lugar de ninguém, merecia ser ouvido, então por que Jesus, o Filho do Deus bendito, Senhor da Igreja e superior aos anjos, não merecia reconhecimento ainda maior?
Moisés não queria deixar o Egito, pois era tudo o que ele conhecia. Mas se não tivesse saído de lá, jamais teria conhecido a experiência da sarça ardente. Ele não queria deixar o deserto de Midiã. Mas se não tivesse deixado o deserto, jamais teria visto Deus abrir o Mar Vermelho ou libertar o seu povo. Jamais teria conversado com Deus face a face.
O legado de Moisés
A cultivar comunhão com Deus. “Cultivar”, significa incentivar, preparar para o crescimento. Muito antes de as primeiras flores aparecerem ou os sinais do fruto serem vistos, muito foi feito para preparar a planta para o fruto esperado. O lavrador cuida da planta com zelo para que esta seja mais produtiva. Este processo de carinho e atenção é o cultivo. É em nossa relação com Deus, mediante a comunhão contínua, que nossa vida é mudada e desenvolvida em direção à realização plena. Como filho de Deus, você desfruta de plena comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo? Cultive, como Moisés, esta comunhão, passando mais tempo com Deus em oração, leitura da Palavra e adoração. Moisés foi um homem que cultivou uma comunhão bastante íntima com Deus.
A ter comunhão com outros crentes. Através da vida de comunhão com os santos, você é incentivado a viver a vida cristã saudável e abundante. Os primeiros cristãos tinham comunhão diária entre si (At 2.46). Não admira que suas vidas fossem testemunhos poderosos do Evangelho e fizessem com que as pessoas tivessem sede de salvação. Havia uma colheita diária de almas, à medida que o Senhor acrescentava à igreja os que iam sendo salvos (At 2.46,47). Moisés prezava pela comunhão em família e com todo o povo de Deus. Sigamos de perto o seu exemplo e busquemos a comunhão com os nossos irmãos, pois estamos também todos caminhando rumo à Terra Prometida.
A aceitar o ministério de líderes piedosos. Os líderes são instrumentos de Deus para alimentar e nutrir seu povo. Efésios 4.11-13 enfatiza que o propósito dos ministérios de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores na igreja é edificar o povo de Deus. Quando você aceita e aplica os ensinos de Deus, que nos são proporcionados por meio dos líderes que Ele chamou, você é levado a um lugar de maior fertilidade e de crescimento (Ef 4.16). Toda vez que os hebreus deixavam de obedecer a Moisés eles pecavam e eram grandemente prejudicados. Quando Miriã se rebelou contra a liderança de Moisés, seu irmão, ela ficou leprosa e o povo todo não pôde partir. Todos ficaram retidos pela desobediência de uma única pessoa.
A ter cuidado com os inimigos. Ao entrarem na Terra Prometida, os israelitas tinham de destruir as nações ímpias que ali viviam. Esse era o plano de Deus, mas Israel não o seguiu. Em consequência disso, o povo de Israel foi seduzido pelos maus caminhos desses povos (Sl 106.34-36). Essa experiência é um aviso para nós. Cuidado com o Inimigo e as suas propostas. Vigie para que você e sua família não sejam seduzidos pelas coisas deste mundo. O mundo e a sua concupiscência é passageiro, mas os valores de Deus e a sua Palavra são eternos.
Moisés cumpriu sua carreira com fé em Deus, coragem e determinação. Em tudo ele buscou ser fiel ao Senhor. Sigamos o exemplo deste líder a fim de que possamos viver com sabedoria e a agradar a Deus em toda a nossa maneira de viver.
Moisés foi um homem:
- Escolhido por DEUS,
- Guardado por DEUS,
- Treinado por DEUS,
- Chamado por DEUS,
- Guiado por DEUS,
- Separado por DEUS
- E para DEUS.
Em breve estaremos de volta dando sequencia a esta série.
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