Por Jânio Santos de Oliveira
Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra
Pastor Presidente: Eliseu Cadena
Contatos 0+operadora 21 36527277 ou (Zap)21 xx 990647385 (claro) ou 989504285 (oi)
Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!
Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra no Livro do Gênesis 40.1-23 Que nos diz:
1 E aconteceu, depois destas coisas, que o copeiro do rei do Egito, e o seu padeiro, ofenderam o seu senhor, o rei do Egito.
2 E indignou-se Faraó muito contra os seus dois oficiais, contra o copeiro-mor e contra o padeiro-mor.
3 E entregou-os à prisão, na casa do capitão da guarda, na casa do cárcere, no lugar onde José estava preso.
4 E o capitão da guarda pô-los a cargo de José, para que os servisse; e estiveram muitos dias na prisão.
5 E ambos tiveram um sonho, cada um seu sonho, na mesma noite, cada um conforme a interpretação do seu sonho, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que estavam presos na casa do cárcere.
6 E veio José a eles pela manhã, e olhou para eles, e viu que estavam perturbados.
7 Então perguntou aos oficiais de Faraó, que com ele estavam no cárcere da casa de seu senhor, dizendo: Por que estão hoje tristes os vossos semblantes?
8 E eles lhe disseram: Tivemos um sonho, e ninguém há que o interprete. E José disse-lhes: Não são de Deus as interpretações? Contai-mo, peço-vos.
9 Então contou o copeiro-mor o seu sonho a José, e disse-lhe: Eis que em meu sonho havia uma vide diante da minha face.
10 E na vide três sarmentos, e brotando ela, a sua flor saía, e os seus cachos amadureciam em uvas;
11 E o copo de Faraó estava na minha mão, e eu tomava as uvas, e as espremia no copo de Faraó, e dava o copo na mão de Faraó.
12 Então disse-lhe José: Esta é a sua interpretação: Os três sarmentos são três dias;
13 Dentro ainda de três dias Faraó levantará a tua cabeça, e te restaurará ao teu estado, e darás o copo de Faraó na sua mão, conforme o costume antigo, quando eras seu copeiro.
14 Porém lembra-te de mim, quando te for bem; e rogo-te que uses comigo de compaixão, e que faças menção de mim a Faraó, e faze-me sair desta casa;
15 Porque, de fato, fui roubado da terra dos hebreus; e tampouco aqui nada tenho feito para que me pusessem nesta cova.
16 Vendo então o padeiro-mor que tinha interpretado bem, disse a José: Eu também sonhei, e eis que três cestos brancos estavam sobre a minha cabeça;
17 E no cesto mais alto havia de todos os manjares de Faraó, obra de padeiro; e as aves o comiam do cesto, de sobre a minha cabeça.
18 Então respondeu José, e disse: Esta é a sua interpretação: Os três cestos são três dias;
19 Dentro ainda de três dias Faraó tirará a tua cabeça e te pendurará num pau, e as aves comerão a tua carne de sobre ti.
20 E aconteceu ao terceiro dia, o dia do nascimento de Faraó, que fez um banquete a todos os seus servos; e levantou a cabeça do copeiro-mor, e a cabeça do padeiro-mor, no meio dos seus servos.
21 E fez tornar o copeiro-mor ao seu ofício de copeiro, e este deu o copo na mão de Faraó,
22 Mas ao padeiro-mor enforcou, como José havia interpretado.
23 O copeiro-mor, porém, não se lembrou de José, antes se esqueceu dele.
Estamos de volta dando sequência a uma série de conferências sobre os Patriarcas; Já falamos sobre Abraão; Isaque e Jacó; agora estamos no quarto e último personagem analisado entre os Patriarcas. Neste seguimento vamos falar de José do Egito filho de Jacó por parte de Raquel.
Já falamos sobre:
- A sua biografia;
- Os seus sonhos.
- A sua ida ao Egito.
Agora falaremos sobre "O intérprete de sonhos".
I. Análise preliminar do texto.
Aprendendo a interpretar (40:1-13, 16- 22).
Tendo em vista que estava numa prisão onde eram colocados os prisioneiros do rei, José conheceu alguns homens de altos cargos oficiais e que tinham acesso ao Faraó, dentre eles o mordomo (copeiro-chefe) do Faraó e o padeiro-chefe. A função do copeiro era certificar-se de que o vinho do Faraó fosse preparado corretamente e seguro para beber (Ne 1:11- 2:1). Uma vez que servia na presença do Faraó, era um homem poderoso que tinha acesso ao rei. Deus colocou esses dois homens na vida de José para que, no devido tempo, pudesse libertá-lo e colocá-lo no trono que havia preparado para ele. Os sonhos tinham um papel importante na vida dos governantes do Egito, e a capacidade de interpretá-los era uma aptidão extremamente respeitada. Até então, José havia refletido sobre seus próprios sonhos, sendo esta a primeira vez que interpretou o sonho de outros. O fato de ter notado o semblante perturbado daqueles homens mostra que José era um homem atencioso e de discernimento, e o fato de ter dado a glória a Deus (Gn 40:8) demonstra que era humilde. A expressão “[tirar] fora a cabeça” (vv. 13, 19) significa “levar o pleito ao rei e ser | restaurado” (ver 2 Rs 25:27; Jr 52:31). Contudo, no que se referia ao padeiro, a expressão tinha um sentido duplo, pois ele seria executado por ordem do Faraó. Os egípcios não usavam a forca; em vez disso, decapitavam a vítima e, depois, empalavam o corpo numa estaca (“madeiro”). Assim, num sentido duplo, a cabeça do padeiro foi “tirada fora”. A interpretação de José se realizou. O copeiro foi restaurado a seu cargo, e o padeiro foi executado. Apesar de, sem dúvida, José ter lamentado pelo que havia acontecido ao padeiro, deve ter se animado ao ver que sua interpretação havia sido correta e que o Faraó, de fato, ouvia o pleito de prisioneiros e libertava alguns deles. Aprendendo a confiar (Vv. 14, 15, 23). No que se refere ao registro em Gênesis, José demonstrou incredulidade em apenas duas ocasiões, e esta é a primeira. (A segunda aparece em Gênesis 48:8-20, quando José tentou dizer a Jacó de que modo deveria abençoar seus dois netos.) Sabendo que o copeiro seria libertado e que teria acesso ao Faraó, José pediu que não se esquecesse dele e que procurasse tirá-lo da prisão. Depositou sua confiança naquilo que um homem podia fazer e não em Deus. Estava ficando impaciente, em lugar de esperar pelo tempo de Deus. José não mencionou seus irmãos e nem os acusou de ter feito mal a ele. Disse apenas que havia sido “roubado” (sequestrado) de sua casa e que, portanto, era um homem livre que merecia um tratamento melhor. A palavra “masmorra”, usada por José em Gênesis 40:1 5 (ver também Gn 41:14), não significa que ele e os prisioneiros estavam num lugar terrivelmente miserável. Ficavam num cárcere reservado aos prisioneiros do rei (Gn 39:20) e chamado de “casa do comandante da guarda” (Gn 40:3), de modo que certamente não era uma masmorra. E bem provável que se tratasse de um tipo de “prisão domiciliar”. José estava falando da mesma forma como você e eu nos expressaríamos ao querer que outras pessoas simpatizassem com nossa situação difícil: “Estou no fundo do poço!” Depois de ser libertado e restaurado a seu cargo, não só o copeiro não disse nada ao Faraó sobre José como também se esqueceu completamente dele! Esse é o resultado de se confiar em pessoas em vez de esperar no Senhor. “Não confieis em príncipes, nem nos filhos dos homens, em quem não há salvação.[...] Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor , seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e mantém para sempre a sua fidelidade” (SI 146:3, 5-6).
II. Visão panorâmica do texto.
Por causa de mentiras, José foi preso no Egito. Mas mesmo assim ele passou de simples prisioneiro, pois era o interprete de sonhos, consolador dos aflitos; Deus estava com ele. O copeiro-chefe e o padeiro-chefe do rei do Egito ofenderam-lhe e foram presos onde estava José. Numa noite ambos sonharam. Eles ficaram perturbados por não saberem que significava os sonhos. Pela manhã José viu que eles estavam perturbados (6) e perguntou-lhes o que estava acontecendo. Contaram-lhe os sonhos. O copeiro-chefe contou-lhe o seu sonho. José Interpreta Os Sonhos: em três dias Faraó o restauraria à sua função no palácio. José pediu-lhe que se lembrasse dele quando o sonho se realizasse (14).
O padeiro-chefe também contou seu sonho. José o interpretou. Em três dias o padeiro seria enforcado e as aves do céu lhe comeriam a carne.
O que José disse, aconteceu. Mas o copeiro-chefe não intercedeu por José.
1. Mesmo Sofrendo Injustiças José Interpreta Os Sonhos Consoladores
Aqui vemos a injustiça que José sofreu. Aqueles dois homens mereciam estar na prisão porque “ofenderam” ao rei. Kinder diz que o hebraico indica ofensa grave. Mas como eles eram egípcios e de cargos importantes no palácio real, José que estava ali injustamente teve de servir os injustos (4).
2. José Interpreta Os Sonhos em Solidariedade aos Companheiros
A história do padeiro e do copeiro pode trazer-nos muitas lições. Mas o foco principal aqui é José, o abençoado por Deus. Ele se interessava pelos problemas dos outros e usava seu dom de intérprete de sonhos para ajudar as pessoas (6). Ajudando aos outros ele também buscava solução para seus problemas. Pessoas testemunham de que quando ajudam aos outros também são ajudadas, de alguma forma. Sim, o interprete dos sonhos, sofrendo injustiças na prisão, consolou os aflitos em prisão.
Ele também consola aqueles que sofrem com os enigmas dos sonhos não compreendidos. Quão horrível é ter a sensação de que algo está para acontecer, ter um recado de Deus e não saber exatamente o que é. Os sonhos para os egípcios eram recados da divindade. Tinham sentido profético.
3. José Interpreta Os Sonhos e Conta a Verdade
A interpretação do sonho do padeiro não era nada boa, mas era a realidade. Nem sempre Deus tem bons sonhos para nós. Mas pelo menos era a realidade e ele podia ter uma perspectiva real para qual podia se preparar.
O copeiro não intercedeu por José. Nem sempre as pessoas correspondem ou demonstram gratidão pelo bem que lhes fazemos. Não importa. O nosso socorro vem de Deus (Sl 46.1).
III. A ingratidão do copeiro do Rei.
Estamos diante de José na prisão. São narrados dois eventos de interpretação de sonhos de dois homens que foram também parar numa prisão que são os copeiro-mor e o padeiro de faraó. José interpreta fielmente o sonho de ambos, mas ainda sim, o copeiro-mor não se lembrou dele para falar a Faraó para libertá-lo da sua prisão, numa cova.
O capítulo começa simplesmente dizendo que depois destas coisas, as que foram comentadas no capítulo anterior, envolvendo Judá, Tamar e Peres que aconteceram, que o escritor de Gênesis vai começar a narrar os fatos presentes. Ambas as histórias estão sendo narradas em paralelo. A de Jacó e de seus filhos em Canaã e de José no Egito.
No Egito, ainda José se encontra na prisão. Dá para perceber no desenrolar do capítulo o anseio, sonho e desejo de José de sair dali e ter sua vida de volta. Vemos isso na sua fala e em seus rogos. Embora fosse o prisioneiro de Deus, ali, ele gostaria de sair dali e melhorar sua vida.
Não podemos jamais nos acomodar com nossas vidas, antes buscarmos crescimento, desenvolvimento, prosperidade e aproveitarmos todas as oportunidades com temor a Deus em nossos corações.
Dois fatos novos iriam acontecer naquele dia naquela prisão onde José se encontrava injustamente. Dois novos presos que serviam Faraó diretamente estavam ali com ele, não sem uma razão especial. Eles tiveram oportunidade de conhecerem José e de servi-lo e viram que ele era boa pessoa.
Deus nos aproxima de pessoas que ele quer nos aproximar e devemos ter cuidado de não sermos ignorantes e desprezadores. José foi educado, servil, amigo e ouviu seus sonhos e com eles compartilhou seus momentos difíceis. Ganhando a confiança de José, eles contam seus sonhos e José diz que a interpretação pertence a Deus.
Foi imediatamente que José interpretou o sonho do copeiro-mor e o padeiro ficou maravilhado com a fala de José que demonstrava segurança e energia ao falar. Ali não estaria um embromador, mas alguém que tinha conhecimento e que seria capaz de falar em nome de Deus dando interpretações.
José interpreta o sonho e faz um rogo ao copeiro-mor que ao se cumprir o sonho não se esquece-se de José! No entanto, ele simplesmente se esquece daquele que marcou sua vida não somente com a interpretação correta de seu sonho, mas também com a interpretação, também correta, do padeiro que acabou sua jornada tendo sua cabeça cortada e dada as aves para comerem.
Como poderia aquele copeiro-mor se esquecer? José deve ter ficado indignado. Não foi outro se não Deus que o fez esquecer porque tinha em mente seus propósitos eternos que logo iriam ter seu cumprimento; na hora certa, Deus o lembraria.
IV. A função dos sonhos.
“Ora, tiveram ambos um sonho, cada um seu sonho na mesma noite, cada um conforme a interpretação do seu sonho, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que se achavam presos no cárcere: Quando José veio a eles pela manhã, viu que estavam perturbados. Tivemos um sonho e ninguém há que o interprete. Pelo que lhes disse José: Porventura não pertencem a Deus as interpretações? Contai-mo, peço-vos”. (Gn 40:5)
“Passados dois anos inteiros, Faraó sonhou que estava em pé junto ao rio Nilo; e eis que subiam do rio sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no carriçal. Após elas subiam do rio outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; e paravam junto às outras vacas à beira do Nilo. E as vacas feias à vista e magras de carne devoravam as sete formosas à vista e gordas”. (Gn 41)
“Ouvi, peço-vos, este sonho que tive: Estávamos nós atando molhos no campo, e eis que o meu molho, levantando-se, ficou em pé; e os vossos molhos o rodeavam, e se inclinavam ao meu molho” (Gn 37:6)
“E, projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo;
ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1:20)
Vemos através da Bíblia que os sonhos tomam grande importância. Geralmente se ligam a faculdade mística da profecia. Tanto o José egípcio, quando o José que seria esposo de Maria, ambos tiveram grandes revelações por sonhos. Claro que o sonho relativo ao padeiro-mor, bem como em relação ao Faraó, tiveram mais algo a ver com o Egito, e com aquele exílio (galut) que seria um de muitos. Mas nem sempre os sonhos têm essa função espiritual, ou mesmo profética.
Segundo Maimônides, os sonhos podem ser falsos, ou proféticos. Já a Torá Or fala que os sonhos vêm da faculdade da alma de gerar fantasias. Já o Talmud (Berachot 1: 10B) diz que os sonhos muitas vezes não trazem a verdade. Existem dois tipos de profecias em sonhos: as que são trazidas por anjos e as que são trazidas por shedim (demônios). Assim se deve pedir a Deus e não confiar cegamente nos sonhos. Os sonhos podem ainda ser conseqüência do exílio, como lembra o Likutei Sihot. Porque o universo criado constitui uma pequena peça. Tudo está sujeito a Providência Divina. São poucos talvez os sonhos que se revelem legítimo serviço a Deus (avodá), talvez muitos deles nos ligando mais ao corpo, que a objetivos espirituais. Os sonhos são duvidosos porque permitem coexistência de situações contraditórias.
Todo o serviço a Deus no exílio é similar ao sonho. E todos os exílios são do Egito. Já falamos que o Egito é o ego, e o materialismo que afasta de Deus. E segundo o Zohar o sonho segue a interpretação. Por isso deve ser cuidadoso ao interpretar sonhos. Não raro já fui consultado por amigos, ou mesmo para tirar a curiosidade em relação a sonhos. Vejo que muitos símbolos são invertidos (como porco significar dinheiro, morte significar nova vida etc), e assim consigo satisfazer alguma interpretação. Mas José ao seu tempo tinha a cabeça a prêmio, e interpretar sonho de Faraó foi um grande fator de risco.
Vemos que sob aspecto místico existem sonhos que podem fazer uso da alma, outros da alma animalesca, e assim ter funções bem diferentes. Tivemos em Freud um expoente nesse sentido de interpretar, bem como Jung, de modo que os aspectos psicológicos são desvelados por sonhos. Mas muitas pessoas não lembram. Fato é que na Bíblia o contato com Deus se dá muitas vezes por sonhos, e todos os profetas assim o fizeram, com exceção de Moisés (Moshe), que teve um contato direto. Por fim, devemos saber que nosso anjo se comunica em sonhos, e que muitos sinais são dados por esse meio. A intuição leva a compreender esse canal de comunicação. E a Bíblia nos mostra a importância que foi interpretar um sonho para se reconhecer o messias (Machiach), quando do sonho de José.
V. Como José venceu as injustiças.
1. José sabia que a injustiça faz parte da condição humana (verso 1).
José conviveu com pessoas que usaram os seus serviços, como acontece conosco em nossas relações de trabalho. José experimentou a realidade de um chefe que não lhe dava nenhuma importância, tanto que sequer o ouviu quando lhe pedia para se lembrar dele. Na realidade, o copeiro-chefe não se esqueceu de José; é como se, para ele, José não existisse. Era um hebreu sem valor.
Sabemos que essas circunstâncias nos ocorrem também, mas gostaríamos de ser poupados. Chegamos até a ensaiar, como os salmistas, uma defesa: não merecemos passar pelo que estamos passando.
Na verdade, não temos dificuldade em reconhecer que a injustiça existe -- afinal, ela está por todos os lados --, mas temos muita dificuldade em aceitar que ela nos alcance a nós. A história de José, esta e tantas outras, são um lembrete desagradável: podemos ser vítimas de rejeições injustas, ingratidões injustas, vinganças injustas, comentários injustos, abandonos injustos, julgamentos injustos, esquecimentos injustos.
2. José sofria com a injustiça, que ficou marcada como uma cicatriz. Ele não fez de conta que a injustiça não existe. Seu confiar em Deus não o levou a negar os fatos. Disse ele, com tristeza: pois fui trazido à força da terra dos hebreus, e também aqui nada fiz para ser jogado neste calabouço (verso 15).
Quando reconhecemos sua existência, podemos perceber que a injustiça é uma poderosa arma da tentação. Ela mina todo o vigor da vida. Para que interpretar sonhos novamente? Para que lutar? Para que ser bom?
A injustiça nos deixa amargos. Por que Deus fez isto comigo? Até quando serei vítima? Meus amigos são injustos em potencial, ou na certeza.
A injustiça nos impede de tentar outra vez. Na vida de José vieram outros sonhos e ele os foi interpretar. Não podemos passar a achar que todos os relacionamentos terminarão em decepção, porque não terminarão. A felicidade de José, mesmo atingida por duros reveses, é uma demonstração disto.
3. José esperava pela justiça. Quando tudo estiver indo bem com você, lembre-se de mim e seja bondoso comigo; fale de mim ao faraó e tire desta prisão (verso 14).
José não se conformou com sua condição. Ele esperava por bondade por parte do copeiro-chefe. Ele esperava o indulto por parte do faraó. Na verdade, enquanto interpretava os sonhos dos outros, não esquecia do seu, o sonho da liberdade. A vida, que lhe era injusta, não acabara.
A Bíblia não ensina o conformismo. A injustiça é pecado, cometido contra a vitima, a quem cabe reagir, desejando justiça, orando pela justiça, agindo para que haja justiça.
Onde houve injustiça, eu devo levar a justiça. A injustiça contra o outro é injustiça contra mim. Devo rever o que Martin Niemöller (1892-1984), um pastor batista na oposição a Adolf Hitler, escreveu, criticando a omissão da igreja do seu tempo: "Primeiro, eles investiram contra os comunistas, mas eu não era um comunista e me calei. Depois, eles investiram contra os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum deles, e me calei. Depois, eles investiram contra os judeus, mas eu não era um judeu e me calei. Quando eles investiram contra mim, não havia ninguém para me defender".
4. José tinha a certeza que Deus estava com ele. Esta é a razão do triunfo do hebreu. O mundo podia dar as suas voltas, mas Deus estava no controle. Seus irmãos podiam prende no calabouço, mas Deus estava no controle. Seus irmãos podiam comercializa, mas Deus estava no controle. Seu patrão podia mandar para a prisão, mas Deus estava no controle. Seu amigo podia esquece, mas Deus estava no controle. Ele sabia disso por experiência própria: cada injustiça era seguida pela providência divina.
Por Deus estar com ele, José se animou. A tristeza dos ex-empregados do Faraó podia ser uma boa oportunidade. José se aproximou deles. Seu interesse pode ter sido totalmente generoso, mas pode ser parte da estratégia de obter a simpatia dos superiores.
Não deu certo no primeiro momento, mas, no segundo, porque Deus estava com ele, deu certo. Fez a sua parte. Deus também.
Portanto, assim como sabia que Deus podia inspira a interpretar os sonhos, José tinha a convicção também que Deus estava no comando nos eventos da vida.
Seu poema predileto, podemos imaginar, era o salmo 37: Não se aborreça por causa dos homens maus e não tenha inveja dos perversos; pois como o capim logo secarão, como a relva verde logo murcharão. Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá: ele deixará claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do meio-dia que você é inocente. Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência; não se aborreça com o sucesso dos outros, nem com aqueles que maquinam o mal. O Senhor ama quem pratica a justiça, e não abandonará os seus fiéis (Salmo 37.1-7, 28a).
Eis o que devemos fazer: entregar o assunto a Deus e esperar o recibo passado por Ele. O recibo divino é o descanso humano. Devo esta idéia ao pastor Ronald Rutter.José, com seus gestos, entregava a injustiça contra ele a Deus. O resultado foi a vitória.
VI. Personagens bíblicos que venceram injustiças.
Temos na Bíblia muitos vitoriosos como José.
Abraão continuou se interessando por Lo. Quando o sobrinho foi sitiado por reis inimigos, Abraão o resgatou (Gn 14). Quando a vida de Lo e sua família estavam ameaçadas em Sodoma, Abraão intercedeu diante de Deus por eles (Gn 18-19), no que foi atendido (Gn 19.29).
Moisés, impedido de entrar na terra pelo pecado do seu povo, abençoa o seu povo, com palavras de carinho: O Deus eterno é o seu refúgio, e para segura estão os braços eternos. (...) Somente Israel viverá em segurança; a fonte de Jacó está segura numa terra de trigo e de vinho novo, onde os céus gotejam orvalho. (...) Como você é feliz, Israel! Quem é como você, povo salvo pelo Senhor? Ele é o seu abrigo, o seu ajudador e a sua espada gloriosa (Dt 33.27-29).
Noemi aceitou a companhia da nora que lhe lembrava tantas perdas e confiou que Deus as abençoaria; quando Rute teve o seu neném, a sogra cuidou dele (Rute 4).
Davi, já nomeado rei, esperou a morte de Saul, a quem protegeu, tomando aquele tempo de fuga do também sogro para afeiçoar o seu coração ao Deus eterno.
Abigail acabou se tornando esposa de Davi (1 Samuel 25), a quem pediu por misericórdia quando ainda estava casada.
Elias foi tirado pela voz, em forma de brisa, sussurrada pelo mesmo Senhor que o fortalecera diante dos falsos profetas, enviando-o agora a novas missões (1 Reis 19).
Jeremias, que se queixou de ter sido seduzido por Deus, viu todas as profecias, mesmo que dolorosas, cumprindo-se uma a uma (Jeremias 52).
Daniel não foi tragado pelos leões, mas Deus foi exaltado e Daniel prosperou mesmo num reino em que era estrangeiro (Dn 6).
Oséias entendeu que ele e seu povo eram amados por Deus, mesmo que se afastassem dele (Os 11.1-2).
Jó teve nas mãos o destino dos seus amigos, mas em lugar de os castigar, pediu a Deus que os perdoasse, no que foi atendido.
Paulo chegou ao final da sua vida certo que combatera o bom combate (2 Tm 4.7) e, se que devia sentir orgulho de algo, era de sua própria fraqueza (2 Co 11.30).
Jesus olhou para os que se compraziam na sua dor injusta e orou: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo (Lc 23.34).
VI. As lições para nós:
1 . Quando os sonhos nos perturbam devemos buscar a paz de Deus, o Senhor dos sonhos.
2 . Mesmo em situação difícil o cristão precisa ser bússola para orientar os perdidos (6).
3 . Não devemos esperar misericórdia dos homens, mas de Deus, que é o nosso socorro bem presente na angústia (Sl 46.1). O copeiro não se lembrou de José, mas Deus nunca o esqueceu. Que importa o copeiro?
4 . Tentar ajudar aos outros pode ser útil na resolução de nossos próprios problemas. Mas esta não é a motivação correta.
5 . Os sonhos daqueles homens diziam respeito aos seus destinos e eles nem sabiam. Devemos advertir aos homens de seus destinos quanto à resposta que eles devem dar ao Evangelho. O começo, o fim da vida e o destino depois disso pertencem a Deus, e Ele os revela pelo Evangelho.
Em breve estaremos de volta dando sequência a esta série de mensagens sobre José quando falaremos sobre " Do cárcere para o palácio".
Nenhum comentário:
Postar um comentário