Por: Jânio Santos de Oliveira
Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!
I. Capítulo 1- Resumo da vida terrena de Cristo.
A. Introdução à vida terrena de Cristo.
B. A manifestação da vida terrena de Cristo.
C. A conclusão da vida terrena de Cristo.
II. Capítulo 2 -A preparação para a manifestação de Jesus.
A. A necessidade de um Salvador.
B. Conhecendo o a sociedade judaica nos tempos de Jesus.
C. Jesus e os grupos político-religiosos de sua época.
III. Capítulo 3- Jesus dos 12 aos 30 anos.
A. Os anos “ocultos” de Jesus.
B. Os anos perdidos de Jesus.
C. Algumas especulações infundadas.
D. As evidências bíblicas.
IV. Capítulo 4- O caráter do Ministério de Jesus.
A. Jesus, o Templo e a Sinagoga.
B. Jesus, o Mestre da Justiça.
C. Jesus e a cobiça dos homens.
D. Jesus e a implantação do Reino de Deus.
V. Capítulo5 - O Ministério de Jesus.
A. O começo do ministério de Jesus na terra.
B. A humanidade de Jesus Cristo e a sua deidade.
C. O Ministério de Jesus.
D. Eu sou Jesus.
VI. Capítulo 6 - Um resumo das parábolas de Jesus.
A. Por Que Jesus Ensinou Por Parábolas?
B. O público alvo das parábolas.
C. 3. Interpretando uma parábola.
VII. Capítulo 7- O Senhorio de Jesus Cristo sobre os demônios.
A. A atuação dos demônios no novo testamento.
B. O endemoniado gadareno.
C. Jesus expulsa um demônio de um homem mudo.
VIII. Capítulo 8 - A Cura Divina no ministério de Jesus Cristo.
A. A origem e a natureza das enfermidades.
B. A cura divina como parte da salvação.
C. Jesus cura os enfermos.
IX. Capítulo 9 - Os 35 milagres de Jesus.
A. Os perigos que rondam os milagres
B. O contraste entre cura e a religiosidade.
C. O Propósito dos Milagres de Jesus Cristo.
X. Capítulo 10 - O resumo do Ministério de Jesus.
A. 1º ano do anonimato ou Obscuridade.
B. 2º ano da popularidade.
C. 3º ano da perseguição ou Rejeição.
Resumo
Os estudiosos geralmente organizam o ministério de Jesus em duas grandes partes: sua humilhação e sua exaltação — essa última permanece até hoje e se estenderá por toda eternidade futura.
A ideia de entender o ministério de Jesus como sua humilhação, não está relacionada apenas à sua origem humilde na terra, mas ao que Ele precisou deixar para trás para poder assumir a forma de servo e ser achado verdadeiramente humano.
Aqui jamais podemos nos esquecer de que o ministério de Jesus não foi exatamente igual ao ministério dos profetas do Antigo Testamento, por exemplo. Isso porque embora Cristo tivesse sido feito plenamente homem, Ele também era plenamente Deus. Em outras palavras, durante seu ministério Jesus não deixou de ser Deus para ser homem; mas Ele assumiu a natureza humana abrindo mão, temporariamente, de seus privilégios como Deus.
A. O começo do ministério de Jesus na terra
Em Lucas 3:23 está escrito: "E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) filho de José, e José de Eli". O Senhor Jesus foi batizado nas águas do rio Jordão por seu primo João Batista. "Então veio Jesus da Galileia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça, Então ele o permitiu. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mateus 3:13-17). "Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mateus 4:1). Ler também Mateus 4:2-11.
"E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e Naftali; para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: A terra de Zebulom e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galileia das nações; o povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e os que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou" (Mateus 4:13-16). "Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" (Mateus 4:17). "Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu Pedro e André lançando as redes de pesca ao mar e chamou-os para serem pescadores de homens o mesmo ocorreu com Tiago e João."
"E Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu a dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores; E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então eles, deixando logo as redes seguiram-no. E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, num barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e chamou-os; eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no" (Mateus 4:18-20). "E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo" (Mateus 4:23). O Senhor Jesus ficou afamado pelos milagres e maravilhas que operava e o povo trazia todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos os paralíticos e tantos outros que necessitavam dEle . Uma grande multidão seguia o Senhor Jesus.
Jesus transformou água em vinho (João 2:1-11); curou o paralítico no tanque de Betesda (João 5:1-9); Em Lucas 5:1-11 lemos sobre a famosa pesca; Jesus libertou um endemoninhado na sinagoga (Marcos 1:23- 28); curou a sogra de Pedro que estava com febre (Mateus 8:14-15); curou um paralítico (Mateus 9:2-8); curou um homem que tinha uma mão atrofiada (Marcos 3:1-5); curou o servo do centurião (Lucas 7:1-10); ressuscitou o filho da viúva da cidade de Naim (Lucas 7:11-15); curou um endemoninhado (Lucas 11:14); acalmou uma tempestade (Mateus 8:18); libertou os endemoninhados gadarenos (Marcos 5:1-20); curou uma mulher que tinha uma hemorragia (Lucas 8:43-48); ressuscitou a filha de Jairo (Marcos 5:22-24); curou dois cegos (Mateus 9:37-31); multiplicou pães e alimentou cinco mil pessoas (Mateus 14:14-21); caminhou sobre a superfície das águas (João 6:16-21); curou a filha da mulher siro-fenícia (Marcos 7:24-30); curou um surdo-mudo em Decápolis (Marcos 7:31-37); alimentou quatro mil pessoas (Marcos 8:1-9); curou um cego em Betesda (Marcos 8:22-26).
B. A humanidade de Jesus Cristo e a sua deidade.
13 — Ele nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor.
14 — Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados;
15 — O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;
16 — Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele.
17 — E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele.
18 — E ele é a cabeça do corpo, da igreja: é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência,
19 — Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse
20 — E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.
Existem alguns temas controversos e complexos que acompanham o Cristianismo desde o início; a indissociável conexão entre a humanidade e divindade em Jesus Cristo é uma destas questões. Na verdade, se bem notarmos, a aceitação desta condição humano-divina do Salvador já é um pressuposto de partida para compreensão de todo o Novo Testamento.
I. Muito mais que um super-homem, um humano de verdade.
1. Necessidade de superação da dicotomia homem-Deus em Jesus de Nazaré. Para iniciarmos de modo mais preciso nossa reflexão sobre um aspecto específico da natureza do Salvador, sua condição humana, é urgente que esclareçamos de início o que se deseja afirmar ao falar sobre a humanidade de Jesus de Nazaré. Não se pode pensar na natureza de Jesus como sendo “duas essências”, uma humana e outra divina, afinal de contas quando se fala de natureza-essência-substância discute-se sobre algo uno, indivisível fundamental. O que a Bíblia afirma, e também todos os credos mais antigos do Cristianismo registram, é que em Jesus manifesta-se a essência humano-divina / divino-humana. No Salvador a humanidade e divindade são impossíveis de serem isoladas, antes, encontram-se unas numa condição única e sem correlação na história do universo. Assim, não temos “duas naturezas” em Cristo, e sim, uma essência que se constitui plenamente divina-humana / humana-divina. É sobre isso que atestam os escritores sagrados em textos como Filipenses 2.5-8, Hebreus 2.14-18 e 1 João 1.1,2. Títulos como “Último Adão” (1Co 15.45) e “Filho do homem” (Mt 26.45) procuram registrar esse caráter simultaneamente divino-humano / humano-divino da natureza de Jesus.
2. Em Jesus o Cristo mostrou-se ao mundo. Em Jesus, a concepção de Deus para os judeus (Êx 3.13,14), ganha nome, rosto e endereço: Ele é Jesus de Nazaré, morador da pequena Cafarnaum (Cl 1.15). Com Jesus, a olimpiana, transcendente e imortal definição de divindade para os gregos, sofre e morre na cruz (At 17.18-34). É por isso que Paulo atesta-nos que a mensagem evangélica, aos ouvidos de judeus e gregos, é escândalo e loucura (1Co 1.22,23).
A história nunca havia testemunhado alguém como Jesus. Declarar-se “filho de Abraão” era a honra que todo judeu trazia em sua vida, Jesus, porém apresentou-se como “filho de Deus”, ou seja, sua filiação não era uma questão étnica, e sim, uma prova de sua essência humana-divina (Jo 10.25-39).
Os gregos estavam acostumados com mitos sobre deuses disfarçando-se de humanos — o clássico antropomorfismo divino — para realizarem suas ganâncias e ambições; Jesus, no entanto, não era um deus “mascarado” de humano; Ele era a revelação da plenitude de Deus acessível à humanidade (Cl 2.9). Em Jesus de Nazaré podemos conhecer Deus sem mitos, lendas ou enigmas; vemo-lo em toda glória possível a nós compreendermos (Jo 1.14,18).
3. A experiência humana de Jesus. A questão da existência de um Jesus histórico é um fato inconteste. Não há dúvida alguma de que no século primeiro existiu, na colônia romana da Judeia, o líder de um movimento espiritual que começou como uma pequena seita derivada do Judaísmo, e depois ganhou força determinando grandes mudanças em todo mundo antigo. A Escritura registra inúmeras circunstâncias em que se pode indicar a rica vivência humana de Jesus; os dois momentos cruciais que podem ser destacados, no entanto, são o nascimento (Lc 2.6,7) e a morte (Jo 19.33,34). Essas são experiências humanas e que em Jesus não foram simplesmente emuladas ou fingidas, mas vivenciadas em sua plenitude (Rm 14.15; 2Co 5.14,15; Gl 4.4).
Fome, sede, cansaço são experiências que poderiam ser simuladas, contudo, estes dois fatos (nascimento e morte) — os quais são historicamente atestáveis inclusive por fontes externas à própria literatura cristã — não poderiam ser imitados, teatralizados. A natureza de Jesus de Nazaré — que neste ponto de nosso debate já deve ser subentendida como humano-divina — é uma prova do seu cuidado e interesse por nós.
II. Cristo Jesus, nosso Deus.
1. O Deus que está conosco. Como se pode demonstrar que Jesus é Deus? Bem, através das Escrituras existem várias maneiras, mas de modo especial por meio de dois aspectos: sua consciente aceitação de adoração e sua autoridade para perdoar pecados (Mc 2.10). A Bíblia narra vários episódios onde pessoas, e até mesmo seres espirituais (Mc 5.6; Ap 5.8), adoram a Jesus e Este nunca às repreende (Mt 8.2; 15.25; Jo 9.38).
Conforme o princípio divino registrado no Decálogo, só Deus é digno de adoração (Êx 20.1-6). Os seres criados por Deus, que estão a serviço dos homens, os anjos, não têm o direito de serem adorados; antes, sempre que alguém oferece-lhe adoração eles a rejeitam (Ap 22.9). Sobre o segundo aspecto, não estamos falando sobre a necessidade individual que cada um de nós precisa ter com relação à comunhão com os irmãos (Mt 6.12), e sim sobre a mudança da condição eterna de cada um de nós (Mc 2.5; 1Jo 1.9). Somente Deus tem o poder de retirar a culpa condenatória do pecado que há sobre nós, e então fazermos dignos do seu Reino eterno (2Ts 1.5).
2. Ele é como Deus é. Em Cristo nós temos a oportunidade de conhecer e entender exatamente como Deus é. Na maioria dos casos as pessoas tendem a perder tempo desejando saber trivialidades sobre Deus, de modo especial com relação a sua descrição física: qual seu tamanho, cor dos olhos, aspecto do rosto, etc. Existe inclusive um curioso caso desse tipo de comportamento narrado na Bíblia em João 14.8,9. Neste conhecidíssimo episódio Filipe pede a Jesus que mostre aos seus discípulos o Pai, e prontamente o Salvador declara ao seu discípulo que quem olha para Ele, contempla o Pai, vê Deus. A divindade está revelada em Cristo, por um simples motivo. Ele é Deus (Fp 2.11). Jesus mostra como Deus ama, porque ele é Deus amando-nos (Rm 8.39); revela a misericórdia de Deus, pois Ele é Deus misericordioso (Jd 21), em Jesus conhecemos a salvação, uma vez que Ele — o Cristo — é Deus Salvador (Tt 2.13,14). Em Cristo Jesus, Deus pode ser visto, abraçado e alegremente amado — todo distanciamento foi quebrado. Deus anda com os homens e revela sua glória, não através de raios e trovões, e sim de sorrisos e abraços.
3. O Cristo humilde. Talvez uma das percepções mais difundidas sobre Deus entre a maior parte das pessoas é que jamais seríamos capazes de compreendê-lo por ser Ele um ser elevado e sublime; que de tão superior a nós, todo e qualquer conhecimento ou contato com Altíssimo seria impossível. O Cristo não é assim; em Jesus o Deus magnífico faz questão de revelar-se de modo simples e acessível até para mais a ingênua criança (Mc 10.13-16). Na pessoa bendita de Jesus, a divindade soberana do universo perdoa os mais maléficos pecados, mas também senta no chão e escreve com o dedo na areia (Jo 8.1-11); Cristo é o Messias que através de seu sacrifício incomparável concedeu-nos salvação; contudo, Ele serve-se à mesa com seus amigos e come da mesma comida simples que eles (Mt 26.17-30). Cristo é Deus próximo de nós (Mt 1.23), tão sublime e grandioso que em nada é diminuído em sua encarnação. Em momento algum Jesus poderia deixar de ser Deus — isto seria um abandono de sua essência-natureza-fundamento, o que seria simplesmente impossível. A kenosis do Senhor (o seu despojamento) (Fp 2.5-8) diz respeito a qualidades que podiam ser suprimidas, jamais com relação à sua natureza. Aquilo que Ele era, é e continuará sendo eternamente, não pode ser alterado (Hb 13.8).
III. UM CRISTO QUE CONHECE AS NOSSAS DORES
1. Da teoria à prática. O conhecimento que o Senhor Jesus tem sobre aquilo que enfrentamos não diz respeito apenas à sua onisciência, mas também a sua encarnação, isto é, o tipo de compreensão que o Salvador tem sobre as nossas dores não é apenas algo “em tese”, superficial, presumível mas real, vivencial, histórico (Is 53.4). Ele sofreu como um de nós por nos amar. Sua generosa decisão não foi um improviso divino, e sim, parte do soberano projeto que envolvia ao mesmo tempo o sacrifício dEle e a nossa salvação (1Pe 1.18-21). Ele assumiu uma vida simples para possibilitar-nos abundância (2Co 8.9), e as muitas dores e conflitos a que Ele foi submetido garantem a paz e a alegria a que temos acesso. Se os nossos atos inconsequentes separam-nos do nosso Deus (Is 59.2), tudo o que Jesus enfrentou aproximou-nos mais dEle, o amor trouxe-nos de volta ao centro da vontade de Deus (Cl 1.21,22). Por isso podemos afirmar de maneira categórica: o que era necessário fazer para proporcionar-nos um mundo melhor, Jesus já realizou, pois, o comprometimento dEle conosco não é o de um expectador distante que torce por um conjunto de estranhos, antes, é o de um amigo que nos trouxe para perto dEle (Jo 15.15).
2. Ele intercede por nós. A Escritura revela-nos que o Senhor Jesus está eternamente comprometido em interceder por nossas vidas (Rm 8.34), isto é, o nosso Senhor não nos trata com arrogância e desprezo mesmo sabendo de nossas falhas e fragilidades. Pelo contrário, Ele acolhe-nos e considera-nos seus irmãos (Hb 2.11) e filhos (2Co 6.18). Se Satanás empenha-se em acusar-nos dia e noite (Ap 12.10), podemos viver em paz, pois a intercessão de Cristo por nós é superior a qualquer mentira e subterfúgio das trevas contra nós. A majestade de Cristo revela-se exatamente nisto, uma vez que estando num nível muito acima do nosso, sendo Deus Todo-Poderoso, mesmo assim importa-se conosco e interessa-se em abençoar-nos. Por isso Paulo proclamar de modo triunfal que a vida daqueles que estão novamente nascidos em Cristo não está sujeita à acusação do inferno, pois já não obedecem mais a lógica deste mundo decadente, mas vivem apenas para a glória de Deus (Rm 8.1).
3. Ele está atento a todas as nossas dores. Jesus leva a sério nossas dores e sofrimentos (Mt 9.36), pois assim como as multidões daquela época, nós continuamos carentes da graça e misericórdia divinas. Diferente de muitas pessoas à nossa volta, o Salvador sabe de nossas limitações, respeita nossos sentimentos e está comprometido com a tarefa de nos ajudar a construir um mundo melhor (1Co 10.13). A insensibilidade da sociedade a nossa volta é algo assustador, o filho de Deus, no entanto, fez e continuará fazendo tudo para identificar-se conosco nos momentos adversos (Mq 7.8). E esta aproximação de Jesus não é algo envolvido em interesses outros, como se a misericórdia concedida a nós fosse uma moeda de troca com a intenção de exigir-nos alguma coisa. Sigamos o exemplo de Cristo, e estejamos mais sensíveis ao sofrimento alheio.
Tratar sobre a natureza de Jesus Cristo é sempre uma questão instigante e desafiadora, uma vez que esse é um tema que se debate na Igreja desde seu nascedouro e foi, em várias ocasiões, um assunto associado a heresias e controvérsias. Contudo, ao superarmos as dúvidas e concentrarmo-nos em tratar a revelação da natureza de Cristo Jesus nas Escrituras como uma ação da benevolência de Deus em nosso favor, tudo torna-se mais fantástico ainda, pois Jesus de Nazaré é nosso Deus.
C. O ofício de Jesus
Hebreus 5.1-10.
1 — Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados,
2 — e possa compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados, pois também ele mesmo está rodeado de fraqueza.
3 — E, por esta causa, deve ele, tanto pelo povo como também por si mesmo, fazer oferta pelos pecados.
4 — E ninguém toma para si essa honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão.
5 — Assim, também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Hoje te gerei.
6 — Como também diz noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque.
7 — O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia.
8 — Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu.
9 — E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem,
10 — chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
Enquanto Jesus esteve entre nós Ele exerceu um ministério, isto é, um serviço. Ele mesmo deixou isso bem claro quando declarou que tinha vindo ao mundo para servir às pessoas e não para ser servido (Mt 20.28). Esse é um princípio fundamental que devemos levar em consideração ao refletirmos sobre a pessoa bendita do Salvador. Desde a época de Jesus, e ainda hoje, muitas pessoas acham que ser ministro, ter um ministério, é possuir um conjunto de regalias que as fazem melhores que os outros; enquanto que de fato, um ministro é um servo.
Jesus esteve entre nós e serviu-nos como Profeta, Sacerdote e Rei. Ele não teve o prestígio de um grande profeta, as honrarias de um sumo sacerdote ou as regalias de um monarca, pelo contrário, assumiu para si apenas um conjunto de responsabilidades associadas a esses ministérios, para através de sua vida realizar a ação mais espetacular da história: amar-nos de modo radical.
I. O ofício de profeta.
1. Em Jesus cumpriu-se o anúncio profético de Moisés. Em Deuteronômio 18.15-19 temos o anúncio de um personagem que, num futuro indeterminado, exercerá o ministério profético com autoridade e poder semelhantes a Moisés. Milênios após a partida do grande profeta de Israel, surge no curso da história humana Jesus de Nazaré, aquele que, segundo Atos 7.37, é o cumprimento histórico daquele longínquo anúncio profético. Na verdade, através da comparação de alguns episódios das vidas de Moisés e Jesus, podemos perceber que no Salvador cumpre-se muito daquilo que o grande Legislador de Israel viveu como sombra e metáfora. Se Moisés foi vocacionado para libertar o povo de Israel da escravidão do Egito (Êx 3.7-10), Jesus é aquele que nos livra do poder do império da morte (Hb 2.14); enquanto o filho de Joquebede fere a rocha e dela jorra água para saciar a sede do povo em sua jornada pelo deserto (Êx 17.6), Jesus é a própria fonte da água da vida, de onde brota a salvação de Deus para a humanidade (Jo 4.10-13); Moisés ergue a serpente no deserto para que, olhando para ela, as multidões sejam salvas da enorme praga que atinge o povo (Nm 21.4-9), Jesus, contudo, sobe à cruz do Calvário e através de sua morte traz salvação a todos nós (Jo 3.14-16).
2. O profetismo de Jesus. Temos em Jesus de Nazaré um típico discurso profético, o qual pode ser distinguido por três características fundamentais: uma fala que amplifica o clamor das camadas mais sofridas da população (Mt 11.5; Lc 4.18). É bem verdade que há vários sermões de Jesus transbordantes de amor e misericórdia, todavia, não podemos esquecer que Ele também, por ter um ministério profético, em muitos momentos utilizou-se de uma retórica revestida de um forte senso de justiça. Foi assim que Ele posicionou-se contra escribas e fariseus (Mt 23) e também com relação às pessoas que se acomodavam numa espiritualidade morta e sem comprometimento com o reino (Jo 6.48-69). Por fim, o profetismo de Jesus manifesta-se através da natureza proclamativa do ministério. Não foi apenas para tratar de problemas de sua época que o Mestre veio ao mundo, mas também, como profeta, para anunciar antecipadamente a conclusão da história da humanidade e assim assegurar-nos que seremos mais do que vencedores (Mt 24). É assim que deve viver um profeta: ardorosamente trabalhando para construir uma realidade melhor no presente — através de uma sistemática denúncia do pecado —, e ao mesmo tempo consciente daquilo que ocorrerá no futuro.
3. A urgente necessidade de resgate do discurso profético de Jesus. A crise generalizada que se alastrou em nossa sociedade necessita de uma resposta à altura. Plataformas ou projetos humanos não serão capazes de solucionar a origem desta tensão moral e espiritual que vivemos; somente se retornarmos ao discurso originário do Cristianismo, aquele que tão bem caracteriza Jesus como Profeta (Lc 24.19), poderemos ter esperança de dias melhores. Enquanto a Igreja estiver mais comprometida com os benefícios e interesses terrenos do que com a manifestação do Reino de Deus nesta geração, não seremos capazes de refletir o caráter profético do ministério de Cristo em nós.
A Igreja é do Senhor Jesus, e por isso ela tem uma vocação profética que jamais pode ser renunciada, à custa de tornarmo-nos coniventes e cúmplices de todo o pecado estrutural que procura instalar-se em nossa sociedade (Ap 3.16).
II. O ofício de sacerdote.
1. O perfeito sacerdote. Há, na Carta aos Hebreus, uma série de argumentações demonstrando que Jesus é o grande ministro de Deus em favor de nossas vidas. O mais fabuloso de pensar sobre aspecto sacerdotal do ministério de Jesus é que Ele não estava institucionalmente ligado a este ofício religioso em sua época. Não servia no Templo, pois não era da família de Levi; não tinha o prestígio nem a glória humana que acompanhavam os membros da casta sacerdotal daquele momento histórico. Como bem explica o escritor aos Hebreus, essa condição incomum de Jesus estava ligada ao tipo de tradição sacerdotal que Ele representava: a de Melquisedeque, e não a levítica (Hb 5.6,10; 6.20). Enquanto esta última ratificava a lei, apontando para nossas falhas e iminente condenação, a primeira anuncia a graça, sempre ressaltando o amor e misericórdia que nos acompanha. Os inúmeros sacerdotes que se substituíram ao longo da tradição de Israel, preservando dogmas e liturgias do culto, foram incapazes de prover a salvação que Jesus trouxe-nos — de uma só vez, em um só ato — mesmo sem merecermos (Hb 2.17; 7.23-27).
2. Ele foi ofertante e oferta. O amor de Jesus por nós revela-se no fato de seu compromisso radical conosco. O nosso Senhor não teve apenas um sentimento vazio de simpatia pela humanidade, antes, Ele dispôs-se a ser para nós e por nós tudo aquilo que seria necessário para nossa salvação. A grande verdade, como simbolicamente testemunhará João no Apocalipse, é que havia uma obra a ser feita que nenhum ser em todo o universo e em todas as esferas de existência era capaz de realizar pelos filhos e filhas de Adão (Ap 5.4). Porém Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29), morreu e ressuscitou para assegurar-nos tamanho privilégio. Desta forma está bem claro que Cristo não era apenas o único digno de oferecer a Deus o sacrifício vicário por nossas vidas, como Ele era também o único sacrifício aceitável (Ef 5.2). Ou seja, não fosse Jesus sacrificando-se como perfeito sacrifício, nós estaríamos fatalmente condenados ao inferno. Este é o perfeito amor de Deus por nós, capaz de entregar-se integralmente por cada um de seus filhos; por isso, não há nada menos que temos a fazer, senão, correspondermos ao fantástico amor do Salvador vivendo para a glória e honra do nome do Senhor eternamente (1Pe 2.5).
3. A Igreja de Cristo, uma comunidade sacerdotal. Em inúmeros momentos nas Escrituras, somos informados dessa maravilhosa verdade: aqueles que seguem o Cristo são/serão reis e sacerdotes do bom Deus (1Pe 2.5,9). Por isso, devemos fazer de nossa existência um grande movimento de oferta e sacrifícios a Deus. Assim como nosso Mestre viveu como ofertante e oferta, para estabelecer nossa salvação, nossa vocação é para uma vida de eterna gratidão. Paulo em alguns momentos de seu ministério expôs publicamente sua compreensão de que a vida de um cristão nada mais é que um sacrifício de adoração e louvor, sendo o próprio cristão — assim como foi o Cristo — ofertante e oferta (Rm 15.16; Fp 2.17; 2Tm 4.6).
III. O ofício de rei.
1. Ah! Jesus é rei. Os sábios do Oriente, seguindo os rastros de uma investigação científica, vieram em busca daquEle que seria o rei dos Judeus (Mt 2.2). O povo, entusiasmado não apenas com o discurso de Jesus, mas também com suas obras — ao mesmo tempo — maravilhosas e graciosas, estava decidido em tomá-lo a força e proclamar-lhe rei dos judeus (Jo 6.15). Como forma de uma perversa ironia e parte do cumprimento dos ritos legais para a execução de um preso em Roma, Jesus foi crucificado com uma placa indicativa de seu crime: ser rei dos judeus (Jo 19.19). A realeza de Jesus é uma herança da promessa do Senhor a Davi — numa perspectiva étnico-histórica com relação a Israel — (Lc 1.32), mas também proveniente de sua natureza que, uma vez sendo divino-humana, não poderia deixar revelar sua glória e majestade (1Tm 6.15,16). Mas como alguém pode ser rei sem ter criados bajulando lhe, um palácio suntuoso e uma coroa cravejada de pedras preciosas? Sendo Jesus, o rei que veio para servir; que trocou o trono humano pela cruz (Hb 12.2), o ouro da coroa por espinhos (Jo 19.2) e a arrogância do poder pelo amor do serviço (Jo 15.13). Não há rei como nosso Deus!
2. A acusação mentirosa. Os inimigos de Jesus não tinham como acusá-lo em nada (Mt 26.59,60). Ele foi impecável em todas as suas ações, cerimoniais, sociais e morais; desta forma eles tiveram de criar uma mentira para que fosse realizada uma acusação formal contra Jesus no sinédrio e diante de Pilatos e Herodes. Enquanto no sinédrio a falsa denúncia dizia respeito a um descabido pecado de blasfêmia (Mt 26.65), para com o governo do Império Romano a incriminação era de incitação à sonegação de impostos e de tentativa de usurpação do trono (Lc 23.2). É nesse contexto que o Salvador deixa muito claro a Pilatos que não foi para lutar por um trono terrestre que Ele veio, antes, foi simplesmente para cumprir a soberana vontade do Pai, e depois de ter feito tudo, retornar ao seu lugar de honra no universo (Lc 1.33). A infundada acusação produz a oportunidade do próprio Jesus, diante das duas maiores autoridades políticas da região, manifestar a chegada do Reino de Deus. As falsas acusações não puderam roubar a majestade de Cristo, pois esta condição não estava associada a um trono ou coroa humanos, e sim, vontade de Deus (Jo 12.13).
3. O Kyrios que foi trocado pelo César. A facção político-religiosa que controlava o judaísmo no primeiro século revelou o ápice de sua ignorância espiritual ao rejeitar publicamente Jesus como Senhor e declarar César como seu rei (Jo 19.15). É evidente que a afirmação de Pilatos não tinha um caráter político, afinal de contas ele era o representante oficial do imperador naquela província, e sim, uma conotação espiritual. Entretanto, era exatamente essa concepção de Jesus como o Senhor, rei-messias dos judeus, que os líderes religiosos queriam rejeitar (At 4.25-28). Ainda hoje muitas pessoas preferem negar a realeza de Jesus e submeter-se aos poderes mundanos. Não estamos falando de desobediência civil, mas da necessidade de reconhecimento do senhorio de Cristo. As autoridades políticas têm sua relevância e papel de destaque na sociedade (1Pe 2.17), contudo, nunca poderão substituir o que Jesus é para nós; por isso, sejamos sóbrios e piedosos, reconhecendo que a esperança de dias melhores não virá de nenhum projeto de poder humano, mas sempre das mãos do Salvador (1Pe 1.3). Não sejamos como os judeus, não troquemos Cristo por César, isto é, a glória excelsa do Filho pelos holofotes da ilusão dos poderes mundanos (Lc 23.2).
O tríplice ministério de Jesus garantiu-nos o direito a uma perfeita salvação. Tendo aprendido com o Senhor, sejamos seus imitadores nesta geração.
D Jesus, O Eu sou.
João 8.49-58.
49 — Jesus respondeu: Eu não tenho demônio; antes honro a meu Pai, e vós me desonrais.
50 — Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue.
51 — Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
52 — Disseram-lhe, pois, os judeus: Agora, conhecemos que tens demônio. Morreu Abraão e os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte.
53 — És tu maior do que o nosso pai Abraão, o nosso pai, que morreu? E também os profetas morreram; quem te fazes tu ser?
54 — Jesus respondeu: Se eu me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, o qual dizeis que é vosso Deus.
55 — E vós não o conheceis, mas eu conheço-o; e, se disser que o não conheço, serei mentiroso como vós; mas conheço-o e guardo a sua palavra.
56 — Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se.
57 — Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão?
58 — Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, eu sou.
Há nos Evangelhos um conjunto de afirmações de Jesus que causaram muita repercussão entre os religiosos de sua época; são declarações que Ele inicia com a expressão “Eu sou” (Jo 6.35; 8.12; 10.7,9,11,14; 11.25; 12.46; 14.6; 15.1). Um dos momentos mais tensos é em João 8.58,59, quando em virtude de suas declarações Jesus é quase apedrejado. O que justificaria reações tão violentas da parte dos judeus?
I. Eu sou a luz do mundo.
1. O SENHOR é a luz das nações. Há no Antigo Testamento um conjunto de referências e associações do Senhor à luz. O primeiro elemento da criação divina é a luz (Gn 1.3).
Desde o início das Escrituras a imagem da luz está em contraposição às trevas, servindo como uma metáfora da oposição entre bem e mal (Is 59.9). Em vários dos registros sobre a manifestação do Senhor, luz, brilho e fulgor, sempre estão presentes (Êx 19.16; 2Sm 22.13; Sl 18.12). Em Salmo 27.1 a bênção da salvação está associada à luz, como sendo a orientação divina para uma vida boa. O fiel Simeão, em sua velhice, teve o privilégio de testemunhar o aparecimento do Messias (Lc 2.25-32); em seu louvor ele ora ao Altíssimo declarando que o redentor Jesus é aquEle que veio ao mundo para iluminar as nações, ou seja, para ser o único capaz de libertar a humanidade das trevas da ignorância e conduzir-nos ao caminho do bom Salvador.
2. A afirmação de Jesus e sua relação com a Festa dos Tabernáculos. Em meio a um contexto celebrativo da Festa dos Tabernáculos ou das Tendas (Lv 23.33-36; Dt 16.16; Jo 7.2,37), Jesus apresenta-se como “Luz do mundo”. Tal afirmação, que para nós manifesta a deidade de Cristo e sua associação direta com a imagem do glorioso Senhor Jeová do Antigo Testamento, tinha outros significados que a audiência de Jesus conseguia captar com facilidade. A Festa das Tendas, celebrada durante sete dias mais um, era popularmente conhecida como a celebração da alegria, e isto por um conjunto de fatores específicos: Ela acontecia quatro dias após o dia do perdão, Yom Kippur, (Lv 23.27). Logo o povo estava livre para festejar com alegria, uma vez que a culpa por seus pecados foi retirada de sobre cada indivíduo. Já o objetivo litúrgico-cultural era lembrar ao povo o tempo de sua peregrinação e como, de modo milagroso, o Senhor sustentou lhes no deserto enquanto moravam em tendas. Há, no entanto, um aspecto desta celebração que está diretamente associado à declaração de Jesus sobre ser a luz: O texto sagrado lido nesta cerimônia era Zacarias 14. Ora, para além da relação com a questão da “água viva” (Zc 14.8) que Jesus também já havia feito referência (Jo 7.38), o texto do profeta Zacarias também anuncia profeticamente que quando vier o Senhor haverá luz (Zc 14.7). Feita toda esta contextualização, as palavras de Jesus em João 8.12 ganham forte caráter de cumprimento profético. A alegria que Jerusalém esperou por séculos havia chegado, personificada em um homem simples, mas poderoso em obras e palavras (Lc 24.19).
3. Precisamos da Luz! A Bíblia Sagrada, mais especificamente o Novo Testamento, é rico na exortação de que devemos andar na luz (1Jo 1.7), viver como filhos da luz e não das trevas (Jo 12.36; Ef 5.8), protegermo-nos com as armas da luz (Rm 13.12). O Inimigo do Reino de Deus tem roubado a luz de muitas pessoas e por isso elas tem se tornado incapazes de entender a beleza do Evangelho (2Co 4.4). Quem ama as trevas não está em Deus, pois deseja esconder quem é e o que fez (1Co 4.5), por isso nós os filhos de Deus, não podemos associarmo-nos às trevas e sim denunciá-las (Ef 5.11).
II. O bom pastor
1. A expressão “Bom Pastor” como uma rememoração de uma imagem do Antigo Testamento. Não podemos perder de vista o fato de Jesus ter vivido num contexto da cultura e religião judaica; assim, sempre que possível devemos levar em consideração, nas falas do Salvador, prováveis releituras, alusões ou referências a textos ou eventos do Antigo Testamento. Partindo desta hipótese interpretativa João 1.1-21, mais especificamente a figura do “Bom Pastor”, seria à necessidade de estabelecimento de um novo modelo de liderança, tendo como base as críticas de Profetas como Jeremias (Jr 23.1-4) e Ezequiel (Ez 34.1-16). Dentre as denúncias proféticas estão o egoísmo de alguns pastores que ao invés de dedicaram-se às ovelhas, preocupavam-se apenas com as futilidades da própria vida (Ez 34.2-10) e a reprovação do trato perverso com as pessoas (Jr 23.1,2). Na imagem de Ezequiel, assim como em João, Deus levantaria um pastor para cuidar e buscar todas as ovelhas de Israel que estavam em sofrimento (Ez 34.11-16).
2. O caráter sacrificial do Bom Pastor. A postura mais destacável da liderança de Jesus é sua capacidade de se sacrificar pelos seus amigos (vv.17,18). Esta atitude do Mestre inverte completamente a lógica de manipulação e exploração de pessoas que desde a Queda adâmica instaurou-se na humanidade. Jesus não é apenas um teórico da fé e nem uma pessoa que cobra dos outros o que nunca foi capaz de fazer. Para demonstrar seu amor por nós, Ele anuncia seu empenho pessoal em fazer-nos felizes (Jo 10.18,28). No Reino estabelecido por Jesus, os pequenos e frágeis têm protagonismo (Mt 10.42; Lc 12.32; 17.2). Os menores serão aqueles reconhecidos como os mais importantes (Lc 22.22-26); os preteridos são tratados com prioridade.
3. O relacionamento dedicado do Bom Pastor. Além da doação integral aos liderados, a liderança conforme o modelo de Jesus instaura um outro fundamento revolucionário: O cuidado com o próximo. Jesus deixa explícito que o “Bom Pastor” jamais agiria com covardia ou traição (Jo 10.12,28). A relação de Jesus com suas ovelhas não obedece um estilo hierarquizado, no qual Ele faria questão de afastar-se de seus liderados e demonstrar sua superioridade com relação aos outros. Pelo contrário, o Senhor conhece aqueles que estão sob sua liderança e eles também sabem quem Ele é, de modo chegado (Jo 10.14,15). A liderança de Jesus não é movida pelo princípio da exclusão e eliminação do outro, e sim, pelo acolhimento e cuidado (Jo 10.16).
III. Eu sou a porta
1. A singularidade de Jesus. Ao declarar-se a porta das ovelhas o Senhor Jesus, utilizando-se desta imagem rural, ressalta o caráter singular de sua vida e ministério. No frágil modelo de pecuária daquela época, o único modo de garantir o controle dos animais do rebanho — que ao amanhecer iriam alimentar-se livremente no campo — era controlar o acesso e a saída deles através de uma única porta. Desta forma, o Senhor Jesus declara-se à humanidade como ÚNICO caminho para conduzir as pessoas até a presença do Salvador (Jo 14.6).
Nunca houve ninguém como Jesus, nem jamais haverá (Mc 12.29; Jo 17.3; Rm 16.27; 1Tm 1.17; Jd 4,25). Por quê? Porque seu amor é inigualável (Jo 3.16). Declarar Jesus como incomparável não é, em hipótese alguma, defender algum tipo de discurso de ódio ou intolerância religiosa; trata-se exclusivamente de um princípio inegociável de nossa fé cristã. Por isso, no cotidiano das nossas relações sociais, devemos anunciar o Evangelho apresentando Jesus e suas características excepcionais, deste modo, não há nenhuma necessidade de criticar ou ridicularizar a religiosidade alheia. Por uma exigência da sociabilidade, devemos respeitar a todos, inclusive os que creem diferentes de nós; por uma imposição de fé, devemos amar a todos, mesmo os que não acreditam na Palavra como nós (Lc 6.35).
2. A superioridade de Jesus. Em João 10.8 o Mestre rotula como ladrões e salteadores (numa acepção moderna, mercenários, piratas, saqueadores, em resumo, um homem que vai à guerra por dinheiro e não por honra ou justiça) todos os que vieram antes dEle. Mas contra quem são essas palavras? É evidente que o Salvador não está falando sobre os patriarcas, profetas e santos do Antigo Testamento que o antecederam, esta é uma das declarações mais contundentes de Jesus sobre os pseudo líderes de sua época. Neste aspecto Jesus está defendendo que qualquer tipo de liderança religiosa que não aponta para a cruz e o sacrifício vicário é inútil e falsa. Qualquer espiritualidade que aponte apenas para o lucro, poder e glória humana pode ter muito espaço entre os homens, mas na verdade, não passará de entretenimento para bodes, ou seja, manipulação de emoções para pessoas que vivem apenas de aparência, sem uma transformação espiritual verdadeira.
3. O poder de Jesus. Apenas em Jesus encontramos redenção para nossas almas. As palavras aqui em João ressoam aquilo que Ele afirmou em Mateus 11.28. A salvação que Deus tem para nós não é um processo dolorido, como se algum tipo de sofrimento nosso fosse o caminho para a libertação de nossos pecados. Como bem afirma o profeta, nossas culpas foram todas levadas por Ele (Is 53.5). Ao declarar-se a porta, Jesus revela-se como aquEle que possui o poder de quebrar as maldições e fazer em nós novas todas as coisas (2Co 5.17). O escritor aos Hebreus, usando uma analogia próxima a esta da porta, apresenta-nos Jesus e sua obra como um “novo e vivo caminho” (Hb 10.20). A experiência da conversão é, como o próprio Jesus afirmou em seu sermão da montanha (Mt 7.13,14), semelhante a decisão de percorrer um extenuante e longo caminho, mas cujo final é um lugar de descanso e paz. Seguir a Jesus não é nada fácil (Mt 16.24,25), mas sabemos que Ele vai a frente, por isso, nós chegaremos lá.
Conhecer o Senhor Jesus é fundamental para todo aquele que deseja ser um verdadeiro discípulo do Salvador. Jamais poderemos ser amigos do Mestre se mantivermos com Ele apenas um relacionamento burocrático-religioso. Entender cada um dos discursos e declarações do nosso Redentor deve ser um ideal de vida para cada um de nós. Por isso, para tanto, dediquemo-nos cada vez mais a um estudo sistemático das Escrituras, lendo as palavras de Jesus de Nazaré como uma Escritura viva.
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