sábado, 16 de julho de 2022

Série: As 10 doutrinas da Teologia Sistemática 2ª- Teologia

 Por: Jânio Santos de Oliveira

  Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra

 Pastor Presidente: Eliseu Cadena

 Contatos 0+operadora (Zap)21  ( 985738236 ou 987704458 (oi)

  Email ojaniosantosdeoliveira@gmai.com

 


Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!  

As 10 doutrinas da Teologia Sistemática.

 Sumário geral

Capítulo 1

Bibliologia — a doutrina das Escrituras

Capítulo 2

Teologia — a doutrina de Deus

 Capítulo 3

 Cristologia — a doutrina de Cristo

 Capítulo 4

Pneumatologia — a doutrina do Espírito Santo

  Capítulo 5

Antropologia — a doutrina do homem

Capítulo 6

 Soteriologia — a doutrina da Salvação

 Capítulo 7

Eclesiologia — a doutrina da Igreja

 Capítulo 8

Angelologia — a doutrina dos Anjos

Capítulo 9

Hamartiologia - a doutrina do pecado

Capítulo 10

 Escatologia — a doutrina das últimas coisas

 

Capítulo 2 - Teologia

 

Introdução à Teologia

 

Não obstante ser um livro que trate essencialmente sobre Deus e o Seu relacionamento com o homem, a Bíblia não assume como objetivo maior provar a existência de Deus. A existência de Deus é fato indiscutível, e, portanto pacífico, no decorrer de toda a narrativa bíblica.

Assim como a Bíblia, a sã teologia não se propõe a dissecar o Ser de Deus, mas a apresentado ao nível da compreensão do homem. Evidentemente, como Ser eterno, onisciente, onipresente e santo, Deus não pode ser aquilatado em Sua plenitude pelo homem, cuja capacidade é limitadíssima em si mesma.

Se a própria Bíblia diz que nem os céus, nem o céu dos céus podem conter Deus (l Rs 8.27), como a nossa ínfima compreensão seria capaz de aquilatá-lO? Comece onde começar, a nossa jornada na pesquisa sobre Deus será consumada quando nos virmos diante da declaração de Jesus à mulher samaritana: “Deus é Espírito...” (Jo 4.24).

Diante desta declaração de Jesus Cristo, concluímos quão magnífico e ilimitado é Deus, e quão insignificante e resumida é a nossa capacidade no que tange explicá-ÍO.

  Este é sem dúvida um resumo geral sobre a teologia bíblica

 

 

As Teorias inadequadas

Há vários sistemas de crenças em Deus que divergem dos ensinos bíblicos e inúmeras tentativas de explicar o relacionamento dEle com Universo e o homem. Essas teorias inapropriadas levam o homem a se distanciar do Criador, como veremos.

Ateísmo.

 O termo vem de duas palavras gregas: da partícula negativa a, “negação” ou “privação”; e de tbeos, “Deus”. A ideia é da negação do Senhor, isto é, “Deus não existe”. Essa palavra aparece apenas uma vez no Novo Testamento, com o sentido de “sem Deus” (Ef 2.12), e não de negação da existência divina. O ateísmo é uma teoria contraditória em si mesma, pois, para negar a existência do Deus verdadeiro, apoia-se na pressuposição de que Ele existe! A Palavra do Senhor chama os ateus de néscios, haja vista afirmarem: “Não há Deus” (SI 14.1; 53.1). Na prática, o ateísmo é um modo de vida sem relação alguma com a crença em Deus. Seus adeptos vivem como se Ele não existisse: “Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus.

 Contudo, mesmo se autodenominando ateus, não conseguem explicar o vazio de suas almas. Os ateus não conseguem entender sequer o que se passa com eles mesmos. No entanto, ainda que haja alguém que admita não sentir a necessidade de Deus em sua vida, isso jamais invalidará a inquestionável realidade da existência dEle. Agnosticismo. E a negação do conhecimento (gr. gnosis) ou do conhecer (gr. ginosko). O termo “agnosticismo” foi empregado pela primeira vez pelo biólogo e filósofo inglês Thom as Henry Huxley. Desapontado com as declarações dogmáticas da igreja, que lhe pareciam sem fundamento, recusou-se a opinar sobre temas teológicos. Huxley usou a palavra em questão a fim de expressar a ideia de crença suspensa — de quem não crê nem deixa de crer. Por conseguinte, os agnósticos não têm opinião formada sobre Deus; não negam nem afirmam a sua existência; não são contra nem a favor do Todo-Poderoso.

 

Evolucionismo.

 Essa teoria ensina que organismos biológicos evoluíram num longo processo através das eras. A seleção natural, evolucionismo, ou darwmismo, é a teoria da sobrevivência dos mais fortes. Há duas formas de evolucionísmo: o ateísta e o teísta. O primeiro excluí Deus da criação; o segundo parte do princípio de que o Senhor criou os materiais originais e que o processo evolutivo se encarregou do desenvolvimento deles até à perfeição.

 

 Políteísmo.

 

E a prática da adoração a mais de uma divindade. Esse vocábulo vem da língua grega polys, “muito ”; e theos, “deus”. Isso significa que o politeísta serve e adora a vários deuses. Não se trata do simples fato de ele reconhecer a existência daqueles, e sim de obedecer a um sistema oposto ao monotcísmo (gr. monos, “único”), crença no único Deus verdadeiro, revelado nas Escrituras (Dt 6.4).

 

Hcnoteísmo.

 

Este termo (do adjetivo numeral grego hen, “ um ” , e de theos) foi empregado por Max Muller, historiador das religiões alemão, a fim de indicar o sistema de adoração a um só Deus, admitindo, todavia, a existência de outros deuses. E, pois, um sistema que se situa, paradoxalmente, entre o monoteísmo e o políteísmo.

 

Matcrialísmo.

 

 Não é o mesmo que materialidade; trata-se da doutrina pela qual se afirma que a matéria é a realidade última, a única coisa existente. Nessa teoria não há lugar para Deus, tampouco para qualquer classe de realidade espiritual, transcendental ou imaterial. Panteísmo. Os defensores dessa teoria postulam a identidade do Todo-Poderoso com o Universo. Trata-se da crença filosófica ou religiosa do hinduísmo, a qual esteve presente nos pensamentos grego e romano. E a doutrina de que Deus é tudo, e tudo é Deus; ela não separa a criatura do Criador, associando-o ao próprio Satanás, que segundo a teoria em apreço também é um deus.

Em suma, nada há que não seja Deus; nada existe além dEle. Deísmo.

 Doutrina pela qual se afirma a existência de Deus, mas, ao mesmo tempo, assevera que Ele está muito longe de nós, a ponto de não se envolver com os assuntos humanos, como um relojoeiro que dá corda a um relógio e se esquece dele. E a doutrina dos epicureus, contrária ao teismo, ensinado pela ortodoxia cristã; ou seja, Deus “não está longe de cada um de nós” (At 17.27), e sim interessado no ser humano (Hb II.6 ). Monismo. Trata-se de uma forma de panteísmo. Deus e a natureza, segundo essa teoria, muito comum no hinduismo, dissolvem-se em uma única realidade impessoal. O termo vem do grego monos, “só, único”, empregado pela primeira vez por Christian von Wolff, filósofo alemão.

 

A existência de Deus

 

 Não há, na revelação bíblica, a preocupação em provar que Deus existe. Isso pode ser notado no primeiro versículo da Bíblia: “N o princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn I.I).Tal declaração denota que não há nas Santas Escrituras a intenção de persuadir o leitor a crer na existência do Todo-Poderoso. A existência dEle é um fato consumado, uma verdade primária, que não necessita de comprovação. Deus transcende à existência.

Deus está além de todas as causas finitas. O conhecimento da sua existência pode vir da intuição, da razão, porém as Escrituras Sagradas são a sua única fonte confiável. Intuição. Todo ser humano é religioso por natureza. O homem tem anseio pelas coisas de Deus e sente o desejo de buscá-lo. Há tribos que não usam roupas nem sabem edificar uma casa; outras, sequer têm conhecimento suficiente para acender um fogo. Entretanto, nenhuma há que não possua crenças num ser superior. Por mais primitivo que seja o seu culto, e estranho o seu conceito de divindade, há um denominador comum: o anseio e a busca de Deus. A religiosidade humana é um fato universal e incontestável.

E disse o salmista, inspirado pelo Espírito: “Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (SI 42.1,2).

Como se vê, a crença universal na existência de Deus explica-se pela intuição. O conhecimento acerca dEle é intuitivo este termo significa “relação direta (sem intermediário) com um objeto qualquer”.

 E um conhecimento direto ou uma relação direta com o objeto; percepção natural, algo inato, inerente ao ser da pessoa. E a Palavra de Deus atesta essa crença intuitiva, em Rom anos 1.19,21; 2.14,15: Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou... porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram; e 0 seu coração insensato se obscureceu. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os. Razão.

Os teólogos estão divididos quanto à possibilidade de a razão poder provar a existência de Deus. O s argumentos fundamentados na razão são mais conceitos filosóficos do que teológicos. Segundo Strong, cada argumento isolado apresenta os seus senões; ou seja, não é conclusivo juntos se completam. Por outro lado, outros, como Wayne Grudem, acreditam que tais argumentos provam ser irracional negar a existência de Deus: São de fato tentativas de analisar as evidências especialmente as evidências da natureza, de modos extremamente cuidadosos e logicamente precisos, a fim de convencer as pessoas de que não é racional rejeitar a ideia de que Deus existe.

 Razão é a faculdade humana de observar a ordem do Universo e aplicá-la a seus pensamentos e atitudes. Aristóteles desconhecia o conceito judaico-cristão de criação. No entanto, nas suas observações chegou à conclusão de que Deus existe. Seu argumento para provar a existência de Deus está no movimento dos seres, na ordem existente no mundo, nos graus de perfeição e na experiência psicológica. Pela lógica, qualquer movimento supõe uma força externa atuando sobre o ser, o que Aristóteles chamou de “motor”. Cada motor recebe o movimento de outro; e assim por diante.

O motor que é imóvel que não pode ser movido por outro seria o primeiro, isto é, a Perfeição Absoluta, Deus. Ele é o princípio da causa primeira.

A ideia aristotélica foi retomada, na Idade Média, por Tomás de Aquino, que a empregou na explanação das Cinco Vias (em sua obra Summa Contra Gentiles), com o objetivo de “provar”, de forma racional, a existência de Deus. Essa parte da citada obra tornou-se conhecida como o argumento cosmológico e o argumento teleológico.

 No entanto, alguns, como Alister E. Mc Grath, afirmam que não há nela indícios de que a intenção fosse provar a existência de Deus, haja vista a fé de Tomás de Aquino firmar-se na revelação, e não nessas cinco vias.

 Nesse argumento tomista, “Deus é conhecido a partir do exterior. Olhamos para o mundo e descobrimos a necessidade lógica da existência de um ser superior”, afirmou Paul Tillich, que o considerou um a análise, e não um argumento: ( são verdadeiros não enquanto argumentos, mas enquanto análise)

 Na doutrina dos argumentos; em favor da existência de Deus, encontramos provavelmente a melhor análise da finidade da realidade aparecida nos escritos do passado.

 Eis as cinco vias:

1)    Experiência do movimento.

Todas as coisas nesse mundo se encontram em constante movimento, e nenhum movimento é feito pela sua própria força. Tudo o que se move, movimenta-se pela ação de outra força. Logo, para todo movimento existe um a causa anterior. Assim, é natural aceitar a existência de um a primeira e única causa que deu origem à gigantesca cadeia de causalidade do Universo. Tal causa primária e única é o pró p rio Deus. Vem os aqui o argumento cosmológico, reformulado séculos depois.

2)    Subordinação das causas.

E a relação de causa e efeito, conhecida com o argumento etiológico. Etiologia é “pesquisa ou determinação das causas de um fenômeno”.

E a causa primeira e original, com um a todos os efeitos, é Deus.

Contingência dos seres. Os seres humanos são contingentes; não estão no mundo por necessidade. Assim, por que estamos aqui, e qual a causa de nossa existência? Sem a existência de um primeiro Ser os seres contingentes também deixariam de existir. E o tal Ser é Deus.

4) Graduação das perfeições transcendentais. E o argumento axiológico.

3)    A axiologia é a teoria dos valores.

Haja vista o termo grego axioma, originalmente, “dignidade” ou “valor”. Os valores morais, como a bondade, a verdade e a nobreza, têm uma origem e uma causa. Por isso, deve haver uma bondade, uma verdade e uma nobreza em si mesmas Bondade Absoluta, Verdade Absoluta e Nobreza Absoluta, bem como um Ser supremo (Deus), no qual estejam todos esses valores.

4)    Ordenação a um fim.

E o argumento teleológico. Teleologia “é a parte da filosofia natural que explica os fins das coisas”, conhecido, também, por argumento do desígnio, uma vez que a inegável ordem, a harmonia e o planejamento do Universo constituem-se provas irrefutáveis de um propósito inteligente. Tomás de Aquino acreditava ser possível o homem conhecer a Deus pela razão, tendo por base exclusiva a natureza.

 

Argumentos que confirmam a existência de Deus

O termo “argumento”, em si, significa qualquer razão, prova, demonstração, indício, motivo capaz de captar o assentimento e de induzir à persuasão ou à convicção.

 

 Os argumentos abaixo são explicações racionais e filosóficas que confirmam a existência de Deus fora da esfera teológica e têm por objetivo convencer as pessoas de que não é racional negar a existência de Deus. Cosmológico. Este argumento apresenta a evidência de que Deus existe e é a primeira causa. Como o mundo não se explica por si mesmo, esse argumento “assume, basicamente, que a existência do Universo é algo que precisa ser explicado”,16 considerando que cada efeito deve ter uma causa (e depende dela) para a sua existência. H aja vista a natureza não poder produzir a si mesma. A validade dessas verdades pode convergir para a dedução conclusiva de que “o Universo é causado por uma criação direta de uma causa eterna e auto-existente”.

1 Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus (Sl 90 .2).

E: Tu, Senhor, no princípio, fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos (Hb 1.10). Porque toda casa é edificada por alguém, mas 0 que edificou todas as coisas é Deus (Hb 3.4). Teleológico. Este pode ser incluído na categoria do argumento cosmológico; é a quinta via de Tomás de Aquino. A palavra grega é telos, “fim”, “propósito ”, pois trata dos fins, do desígnio, do propósito racional. A ordem e o planejamento do Universo deixam evidente o seu propósito. Com isso, faz-se Teologia a Doutrina de Deus 59 necessária a existência de um a m ente inteligente e infinita, responsável por esse desígnio. Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? Aquele que argui as nações, não castigará? E o que dá ao homem o conhecimento, não saberá? (Sl 94.9,10).

Ontológico.

Ontologia é o ramo da filosofia que trata da investigação teórica dos caracteres fundamentais do ser. Christian F. von Wolff dividiu a metafísica em quatro partes:

·       ontologia,

·       psicologia,

·       cosmologia racional e

·       teologia.

O termo grego onontos significa “ser”; “refere-se àquilo que possui uma existência real e substancial. Equivale a substância ou essência”. Paul Tillich chama Deus de “Ser em e de si mesmo” na parte dois de sua teologia Sistemática. Isso tem implicação com o verbo “ser”, em hebraico, de onde vem o tetragrama YHWH — Yahveh ou Yahweh.

 O significado desse verbo, em Exodo 3.14, “EU SOU O QUE SOU ” (ou, na Septuaginta, ego eimi ho on, “Eu Sou o Ser” ou “Eu Sou Aquele Que E ”) revela Deus como um Ser que tem existência própria; existe por si mesmo. Deus é, pois, o imutável, o que causa todas as coisas; é auto-existente, aquEle que é, e que era, e que há de vir, o Eterno: “Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo” (Jo 5.26). Esse argumento “infere a existência de Deus a partir da natureza do pensamento”.

Anselmo de Cantuária, em sua obra Proslogion, publicada em 1078, considera o Senhor como “aquEle a respeito de quem não se concebe nada maior”. E a ideia do Ser mais perfeito, pois há na mente humana esse pensamento. Como poderia tal ideia chegar ali se não existisse o tal Ser? Se é apenas um a ideia sem existência real, não seria o Ser mais perfeito.

 Segundo Paul Tillich, ainda, Anselmo “queria encontrar Deus no próprio pensamento. Achava que antes do pensamento sair para o mundo deveria estar perto de Deus”.

 Moral ou antropológico. Esta formulação veio de Immanuel Kant; baseia-se no fato de existir no homem uma consciência que estabelece a distinção entre o bem e o mal, dando a ele senso de responsabilidade e de razão existencial (Rm 2.14,15).

O fato de existir essa lei moral, per se, torna evidente a existência de um Legislador ou Promulgador Supremo, a quem todos os humanos hão de prestar contas. O homem é um ser moral, responsável pelos seus atos diante de Deus (Ec 12.14). Outro fator importante desse argumento é que nem sempre os bons são recompensados, e os maus, punidos. Assim, o mundo se tornaria um caos sem a existência de um justo e supremo Juiz. Nesse caso, o argumento em apreço é válido para mostrar que a nossa própria natureza moral nos obriga a crer num Deus pessoal. O testemunho da natureza. O testemunho da natureza não apresenta a divindade com os mesmos detalhes das Escrituras. Contudo, é suficiente para mostrar com clareza a existência do Criador, o seu poder e a sua sabedoria. Os céus manifestam a glória de Deus e 0firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda a extensão da terra, e as suas palavras, até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para 0 sol (SI 19.1-4). A natureza é uma prova irrefutável da existência do Criador, assim como um relógio e um automóvel pressupõem um idealizador. E claro que os tais não vieram à existência do nada ou por acaso. Alguém planejou e pensou em todos os detalhes, para obter um bom funcionamento tanto do relógio como do automóvel. Isso se aplica também ao Universo: Alguém sábio e perfeito planejou-o e o trouxe à existência. A ordem natural das coisas testifica contra a insensatez dos ateus; e o Novo Testamento mostra que a própria criação exige do raciocínio humano a existência do Criador. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis (Rm 1.20). Deus se revelou a si mesmo ao seu povo. Essa revelação é a sua Palavra, manifestada no Senhor Jesus Cristo (Jo I.1 8). Tudo o que sabemos dEle é o que Ele mesmo revelou na sua santa Palavra. Daí ter dito: “EU SOU O QUE SOU ” (Ex 3.14). Mesmo assim, as Escrituras mostram, até nos seus detalhes, que a criação, em si, torna o ateu indesculpável ou inescusável diante de Deus.

 

 O conhecimento de Deus

 

 Com o podem os saber se Deus é um Ser cognoscível ou incognoscível? O termo “cognoscível” vem do latim cognitio e significa “conhecimento”. N as Escrituras empregam-se diversos termos, com vários significados, para o conhecimento e seus derivados. A Palavra de Deus exorta o ser humano a conhecer ao Senhor. Mas, qual o significado desse conhecimento?

O Deus incognoscível.

 A incognoscibilidade divina é oriunda dos seus atributos incomunicáveis — como a infinitude e a imensidão: “a sua grandeza, inescrutável” (SI 145.3); “o seu entendimento é infinito” (SI 147.5) — e da limitação do entendimento humano. Deus revelou-se a si mesmo na Bíblia, mas pode ser considerado incognoscível quando se trata do conhecimento pleno do seu Ser e de sua essência. Com o Ele é infinitamente incomparável, o homem jamais poderá esquadrinhá-lo e compreendê-lo como é, em essência e glória. Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é 0 que temos ouvido dele! Quem, pois, entenderia o trovão do seu poder? (Jó 2 6 .1 4 ). Eis que Deus é grande, e nós 0 não compreendemos, e o número dos seus anos não se pode calcular ( Jó 3 6 .2 6 ). Com a sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes coisas que nós não compreendemos (Jó 3 1 .5 ). Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir (Sl 139.6). Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não há esquadrinhação do seu entendimento (Is 40 .28). A quem me fareis semelhante, e com quem me igualareis, e me comparareis, para que sejamos semelhantes? (Os 4 6 .5 ). Oh profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! (Rm 11.33). A grandeza de Deus ultrapassa os limites do raciocínio humano. Se Ele pudesse ser plenamente conhecido e esquadrinhado pela razão humana, deixaria de ser Deus. Ele transcende a tudo que é matéria e finito, a tudo que há no Universo. Analisando o assunto dessa maneira, é correto e verdadeiro afirmar que o Senhor é um Ser incognoscível. O Deus cognoscível. O Deus verdadeiro e incognoscível revelou-se a si mesmo em sua Palavra. Assim, o homem pode conhecê-lo — haja vista ser Ele também imanente — o suficiente para que exista um relacionamento entre ambos. Em virtude da infinita grandeza do Criador, esse conhecimento acerca dEle é comparável ao reflexo de um espelho, como um enigma ( I Co 13.12), pois “em parte, conhecemos e, em parte, profetizam os” (I Co 13.9). Nesse sentido, Deus é cognoscível, conquanto esse conhecimento não signifique simplesmente o fato de alguém possuir informações sobre Ele. Trata-se de uma expressão que denota a auto revelação de Deus, em Jesus Cristo, para a vida eterna.

 Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve, Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece 0 Filho, senão 0 Pai; e ninguém conhece 0 Pai, senão 0 Filho e aquele a quem 0 Filho 0 quiser revelar (Mt 11.25-27). Saber algo sobre uma pessoa não é a mesma coisa que conhecê-la. N a primeira acepção, é o mero conhecimento intelectual; na segunda, diz respeito ao relacionamento pessoal. O Senhor Jesus é o único que possui o conhecimento perfeito e absoluto do Pai e, por isso, o único com autoridade para revelá-lo aos homens. O conhecimento intelectual é, em si mesmo, o resultado de um processo de aprendizagem ou informação por meio dos cinco sentidos, auxiliados por intuição e razão. O conhecimento mencionado em João 17.3 é místico envolve comunhão, fé, obediência e adoração, além de um viver em humildade na dependência de Deus, e não simplesmente intelectual. Qualquer pessoa, mesmo que não seja cristã, tem a capacidade intelectual para aprender a doutrina de Deus, bem como acerca de sua natureza e de seus atributos. Basta ler ou estudar qualquer tratado de teologia sistemática. Isso, entretanto, não é um relacionamento pessoal nem comunhão com Deus.

 Um Deus pessoal

Não é possível conciliar panteísmo e cristianismo. O Deus revelado na Bíblia é pessoal, transcendente e imanente. O que é a imanência? E o relacionamento do Criador com o mundo criado, principalmente com o ser humano e a sua história. Se ele pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego; toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó (Jó 34.14,15). Todos esperam de ti que lhes dês 0 seu sustento em tempo oportuno. Dando-lhe tu, eles 0 recolhem; abres a tua mão, e enchem-se de bens. Escondes 0 teu rosto, e ficam perturbados; se lhes tiras a respiração, morrem e voltam ao próprio pó (Sl 104.27-29). A transcendência denota que Deus é um Ser não pertencente à criação, que transcende a toda matéria e a tudo que foi criado. Ele é independente e está, nesse sentido, separado da criação, haja vista existir antes da fundação do mundo.

Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos (Is 55.9). E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse (Jo 17.5). Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me hás amado antes da criação do mundo (Jo 17.24). Muitos tratados de teologia sistemática apresentam a personalidade ou a pessoalidade de Deus entre os seus atributos. N a verdade, ela é a essência do Ser divino. Os argumentos cosmológico, teleológico, ontológico e antropológico, usados em favor da existência de Deus, valem também para comprovar a sua personalidade. Em linguagem antropomórfica, mencionam-se, em diversas passagens das Escrituras, os membros do corpo humano como elementos da composição divina: face, dedos, mãos, braços, pés, olhos, ouvidos, narinas... E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus (Ex 31.18). E falava o Senhor a Moisés face a face... E disse mais: Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá (Ex 33.11,20). O Deus eterno te seja por habitação, e por baixo de ti estejam os braços eternos (Dt 33.27). Pela repreensão do Senhor, pelo sopro do vento dos seus narizes (2 Sm 22.16). Porque, quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra (2 Cr 16.9). Porque a boca do Senhor o disse (Is 5 8.14) . Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido, agravado, para não poder ouvir (Is 59.1). Essa figura de linguagem da Bíblia, em si, talvez não seja conclusiva. Todavia, em razão de ser ela antropomórfica e não zoomórfica (forma de animal) nem cosmomórfica (forma de corpos celestes), mostra certa semelhança com o homem. A personalidade humana, portanto, serve como evidência da personalidade divina. E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem á sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou (Gn 1.26, 27).

Os termos “imagem ” e “semelhança”, mencionados no texto acima, implicam um a correspondência entre as naturezas divina e humana. Conquanto tal semelhança seja infinitamente perfeita em Deus, há similaridades nessas faculdades, presentes em toda a Bíblia. 05 elementos que se combinam para formar a personalidade são: intelecto, sensibilidade e vontade; mas todos esses poderes agem, a fim de exigir uma liberdade tanto da ação externa quanto da escolha dos fins para os quais a ação for direcionada. O intelecto deve dirigir, a sensibilidade deve desejar, e a vontade deve determinara direção dos fins racionais. Não pode haver personalidade, seja humana, angelical ou divina, à parte desse complexo de essenciais.

 O filósofo e teólogo inglês Hasting  Rashdall, em sua análise sobre a personalidade, assinalou cinco elementos: consciência, permanência, identidade auto distintiva, individualidade e atividade.

 Nas Escrituras, encontram os um Deus que age, galardoa e castiga; sente, ama e odeia; pensa e raciocina; adverte, julga e se com única com as suas criaturas, principalmente as inteligentes. E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também (Jo 5.1 7). Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz 0 SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais (Jr 29.1 l). Vinde, então, e argui-me [arrazoemos, ARA], diz 0 SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã (Is 1.18) Eu vos amei, diz o Senhor; mas vós dizeis: Em que nos amastes Não foi Esaú irmão de Jacó disse o SENHOR; todavia amei a Jacó e aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma assolação e dei a sua herança aos dragões do deserto (Ml 1.2,3).

Deus se revelou a si mesmo nas Escrituras Sagradas como Ser pessoal. Ele é autoconsciente e auto determinante.

 O termo “autoconsciente” é mais que consciência de si mesmo: Não significa “consciência de si” no sentido de cognição (intuição, percepção) que o homem tenha de seus atos ou de suas manifestações, percepções, ideias; tampouco significa retorno à realidade “interior”, de natureza privilegiada; é a consciência que tem de si um princípio “infinito”, condição de toda realidade.

O vocábulo “autodeterminante” significa “a liberdade absoluta, incondicional e, portanto, sem condições nem graus; é livre, aquilo que é causa de si mesmo”. E a ação a partir do interior; é o mesmo que agir por si mesmo, sem a influência de qualquer intervenção externa. E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós (Ex 3.14). Mas, se ele está contra alguém, quem, então, o desviará? O que a sua alma quiser isso fará (Jó 23.13). Que anuncio o fim desde 0 princípio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: 0 meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade (Is 46.10). Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo (Ef 1.9).

 

O que são os atributos de Deus

Os atributos são propriedades ou qualidades, virtudes ou perfeições próprias de um ser.

O termo “atributo”, no âmbito teológico, aplicado a Deus, é uma referência às suas características ou qualidades essenciais, que descrevem quem Ele é, o que faz e o que possui. Atributos divinos são as perfeições do Todo-poderoso reveladas nas Escrituras e conhecidas em função da relação dEle com o homem, nas suas diversas obras. São perfeições próprias da essência de Deus. Atribuir características a Deus, por mais elevadas que sejam essas qualidades, parece um a tentativa de definir o Ser divino. E definir implica “estabelecer limites precisos”, como o significado do próprio verbo latino definir.

Quando usamos o termo “atributo”, não queremos com isso afirmar que o Todo-Poderoso seja limitado à soma total de todas essas qualidades. Deus vai além dos limites que o homem pode imaginar. E, em face dessas suas infinitude e transcendência, não é possível defini-lo; mas podem os descrevê-lo, parcialmente, com base naquilo que Ele mesmo revelou na sua Palavra. Esses atributos são geralmente classificados em dois grupos principais, nos tratados de teologia sistemática. O primeiro reúne todos aqueles atributos exclusivos da divindade ou deidade, como infinitude, imensidão, eternidade, transcendência, etc. São os atributos incomunicáveis, chamados de atributos naturais, absolutos ou, ainda, de imanentes (ou intransitivos). O segundo grupo congrega os atributos “que encontram alguma ressonância nos seres hum anos”,2׳ transmitidos, ainda que em grau infinitamente inferior, humanidade, como justiça, bondade, amor.

São conhecidos como atributos comunicáveis, porém há outros nomes para eles, como atributos morais, relativos, ou, ainda, emanentes (ou transitivos). Charles Hodge afirma que “o objetivo da classificação é a ordem, e o objetivo da ordem é a clareza”. Contudo, ele reconhece que são poucos os temas que “se tem pensado e trabalhado mais extensamente do que neste. Entretanto, é provável que o benefício não tenha sido proporcional ao trabalho”.

 Com fins didáticos, tal separação dos atributos visa à clareza das definições das qualidades divinas exclusivas, as quais não encontram analogia no homem aquelas que, apesar de, no Todo-Poderoso, serem perfeitas e infinitas, encontram certa correspondência no ser humano. Deus, pois, em certa medida, comunica alguns atributos; partilha-os com as suas criaturas livres e inteligentes: os seres espirituais, no Céu, e humanos, na Terra.

 Os atributos incomunicáveis de Deus

 

Perfeição. A perfeição como atributo significa que Deus é perfeito de m odo absoluto, infinito e único. Não se trata de um a mera combinação de perfeições individuais; Ele é a origem de todos os atributos. Isso diz respeito a tudo que faz, pensa, determina: “O caminho de Deus é perfeito” (SI 18.30). Deus age em perfeita harmonia com as suas natureza e santidade, e ninguém jamais poderá se assemelhar a Ele: “Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-poderoso?” (Jó II .7 ). Espiritualidade. Este termo não é a mesma coisa que a qualificação “espiritual”; está relacionado com o substantivo “espírito” ; no caso do salvo, relaciona-se ao Espírito Santo. A Palavra de Deus afirma: “Deus é Espírito ” (Jo 4.24). Seu Ser, portanto, não se com põe de matéria. Jesus disse que “espírito não tem carne nem ossos” (Lc 2 4.39). Um espírito é um a substância material, invisível e indestrutível. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis (Rm 1.23). O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação (Cl 1.15). Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém! (ITm 1.1 7).

 O termo grego traduzido por “ imortal” ( I Tm 1.17), em nossas versões portuguesas da Bíblia, é aphthartos, que literalmente significa “incorruptível”. Aparece em Romanos 1.23.

Ser espírito, por conseguinte, não implica impessoalidade, e sim qualidade de perene, imperecível. O Senhor Jesus disse que Deus tem voz e forma, mas isso é incomparavelmente infinito: “Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer” (Jo 5.37). Infinitude. Consiste no fato de que para Deus não há limites no tempo e no espaço. Ele é maior do que qualquer coisa que exista, como escreveu Anselmo de Cantuária (argumento ontológico), e transcende o Universo, existindo desde antes da fundação do mundo: “antes que o mundo existisse... porque me hás amado antes da criação do mundo ” (Jo 17.5, 24). Não há barreira nem limite na natureza do Todo-Poderoso. A sua infinitude é a base dos atributos da eternidade e da imensidade. Ele é infinito e, ao mesmo tempo, pessoal. Essa característica é peculiar ao Deus revelado na Bíblia. Sua imensidade diz respeito ao espaço; Ele transcende a todo o espaço do Universo. Neste não há um único lugar onde alguém possa se esconder do Senhor. Grande é o Senhor e muito digno de louvor; e a sua grandeza, inescrutável (Sl 145.3). Grande é 0 Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento não se pode medir (Sl 147.5). Eis que os céus e até o céu dos céus te não poderiam conter (l Rs 8.27). Esconder-se-ia alguém em esconderijos; de modo que eu não o veja? diz o SENHOR.

 Porventura, não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor (Jr 23.24). Eternidade. A ideia filosófica de eternidade não está clara no Antigo Testamento. Contudo, quando se refere a Deus, o conceito é de duração infinita de tempo, sem início nem fim: “O teu trono está firme desde então; tu és desde a eternidade” (Sl 93.2); “Mas tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (Sl 102.27). Deus é o autor do tempo; não está sujeito a ele; existe desde “antes dos tempos dos séculos” ( Tt 1.2), ou “antes dos tempos eternos”, conforme a Tradução Brasileira. Isso está muito claro na expressão: “EU SOU O QUE SOU ” (Êx 3.14). Esta passagem fala tanto da auto-suficiência como da auto-existência divinas. A eternidade denota que Deus é livre de toda a distinção temporal de passado o u de futuro. Não teve Ele um começo nem terá fim em seu ilimitado Ser. A Bíblia o apresenta com o qualificativo “eterno” que existe desde a eternidade. E plantou um bosque em Berseba e invocou lá o nome do Senhor, Deus eterno (Gn 21.33).

O Deus eterno te seja por habitação, e por baixo de ti estejam os braços eternos; e ele lance 0 inimigo de diante de ti e diga: Destrói-o Dt 33.2 ,). Antes que 0s montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus (SI 90.2). Não sabes, não ouviste que o Eterno Deus, 0 SENHOR, o Criador dos confins da terra, nem se cansa, nem se fatiga Não há esquadrinhação do seu entendimento (Is 40.28). Έ: Tu, Senhor; no princípio, fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos; eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e, como um manto, os enrolarás, e, como uma veste, se mudarão; mas tu és 0 mesmo, e os teus anos não acabarão (Hb 1.10-12) citação de Salmos 102.25-27. Imutabilidade. Tudo na vida muda; transforma-se; é o princípio de Lavoisier. Até mesmo o Céu e a terra mudam e envelhecem, mas Deus permanece o mesmo (Hb 1.10-12). Ele é imutável; nEle não há mudança nem sombra de variação; o Senhor não muda a sua natureza, tampouco o seu caráter e os seus atributos; nem em consciência nem em propósito. Porque eu, 0 Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos (Ml 3.6). Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação (Cl 1.17).

Essa é a garantia de que Deus jamais mudará de opinião no que diz respeito às suas promessas. Mas ser imutável não significa imobilidade. Daí a Bíblia registrar o “arrependimento ” de Deus: “Então, arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra” (Gn 6.6); “Arrependo-me de haver posto a Saul como rei... E o Senhor se arrependeu de que pusera a Saul rei sobre Israel” ( I Sm 15.11,35); “e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez” (Jn 3.10). Deus está presente na eternidade; para Ele, passado, presente e futuro são a mesma coisa; jamais será apanhado de surpresa.

Entretanto, como Ser pessoal, tem emoções e reage ao pecado. N a verdade, a mudança ocorre primeiro no ser humano, como vemos em todos os episódios mencionados acima (Gn 6.6; I Sm 15.11,35; Jn 3.5-10). Em função disso, o Senhor “arrepende-se”, mudando o tratamento em relação ao ser humano, conquanto a sua natureza permaneça imutável. O emprego de mais esse antropomorfismo, nas páginas sagradas, tem deixado alguns desavisados um tanto confusos, porém reafirmamos que Deus é perfeito e imutável. O arrependimento humano é mudança de mente e de coração; já o Senhor não pode mudar nem alterar a sua mente. Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não 0 fiaria? Ou falaria e não 0 confirmaria? (Nm 23.19). E também aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem, para que se arrependa (l Sm I5.29).

 Portanto, nós, os seres humanos, mudamos em nossa conduta; e, por essa razão, perdemos, muitas vezes, as bênçãos de Deus. Mas, quando isso acontece, a mudança não teve origem no Senhor, e sim em nós, que de alguma forma fracassamos (2 Cr 15.2). Onipresença e imensidade (ou imensidão). Há diferença entre onipresença e imensidade? O termo “onipresença” não aparece na Bíblia; vem do latim omni, “tudo ”, e praesentia, “presença”. Com o atributo divino, na Teologia, a ideia “indica precisamente a presença cheia de Deus em todas as criaturas”.

O vocábulo “imensidade” vem, também , do latim immensitas, de immensus, “imenso, desmedido, não mensurado ”. Como termo técnico teológico indica que “a essência divina é sine mensura, sem medida e satura todas as coisas”. Assim “immensitas”é um atributo essencial de Deus em sua diferença para o mundo, visto que a “omnipraesentia” é um atributo relativo que expressa a indeterminada presença de Deus: Deus é “illocalis”, ou sem-local, e sua presença intensiva, “indívisibilis”, e “incomprehensibilis”:,l Segundo Strong, a onipresença “significa que Deus, na totalidade da sua essência, sem difusão ou expansão, multiplicação ou divisão, penetra e ocupa o Universo em todas as suas partes”, enquanto que imensidade “é infinitude em relação ao espaço. A natureza de Deus não está sujeita à lei de espaço. Deus não está no espaço”.

 Assim, a natureza divina não tem extensão nem está sujeita a nenhuma limitação espacial. Chafer considera essa diferença da seguinte maneira: É provável que os termos onipresença e imensidão representem ideias ligeiramente diferentes. A onipresença naturalmente relaciona Deus ao Universo, onde outros seres estão como presente com Ele, enquanto que a imensidão sobrepassa toda a criação e estende-se infinitamente

O espaço veio a existir com a criação; logo, o Criador transcende às dimensões espaciais, como lemos em Jeremias 23.23,24: Sou eu apenas Deus de perto, diz o SENHOR, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não 0 veja? diz 0 SENHOR. Porventura, não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor

A diferença, de fato, entre os atributos em análise pode ser resumida da seguinte forma: a imensidade de Deus fala de sua essência imensa, que não tem limite, enchendo todo o Universo, em relação ao espaço; já a onipresença diz respeito à presença do Todo-Poderoso em relação às criaturas. Em um alto e santo lugar habito e também com 0 contrito e abatido de espírito (Is 57.15).

O Senhor olha desde os céus e está vendo a todos os filhos dos homens; da sua morada contempla todos os moradores da terra (Sl 33.13,14). Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons (Pv 15.3).

Onisciência.

A palavra “onisciência” vem do latim omniscientia omni, “tudo”; e scientia, “conhecimento”, “ciência”. E o atributo divino para descrever o conhecimento perfeito e absoluto que Deus possui de todas as coisas, de todos os eventos e de todas circunstâncias por toda a eternidade, passada e futura. Trata-se do conhecimento, da inteligência e da sabedoria em graus perfeito e infinito: “Não há esquadrinhação do seu entendimento” (Is 40.28). Esse conhecimento é simultâneo, e não sucessivo. A onisciência de Deus excede todo o entendimento humano; é um desafio à nossa compreensão, mas é também uma realidade revelada. Tens tu notícia do equilíbrio das grossas nuvens e das maravilhas daquele que é perfeito nos conhecimentos? (Jó 37.16). E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar (Hb 4.13). Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que 0 nosso coração e conhece todas as coisas (l Jo 3.20). Presciência. Deus conhece o fim desde o princípio; Ele está presente na eternidade. Isso envolve a presciência, conhecimento antecipado, na ótica humana, pois o Senhor não está limitado ao tempo.

Como vimos, presente, passado e futuro são a mesma coisa para o Senhor, posto que Ele sabe tudo, desde as coisas grandiosas como o número das estrelas, incluindo-se os nomes delas: “conta o número das estrelas, chamando-as a todas pelos seus nomes” (Sl 147.4), até ao pequenino pardal: “nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai” (Mt 10.29). Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde 0 princípio e; desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: 0 meu conselho será firme, e fiarei toda a minha vontade (Is 46.9,10). Deus, na sua presciência, não interfere na liberdade humana, ou seja, no livre arbítrio. Ele sabe de antemão todos os acontecimentos futuros sem interferir diretamente na decisão de cada pessoa. Além de saber tudo sobre os seres humanos, somente Ele conhece o coração deles. ... só tu conheces o coração de todos os filhos dos homens ( l Rs 8.39). Porque esquadrinha o Senhor todos os corações e entende todas as imaginações dos pensamentos (l Cr 28.9). Senhor, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces0 meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas 0 meu andar e 0 meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces (Sl 139.1-4). Antes que eu te formasse no ventre, eu te conheci; e; antes que saísses da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta (Jr 1.5).

Onipotência.

O termo significa “ter todo poder, ser todo-poderoso”.

 A Bíblia ensina que Deus é onipotente; um de seus nomes revela esse atributo, ΈΪ Shaddai (hb.), como veremos mais adiante no estudo sobre os nomes de Deus. Os cristãos reconhecem que Deus pode todas as coisas: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37). Ele é chamado nas Escrituras de “Onipotente”, o Ser que tudo pode. Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, á sombra do Onipotente descansará (Sl 91.1). Ah! Senhor JEOVA! Eis que tu fizeste os céus e a terra com 0 teu grande poder e com 0 teu braço estendido; não te é maravilhosa demais coisa alguma (Jr 32.1). ... nada há que seja demasiado difícil para ti (Jr 32.1 -7)

As especulações sobre a significação de onipotência foram discutidas por teólogos e pensadores cristãos da Idade Média, como Anselmo de Cantuária, Tomás de Aquino, Guilherme de Occam e Duns Scotus. Isso significa que Deus realiza contradições lógicas como círculo quadrado, triângulo redondo ou pode criar água seca? Ou, ainda, criar uma pedra tão pesada que ele mesmo não a possa levantar? Isso nos parece mais especulações falaciosas do que lógicas, pois o termo “onipotência”, no âmbito teológico, como atributo divino, indica poder ilimitado de Deus ad extra, “externo”; ou seja: “a omnípotentia Dei está limitada somente pela essência ou natureza do próprio Deus e por nada externo a Deus”.

 Esse conceito responde a essas especulações ou objeções. O atributo em foco diz respeito ao poder irresistível de Deus, que age conforme a sua vontade, pelo qual Ele trouxe o Universo à existência; pela sua vontade e pelo poder de sua Palavra: “Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu” (SI 33.9); “O norte estende sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada” (Jó 26.7). O poder de Deus está relacionado com o seu propósito , com a sua natureza e com a sua essência. Por meio desse ilimitado poder, pela sua Palavra, o Senhor criou o Universo e sustenta todas as coisas. As Escrituras ensinam “que Deus não pode mentir” ( Tt 1.2). Deve isso ser interpretado com o limite de seu poder? Não, pois essa passagem enfatiza o imutável caráter de Deus, haja vista ser Ele “a verdade”. Afirmar que Deus não pode impedir o fenômeno tsunami que abateu o sul da Ásia, em 26 de dezembro de 2004, é heresia. Ora, Ele não impediu porque não quis. O sofrimento humano é consequência do pecado, e o Senhor tem um propósito em tudo isso, o qual nós não conseguimos entender.

 

Os Atributos comunicáveis de Deus

 

Santidade. Deus é absolutamente santo; sua santidade é infinita e inigualável; Ele é santo em si mesmo, em sua essência e em sua natureza. No entanto, está escrito: “Santos sereis, porque eu, o Senhor , vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2). Esta passagem, citada no Novo Testamento (I Pe I .6), enfatiza que o Senhor exige santidade de seu povo porque Ele é santo. Vemos, pois, que a santidade está em Deus e deve estar em seus seguidores. Isso explica um a dúbia classificação, apesar de haver uma abissal e incomparável diferença entre a santidade de Deus e a do ser humano. O termo “santo”  hb. qadosh e gr. hagios significa “separação” ou “brilho”, “brilhante”;36 é especificamente divino. A etimologia de qadosh é ainda incerta; parece ser um a combinação que indica “queimar no fogo”, num a referência à oferta queimada, porém a ideia básica é de “separar, retirar do uso com um ”.'

Esse é o pensamento do Antigo Testamento: “para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10.10). Santidade significa afastar-se de tudo o que é pecaminoso. Os antigos hebreus levavam-na com seriedade. A Palavra de Deus chama de santas as duas partes do Tabernáculo. O Senhor ordenou essa construção com o objetivo habitar no meio dos filhos de Israel: E me farão um santuário, e habitarei no meio deles (Ex 25.8). Pendurarás o véu debaixo dos colchetes e meterás a arca do Testemunho ali dentro do véu; e este véu vos fará separação entre 0 santuário e o lugar santíssimo (Ex 26.33). A santidade de Deus é singular por causa de sua majestade infinita e também em virtude de Ele ser totalmente distinto e separado, em pureza, de suas criaturas. Essa santidade é a plenitude gloriosa da excelência moral do Todo-Poderoso, que nEle existe e que nEle originou-se; não deriva de ninguém: “Não há santo como é o Senhor ” (I Sm 2.2). Toda a adoração deve ser nesse espírito de santidade. Nenhum atributo divino é tão solenizado nas Escrituras como esse.

 O SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade, terrível em louvores (Ex 15.11). E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é 0 Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória (Is 6.3). E os quatro animais tinham, cada um, respectivamente, seis asas e, ao redor e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é0 Senhor Deus, 0 Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir (Ap 4.8). Quem te não temerá, ó Senhor; e não magnificará 0 teu nome? Porque só tu és santo; por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos (Ap 15.4). A santidade de Deus é o princípio da sua própria atividade: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal” (Hb I.1 3), bem como a norma para as suas criaturas: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Verdade e fidelidade. Verdade é um atributo relacionado com a fidelidade de Deus. Ela diz respeito à sua veracidade e é algo próprio da natureza divina. Já a fidelidade, do latim fdelitas, é a garantia do cumprimento das promessas dEle: “Deus é consistente e constante em suas promessas e em sua graça”.38 E, pois, um atributo relacionado com a imutabilidade de Deus. O termo “verdade” (hb. ’emeth) “tem o sentido enfático de certeza, confiança”.39 Daí derivam as palavras ’emuna, “fé”, “fidelidade”, “firmeza” (Hc 2.4) e ’amen, “amém”, “verdadeiramente”, “de fato”, “assim seja”. Esse vocábulo aplica-se duas vezes a Deus, em Isaías 65.16, onde foi traduzido por “verdade” (gr. aletheia, na Septuaginta, “sinceridade” ou “franqueza”), cuja ideia é “não oculto”, “não escondido”; veritas, em latim, que denota, ainda, “precisão”, “rigor”, “exatidão de um relato”.

 Todas essas qualificações reúnem-se em Deus, em grau absoluto e infinito. A “veritas Dei”, ou verdade de Deus, e em última análise a correspondência, de fato, a identidade do intelecto... e a vontade... de Deus com a... essência de Deus. Deus é a verdade em si mesmo, num senso absoluto.

  Verdade e fidelidade não são diferentes nomes de um mesmo atributo, embora inseparáveis; são distintos, pois não pode haver fidelidade sem verdade. A verdade m ostra que Deus é real; é tudo aquilo que em sua Palavra Ele afirma ser; e nEle podem os confiar.

Tal confiança envolve tanto a verdade com o a fidelidade. Ele é a Rocha cuja obra é perfeita, porque todos os seus caminhos juízo são; Deus é a verdade, e não há nele injustiça; justo e reto ê (Dt 32.4). Nas tuas mãos encomendo 0 meu espírito; tu me remiste, Senhor, Deus da verdade (Sl 31.5). De sorte que aquele que se bendisser na terra será bendito no Deus da verdade; e aquele que jurar na terra jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas e estão encobertas diante dos meus olhos (Is 65.16). Eu sou o caminho, e a verdade e a vida... (jo 14.6). Jesus, pois, é fiel e justo para nos perdoar: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” ( I Jo 1.9). Amor. Este atributo é o tem a central das Escrituras, demonstrado de forma suprema em Jesus Cristo. A Palavra de Deus afirma expressamente “Deus é amor” ( I Jo 4 .8,16, ARA ). Esta declaração significa que o amor de Deus não precisa de um objeto para existir; é independente; constitui-se parte da natureza divina; pode ser definido com o a inclinação natural da essência divina para a bondade.

 O amor de Deus é desde a eternidade; foi revelado no relacionamento entre as Pessoas da Trindade, haja vista Jesus ter dito: “porque tu me hás amado antes da fundação do mundo” (Jo 17.24). E também depois da criação esse amor permaneceu: “O Pai ama o Filho” (Jo 3.35). Tal amor é eterno, infinito e incomparável, manifesto a Israel, a todos os homens e a todas as criaturas no Céu e na Terra. Έ faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos (Ex 20.6). Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Com amor eterno te amei; também com amável benignidade te atraí (Jr 3 1.3). Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu 0 seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Mas Deus prova 0 seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (1 Jo 5.8). Deus comunicou aos seres humanos alguma ressonância desse amor. Deus criou o homem com capacidade para amar; e, hoje, “nós o amamos porque ele nos amou primeiro” (I Jo 4.19). É, pois, sua vontade que nos amemos uns aos outros; é o segundo grande mandamento que Jesus declarou e que vem desde a Lei de Moisés: ... amarás ao teu próximo como a ti mesmo (Lv 19.18; Mt 22.39; Mc 12.31). O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei... Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros (Jo 15.12,17). Bondade. A bondade de Deus é um dos seus atributos morais. Deus é bom em si mesmo e para as suas criaturas. Ê a perfeição dEle que o leva a tratá-las com benevolência. Essa bondade é para com todos: “ O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras” ( S l 145.9). Deus é a fonte de todo o bem. Jesus disse: “Não há bom, senão um, que é Deus” (Mt 19.17). Nessa bondade estão envolvidos também o amor e a graça. São três conceitos distintos, mas o amor é a bondade divina exercida em favor de suas criaturas morais, em grau incomparável e perfeito: Porque Deus amor o mundo de tal maneira que deu seu o Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5.8). Misericórdia, graça e longanimidade. Estes três atributos são correlatos, porém distintos entre si; manifestam a bondade de Deus.

Misericórdia é o termo teológico para compaixão; trata-se da disposição de Deus para socorrer os oprimidos e perdoar os culpados. A graça é o favor imerecido de Deus para com o pecador; é a bondade para quem apenas merece o castigo. Já a longanimidade é a demonstração de paciência; é ser lento para 1rar-se; retardar a ira. Passando, pois, o Senhor perante a sua face, clamou: JEOVA, 0 SENHOR, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração (Èx 34.6,1). Misericordioso e piedoso é o SENHOR; longânimo e grande em benignidade (Sl 103.8). Mas, quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador (Tt 3.4-6). Por meio desses atributos, Deus não concede ao homem aquilo que ele merece, mas o que ele precisa, pois merecíamos o castigo (Rm 6.23). Ele se apiedou de nós e enviou o seu Filho para nos salvar: “o Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo I.I4 ). Justiça.

A justiça (ou a retidão), com o atributo divino, pode ser definida com o a conformidade de Deus com a sua lei m oral e espiritual; a harmonia da natureza divina com a sua santidade; é essa santidade exercida sobre as suas criaturas. A justiça de Deus pode ser, segundo os escolásticos, interna ou externa.

O Senhor é o autor da moral, como Juiz soberano do Universo e Criador de todas as coisas; tem o direito de decretar a sua Lei e exigir de suas criaturas inteligentes obediência e santidade. A natureza perfeita dEle é manifesta em seus atributos, e a sua santidade é o parâmetro para a raça humana.

 Deus revelou a sua vontade na sua Palavra. Quando a lei a expressão máxima da santidade de Deus é violada, essa santidade do Senhor exige a manifestação de sua ira: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça" (Rm 1.18).

Esse atributo é manifesto no castigo do pecado e na premiação do justo: “o qual recompensará cada um segundo as suas obras” (Rm 2.6). A Bíblia declara, com todas as letras, que somente Deus é justo, considerando justiça como atributo, no sentido absoluto de perfeição: Deus é um juiz justo (Sl 7.11). Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe ti seja. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? (Gn 18.25). Justiça e juízo são a base do teu trono; misericórdia e verdade vão adiante do teu rosto (Sl 89.14).

Ante a face do Senhor, porque vem, porque vem a julgar a terra; julgará 0 mundo com justiça e os povos, com a sua verdade (Sl 96.13). Anunciai, e chegai-vos, e tomai conselho todos juntos; quem fez ouvir isso desde a antiguidade? Quem, desde então, 0 anunciou? Porventura, não sou eu, 0 SENHOR? E não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador, não há fora de mim (Is 45.21). Sabedoria.

A sabedoria é mais que o conhecimento ou a inteligência; trata-se da capacidade mental para entender todas as coisas, um aspecto particular da onisciência de Deus. Esse atributo é conhecido como sapientia Dei, “sabedoria de Deus”, ou omnisapientia, “toda-sabedona”. É a correspondência do pensamento divino com o summum bonum, “sumo bem” de todas as coisas; é “a sabedoria do conselho divino pela virtude a qual Deus sabe todas as causas e efeitos e as ordena aos seus próprios fins e pela qual ele essencialmente cumpre seu próprio fim para e por meio de todas as coisas criadas”.

 Com sabedoria Ele arquitetou, planejou e criou tudo o que existe: “Todas as coisas fizeste com sabedoria”. (Sl 104.24); “Com ele está a sabedoria e a força; conselho entendimento ele tem ” (Jó 12.13). E m Jesus Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3), e “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação e redenção” ( I Co 1.30). Há ressonância desse atributo nas criaturas inteligentes. Deus é a fonte de sabedoria; é nEle que devemos buscá-la, pois a sua Palavra “dá sabedoria aos símplices” (Sl 19.7; I I 9.130). E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não 0 lança em rosto; e ser-lhe-á dada (Tg 1.5). Com quem tomou conselho, para que lhe desse entendimento, e lhe mostrasse as veredas do juízo, e lhe ensinasse sabedoria, e lhe fizesse notório o caminho da ciência? (Is 40.14).

Oh profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor Ou quem foi seu conselheiro (Rm 1 1.33,34).

Os nomes de Deus

Os nomes de Deus não são apenas um apelativo nem simplesmente uma identificação pessoal. Inerentes à sua natureza, eles revelam as suas obras e os seus atributos. Não aparecem nas Escrituras para meramente fazer uma distinção dos deuses das nações pagas. Quando elas mencionam os nomes divinos, revelam o poder, a grandeza e a glória do Todo Poderoso, além de enfatizarem os seus atributos. Nos tempos do Antigo Testamento, um nome era empregado não simplesmente para distinguir uma pessoa das outras, mas para mostrar o caráter e a índole de um indivíduo.

Houve até casos de mudanças de nomes como consequência de uma experiência com Deus (Gn 17.5,15; 32.28). Com referência a Deus, o nome representa Ele próprio. O nome do Senhor está ligado ao conceito de sua soberania e glória: “Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome” (Dt 12.1 1). Esta passagem ensina que, nesse lugar escolhido por Deus, o santuário, Ele estaria presente. Sua presença nos cultos seria constante e habitaria nesse santuário. Deus falou a Davi, pelo profeta Natã, que o seu descendente construiria uma Casa ao seu nome (2 Sm 7.12,13). Em outras palavras, o filho de Davi haveria de edificar uma Casa para o Senhor Deus de Israel. Na bênção sacerdotal, Moisés conclui a mensagem com essas palavras: “Assim porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei” (Nm 6.27). Que significam as menções das passagens acima? Que Deus habitaria no meio dos filhos de Israel, segundo a bênção do sumo sacerdote. No “Pai Nosso ” Jesus ensinou-nos a abrir a oração santificando o nome de Deus: “Santificado seja o teu nome” (Mt 6.9). Este texto ensina que o próprio Deus deve ser honrado, venerado, adorado e tem ido por todas as suas criaturas. É um reconhecimento da suas bondade e santidade. Até hoje, em Israel, os judeus chamam Deus de hashem, palavras hebraicas que significam “o nome”. Isso é bíblico: “a arca de Deus, sobre a qual se invoca o Nome, o nome do Senhor dos Exércitos” (2 Sm 6.2). Elohim.

 A transcrição do termo hebraico é ’elohim e ’eloah. O nome Elohim não aparece em nenhum a outra língua, exceto na língua hebraica. Além disso, não se encontra em outras literaturas antigas extrabíblicas, nem mesmo no Talmude dos judeus. “Isto é posteriormente apoiado pelo fato de que a forma ,elohim ocorre apenas no hebraico e em nenhum a outra língua semítica, nem mesmo no aramaico bíblico”.

 O nome Elohim é o plural de Eloah, No singular, aparece apenas 57 vezes no Antigo Testamento hebraico, sendo 41 só no livro de Jó. N o plural, encontramos 2.570 vezes.43 Eloah é o nom e El acrescido da letra hebraica he.4i Esse substantivo vem do verbo hebraico ’ala e significa “ser adorado”, “ser excelente”, “ser tem ido” e “ser reverenciado”. O substantivo, como nome, revela a plenitude das excelências divinas, daquEle que é supremo. Deus é apresentado pela primeira vez na Bíblia com esse nome: “N o princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn I.I). E usado para expressar o conceito universal da deidade. Essa passagem apresenta os primeiros vislumbres da Trindade, pois o verbo barn, “criou”, no singular, e o sujeito ’elohim, “Deus”, no plural, revelam a unidade de Deus na Trindade. A Trindade é vista no nome Elohim à luz do contexto bíblico. A declaração, “façamos o homem ” revela a existência de mais de uma Pessoa na divindade, e não mais de um Deus.

Somente o Deus Filho e o Deus Espírito Santo tiveram participação na criação juntamente com o Deus Pai (João 1.3; Cl I . I 6; Jó 33.4). Os rabinos reconheceram a pluralidade nesse nome; porém, como o judaísmo é uma religião que defende o monoteísmo absoluto, não admite Jesus Cristo como 0 Messias de Israel é difícil para eles entenderem essa pluralidade. Para explicá-la, eles argumentam que Elohim é um plural de majestade ou de excelência, mas isso é um a determ inação rabínica posterior. Segundo o rabino Shlom o ibn Yitschaki, “O plural de majestade não significa haver mais de uma pessoa na divindade”.

Gesenius afirma que esse nome divino denota plural, expressando uma ideia abstrata ou de intensidade.

 Elohim é poucas vezes empregado com outro propósito que não seja o Deus revelado na Bíblia. O Antigo Testamento faz menção dos deuses do Egito: “... e sobre todos os deuses do Egito” (Ex 12.12) e de outras nações: “D entre os deuses dos povos que estão em redor de vós, perto ou longe de ti, desde uma extremidade da terra até à outra extremidade” (Dt 13.7; Jz 6.10). O termo é usado, ainda, com relação às imagens dos cultos pagãos: “Não fareis outros deuses comigo; deuses de prata ou deuses de ouro não fareis para vós” (Ex 20.23).

As Escrituras mencionam usos irregulares desse nome para seres sobrenaturais ( I Sm 28.13) e para juízes (Sl 82.6). Aparece também com relação às divindades pagãs individuais cerca de vinte vezes, como Baal (Jz 6.31; 1 Rs 18.24,25,27) e outros.

Para os pagãos, o(s) seu(s) deus(es) significava(m) “a plenitude das excelências divinas”. O que o Deus de Israel representava para o povo hebreu essas divindades representavam para os pagãos. Daí o emprego de ’dohim (plural) atinente a uma divindade pagã individual. Quando ’elohim se refere às divindades, traz o verbo, os pronomes e o adjetivo no plural, o que representa multiplicidade. Quando é aplicado ao Deus de Israel, os pronomes, o verbo e o adjetivo vêm geralmente no singular; salvo exceções. El.

A transcrição do termo hebraico é ’el. O nome El parece ser a raiz de Eloah e de seu plural Elohim, mas ainda há discussão sobre o assunto.48 É um “termo semítico muito antigo para deidade”.

 E usado para identificar o Deus de Israel (Nm 23.8). A palavra vem da forma acádica ’illu, um dos nomes mais antigos de Deus. Não se sabe com certeza se a palavra ’el vem do verbo ’ul, “ser forte”, ou do verbo “ser preeminente”, de idêntica raiz. MEl é o nome mais usado na Bíblia para mencionar as divindades pagãs.

É empregado com frequência em ugarítico, porém aparece também com relação ao Deus de Israel. Não é mencionado em nossas Bíblias, em português exceto em algumas variantes no rodapé. O que encontramos é o vocábulo “Deus” em seu lugar, ou “deus”, em caso de divindades pagãs. Só é possível encontrá-lo na Bíblia Hebraica.

Os nomes ’el, ’el ‘elyon e ’eloah no plural, ’elohim, registrados nas Escrituras Hebraicas, foram traduzidos na Septuaginta por theos, o mesmo usado, no Novo Testamento Grego, para “Deus”. El Elyon.

A transcrição do termo hebraico é ’el ‘elyon. O nome Elyon é traduzido em nossas versões por “Altíssimo”, e El Elyon, por “Deus Altíssimo”. Este nome (ou título) é um adjetivo que se deriva do verbo hebraico ‘ala’ e significa “subir”, “ser elevado”;52 designa Deus como o Alto e Excelente, o Deus Glorioso.

Trata-se de um nome genérico, porque também é aplicado a governantes mas nunca vem acompanhado de artigo quando se refere ao Deus de Israel. E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E deu-lhe o dízimo de tudo (Gn 14.19,20). N o texto acima, o nome de Deus vem acompanhado de El, mas, às vezes, vem sozinho: “Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14.14). Elyon pode ser encontrado sozinho nas Escrituras ou com binado com outros nomes de Deus ( Nm 24.16; D t 32.8; SI 7.17; 9.2; 57.2; Dn 7.18, 22,27).

El Shaddai. Abraão adorava o Deus El Sbaddai, “Deus Todo-poderoso” (Gn I7 .I), e Melquisedeque, rei e sacerdote de Salem, era adorador do El Elyon, Quando ambos se encontraram, descobriram que adoravam o mesmo Deus, conhecido por eles por nomes diferentes (Ex 6.2). Shadday, ’adona(y׳ (e YHWH são nomes específicos, pois nas Escrituras Sagradas só aparecem aplicados ao Deus verdadeiro.

A transcrição do termo hebraico é shadday, o “nome de um a deidade”; “nome de deidade identificada com Yaweh”; “mais poderoso, Todo-Poderoso, um epíteto de Jeová”. “Esse é um dos nomes de Deus no Antigo Testamento, sendo que algumas versões o deixam sem traduzir (e.g., BJ), e outras traduzem por ‘Todo-poderoso’”. Há ainda muita discussão sobre o étimo desse nome, que aparece 48 vezes na Escrituras Hebraicas, sendo sete delas antecedidas do nome El. Desde a antiguidade os rabinos diziam que ele vem de she, pronome relativo hebraico “que”, “quem ”, forma reduzida de ’asher, combinado com day, “suficiência”, “provisão necessária”, “suficiente”. Isso dá a ideia de “ser poderoso”, “ser forte” e “ser potente”. A Septuaginta traduziu dezesseis vezes shadday por pantokrator,5s “Todo-Poderoso, Soberano universal”, que aparece dez vezes no Novo Testamento.

 Pantokrator é mencionado, às vezes, sem tradução na versão em apreço, e outras vezes é substituído por theos. Jerônimo empregou Omnipotens na Vulgata Latina. Isso indica que desde o período pré-cristão já se usava o termo “Todo-Poderoso” para shadday, o que justifica a explicação rabínica acima. Outros afirmam que a palavra vem do acádico sadu, “montanha, cadeia de montanha”.

 Assim, Shaddai seria “Deus da montanha” ou a “morada de Deus”.

 H á ainda os que acreditam que o termo vem do verbo hebraico shadad, “devastar, destruir”.62 Nesse caso, o nome significaria “meu destruidor”.

 Shaddai, “Todo-Poderoso”, era um nome apropriado para o período patriarcal, durante o qual os patriarcas viviam numa terra estranha e estavam rodeados pelas nações hostis. Eles precisavam saber que o seu Deus era o Onipotente: “Eu sou o Deus Todo-poderoso [,el shadday]; anda em minha presença e sê perfeito” (Gn 17.1).

O termo shadday aparece com frequência na era patriarcal.

Só no livro de Jó esse nome ocorre 3 1 vezes. Deus declarou a Moisés: “E eu apareci a Abraão, e a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-poderoso; mas pelo meu nome, o Senhor , não lhes fui perfeitamente conhecido” (Ex 6.3). No texto hebraico aparece o termo ’el shadday para “Deus Todo-poderoso”, e o tetragrama YHWH, para “ Senhor ” . Isso significa que Deus era conhecido pelos patriarcas por El Shaddai. Ele se revelou primeiro aos patriarcas do Gênesis com esse nome; depois do Sinai, os hebreus identificaram o seu libertador Jeová com o El Shaddai dos seus antepassados. Adonai. A transcrição do termo hebraico é ’adona(y). O nome Adonai é mencionado no Antigo Testamento 449 vezes, sendo que, em 134 vezes, aparece sozinho; e, em conexão com YHWH, 3 I5 .

 E um nome de Deus, e não meramente um pronome de tratamento nele se expressa a soberania de Deus no Universo. Segundo Gesenius, Adonai é “usado somente para Deus”.

 O nome aplica-se somente ao Deus verdadeiro e significa “meu Senhor”; também nunca é usado como pronome de tratamento. Para este caso, o hebraico usa ’adoní ou ’adon, “senhor”. Ana dirigiu-se a Eli usando o pronom e ’adoní, “não, senhor meu, eu sou um a mulher atribulada de espírito” (I Sm I . I 5); “Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor” (1.26). Isso funciona ainda hoje em Israel. Quando antecedido do artigo definido, o termo em apreço refere-se, exclusivamente, ao Deus verdadeiro — ele aparece precedido pelo artigo definido nove vezes nas Escrituras Hebraicas (Êx 23.17; 34.23; Is 1.24; 3.1; 10.16,33; 19.4; Mq 4.13; Ml 3.1). Os nomes Adonai e Jeová são tão sagrados para os judeus que eles evitam pronunciá-los na rua, no seu quotidiano. O segundo nem sequer nas sinagogas é pronunciado. N o dia-a-dia chamam Deus de ha-shem, “O Nome”. Dizer “César é senhor” seria reconhecer a divindade dele. Era por isso que os cristãos primitivos recusavam-se a chamar César de senhor. O apóstolo Paulo disse: “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” ( I Co 12.3). Essa declaração reivindica a divindade de Cristo só é possível reconhecer o senhorio de Cristo pela revelação do Espírito Santo. Se Cristo fosse um mero senhor, não haveria necessidade de o Espírito Santo revelá-lo. Ê claro que o termo grego kyrios corresponde aos nomes hebraicos Adonai e YHWH, sendo usado tanto para o Pai como para o Filho. Nomes compostos de YHW H ou Jeová. A Palavra de Deus mostra-nos com clareza que Deus se deu a conhecer, nos tempos do Antigo Testamento, por vários nomes inerentes à sua natureza e à circunstância de sua revelação. Para Abraão, Ele apareceu como a provisão para o sacrifício em lugar de Isaque, seu filho, com o nome YHW H (Jeová) Yireh, que significa: “o Senhor proverá” (Gn 22.14). Prometendo livrar os filhos de Israel daquelas pragas e enfermidades que sobrevieram aos egípcios, Ele se manifestou como YHWH Rapa’, isto é, “o Senhor que sara” (Ex 15.26). Numa época de angústia, nos dias difíceis dos juízes de Israel, Ele apareceu a Gideão como YHWH Shalom, isto é, “o Senhor é paz” (Jz 6.24). A todos que peregrinam na terra Ele apresenta-se como YHW HRa‘a, que significa “o Senhor é meu Pastor” ( Sl 23.1). Na justificação do pecador, Ele aparece como YHWH Tsideqenu, que quer dizer “o Senhor , justiça nossa” (Jr 23. 6).

Na batalha contra o mal e o vil pecado, mostra-se como YHWH Nissi, “o Senhor é a minha bandeira” (Ex 17.15). E, no Milênio, será chamado de YHW H Shamma, isto é, “o Senhor está ali” (Ez 48.35). O TETRAGRAMA YHW H YHWH, tetragrama hebraico grafado geralmente como Yahveh ou Yahweh, é o nome pessoal do Deus de Israel, que em nossas versões aparece como Jeová, Javé ou Senhor . As quatro consoantes hebraicas do nome divino se tornaram impronunciáveis pelos judeus desde o período interbíblico. Isso para evitar a vulgarização do nome: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão” (Ex 20.7), pois é assim que eles interpretam o terceiro mandamento do Decálogo. Os judeus pronunciam ’adona(y) toda vez que encontram o nome sagrado nas Escrituras durante a leitura da sinagoga. Isso é observado ainda hoje.

Na Idade Média, os rabinos inseriram no tetragrama YHW H as vogais de Adonai. Isso resultou na forma YeHoWaH. Só a partir de 1520 depois de tomarem conhecimento desse fato os reformadores difundiram o nome Jeová. Yahweh vem do verbo hebraico haya, que significa “ser”, “estar”, “existir”, “tornar-se”, “acontecer”. Esse verbo aparece ligado a esse nome em Exodo 3.14: “EU SOU O QUE SOU ”.

Na poesia hebraica, usa-se com frequência a forma reduzida Yah: “JÁ é o seu nome; exultai diante dele” (Sl 68.4, Tradução Brasileira). Talvez isso justifique a presença da letra “a” no nome Yahweh. Pela gramática hebraica, “y” denota “quem sempre existiu”. O significado desse verbo, na passagem de Exodo 3.14, é que Deus é o que tem existência própria; existe por si mesmo. E o imutável, o que causa todas as coisas; é auto-existente, aquele que é, que era e que há de vir; o Eterno (Gn 21.33; Sl 90.1,2; Ml 3.6, Ap 1.8). Até hoje os judeus religiosos preferem chamá-Lo de “O Eterno”. É assim que a Bíblia na Linguagem de Hoje emprega esse nome no lugar YHW H em Exodo 3.13, Deus deu a Moisés o significado desse tetragrama. Em virtude de os judeus não pronunciarem o tetragrama YHWH, a pronúncia original perdeu-se ao longo dos séculos.

Mas existe uma tradição de que os samaritanos pronunciavam o nome como labe. Como a letra “b ”, já no grego daqueles dias, tinha o som de “v”, como ainda hoje na Grécia, então Yahweh (Iavé) parece ser a pronúncia mais apropriada. Clemente de Alexandria escreveu o tetragrama como Jeoue. Há, portanto, evidências históricas de que Yabweh (ou Iavé) era a pronúncia primitiva. Êxodo 3.14 é a única fonte bíblica que parece lançar luz sobre a pronúncia correta de YHWH. Já o texto de Êxodo 6.3 mostra que os patriarcas do Gênesis conheciam esse nome, mas não sabiam a forma e o significado dele: Έ eu apareci a Abraão, e a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-poderoso; mas pelo meu nome, o Senhor, não lhes fui perfeitamente conhecido”. Yahweh é o nome do pacto com Israel: Έ Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor , o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração” (Ex 3.15). A partir dessa teofania, durante a história dos filhos de Israel, foi-lhes dado o nome especial e peculiar de Deus. O Novo Testamento grego substituiu as quatro consoantes Y, H , W e H por kyrios, que quer dizer “Senhor”. Por essa razão, as nossas versões traduziram YHW H por Senhor. O texto da versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, grafa o nome com todas as letras maiúsculas: “ Senhor ” , seguindo instruções das Sociedades Bíblicas Unidas. YHW H não aparece uma vez sequer no Novo Testamento grego; em seu lugar aparece o nome Senhor (hyrios).

O apóstolo Paulo citou Isaías 1.9, onde aparece o nome Yahweh Tsebaot. Em Romanos 9.29, porém, ele empregou Kyrios Sahaoth, como as demais citações do Antigo Testamento ( J1 2.32; Rm 10.13). Existem atualmente mais de cinco mil manuscritos gregos do Novo Testamento incluindo papiros e lecionários espalhados em museus e mosteiros de toda a Europa. Datados desde o século II d.C. até ao advento da imprensa, no século XV, nenhum deles traz o tetragrama YHWH. Isso porque Jesus é, no N ovo Testamento, o mesmo que Jeová no Antigo. Sendo Jesus o próprio Jeová, não pode YHW H configurar nos manuscritos gregos do Novo Testamento. Ser o mesmo Deus não significa ser a mesma Pessoa. Esse assunto será discutido mais adiante, quando discorrermos sobre a Santíssima Trindade.

 

Os dias da criação de Deus

Há uma parte da teontologia que trata da obra da criação, dos decretos divinos e da providência.

O que a Bíblia ensina sobre o planejamento, a origem e a manutenção de todas as coisas no Céu e na Terra? E desse assunto que nos ocuparemos a partir de agora, o qual envolve governo e preservação de todas as criaturas de Deus. Deus criou o Universo do nada, ex nihilo.

É o que ensina a Bíblia.

A narrativa do primeiro capítulo de Gênesis deve ser entendida à luz do contexto bíblico. E o ponto de partida da criação é: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). O verbo hebraico bara’, “criou”, “denota o conceito de ‘iniciar alguma coisa nova’ em um certo número de passagens”. Trata-se, pois, de um termo essencialmente teológico. Tal verbo é empregado somente com referência à atividade de Deus, exceto em outras construções ou graus do verbo hebraico estrutura peculiar às línguas semíticas, que altera o seu significado. Essa ideia do fiat divino é apoiada em toda a Bíblia. Deus trouxe o Universo à existência do nada e de maneira instantânea, pela sua soberana e livre vontade. Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu (Sl 33.9). Pela fé, entendemos que os mundos, pela palavra de Deus, foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que ê aparente (Hb 11.3). Digno és, Senhor; de receber glória, e honra, e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas (Ap 4.11). A creatio ex nihilo, da teologia judaico-cristã, invalida todo o sistema panteísta; e de igual modo, no período da Grécia antiga, o pensamento grego, pelo qual se defendia a ideia da eternidade da matéria — a qual é antibíblica e, portanto, inaceitável aos judeus e cristãos. Desde o surgimento do darwmismo a narrativa da criação tem sido reavaliada e reinterpretada por muitos teólogos.

Hoje, a origem do mundo, conforme o relato de Gênesis, é interpretada e reinterpretada por diversos sistemas teológicos e filosóficos tendenciosos.

O primeiro versículo da Bíblia revela a origem do Universo, sem explicar detalhadamente com o e quando isso aconteceu. Trata-se da criação original. O relato dos dias da criação é interpretado por alguns como períodos de mil anos cada; outros procuram associá-los às supostas eras geológicas; ainda outros os definem como dias literais de restauração, haja vista o Universo ter vindo à existência “no princípio” (Gn I .I ) . Muitos tentam adaptar o darwinismo à Bíblia; defendem a creatio ex nihilo seguida da evolução, nas longas eras geológicas, ajustando-as aos dias mencionados em Gênesis 1.5 a 2.3. O termo hebraicoyom, “dia”, e seu correspondente grego hemera às vezes indicam certo período: “eis aqui agora o dia da salvação” (2 Co 6.2); nem sempre denotam, na Bíblia, dia literal, de 24 horas. A palavra “dia” é “cercada de muitos temas teológicos relacionados à soberania de Deus”, como lemos em Salmos 90.4 e 2 Pedro 3.8: “Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite”; “Mas, amados, não ignoreis um a coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia”. 

Para alguns teólogos, haveria uma certa correspondência entre os supostos seis períodos geológicos e a narrativa do livro de Gênesis, seguindo, em linhas gerais, aos mesmos estágios.

Os chamados dias da criação seriam, nesse caso, “dias da recriação” ou “restauração”. Isso é a chamada teoria do intervalo. Entretanto, o contexto bíblico m ostra que o Universo apareceu perfeito, o que chamamos de “Terra original”. Onde localizar o antigo habitat do querubim ungido, mencionado em Ezequiel 28.12-16? O que dizer da queda de Lúcifer, citada em Isaías 14.12-14? Em que momento não havia chuva na Terra (G n 2.5,6)? Deus teria criado a Terra caótica? Segundo a teoria em apreço, as passagens bíblicas acima falam da Terra em seu estado original, quando Deus a criou “no princípio ” ( I . I ) , pois, em seguida, o texto sagrado registra: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2).

 A Palavra de Deus afirma que Deus não criou a Terra vazia: “o Deus que formou a terra e a fez; ele a estabeleceu, não a criou vazia” (Is 45.18). No hebraico, “sem forma e vazia” é tohu wabohu. O profeta Isaías empregou o termo tohu que significa “confusão, espaço vazio, sem forma, nada, nulidade, vacuidade, vaidade, deserto, caos”.

 E o profeta Jeremias usou a mesma expressão de Gênesis 1.2: “Observei a terra, e eis que estava assolada e vazia; e os céus, e não tinham a sua luz” (Jr 4.23). Ainda segundo a teoria em análise, a Terra “tornou-se” ou “veio a ser” sem forma e vazia, o que nos levaria a admitir se tal interpretação estiver correta  que “não pode, portanto, haver qualquer objeção gramatical contra traduzir Gênesis 1:2: Έ a terra veio a ser vazia e deserta...” ' 0 Teria, pois, havido conquanto a Bíblia não assevere isso de maneira clara um a catástrofe universal que transformou a Terra original num caos. Teria, ainda, havido um período de tempo que não se pode calcular entre Gênesis I .I e 1.2.

 De acordo com a mesma interpretação, é possível que o referido caos tenha resultado da queda de Lúcifer.

Veja a passagens de Isaías 14.12-14: Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra; tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, e, acima das estrelas de Deus} exaltarei o meu trono, e no monte da congregação, me assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.

A Vulgata Latina usa o termo lucífer, “portador de luz”, em lugar de “estrela da manhã”. Daí Lúcifer ter se tornado um dos nomes de Satanás. O Senhor Jesus falou de sua queda: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu” (Lc 10.18). O relato seguinte trata de restauração, pelo mesmo poder da Palavra que “criou os céus e a terra”.

 

A criação do homem

 

No primeiro dia, Deus trouxe a luz à existência (G n 1.3).

No segundo, criou a expansão ou o firmamento — hb. raqia (Gn 1.6-8). No terceiro, “disse Deus: A juntem -se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca” (Gn 1.9).

Essa porção seca, que Deus chamou de Terra (v. 10), foi criada naquele momento ou já existia submersa nas águas, tendo sido criada “no princípio”?

O apóstolo Pedro afirma que a Terra “foi tirada da água e no meio da água subsiste” (2 Pe 3.5).

No terceiro dia, surgiram os continentes com os seus relevos e a vegetação (Gn 1.9-13).

Os corpos celestes o Sol, a Lua e as estrelas apareceram no quarto dia (Gn I . I 4-19).

As aves e os animais marinhos, no quinto (Gn 1.20- 23).

Os animais terrestres, no sexto (Gn 1.24, 25). E, finalmente, Deus fez o homem, também no dia sexto: E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou (Gn 1.26,27). A raça humana teve a sua origem em Deus, através de Adão: “O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente” (I Co 15.45); “de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra” (At 17.26). Adão, o primeiro homem, foi criado no sexto dia como a coroa de toda a criação; ele recebeu de Deus a incumbência para administrar a terra e a natureza. O ser humano não é meramente um animal racional, mas um ser espiritual, criado à imagem e semelhança de Deus. O homem recebeu diretamente de Deus o sopro de vida em suas narinas: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7).

Em Salmos 8.3-5, a Bíblia revela que o homem foi feito um pouco menor do que os anjos: Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que0 visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos e de glória e de honra 0 coroaste. Portanto, não há, nas Escrituras Sagradas, nada que apoie o darwinismo e as suas várias interpretações inverídicas. O homem e os animais surgiram na Terra da mesma forma como eles são hoje.

 

Os decretos de Deus

 

O s decretos divinos, também chamados de conselhos divinos, dizem respeito à vontade e ao propósito de Deus para a criação; são deliberações incondicionais que nasceram do desígnio e do propósito de Deus. Tudo o que o Senhor quis, ele fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos (Sl 135.6). Que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: 0 meu conselho será firme, e fiarei toda a minha vontade (Is 46.10). Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme 0 propósito daquele que faz todas as coisas, segundo 0 conselho da sua vontade (Ef l.ll). O termo grego boulç, usado para “conselho”, nas duas passagens acima (Is 46.10, Septuaginta), significa “intenção”, “propósito ”, “resolução” e abrange a totalidade da vontade de Deus. Isso tem implicações com a Soteriologia, a doutrina da salvação, e envolve as questões da predestinação.

 Há na teologia cristã duas escolas principais sobre o assunto: o calvinismo e o arminianismo.

 

Calvinísmo.

 

 Depois de A gostinho de Hipona, os escolásticos desenvolveram um a filosofia agostiniana durante a Idade Média. João Calvino, por sua vez, era o maior perito do pensamento agostiniano no século X IV .

O calvinismo registrado nas Institutas da Religião Cristã é diferente do cunho eclesiástico e “governamental” do Sínodo de Dort, reduzido a definições teológicas compactadas, transformadas em polêmica contra os cinco pontos levantados pelos Remonstrantes, que se definiram como arminianos.

Com a resposta do Sínodo, ao refutar cada um dos desses pontos, resultaram os cinco pontos do calvinismo. Quer dizer, portanto, que o calvinismo, conforme o conhecemos, não foi produzido por João Calvino, tampouco foi um resumo das Institutas; foi, na verdade, fruto de um embate teológico. A soberania de Deus ocupava lugar central no sistema de Calvino, e não a predestinação. Paul Tillich declarou: O centro de onde emanam todas as demais doutrinas de Calvino é a doutrina de Deus, Alguns acham que sua doutrina fundamental é a da predestinação. Essa opinião é facilmente refutável uma vez que na primeira edição das “Institutas”, a doutrina da predestinação nem mesmo havia sido desenvolvida. Foi só nas edições posteriores que passou a ocupar espaço proeminente. ‘4 Esse também é o entendimento de Alister E. M cG rath 75 e de Justo L. Gonzalez.

 Segundo o calvinismo, os decretos divinos são absolutos, eternos e imutáveis, incluindo a antecipação do destino de todos os homens. Por outro lado, para o arminianismo depois modificado por João Wesley, todo o conhecimento de Deus é imediato, simultâneo e completo; todas as coisas lhe são conhecidas como presente de eternidade a eternidade; logo, os decretos divinos não devem ser interpretados como determinações de antemão. Deus criou o homem dotado de livre-arbítrio; sua Queda, portanto, foi divinamente permitida, e não decretada. Por mais de vinte séculos, temos tido a predestinação e o livre-arbítrio colocados em mútua oposição, em extremos forçados que nunca chegam a um acordo. Temos por detrás desse debate teológico um problema filosófico; o debate, na realidade, é entre o determinismo e o livre-arbítrio, debate que já acontecia muitos séculos antes de Cristo. O determinismo foi usado entre os estóicos para os ciclos históricos predeterminados, como necessários, pelo logos divino.

Os muçulmanos usam o termo kismet, “destino fatal”, frio e implacável, vinculado à pessoa de Alá. Alguns vocábulos são traduzidos por “predestinação” no Novo Testamento grego. Nós, porém, entendem os que tudo pode ser mudado mediante a fé em nosso Deus pessoal. As profecias, ao invés de predizerem um futuro friamente predestinado, são apelos para nos convertermos dos nossos maus caminhos, a fim de termos um futuro bem diferente esses apelos são feitos à nossa consciência e pressupõem o nosso livre-arbítrio

 

 A providência Divina

O termo “providência” não aparece nas Escrituras Sagradas, porém a doutrina é bíblica. Ela consiste na atividade de Deus para preservar a sua criação até ao seu destino final. Isso implica governo, soberania e preservação, haja vista ser Ele o Criador de todas as coisas.

O Universo lhe pertence: “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm 11.36). Deus é o único soberano do Universo e tem o controle de tudo: “E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl I.1 7). Esses aspectos, por si só, afastam qualquer ideia panteísta ou deísta. Preservação é o cuidado divino em conservar e manter todas as coisas criadas. Isso inclui o homem, os demais seres viventes e toda a natureza: “Abres a mão e satisfazes os desejos de todos os viventes” (SI 145.16). Deus cuida de todos os viventes, desde a estrutura mais simples até a mais complexa.

O que seria do mundo sem a vontade preservadora de Deus? Tu só és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo 0 seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há; e tu os guardas em vida a todos, e0 exército dos céus te adora (Ne 9.6).

O Todo-Poderoso é, por conseguinte, o Criador e o Mantenedor do Universo. Ele está no controle de tudo e sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3), como Paulo asseverou em Atos 17.24-27: O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação, para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando,  pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.

 

A doutrina da Trindade

 

No estudo dos atributos de Deus, vimos a sua unidade. Ao discorrer sobre os seus nomes, analisamos o sentido do plural de majestade no nome divino Elohim. Tendo isso em mente, podem os afirmar, à luz da Palavra de Deus, que a doutrina da Trindade não com promete a unidade de Deus.

Nessa última parte da Teologia (ouTeontologia), trataremos da história, do conceito e dos fundamentos bíblicos da doutrina da Trindade.

Não há contradição entre o monoteísmo do Antigo Testamento e a Trindade cristã, haja vista o mesmo e único Deus subsistir eternamente em três Pessoas. Ele é um só Senhor em três Pessoas, e não três Deuses. Cada Pessoa da Trindade é Deus. A Palavra do Senhor descarta a ideia de triteísmo (três Deuses) e de unicismo.

A Trindade pode ser definida como a união de três Pessoas o Pai, o Filho e o Espírito Santo em um a só divindade. Tais Pessoas, embora distintas, são iguais, eternas e da mesma substância. O u seja, Deus é cada um a dessas Pessoas.

As Escrituras Sagradas ensinam que há um só Deus, e que Ele é um só. Elas ensinam que o Pai é Deus pleno, com todos os atributos da divindade ( I Co 8.6); e que o Filho é Deus, e não apenas parte da divindade: “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). E elas também asseveram que o Espírito Santo é Deus, como lemos em Atos 5.3,4: Disse, então, Pedro; Ananias, por que encheu Satanás 0 teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.

A Trindade no tetragrama YHWH.

A Palavra de Deus afirma que a Trindade é Deus. Vemo-la no tetragrama YHWH. Nesse caso, quando lemos o nome “Deus” ou “Senhor ”, nas Escrituras, precisamos entender que esses termos podem ser aplicados à Trindade, isoladamente ou da mesma maneira, ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Analisemos algumas passagens bíblicas que revelam a unidade na Trindade: 1) “E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como o Senhor tem dito, e nos restantes que o Senhor chamar” (Jl 2.32). Neste texto, o tetragrama, segundo o Novo Testamento, é um a referência ao Senhor Jesus (Rm 10.13). 2) “E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito” (Zc 12.10).

Temos, nesta passagem, um a profecia escatológica; o Deus Jeová de Israel promete proteger Jerusalém e seus moradores

 Observe a expressão: “e olharão para mim, a quem traspassaram”. Quem foi ao Céu traspassar a Jeová? Trata-se, naturalmente, de um a referência a Jesus, quando foi traspassado no Gólgota: “E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram” (Jo 19.37). 3) “E disse ela: Os filisteus vêm sobre ti, Sansão. E despertou do seu sono e disse: Sairei ainda esta vez com o dantes e me livrarei. Porque ele não sabia que já o Senhor se tinha retirado dele” (Jz 16.20).

O contexto desta referência mostra que YHW H se refere ao Espírito Santo (Jz 15.14). Esses dados da revelação nos parecem complexos, mas essa aparente complexidade não é sinônima de contradição. Não há, na verdade, contradição nas Escrituras; estamos lidando com um Ser que é infinito. Como escreveu Chafer: “A doutrina como apresentada nas Escrituras é, portanto, aceitável ainda que não explicável”.' Deuteronômio 6.4. “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor ”. É evidente que esta passagem bíblica refere-se ao Deus Trino, à Trindade como veremos abaixo.

 Nela, temos tanto o termo “Deus” como o tetragrama YHWH. A sua ênfase é o monoteísmo, que se tornou ao longo dos séculos a confissão de fé dos judeus. Ainda hoje, os judeus religiosos recitam esse versículo três vezes ao dia. O termo hebraico usado para “único” indica unidade composta: No famoso Semá de Deuteronômio 6.4... a questão da diversidade dentro da unidade tem implicações teológicas. Alguns eruditos têm pensado que, embora “um” esteja no singular o י uso da palavra abre espaço para a doutrina da Trindade.‘

A expressão hebraica YHW H ’ehad traduz-se também por “Jeová é um ”; esta construção hebraica aparece em Zacarias 14.9: “naquele dia um só será Jeová, e um só o seu nome” ( Tradução Brasileira). A palavra apropriada hebraica para “unidade absoluta” é yahid, que traz a ideia de “solitário, isolado”, mas não é esse é o termo usado em Deuteronômio 6.4. Em Gênesis 2.24, a palavra ,ehad é usada para dizer que o marido e a mulher são ambos “uma só carne”. O Novo Testamento não contradiz o Antigo, porém torna explícito o que dantes estava implícito: a unidade de Deus não é absoluta; e sim composta. O Antigo Testamento revela a unidade na Trindade, ao passo que o Novo revela a Trindade na unidade. Teologia a Doutrina de Deus 93 A doutrina da Trindade não neutraliza nem contradiz a doutrina da unidade; nem esta anula a da Trindade, que, conforme pregada pelos cristãos que seguem a Palavra do Senhor, consiste em um só Deus em três Pessoas, e não três Deuses; isso seria apenas um a tríade, e não a Trindade.

 

O desenvolvimento histórico da doutrina da Trindade

 

O termo “trindade” não aparece nas Escrituras Sagradas; é um a formulação posterior. O fato de a nomenclatura vir depois do fechamento do cânon sagrado não significa que a doutrina da Trindade não exista ou que não seja bíblica. De caráter teológico, a palavra em apreço foi atribuída à divindade, no final do segundo século, por Tertuliano de Cartago, ao escrever contra o unicismo: Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto 0 mistério da dispensação que distribui a unidade numa Trindade, colocando em sua ordem os três, Pai, Filho e Espírito Santo; três contudo, não em essência, mas em grau; não em substância, mas em forma, não em poder; mas em aparência, pois eles são de uma só substância e de uma só essência e de um poder só, já que é de um só Deus que esses graus e formas e aspectos são reconhecidos com o nome de Pai, Filho e Espírito Santo. Depois da metade do segundo século, surgiu um movimento em tom o do monoteísmo cristão, o monarquianismo.

Seus defensores dividiam-se em dois grupos: os dinâmicos (diziam que Cristo era Filho de Deus por adoção); e os modalistas (ensinavam que Cristo apenas era uma forma temporária da manifestação do único Deus). Tertuliano chamou-os de monarquianistas gr. monarcbia, “governo exercido por um único soberano”. Monarquianismo dinâmico. Os principais representantes da cristologia dinâmica ou adocionista foram Teodoro de Bizâncio e Paulo de Samosata. Teodoro, “o curtido r”, discípulo dos alogoi, grupo que rejeitava a doutrina do Logos e aceitava o Evangelho de João com certa ressalva, foi o primeiro monarquianista dinâmico de importância. Chegou a Rom a, em 190, e foi ex-comungado em 198. Para os monarquianistas dinâmicos, Jesus era apenas um homem de vida santa que nasceu de uma virgem, sobre o qual desceu o Espírito Santo, por ocasião do seu batismo, no rio Jordão.

 Alguns de seus discípulos rejeitavam qualquer direito divino em Jesus, enquanto outros afirmavam que Ele teria se tomado divino, em certo sentido, por ocasião da sua ressurreição. Hipólito (170-236) rebateu todas essas falaciosas crenças (Refutação de Todas as Heresias, VII, 23).

O mais famoso monarquianista dinâmico foi Paulo de Samosata, bispo de Antioquia entre 260 e 272. Descrevia o Logos como atributo impessoal do Pai. Eusébio de Cesaréia disse que ele “nutria noções inferiores e degradadas de Cristo, contrárias à doutrina da igreja, e ensinava que quanto à natureza Ele [Jesus] não passava de homem com um .”

 Eis o que Paulo de Samosata afirmava: O Logos e o Espírito eram qualidades divinas e não pessoas. Eram poderes ou potencialidades de Deus, mas não pessoas no sentido de seres independentes. Jesus era um homem inspirado pelos poderes de cima. O poder do Logos habitara Jesus como num vaso como nós habitamos nossas casas. A unidade que Jesus tinha com Deus era da vontade e do amor; não de natureza.

Suas ideias foram examinadas por três sínodos, entre 264 e 269, e o último excomungou-o. Monarquianismo modalista. Não negava a divindade do Filho nem a do Espírito Santo, mas, sim, a distinção dessas Pessoas, o que é diametralmente oposto aos ensinos do Novo Testamento, que assevera que há uma unidade composta de Deus em três Pessoas distintas.

Os modalistas pregavam a unidade absoluta de Deus, coisa que nem mesmo o Antigo Testamento ensina. Para apoiar tal ensino, “mutilaram ” textos neotestamentários. Seus principais representantes foram: Noeto, Práxeas e Sabélio. Segundo Hipólito, Noeto era natural de Esmima e ensinava que Cristo era o próprio Pai, e que o próprio Pai nasceu, sofreu e morreu (Contra Todas as Heresias, 10.23). Cipriano, bispo de Cartago, chamou tal heresia de patripassionismo (Epístolas, 72.4), do latim Pater, “Pai”, e passus de patrior, “sofrer”. Práxeas foi discípulo de Noeto, e o seu principal opositor foi Tertuliano. Em Contra Práxeas 1, Tertuliano disse: “Práxeas fez duas obras do demônio em Roma: expulsou a profecia e introduziu a heresia; afugentou o Parácleto e crucificou o Pai”. Dessa última escola destacou-se o bispo Sabélio, que se tom ou um grande líder desse movimento (por isso, os seus seguidores foram chamados de sabelianistas ou sabelianos). Por volta de 215, Sabélio já ensinava suas doutrinas em Roma. Pai, Filho e Espírito Santo são nomes, são “prosopa” (semblantes, faces), e não seres independentes. São reais em energias consecutivas; um vem depois do outro, aparecendo 0 mesmo Deus em faces diferentes. Trata-se do mesmo Deus agindo na História por meio de três semblantes. O “prosopon” do Pai aparece na sua obra criadora, como doador da lei. O ‘‘prosopon” do Filho aparece do nascimento à ascensão de Jesus. A partir da ascensão de Jesus surge o semblante do Espirito} doador da vida.81 Hipólito, em Contra Todas as Heresias, refutou essas idéias, que hoje são defendidas pelos unicistas. Arianísmo. E o nome da doutrina formulada por Ário e do movimento que ele fundou em Alexandria, no Egito, na primeira metade do quarto século. Ário era presbítero em Alexandria, no ano 318, quando a controvérsia começou. Sua doutrina contrariava a crença ortodoxa seguida pela da igreja. A controvérsia girava em torno da eternidade de Cristo. Atanásio (296-373), o inimigo implacável da doutrina de Ário, dizia que o Filho é eterno e da mesma substância do Pai; ou seja, homoousios, “da mesma substância; consubstanciai; o termo central para o argumento de Atanásio contra Ario e a solução do problema trinitariano oferecido no Concilio de Nicéia (325 d.C.)”. Ário, por outro lado, dizia que o Senhor Jesus não era da mesma natureza do Pai; era criatura, criado do nada, uma classe de natureza inferior à do Pai, nem divina e nem humana um a terceira classe entre a deidade e a humanidade.

 Segundo Ário, “Somente Deus Pai seria eterno e não gerado. O Logos, o Cristo pré-existente, seria mera criatura. Criado a partir do nada, nem sempre existira”.

 Os seus seguidores usavam a palavra anomoios “dessemelhante; um termo usado pelos arianistas extremistas da metade do quarto século, os assim chamados anomoianos, para arguir que a essência do Pai é totalmente dessemelhante da do Filho ”. Depois do Concilio de Nicéia, a controvérsia continuou, mas havia um grupo intermediário, semi-niceno, meio atanasiano e meio-ariano, que afirmava ser o Filho de natureza similar ou igual, e não da mesma natureza ou substância do Pai. Apoiavam-se no termo bomoiousios “de substância similar, aparência”; “de substância semelhante; um termo usado para descrever a relação do Pai para o Filho pelo partido não atanasiano, não ariano na igreja, seguindo o Concilio de Nicéia”.

 Essa discussão chamou a atenção do povo e também ganhou conotação política, considerada, hoje, como a maior controvérsia da história da igreja cristã. O imperador rom ano Constantino enviou mensageiros, com o propósito de uma conciliação, porém foi tudo em vão. Constantino, então, convocou um concilio na cidade de Nicéia, na Bitínia, Ásia Menor hoje Ismk, naTurquia, aberto em 19 de junho de 325, com a participação de 318 bispos provenientes do Oriente e do Ocidente, mas apenas vinte apoiaram a causa arianista, não obstante a sua grande popularidade.

Em Nicéia, o credo aprovado era decisivamente anti-arianista; apenas dois bispos não o assinaram. Até Eusébio da Nicomédia, arianista, assinou o credo elaborado nesse concilio. Depois, os pais capadócios Basílio de Cesaréia, Gregário de Nazianzo e Gregário de Nissa se encarregaram de “elucidar, definir e defender a doutrina trinitariana”.

 A formulação da doutrina da Trindade é o resultado dessas controvérsias cristológicas, na tentativa de harmonizar o monoteísmo com a deidade absoluta do Filho. Como uma doutrina, ela é uma indução humana das afirmações da Escritura; mas a indução, por ser feita com justeza, ê tão parte do ensino de Deus em sua palavra como ê qualquer uma das doutrinas que têm sido formalmente enunciadas ali.

 O Credo Niceno. Este, como vimos, veio do Concilio de Nicéia, que tratou da controvérsia arianista. Seu conteúdo enfatiza a divindade de Jesus Cristo e é, ao mesmo tempo, uma resposta à cristologia de Ario: Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Em um só Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de Deus, Luz de Luz; Vida de Vida, Filho Unigênito, Primogênito de toda a criação, por quem foram feitas todas as coisas; 0 qual foi feito carne para nossa salvação e viveu entre os homens, e sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e os mortos. Cremos também em um só Espírito Santo. O Credo de Atanásio ou Atanasiano, Depois do Concilio de Nicéia, em 325, muitos documentos circulavam nas igrejas sobre o assunto. O credo que hoje chamamos de Atanasiano expressa o pensamento de Atanásio e tudo o que defendeu durante toda a sua vida, conquanto não haja indícios confiáveis de que o texto seja de sua autoria. Esse credo não foi mencionado no Concilio de Êfeso, em 4. 3 1, nem no da Calcedônia, em 451, tampouco no de Constantinopla, em 38 1 . “O credo popularmente atribuído a Atanásio é, de m odo geral, considerado um cântico eclesiástico de autoria desconhecida, do século IV ou V ”.

 Assim declara o Credo Atanasiano: A fé universal é esta: que adoremos vim Deus em trindade, e trindade em unidade;  Não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância.

 

 

1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal.

2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente perecerá para sempre.

 3. Mas a fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em unidade.

4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância.

 5. Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo outra.

6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divindade, igual em glória e co-eterna majestade.

7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo.

8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado.

9. O Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado.

10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.

11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno.

12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um ilimitado.

 13. Do mesmo modo, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente.

14. Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.

15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.

16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus.

 17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor.

18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor.

19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores.

20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado.

 21. O Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado.

22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente.

23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. 24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor.

25. Mas todas as três pessoas co-eternas são co-iguais entre si; de modo que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser cultuada.

26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade.

27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo.

28. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem.

29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai; homem nascido no tempo da substância da sua mãe.

30. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e carne humana.

 31. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua humanidade.

32. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois mas um só Cristo.

33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver assumido sua humanidade.

34. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unidade de pessoa.

35. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo.

36. O qual sofreu por nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia.

 37. Ascendeu ao céu, sentou à direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para julgar os vivos e os mortos.

38. Em cuja vinda, todo homem ressuscitará com seus corpos, e prestarão conta de sua obras.

 39. E aqueles que houverem feito o bem irão para a vida eterna; aqueles que houverem feito o mal, para o fogo eterno.

40. Esta é a fé Universal, a qual a não ser que um homem creia firmemente nela, não pode ser salvo.

De sorte que por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas. Mais longo que o Niceno, trata-se de um credo que enfatiza, de m odo mais pormenorizado, a Trindade. Durante a Idade Média, dizia-se que Atanásio o escrevera no seu exílio, em Roma, e ofereceu-o ao bispo de Roma, Júlio I, para servir como confissão de fé. Desde o século IX se atribui o credo a Atanásio.

Na verdade, o Credo Atanasiano traz esse nome porque Atanásio defendeu tenazmente a ortodoxia cristã; no entanto, o autor do tal credo é desconhecido. Mencionado pela primeira vez em um sínodo, realizado entre 659-670, o credo em apreço serve como teste da ortodoxia desde o século V II, para os catolicismos romano e ortodoxo, bem como para o protestantismo.

O Credo Atanasiano afirma: “Adoramos um Deus em trindade e trindade em unidade. Não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância”. No trinitarianismo que honra as Escrituras  Jesus é Deus Todo-poderoso. No unicismo, Deus é Jesus. Os modalistas e unicistas de hoje confundem as Pessoas da Trindade. Mas a Palavra de Deus não nos deixa em dúvida, como já vimos: as três Pessoas são distintas.

No batismo de Jesus, o Espírito Santo veio sobre Ele, e o Pai falou desde o Céu, como lemos em Mateus 3.16,17: E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu 0 Espírito de Deus descendo corno pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é 0 meu Filho amado, em quem me comprazo.

Há inúmeras referências nos Evangelhos em que Jesus deixou claro que é uma Pessoa, e o Pai outra: “E na vossa lei está também escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou” (Jo 8.17,18). A Bíblia apresenta as três Pessoas em condições de igualdade (Mt 28.19). Jesus disse: “Eu e o Pai somos um ” (Jo 10.30). No Antigo Testamento. “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn I.I).

A Trindade está implícita no nome divino Elohim  isso já foi antecipado no estudo sobre os nomes de Deus. O nome hebraico usado para Deus é Elohim, onde vemos os primeiros vislumbres da Trindade. O verbo está no singular bara, “criou”, e o sujeito, no plural, Elohim, “Deus”, o que revela a unidade de Deus na Trindade.

Na criação do homem, a Trindade está presente, como lemos em Gênesis 1.26: E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre0 gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. As três Pessoas da Trindade atuaram em conjunto. O Filho criou todas as coisas e também o homem (Jo I . I -3; Cl  I 6); da mesma forma, o Espírito Santo (Jó 33.4; SI 104.30) e o Pai (Pv 8.22-30). Ou seja, quando falamos do Criador, devemos ter em mente a Trindade, pois as três Pessoas agiram juntas na gloriosa obra da criação de todas as coisas. Então, disse 0 SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente (Gn 3.22). Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro (Gn 11.7). Ora, por que “um de nós”, se Deus é único? Porque essa unidade é, na verdade, um a triunidade. Da mesma forma, encontramos isso em Gênesis 1 1.7. Por que “desçamos e confundam os”, e não “vou descer e confundir”? Se a Trindade não fosse uma verdade bíblica, que fazer com essas passagens? Dizer que Deus estava falando com os anjos é admitir que os anjos são divinos. Fica, pois, clara e patente a realidade da Trindade nessas passagens mencionadas. “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3). Outro ponto igualmente importante é essa visão do profeta Isaías, através da qual ele viu o “Senhor”, hb. Adonai (v.I). Esse mesmo Deus disse: “A quem enviarei e quem há de ir por nós?” (v.8). Notemos, novamente, a pluralidade presente na unidade divina. Mas outro detalhe que não devemos perder de vista, ainda na passagem em apreço, é o fato de o profeta, inspirado pelo Espírito, dizer que a Terra está cheia da glória de Jeová dos Exércitos. Ora, isso está associado ao que retrata o Novo Testamento acerca de Jesus, em João 12.39-41: Por isso; não podiam crer; pelo que Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos e endureceu lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure. Isaías disse isso quando viu a sua glória e falou dele. Ainda em Isaías 6 lemos, nos versículos 8 a 10: Depois disso, ouvi a voz do Senhor; que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então, disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim. Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; não venha ele a ver com os seus olhos, e a ouvir com os seus ouvidos, e a entender com 0 seu coração, e a converter-se, e a ser sarado. O texto sagrado m ostra que é o Deus de Israel quem fala por meio do profeta.

No entanto, o apóstolo Paulo, sob a inspiração divina, afirma que é o Espírito Santo quem fala, conforme lemos em Atos 28.25-27: E, como ficaram entre si discordes, se despediram, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou 0 Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, dizendo: Vai a este povo e dize: De ouvido, ouvireis e de maneira nenhuma entendereis; e, vendo, vereis e de maneira nenhuma percebereis. Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os ouvidos ouviram pesadamente e fecharam os olhos, para que nunca com os olhos vejam, nem com os ouvidos ouçam, nem do coração entendam, e se convertam, e eu os cure.

Isso significa que o Espírito Santo é o mesmo Deus de Israel. E isso é uma evidência de que a visão de Isaías revela a Trindade. Essa doutrina, portanto, em bora não tenha sido bem esclarecida nos tempos dos patriarcas, reis e profetas hebreus, para não confundir o povo com os deuses das religiões politeístas das nações vizinhas de Israel, está implícita no Antigo Testamento. No Novo Testamento. A Trindade só pôde ser ensinada explicitamente com o advento do Filho, o Senhor Jesus, e com a manifestação do Espírito Santo, como veremos a partir de agora. “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito S anto” (Mt 28.19). Apesar de a Bíblia ensinar que há a unidade de Deus, convém-nos nunca perder de vista que “a Bíblia também ensina que Deus não é uma mônada estéril, mas existe eternamente em três pessoas”.

Esse relacionamento das três Pessoas é visto em Gênesis 1.26; 3.22; 1 1.7; Isaías 6.8; e João 17.5. A expressão “em nome” está no singular. O unicismo afirma que esse “nome” é Jesus; portanto, o nome dEle, segundo esse falacioso movimento moderno, é “Pai, Filho e Espírito Santo”. Esta interpretação não honra a Palavra de Deus. No singular, a palavra “nome” é distributiva, como no texto hebraico de Rute 1.2. Em bora apareça no plural, na ARC — “e os nomes de seus dois filhos, Malom e Quiliom ” , no hebraico, está no singular, shem, “nom e” (veshem shene-banav, “e o nome dos dois filhos”). O mesmo ocorre na Septuaginta: onoma, “nome” (kaí onoma tois dysín buioís, “e o nome dos dois filhos”). Observe que o nome, na passagem acima, refere-se tanto a Malom quanto a Quiliom; essa é a mesma construção de Mateus 28.19, “e não faz confusão entre eles. Se tivesse sido empregado o plural, ‘nomes’, a Bíblia precisaria dar mais de um nome a cada”.

O texto sagrado menciona, por conseguinte, três Pessoas distintas em um a só divindade. “Em nome” quer dizer em nome de Deus, do único Deus que subsiste eternamente em três Pessoas. Essa declaração de Jesus, na fórmula batismal, tem como base o conceito da triunidade de Deus. Jesus não disse: “Em nome do Pai, em nome do Filho e em nome do Espírito Santo”. Isso porque Ele mencionou um só nome: o nome do Deus Todo-poderoso, subsistente em três Pessoas.

O Filho e o Espírito Santo estão igualados nessa passagem.

O batismo no nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, no nome da Trindade. “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (I Co 12.4-6). Aqui o apóstolo Paulo mostra o aspecto trinitário. Como, na Trindade, não existe primeiro e último (as três Pessoas são iguais), são mencionadas, nessa passagem, na ordem inversa em relação à constante de Mateus 28.19. A passagem de I Coríntios 12 a 14 trata dos dons do Espírito Santo. O termo “Senhor” (12.5) se refere ao Filho, e “Deus” (12.6), ao Pai. O nome “Deus”, theos, no Novo Testamento grego, quando vem acompanhado do artigo e sem outra qualificação, refere-se sempre ao Pai.

 O culto cristão é adoração a Deus, e Deus, portanto, é quem opera no culto. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos; 0 qual é sobre todos, e por todos, e em todos (Ef 4.4-6). Novamente, encontramos, no texto acima, a fórmula trinitária: o Deus-Pai, o Deus-Filho e o Deus-Espírito. Cada uma das três Pessoas desempenha um papel na igreja. Essa verdade, ensinada primeiramente aos crentes de Efeso, consta também do Credo de Atanásio não se deve confundir as Pessoas; Pai é Pai, Filho é Filho, e Espírito Santo é Espírito Santo. Um só Pai, um só Filho e um só Espírito Santo. Há, portanto, um Pai, não três Pais; um Filho, não três Filhos; um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta trindade não existe primeiro nem último; maior nem menor. Mas as três Pessoas são co-eternas, são iguais entre si mesmas; de sorte que por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas.

As três Pessoas estão presentes, atuando cada um a na sua esfera de atuação, em perfeita harmonia e perfeita unidade: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos” (2 Co 13.13).

Esta é a mais bela bênção das epístolas paulinas, conhecida como a “bênção apostólica”, que poderia também ser chamada de “bênção trinitariana”.

No Antigo Testamento, também há uma bênção tríplice, a sacerdotal; nela Deus aparece três vezes. Ele determinou que o sacerdote assim abençoasse os filhos de Israel: “ O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26). Como se vê, existe harmonia entre os dois Testamentos quanto à doutrina da Trindade.

Há outras inúmeras passagens bíblicas que mostram textualmente que cada u m a dessas Pessoas é Deus absoluto, além de enfatizarem os seus atributos divinos e as suas operações e obras, as quais serão mencionadas no fim deste capítulo.

As três Pessoas da Trindade

As Escrituras Sagradas afirmam que existe um só Deus; e Deus é um só. O Pai é o Deus-Jeová, da mesma forma que o Filho e o Espírito Santo são, igualmente, o mesmo Deus-Jeová. Trata-se, não de três Deuses, e sim de um só Deus que subsiste em três Pessoas. Por mais que tentemos explicar a Trindade, ela é um mistério. “Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador” (Is 45.15), ou: “tu és Deus misterioso” (ARA). Se o Todo-Poderoso pudesse ser sondado e esquadrinhado pela mente humana, seria limitado e deixaria de ser Deus. O termo “Pessoa”, empregado para definir as três identidades distintas da Trindade, em certo sentido é inadequado. Daí os pais da igreja evitarem o seu uso para identificar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na Trindade. O vocábulo, do grego prosopon, significa “rosto, face, expressão” — literalmente, “aquilo que aparece diante dos olhos”, “aparência”, “aspecto”, “manifestação”. “Pessoa” é “um termo menos técnico que hípostasis ou subsístentia, usados para se referir às Pessoas da Trindade ou à Pessoa de Cristo”.

 Seu equivalente latino é persona, termo empregado por Tertuliano com o sentido de “máscara”, a fim de refutar as heresias dos sabelianistas. A conotação, no caso, era com as máscaras que os atores usavam para representar personagens no teatro grego.

Aplicando o termo em análise ao que chamamos de Pessoas da Trindade, alguém poderia ser induzido a crer no sabelianismo ou no modalismo. Por essa razão, os pais da igreja preferiam chamar as Pessoas divinas de bomoousios, “um ser” ou hípostasis. Hipóstase significa “forma de ser ou de existir”, que vem de duas palavras gregas hypo, “sob”; e istathai, “ficar”. Nas discussões teológicas sobre a doutrina da Trindade, na era patrística, tal palavra foi aplicada como sinônimo de ousia, “essência, ser”.

 O reformador protestante Calvino preferia chamá-la de Subsístentia.

 A palavra “pessoa” diz respeito à parte consciente do homem que pensa, decide e sente; constitui o caráter, a identidade e a individualidade. Por isso, não devemos confundir pessoa com homem. No caso deste, a sua pessoa é o seu “eu”. E até possível o uso alternativo de pessoa e homem como ser, indivíduo, sujeito, personalidade, identidade, caráter, mas isso nunca deve acontecer quando o assunto diz respeito às três Pessoas da Trindade. No caso do Deus trino, é necessário haver restrição. Não são três seres, indivíduos ou sujeitos, e sim três identidades conscientes. A natureza de Deus é uma, enquanto as Pessoas divinas, três. A Trindade é a união de três identidades pessoais em um só Ser ou Indivíduo trata-se, pois, de uma só existência ou essência.

 

 A divindade e os atributos Divinos do Filho

 

 As Escrituras enfatizam textualmente, de maneira inconfundível, a divindade do Senhor Jesus Cristo e os seus atributos divinos, como lemos em Isaías 9.6: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

Na profecia messiânica acima mencionam-se o nascimento e o ministério de Jesus. Dos nomes apresentados, um mostra expressamente que Ele é Deus Forte, e o outro revela um atributo incomunicável exclusivo da deidade, a eternidade Pai da Eternidade. Analisemos outras passagens: Eis que vêm dias, diz 0 Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e prosperará, e praticará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro: e este será o seu nome, com que o nomearão: O Senhor Justiça Nossa (Jr 23.5,6). O nome “O Senhor Justiça Nossa” é, em hebraico, YHWH Tsidkenu. Temos, pois, outra profecia messiânica pela qual são mencionados atributos e títulos de Jesus: Renovo de Davi, Renovo justo, Rei de toda a Terra, Salvador de Israel. Tais descrições estão reveladas no Novo Testamento na Pessoa de Jesus (Rm 1.3; At 3.14; 4.12; Ap 19.16). Por fim, o Renovo de Davi, o Messias, é chamado de Jeová Justiça Nossa. E fugireis pelo vale dos meus montes porque o vale dos montes chegará até Azei) e fugireis assim como fugistes do terremoto nos dias de Uzias, rei de Judá; então, virá 0 Senhor, meu Deus, e todos os santos contigo, ó Senhor (Lc 14.5). A profecia acima é escatológica e fala do grande livramento de Jerusalém, por ocasião da Segunda Vinda de Jesus.

 O Messias é chamado de “Jeová, meu Deus”, com todos os santos com Ele. Comparemos a profecia de Zacarias com a citada em Judas v.I4: “E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos”. No princípio era 0 Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez (Jo 1.1-3).

Na segunda parte do primeiro versículo, em grego, aparece o artigo definido antes do nome de Deus, ton theon, “o Deus”. E já vimos, anteriormente, que tbeos, no Novo Testamento grego, quando acompanhado de artigo e sem outra qualificação, refere-se sempre ao Deus-Pai. O nome theos, na terceira cláusula da passagem, é predicativo do sujeito, anteposto ao verbo e sem o artigo definido: kai theos en ho logos, “e o Verbo era Deus”. Segundo Martinho Lutero, “a falta de um artigo é contra o sabelianismo e a ordem da palavra é contra o arianismo”.

Portanto, o Senhor Jesus Cristo é Deus e tem todos os atributos do Pai, conquanto não seja a primeira Pessoa da Trindade. Em Romanos 9.5, está escrito: “Dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém”. Há, neste texto, em português, um problema de pontuação. Como na antiguidade não havia sinal gráfico para pontuar, a construção apresentada na versão Almeida Revista Atualizada (ARA) e na Tradução Brasileira é natural. Acerca desse emprego Robertson afirmou: Esta é a maneira natural de tomar o sentido da oração, cuja pontuação própria e literal é a seguinte: “O qual é sobre todas as coisas Deus bendito pelos séculos... ” A interposição de um ponto e seguido depois de “sarka” (ou de um ponto e vírgula) e a iniciação de uma nova oração para a doxologia tem um resultado mui brusco e forçado.

 O termo sarka, de sarx, é a palavra grega para “carne”. A pontuação pode, por conseguinte, mudar o sentido da mensagem. Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus (Fp 2.6). O texto sagrado acima afirma que o Senhor Jesus não considerou usurpação o ser exatamente igual a Deus, e isso ensina a deidade absoluta de Jesus Cristo. O verbo grego traduzido por “sendo” é hyparcho, “ser, estar em existência”.  Portanto, “tem o sentido de um estado permanente: Cristo existia e existe eternamente na forma de Deus”.

Assim, em Fp 2.6, a expressão: ,‘que sendo em forma de Deus” implica sua deidade preexistente, anterior ao seu nascimento e sua deidade que continua depois.

 A palavra expressa a continuação de um estado ou condição anterior.

Outra palavra que devemos considerar, nessa passagem, diz respeito ao substantivo morphe, que significa “forma”, na sua essência, e não simplesmente aparência. Morphe “denota ‘a forma ou traço especial ou característico’ de uma pessoa ou coisa. E usado com significado particular no Novo Testamento, somente acerca de Cristo, em Fp 2.6, nas frases: ‘sendo em forma de Deus’ e ‘tomando a forma de servo’.”

 O substantivo morphe aparece apenas três vezes no Novo Testamento grego (Fp 2.6,7; Mc 16.12). Contrasta-se com schema, que significa “forma”, no sentido de aparência externa, e não como essência e natureza, como acontece com o primeiro. “Que, sendo em forma de Deus” mostra que Jesus era Deus antes da sua encarnação, assim como 2 Coríntíos 8.9, onde o apóstolo usa a mesma construção: “que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre”. É correto afirmar que Jesus não era rico antes de sua encarnação? Não, absolutamente! No texto de Filipenses encontramos a mesma coisa: “sendo em forma de Deus tomou a forma de servo”. O verdadeiro Deus tornou-se verdadeiro Homem.

 A passagem enfatiza a humildade. Evidentemente, os cristãos devem imitar a Cristo, não disputando com os irmãos os seus privilégios, pois Ele, sendo Deus, não fez uso de suas prerrogativas, mas assumiu a forma de Servo, mantendo-se fiel até a morte. Da mesma maneira, os cristãos devem seguir tal exemplo de humildade e fidelidade. A ênfase do texto, pois, não indica que eles sejam “em forma de Deus”. O termo grego harpagmon, traduzido por “usurpação”, significa “apoderar-se, arrancar violentamente”.

Não existe a questão em Cristo tentar arrebatar ou apoderar-se da igualdade com Deus: ele é igual a Deus, porque o fato de ele ser igual a Deus, não é usurpação; Cristo é Deus em sua natureza. Tampouco existe a questão de Cristo tentar reter essa igualdade pela força. A questão fundamental é, antes, que Cristo não usou sua igualdade com Deus como desculpa para auto-afirmação, ou autopromoção; ao contrário; ele a usou como ocasião para renunciar a todas as vantagens ou privilégios que a divindade lhe proporcionava, como oportunidade para auto-empobreamento e auto-sacrifício sem reservas. “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). As palavras “divindade” e “deidade” no texto grego é theotes, que só aparece uma vez no Novo Testamento grego. Essa essência divina ou deidade absoluta, disse o apóstolo Paulo, habita corporalmente em Cristo Deus-Homem e Homem-Deus.

Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo (Tt 2.13). Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram  igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo (2 Pe l. I). O apóstolo Paulo empregou um só artigo, que significa “do”, para o “grande Deus e nosso Salvador Cristo Jesus”.

A presença de um só artigo, nessas passagens e a mesma coisa acontece em 2 Pedro I . I, revela a menção de uma só Pessoa.

 O texto sagrado apresenta, pois, de maneira direta e inconfundível que Jesus é o “grande Deus”, o “nosso Deus e Salvador”. Além de todos os textos que ensinam explicitamente que o Senhor Jesus é Deus, encontramos os atributos incomunicáveis (exclusivos) da divindade do Pai no Filho. Jesus Cristo é:

·       Eterno (Is 9.6; M q 5.2; Jo I . I -3; 8.58; H b 13.8);

·       Onipotente (M t 28.18; E f 1.21);

·       Onipresente (M t 18.20; 28.20);

·       Onisciente (Jo 2.24, 25; 16.30; 21.17; Cl 2.2,3);

·       e Criador (Jo I.I-3 ; Cl 1.16-18; H b 1.2,10).

 

Divindade e atributos divinos do Espírito Santo

As Escrituras revelam textualmente, de maneira inconfundível, a divindade do Espírito Santo, além de seus atributos divinos, iguais aos do Pai e do Filho. O divino Consolador é igual em poder às outras Pessoas da Trindade, tendo também um nome: “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Diante desta passagem, seria um absurdo se o Espírito Santo não fosse Deus! O Espírito do SENHOR falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca. Disse 0 Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Haverá um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus (2 Sm 23.2,3). Sucedeu, pois, no sexto ano, no mês sexto, no quinto dia do mês, estando eu assentado na minha casa, e os anciãos de Judá, assentados diante de mim, que ali a mão do Senhor JEOVA caiu sobre mim... E estendeu a forma de uma mão e me tomou pelos cabelos da minha cabeça; e o Espírito me levantou entre a terra e 0 céu e me trouxe a Jerusalém em visões de Deus, até à entrada da porta do pátio de dentro, que olha para o norte, onde estava colocada a imagem dos ciúmes, que provoca 0 ciúme de Deus (Ez 8.1,3).

 O profeta Ezequiel afirmou que “a mão do Senhor JEOVÁ” caiu sobre ele; em seguida, declarou que “o Espírito me levantou entre a terra e o céu”. Isso revela que o Deus de Israel é o mesmo Espírito Santo. Teologia a Doutrina de Deus Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás 0 teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus (At 5.3,4). De acordo com a passagem supramencionada, a quem Ananias mentiu, ao Espírito Santo ou a Deus? Observe que Deus e o Espírito Santo são uma mesma divindade. Ora, 0 Senhor é 0 Espírito; t; onde está o Espírito do Senhor; aí há liberdade. E todos nós, com 0 rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor; somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor; 0 Espírito (2 Co 3.17,18). Além de todos os textos que ensinam explicitamente que o Espírito Santo é Deus, encontramos também na Palavra de Deus todos os atributos da divindade.

O Consolador é:

·       Eterno (Gn 1.2; H b 9.14);

·       Onipotente (Zc 4.6; Lc 1.35; Rm 15.13,19);

·       Onipresente (SI 139.7-10; I Co 3.16; Jo 14.17);

·       Onisciente (Ez 1 1.5; Rm 8.26,27; I Co 2.10,11; Lc 2.26; IT m 4.1; I Pe I.I I);

·       E Criador (Jó 26.13; 33.4; SI 104.30).

 

As obras de cada pessoa da Trindade

Para concluir este capítulo, citaremos algumas referências que corroboram o estudo sobre a Trindade. É muito importante que o estudioso do assunto leia todas as passagens abaixo. Cada uma das três Pessoas da Trindade é autora do novo nascimento: o Pai (Jo I.I3 ), o Filho (I Jo 2.29) e o Espírito Santo (Jo 3.5, 6); e cada uma delas ressuscitou Jesus: o Pai (At 2.24; I Co 6.14), o próprio Filho (Jo 2.19; 10.18) e o Espírito Santo (I Pe 3.18).

De acordo com as Escrituras, cada Pessoa da Trindade habita nos fiéis:

·       O Pai (Jo 14.23; I Co 14.25; 2 Co 6.16; E f 4.6; I Jo 2.5; 4 .I2 -I6 ),

·       O Filho (Jo 17.23; 2 Co 13.5; Gl 2.20; E f 3.17; I Jo 3.24; Ap 3.20) e

·       O Espírito Santo (Jo 14.17; Rm 8.11; I Co 3. 16; 6.19; 2 Tm I.I4 ;Tg 4.5).

Além disso, cada uma dá a vida eterna:

·       O Pai (I Jo 5.11),

·       O Filho (Jo 10.28)

·       E o Espírito Santo (G1 6.8).

O Pai, o Filho e o Espírito deram aos apóstolos poder para operar milagres:

·       O Pai (At 15.12; 19.1 1; H b 2.4),

·       O Filho (At 4.10, 30; 16.18)

·       E o Espírito Santo (At 2.2-4; 10.44-46; 19.6; Rm 15.19);

 E falaram pelos profetas e apóstolos:

·       O Pai (Jr 1.9; Lc 1.70; At 3.21),

·       O Filho (Lc 21.15; 2 Co 13.3; I Pe I .I I )

·       E o Espírito Santo (2 Sm 23.2; M t 10.20; Mc 13.II).

Cada uma delas inspirou as Escrituras:

·       O Pai (Ex 4.12; 2 Tm 3.16; Hb I.I),

·       O Filho (2 Co 13.3; I Pe I . I I )

·       E o Espírito Santo (2 Sm 23.2; Mc 12.36; At 11.28; 2 Pe I.2 I);

E guiou o povo de Deus:

·       O Pai (Dt 32.12; SI 23.2; 73.24; Is 48.17),

·       O Filho (M t 16.24; Jo 10.4; I Pe 2.21)

·       E o Espírito Santo (SI 143.10; Is 63.14; Rm 8.14; G1 5.18).

Não há dúvidas, à luz da Palavra do Senhor, quanto à Trindade, pois cada uma das Pessoas, ainda, distribui os dons espirituais:

·       O Pai (I Co 12.6; Hb 2.4),

·       O Filho (I Co 12.5)

·       E o Espírito Santo (Jo 14.26; I Co 12,8-11);

e santifica os fiéis:

 

·       O Pai (Jo 14.23; I Co 14.25; 2 Co 6.16; E f 4.6; I Jo 2.5; 4.12-16),

·       O Filho (Jo 17.23; 2 Co 13.5; G1 2.20; E f 3.17; I Jo 3.24)

·       E o Espírito Santo (Jo 14.17; Rm 8.11; I Co 3.16; 2 Tm I.I4 ;T g 4.5).

Finalmente, cada uma delas dá missão aos profetas; envia os apóstolos e ministros:

 

·       O Pai (Is 48.16; Jr 25.4; I Co 12.28; G1 I.I),

·       O Filho (Mc 16.15; 2 Co 5.20; G1 I.I; E f 4 .1 1)

·       E o Espírito Santo (Is 48.16; At 13.2,4; 16.6-7; 20.28);

 

E ensina os fiéis:

·       O Pai (Is 48.17; 54.13; Jo 6.45),

·       O Filho (Lc 21.15; Jo 15.15; E f 4.21; G1 1.12)

·       E o Espírito Santo (Lc 12.12; Jo 14.26; I Co 2.13).

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário