sábado, 16 de julho de 2022

Série: As 10 doutrinas da Teologia Sistemática 6ª- Soteriologia

 Por: Jânio Santos de Oliveira

  Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra

 Pastor Presidente: Eliseu Cadena

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  Email ojaniosantosdeoliveira@gmai.com

 


Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!  

As 10 doutrinas da Teologia Sistemática.

 Sumário geral

Capítulo 1

Bibliologia — a doutrina das Escrituras

Capítulo 2

Teologia — a doutrina de Deus

 Capítulo 3

 Cristologia — a doutrina de Cristo

 Capítulo 4

Pneumatologia — a doutrina do Espírito Santo

  Capítulo 5

Antropologia — a doutrina do homem

Capítulo 6

 Soteriologia — a doutrina da Salvação

 Capítulo 7

Eclesiologia — a doutrina da Igreja

 Capítulo 8

Angelologia — a doutrina dos Anjos

Capítulo 9

Hamartiologia - a doutrina do pecado

Capítulo 10

 Escatologia — a doutrina das últimas coisas

 



I.                   A providência salvadora.

O pecado do homem

Começamos nosso estudo sobre o que a Bíblia ensina a respeito da salvação explicando quem é que necessita da salvação e por quê (Rm 3.23). Entre os porquês temos:

1. A Depravação Total. A raiz do problema que o homem confronta é a sua própria natureza pecaminosa, herdada de Adão (SI 51.5; Jr 17.9; Rm 7.18).

2. A Culpa Universal. No Antigo Testamento, vemos que Salomão observou que não havia homem algum que não necessitasse da salvação (Ec 7.20), e no Novo Testamento, o apóstolo Paulo fez a mesma observação (Rm 3.10).

3. A Culpa de Adão. Agostinho, um dos “Pais da Igreja”, propôs uma teoria em que afirmava que todos os homens são culpados diante de Deus por causa do pecado cometido por Adão. Esta teoria foi mais tarde enfatizada por Calvino, que a introduziu na teologia evangélica. Em oposição a esta teoria, a Bíblia afirma que o homem dará conta a Deus (Rm 14.12).

Aspectos e tipos da graça de Deus manifesta ao homem

A graça de Deus é um dos temas predominantes em toda a Bíblia e envolve dois aspectos: o favor imerecido de Deus, por Ele expresso a todos os pecadores, e o poder divino que refreia o pecado, atrai os homens a Deus e regenera os crentes. Citamos três tipos da graça de Deus manifesta aos homens:

Graça por Graça: Não deve se confundir a graça de Deus como uma “obrigação divina”. E somente o profundo amor de Deus que O constrange a providenciar a salvação e até a convencer o homem a aceitá-la. Ler João 1.16.

Graça Comum: Devido à sua natureza depravada, o homem é incapaz de, por si mesmo, procurar agradar a Deus. Por este motivo, Deus tem concedido “graça comum” . Esta “graça comum” não salva automaticamente o homem, mas revela-lhe a bondade de Deus.

 

Graça Especial: A “graça comum” concede a cada homem a capacidade de buscar a Cristo. A medida que o homem responde afirmativamente à graça que o atrai a Deus, ele é beneficiado por uma “graça especial”, que o ajuda a chegar cada vez mais perto dEle. Entretanto, esclarecemos que esta graça especial não garante a decisão da parte do homem, quanto à sua comunhão com Deus.

Enquanto continuar a responder afirmativamente à graça de Deus, o homem será o agente pelo qual receberá a justificação (Tt 3.7), a regeneração (Jo 3.3), a santificação (At 26.18) e a segurança em Deus (I Pe 1.5).

A provisão de Cristo

Na provisão de Cristo, vemos que a fonte da nossa salvação é a graça de Deus, mas não se deve confundir graça com tolerância, pois Deus é amor, mas é também justiça e santidade. Então, como pode Deus ser justo e ainda salvar pecadores? A resposta está no fato de que Deus não desculpou o pecado, antes o removeu, quando ofereceu a Si mesmo como um cordeiro (Is 53).

No Antigo Testamento, ao oferecer um sacrifício pelo pecado, colocava-se as mãos na cabeça da vítima, transferindo simbolicamente os pecados para o animal substituto

(Êx 29.10; Lv 1.1-5; Nm 8.12). Semelhantemente, Cristo carregou o fardo do pecado da humanidade (Is 53.10,11).

Durante o sacrifício era feita a imolação do cordeiro,

que representava a sua vida em substituição à vida do ofensor. Do mesmo modo, Cristo tornou-se o sacrifício expiatório em favor do mundo (Rm 5.8). O passo final era cozinhar parte da carne, que então era consumida pelo ofensor. A participação no sacrifício indicava que o ofensor tinha restabelecido a sua comunhão com Deus (Hb 10.19,20).

A extensão da provisão divina

Durante séculos a Igreja tem argumentado sobre a pergunta: “Por quem Cristo morreu?”. Se alguém responde: “Pelo mundo inteiro”, outro pode objetar: “Então por que todos os homens não são salvos?”. Se alguém responde: “Ele morreu somente pelos eleitos, os quais Deus sabe que crerão”, alguém alegará que Deus, por esta razão, não é justo, uma vez que nem todos os homens têm, obviamente, possibilidade de serem salvos. Examinemos como as Escrituras respondem a esta pergunta:

 

a) A provisão divina pelo mundo. A Bíblia ensina enfaticamente que a redenção de Cristo é suficiente para todos os homens (2Co 5.14; Hb 2.9; l jo 2.2).

b) A provisão divina especial pelos que creem. Mesmo as múltiplas promessas mostrando que Cristo morreu pelo mundo inteiro, há um sentido em que a expiação é uma provisão divina feita especialmente por aqueles que creem em Cristo (l Tm 4-10). Cristo é a provisão de Deus para a salvação de todos os homens, mas esta salvação é aplicável somente àqueles que nEle creem. Ler 2 Coríntios 5.18-20; Mateus 20.28; João 11.51,52; 15.13; Tito .14.

c) Alguns, pelos quais Ele morreu, perecerão. Em resposta àqueles que creem que a propiciação efetuada por Cristo salvará todos os homens, basta observar que a Bíblia declara que existem aqueles por quem Cristo morreu e que não obterão a vida eterna. Entre estes estão os que aceitam a expiação e depois a rejeitam, e também aqueles que recusam aceitá-la. Observemos esses dois grupos lendo 1 Coríntios 8.11 e 2 Pedro 2.1.

A provisão salvífica, efetuada na cruz, sozinha, sem fé, não pode garantir a chegada de ninguém no céu. Por outro lado, fé, sem propiciação, não tem efeito.

 

II.                Os quatro aspectoa da provisão de Cristo

Dedicamos esta parte do texto ao exame dos dois grandes eventos: a morte de Cristo e Sua ressurreição. Ao estudá-los, encaremo-los como a provisão de Cristo para a salvação do mundo, considerando quatro aspectos diferentes desta salvação:

1. Substituição; 2. Ressurreição; 3. Reconciliação; 4- Redenção.

São quatro pontos de vista inter-relacionados dos mesmos eventos. Mesmo assim, cada conceito tem uma ênfase específica que ensina uma verdade valiosa a respeito da provisão que Deus fez para salvação.

 

Ao enfatizarmos a substituição, ressaltaremos a culpa do homem, que quebrou a Lei de Deus. Estudando a reconciliação, contemplaremos a cruz como o meio para se vencer a inimizade que existia entre Deus Santo e o homem pecador. Finalmente, ao falar da redenção, ressaltaremos a libertação da humanidade da escravidão do pecado.

Substituição: o problema da culpa do pecador

A Bíblia não deixa dúvida alguma quanto à exigência de Deus para a salvação, que é perfeita retidão (Lv 18.5; Ez 18.5-9; Mt 19.17). Sendo o homem condenado à morte por causa do pecado, a solução para esta situação crítica é a substituição vicária de Cristo, que satisfaz a penalidade da Lei mediante Sua morte.

A penalidade pela culpa do homem não somente o exclui do céu por causa do seu pecado como sentencia-o à morte (Ez 18.4). Alguns erroneamente pensam que Deus aboliu a necessidade da realização da penalidade ou aboliu a dívida do pecado.

Mas Deus não apagou a dívida simplesmente: Ele mesmo pagou essa dívida na pessoa do Seu Filho, Jesus Cristo. Desta maneira, voltou-se à única solução possível: Seu Filho, que morreria vicariamente no lugar de todos os homens.

A Bíblia diz que: “Aquele que não conheceu pecado, ele (o Pai) o fez (Cristo) pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2Co 5.21). Não quer isto dizer que Cristo tornou-Se pecador, mas, sim, explica que tomou sobre Si a plena responsabilidade pelos nossos pecados (Hb 9.28, Hb 2.9; Is 53.6; I Pe 3.18). Visto que o homem é insuficiente para salvar-se, a morte vicária de Cristo satisfez as exigências da Lei quanto à morte pelo pecado.

Ressurreição: o problema da “morte espiritual” do pecador

Sem ressurreição, a cruz teria feito de Cristo o maior mártir do mundo. Mas a cruz, com a ressurreição, fez dEle o único Salvador do mundo, pois, somente o poder da ressurreição poderia levar os homens a alcançarem esta nova vida (I Pe1.3).

A Bíblia não promete que os crentes serão poupados da morte física. O que a Bíblia promete mesmo é a vitória final sobre a morte. A ressurreição de Cristo é a garantia da vitória sobre a morte (I Co 15.26,55,57).

 

Reconciliação: o problema da alienação do pecador

A razão fundamental em reconciliar o homem com Deus não era o ódio de Deus contra o homem, mas, sim, contra o pecado do homem. Deus nunca cessou de amar o homem e a prova disto é que Ele mesmo providenciou a solução para o restabelecimento da comunhão com a humanidade (Rm 5.8,10; 2Co 5.19).

A obra da reconciliação entre Deus e o homem foi completada no momento da morte de Cristo, quando exclamou: "Está consumado” (Jo 19.30). Entretanto, o fato da obra de Cristo na cruz garantir provisão para a reconciliação não significa que todos os homens estejam bem com Deus. Este processo de reconciliação não depende exclusivamente de Deus, mas também da disposição do homem de se reconciliar com Ele (2Co 5.20).

E quanto aos santos do Antigo Testamento? Eles foram reconciliados com Deus?

A resposta encontra-se achada na palavra kafar do Antigo Testamento, que significa cobrir, e que é traduzida por expiar. Outra palavra importante referente à reconciliação é a palavra grega hilascomai, traduzida por propiciação, no Novo Testamento. Esta palavra significa reconciliar ou aplacar, propiciar.

Redenção: o problema da escravidão do pecador

A redenção abarca a substituição, a ressurreição e a reconciliação. No Antigo Testamento, a base da redenção tem sua origem no conceito de resgate (Lv 25.51). O conceito central de redenção é, pois, libertar alguém pagando o preço do seu resgate. O Novo Testamento descreve a redenção em termos da compra de um escravo no mercado de escravos.

O crente vive no meio de um campo de batalha espiritual. Em

Cristo, já não estamos escravizados do poder de Satanás, mas devemos estar alertas quanto aos ataques do inimigo, e a melhor defesa contra ele é o uso constante da armadura de Deus (Ef 6.11-17).

O preço da redenção do pecador

O amor de Deus o levou a dar seu filho Jesus como pagamento da redenção da queda do homem. Salmos 49.7,8 diz que nenhum homem pode pagar o resgate da alma do seu semelhante, mas a morte de Cristo foi suficiente para salvar todos os homens (2Co 5.14; Hb 9.12,28; 7.27; 10.10).

 

A Bíblia se refere como o preço da redenção o derramamento do sangue de Cristo (At 20.28; Ef 1.7; I Pe 1.18,19). A palavra sangue é sinônimo de vida no contexto da oferta de sacrifícios vicários (Lv 17.11). Sem derramamento de sangue não poderia haver remissão para os nossos pecados (Hb 9.22). A prova de que Cristo satisfez o preço da redenção é visto na resposta imediata do céu (Lc 23.45).

A aplicação da redenção à vida do crente deve ser manifesta na atitude de se odiar o pecado e de se apegar firmemente à retidão (I Pe 1.14, 18; I Co 6. 20 ).

 

 

III.             O lado Divino da provisão do pecador


Neste texto estudaremos os esforços da parte de Deus quanto à experiência da conversão do pecador, observando especialmente o significado das palavras: conhecer de antemão (presciência), eleger, predestinar e chamar.

A presciência de Deus

Presciência é o aspecto da onisciência relacionado com o fato de Deus conhecer todos os eventos e possibilidades futuros. A palavra no Novo Testamento traduzida por presciência (ou: conhecer de antemão) é prognosis, da qual deriva a palavra prognóstico, em português. Significa saber antes (pro = antes; gnosis = saber ou conhecer). Ler Daniel 2,7; Isaías 44.26-28; 45.1-7; Mateus 11.21.

Relacionando com as escolhas do homem, a presciência divina não afeta as decisões do homem e nem seu livre-arbítrio. A presciência de Deus não deve causar confusão mas, sim, confiança. Presciência é uma garantia da certeza de que os planos e propósitos de Deus para a Igreja nunca serão frustrados (At 2.23; 26.5; Rm 3.25, 8.29, 11.2; IPe 1.2,20; 2Pe3.17).

A eleição

Eleição é uma das palavras mais comuns na Bíblia, mas tem sido frequentemente mal interpretada, de modo que os crentes tendem a evitá-la. A eleição não significa que Deus escolhe alguns para serem salvos e outros para serem perdidos, sem qualquer participação das pessoas nessa escolha. Examinemos o significado verdadeiro da eleição.

A palavra eleição significa escolha. Esta palavra foi usada no Antigo Testamento para descrever a escolha que Deus fez de alguns indivíduos, de algumas famílias e da nação de Israel para privilégios especiais ou propósitos divinos. E empregada primeiramente para descrever a escolha que Deus fez de Cristo para a tarefa de consumar a salvação, mas também Sua escolha dos que estão “em Cristo” para salvação.

No que diz respeito à salvação, eleição é a escolha da parte de Deus de homens para a salvação e privilégios, baseada na escolha que, inicialmente, eles fizeram de viver com Deus.

A Predestinação

A predestinação é uma das doutrinas mais consoladoras da

Bíblia, quando devidamente entendida. Sua essência jaz no fato de que Deus tem um plano geral e original para o mundo e que

Seus propósitos nunca serão baldados.

Na definição de predestinação, é necessário entendermos em primeiro lugar o que ela não é. Certamente não é uma manipulação de faculdade de escolha do homem. A predestinação nunca predetermina as escolhas do homem, mas, sim, preordena as escolhas de Deus no que concerne ao Seu relacionamento com as inclinações, necessidades e escolhas do homem (Rm 8.28,29; Ef 1.5,11,12).

O Chamamento

Deus jamais força pessoa alguma a aceitá-lO, mas, certamente, convida todos os homens a receberem a salvação. Este convite inclui o dom da graça e o poder do Espírito Santo para convencer, que ajudam o homem na decisão pela sua salvação. Os atos da graça divina mediante os quais Deus concede e ajuda o homem a receber a salvação são conhecidos como “o chamamento de Deus” (Rm 8.28).

É importante compreender que o chamamento de Deus à salvação é tanto universal quanto resistível. Há três argumentos das Escrituras que descrevem a universalidade do chamamento de Deus ao pecador, a saber:

1º. Argumento. Declara que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. Ele não força a decisão do homem, mas Seu próprio desejo é que o mundo O receba (2Pe3.9).

 

2º. Argumento. Envolve a natureza universal do chamamento divino, conforme se percebe no mandamento de Cristo no sentido de evangelizar o mundo inteiro. Os crentes são conclamados a “proclamar” o Evangelho ao mundo inteiro e “persuadir” os homens a aceitá-lO (Mc 16.15; 2Co 5.11).

39. Argumento. A natureza universal do chamamento de Deus é revelada no “convite da Escritura” (Is 55.1; Mt 11.28). Embora o chamamento de Deus seja dirigido a todos os homens, estes não são obrigados a aceitá-lo; pode ser resistido.

Cooperando com Deus na salvação

Os crentes evangélicos formam dois grupos quanto à questão do recebimento da salvação. As teorias destes dois grupos podem ser chamadas de “determinismo” e “livre arbítrio”.

1.0 Determinismo. O evangélico que aceita o “determinismo” (ou predestinação) crê que Deus predetermina quem será salvo e quem será condenado, sem qualquer escolha da parte do homem quanto àquela decisão. A salvação, portanto, é uma consequência inteiramente da graça de Deus. A fé expressa, não como uma decisão da parte do crente, mas, sim, como uma resposta irresistível do homem à atuação de Deus sobre o seu espírito para a salvação.

Para aqueles que aceitam o “determinismo”, a “presciência” é simplesmente “amor de antemão” e a eleição é baseada inteiramente na própria vontade soberana de Deus, independente dos atos do homem seja ele “eleito” ou “condenado”.

Os deterministas também acreditam que a predestinação é mais do que o planejamento de antemão por Deus dos seus próprios atos. Acreditam também que Deus decreta de antemão todo evento e decisão que ocorre na terra na vida dos homens.

Aqueles que aceitam o “determinismo” são geralmente chamados calvinistas, conforme o nome do proponente mais famoso desta teoria - João Calvino.

Deve-se tomar cuidado para fazer distinção entre erros de doutrina que afetam a base da salvação e os erros que apenas afetam a prática do Cristianismo. Os que sustentam o ponto de vista determinista não são hereges, mas não são, tampouco, corretos na sua interpretação da Bíblia.

2. O Livre-Arbítrio. Resumidamente, esta teoria afirma que todos os tratos de Deus com o homem, inclusive a eleição e a predestinação, estão baseados nas decisões que os homens fazem conforme seu próprio livre-arbítrio. Deus é soberano, mas criou o homem com o livre-arbítrio. O homem, por causa do pecado, não pode responder de modo positivo a Deus, mas Ele graciosamente lhe restaurou esta capacidade.

 

Aqueles que aceitam o “livre-arbítrio” creem que a todo homem é concedida a oportunidade de buscar a Deus.

Concluindo, a eleição é a escolha que Deus faz do homem baseada na escolha que o homem faz de Deus, ao passo que a predestinação é limitada ao plano predeterminado dos atos de Deus, não predeterminando as escolhas do homem. O chamamento de Deus é idêntico para cada homem. Aqueles que fazem a escolha de atender ao Seu chamamento, conforme seu próprio livre-arbítrio, podem, semelhantemente, rejeitar esta salvação em qualquer tempo da sua vida.


IV. 0 lado Divino do livre-arbítrio


A Presciência Simplesmente amor de antemão.

0 conhecimento de Deus, de antemão.

A Eleição Baseado inteiramente na vontade de Deus.

Baseado na presciência da decisão do homem.

A Predestinação

Decreto de antemão de todos os eventos e decisões.

Decreto de antemão som ente dos atos de

Deus.

0 Chamamento Dirigido só às pessoas pré-escolhidas.

Dirigido a todos os homens.

 

V.             A participação do homem na conversão


Salvação é obra de Deus para o homem; não obra do homem para Deus. Como já vimos, o homem é completamente incapaz de agradar a Deus por si próprio, pois leva sobre si a sentença da “morte espiritual”. Deus tomou a iniciativa da redenção, efetuando a provisão para a salvação, pela morte e ressurreição do Seu Filho. Neste texto estudaremos o significado de conversão, arrependimento e fé.

O que é conversão?

A palavra conversão literalmente significa virar-se para a direção oposta. Na Bíblia, esta palavra é usada para descrever a mudança total que ocorre na vida da pessoa que abandona o pecado e entrega Sua vida a Cristo (l Ts 1.9).

Da definição arrependimento + fé — conversão, vem os que a conversão envolve dois atos:

1. Dar as costas ao eu e ao pecado, o que chamamos “arrependimento”, isto é, abandonar algumas coisas para seguir a Cristo como Salvador (At 14-15, 26.18; Ez 18.30);

2. O homem crer (fé) em Deus, voltando-se para Ele e abraçando a vida eterna (At 26.20; Mt 7.14 e lTs 1.8,9).

A conversão para a salvação consiste no abandono da vida pecaminosa e no reconhecimento da necessidade de um Salvador. Citamos três passos encontrados na parábola do Filho Pródigo que descrevem esse processo.

O primeiro corresponde ao arrependimento: o

Pródigo reconheceu sua condição pecaminosa e a sua necessidade do pai. O segundo passo foi sua decisão de retornar a seu pai. O último passo foi o de agir com um coração arrependido e com fé. Se ele não tivesse voltado para o seu pai, sua decisão de arrepender-se teria sido somente um sentimentalismo momentâneo. Neste caso, houve uma conversão sincera, pois ele “levantou-se”, deixou o “chiqueiro” do pecado e “foi para seu pai”, iniciando, uma nova vida (Lc 15.17-20).

O Que é arrependimento?

O arrependimento envolve uma completa mudança de pensamento sobre o pecado e a percepção da necessidade de um Salvador. Esclarecemos o fato de que o arrependimento em si não é suficiente para a salvação. Porém, sem arrependimento, não há salvação. E um pré-requisito à fé salvadora (Mc 1.15; Lc 24-47).

O arrependimento em si não salva, contudo produz o remorso no homem e move-o a deixar o pecado e a entregar-se à graça salvadora de Deus. Mas, arrependimento não é somente remorso. Sentir mágoa e reconhecer que pecou é remorso, mas não arrependimento.

O arrependimento só ocorre quando a pessoa resolve deixar o pecado, reconhecendo que necessita de um Salvador. Em 2 Coríntios 7.9 vemos o relacionamento entre remorso e arrependimento: “agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento: pois, fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. ”.

Neste texto, a palavra contristados é tradução de metameima no original e significa ter tristeza pelos pecados; arrependimento é metamelomai e significa mudança de mente.

Mostrando claramente que o remorso pode levar ao arrependimento, isto é, uma resolução para mudança. Ressaltamos, também que o reconhecimento do pecado, a tristeza pelo pecado e o abandono do pecado são a sequência dos três passos do arrependimento (SI 51).

O verdadeiro arrependimento não se preocupa com um pecado isoladamente, procurando esconder os demais, mas sente aflição pelo pecado na sua totalidade (SI 38.3,4,6).

O que é fé salvadora?

Num confronto com uma pessoa adepta de uma seita falsa, ficamos impressionados ao saber que ela alega crer que a salvação é obtida através da fé? De fato, é difícil encontrar uma seita “pseudo-cristã” que não admita nos seus ensinos que a salvação seja recebida através da fé. Entretanto, é evidente que eles redefiniram, diminuíram ou acrescentaram algo a esta doutrina, falsificando assim o verdadeiro ensino bíblico.

Para confrontar tais distorções, é necessário que tenhamos uma descrição nítida, baseada apenas nas Escrituras, do que é realmente a fé que salva.

 

Relacionamos algumas bases da fé salvadora:

1. A fé salvadora é dirigida a Cristo. A fé que salva não se dirige a um credo ou a uma crença doutrinária, mas a uma pessoa - Cristo (Cl 2.5). Não basta ao homem aceitar as verdades divinas sobre a salvação, se ele não se render a Cristo com o seu Salvador pessoal e não cultivar uma comunhão íntima com Ele (Tg 2.14).

2. A fé salvadora é baseada na revelação bíblica. Deve ter Cristo como seu objeto, entretanto, um conhecimento mínimo de quem é Jesus é fundamental à fé salvadora (Rm 10.17; 2Tm 3.15);

3. A fé salvadora leva a uma entrega total de vida. Fé salvadora não é uma simples confissão por parte da pessoa, mas uma dedicação completa de vida a Cristo.

4. A fé salvadora é o único meio de Salvação. O homem não pode fazer nada para merecer a salvação. Nem a fé é obra para garantir a salvação, mas simplesmente um meio, pelo qual Deus manifesta a Sua abundante graça na vida do pecador para salvá-lo. Bem sabemos que não é a fé que salva, mas Cristo através da fé.

5. A fé salvadora é uma decisão pessoal. A fé, como ato de crer em Cristo, provém da nossa própria vontade; vontade essa sob o efeito da graça de Deus e da convicção advinda pelo Espírito Santo (Ef 2.8,9; Leia estes versículos cuidadosamente para vermos o que é o “dom de Deus"). Reparemos bem que a palavra fé é do gênero feminino e não concorda em gênero gramatical com “isto”, que é do gênero neutro; o mesmo ocorre no original grego. Portanto, “isto” refere-se à salvação. Então a salvação é dom de Deus, e não o ato de exercitar fé para a salvação.

Esclarecimentos sobre a salvação pela fé

Salientamos o ensino bíblico que diz que o pecador pode ser salvo somente pela fé. Surge então a pergunta: isto inclui os justos do Antigo Testamento, as crianças que morrem e o pagão que nunca ouviu a mensagem clara e plena da salvação? No tocante a esses questionamentos* respondemos:

a) Os justos do Antigo Testamento. Muitos, erroneamente, têm suposto que os que viveram no período do Antigo Testamento foram salvos pela Lei, pela obediência e pelas contínuas ofertas e sacrifícios. Em Gálatas 2.16, o apóstolo Paulo refuta esta ideia. Como então foram salvos os que viveram e morreram antes do sacrifício redentor de Cristo? Encontramos a resposta em Romanos 4.2,3. Vemos neste versículo que Abraão foi um homem justo porque era um “crente”. O conteúdo da sua fé era limitado, mas sua qualidade e perseverança foram suficientes para salvá-lo. De fato, todos os justos do Antigo Testamento foram salvos somente pela fé nas promessas que Deus lhes tinha revelado, e não por causa de seus sacrifícios ou obediência à Lei (Hb 11.13).

b) As crianças que morrem. A Bíblia ensina que crianças inocentes não têm consciência do pecado (Rm 9.11), contudo, elas herdam a natureza pecaminosa de Adão e, por isso, não podem entrar no céu. Deus, porém, pela obra propiciatória de Cristo, provê-lhes a justiça necessária, assegurando-lhes a vida eterna.

O fato de que crianças inocentes estão salvas tem apoio nas Escrituras, tanto no Antigo como no Novo Testamento (2Sm 12.23). O próprio Cristo, em Mateus 19.14 disse que é necessário que o homem torne-se como uma criança, a fim de entrar no céu (Mt 18.3).

c) Aqueles que nunca ouviram. A Bíblia ensina e enfatiza que as obras do homem não operam a sua salvação (Is 57.12; Rm 9.32); a fé é o único meio de salvação (Ef 2.8). Nem tampouco a justiça de um homem pode absolvê-lo do pecado (Ez 33.12,13). Se o homem pudesse salvar-se através da lei escrita no seu coração, Cristo teria morrido em vão (G1 2.21).

A Bíblia mostra também que todo o homem é inescusável quanto a buscar e conhecer a Deus (Rm 1.20). Mas isto não significa que todos têm tido idêntica oportunidade ou que muitos outros poderiam ser “persuadidos” a aceitar Cristo se alguém testificasse para eles (I Co 5.11). E, do outro lado da história, aqueles que rejeitam a Cristo, após muitas oportunidades de serem persuadidos, serão julgados com mais severidade do que os pagãos menos privilegiados (Lc 12.48). Ler também Hebreus 10.28,29 e Romanos 2.6-12.

 


 VI. A Doutrina da Graça de Deus

Anteriomente falamos sobre a graça comum, extensiva a todos os homens, agora vamos falar sobre a graça especial na qual, Deus providenciou as condições para sermos alcançados. 

“Abres a mão e satisfazes os desejos de todos os viventes”. Aqui não se trata de graça salvadora; diz respeito ao favor de Deus dispensado bondosamente aos seres humanos, no sentido de prover os meios de subsistência a todos, sem distinção (Sl 104.10-30). Graça relacionada com a salvação. E a atitude (ou provisão) graciosa do Senhor para com o indigno transgressor da sua lei ( Rm 3.9-26). Ela resulta da parte Soteriologia de Deus para com o pecador em: misericórdia (I Tm 1.2; 2 Tm 1.2; Tt 1.4; 2 Jo v.3; Jd v.2I); benevolência (Lc 2.14b); paz (resultado da misericórdia de Deus no coração do homem); gozo (que é mais interior), bem como alegria, beleza e adorno espirituais —que são mais externos (Rm 12.6). No original, graça é charis, donde vêm “charme”, “carismático” (no sentido exato), “caridade”, “agradável”, “atraente”, “agradecer”, “gratidão”. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um (Cl 4.6). ... segundo o beneplácito de sua vontade; para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado (Ef 1.5,6). O nosso assunto diz respeito à graça de Deus para salvar. A provisão divina para com o indigno transgressor da lei existia desde o Antigo Testamento (Ex 33.13; Jr 3.12; 31.2). A passagem de Atos 15.10,11 não deixa dúvidas quanto a isso: Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também. N o Novo Testamento, a graça de Deus para salvar o pecador é mencionada de maneira mais direta (Ef 2.7,8; I Tm 1.13,16; Rm 5.20; Jo 1.16,17). Porque a graça de Deus se há manifestar, trazendo salvação a todos os homens (Et 2.11). Mas, quando apareceu a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo (Et 3.4,5). De acordo com Efésios 2.5,6, o pecador está morto, e nessa condição não pode ajudar em nada. Como efetuaria ele a sua própria ressurreição? Assim como não pudemos ajudar em nada quando do nosso primeiro nascimento, muito menos em nosso segundo (novo) nascimento. Tudo é pela graça, para que o homem não tenha de que se gloriar. Tudo é pela graça de Deus. Na vida do crente, ela gera crescimento na fé (2 Pe 3.18). É por meio dela que triunfamos contra o mal (Rm 6.14; H b 13.9; At 4.33; 2 Co 12.9) e trabalhamos para o Senhor (Hb 12.28; I Co 3.10; 15.10; 2 Co 6.1). Por ela, falamos (Sl 45.2; Cl 4.6); cantamos (Cl 3.16); e tratamos (Rt 2.10).

E pela graça também que somos capacitados a dar a Deus e ao próximo (2 Co 8.1,6,7). Essa liberalidade pela graça, para dar a Deus, leva-nos a fazer isso em quatro sentidos:

1) Dar-nos a nós mesmos inteiramente ao Senhor.

2) Dar-lhe o nosso tempo; a nossa vida.

3) Dar-lhe os nossos talentos.

 4) Dar-lhe o nosso dinheiro.

 A Palavra de Deus menciona, no Antigo Testamento, a liberalidade do crente para com o Senhor: “E ali trareis os vossos holocaustos, e vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas” (Dt 12.6). Vemos aqui sete tipos de ofertas, todas implicando finanças. Nós devemos tanto a Deus, que, no viver para com Ele, e no trabalho dEle, mesmo fazendo o nosso melhor e o máximo que pudermos, não vamos além do dever (Lc 17.1). Ou seja, nunca ingressaremos no mérito! Nesse caso, a graça de Deus é mais abundante na vida daqueles que são humildes (Tg 4.6). A humildade é, pois, o fio condutor da graça (I Pe 5.5). A graça de Deus em resumo. Diante do exposto, a graça de Deus é o dom da salvação em Cristo, como dádiva de Deus ao pecador, indigno e merecedor do justo juízo de Deus (Tt 2 .1 1). Ela é o poder sustentador de Deus, que nos mantém firmes e perseverantes na fé, depois de salvos (2 Co 12.9), como lemos em 2 Timóteo 2.1: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus”. A graça do Senhor é a dádiva das bênçãos diárias que recebemos dEle, sem merecê-las (Jo I.1 6). E, ainda, a dádiva da capacitação divina no crente, para este realizar a obra de Deus (I Co 15.10; Hb 12.28). Atentemos, pois, para a recomendação da Palavra de Deus, em I Coríntios 3.10: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele”.

 

VII. A Doutrina da expiação pelo Sangue


Em Isaías 53.10, está escrito acerca da obra expiatória de Cristo: Todavia, ao Senhor agradou  moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os dias; e 0 bom prazer do Senhor prosperará na sua mão.

 A doutrina em apreço é chamada de kilasmologia. Expiação, para nós do Novo Testamento, é a morte de Jesus em nosso lugar para poder nos remir do pecado; salvar-nos do pecado — expiar é tirar o pecado: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do m undo” (Jo 1.29). Expiação tem a ver com o pecado (Lv 4; 16; 23). Quatro palavras para a salvação. Há quatro grandes palavras doutrinárias empregadas na Bíblia para nos revelar a extensão do valor da morte de Jesus, isto é, do seu sangue remidor, para tirar os nossos pecados. Tão vasto e infinito é o alcance da obra efetuada por Jesus que um só vocábulo das Escrituras não pode resumi-la. A palavra “expiação” aplica-se em relação ao pecado em se tratando da salvação quanto ao seu alcance, que é infinito (Sl 103.12; Is 53.10). Já “redenção” diz respeito à salvação em relação ao pecador e seu pecado. Outro termo, “propiciação”, aplica-se à salvação quanto à transgressão; isto é, a salvação considerando o ser humano como o transgressor. E a quarta palavra é “imputação”, que se relaciona com a salvação quanto ao seu “creditamento”. Ou seja, a justiça de Deus “lançada em nossa conta”, pela fé no próprio Deus ( Fp 4.17; Mt 6.12; Fm v.I8; Rm 4.3). Portanto, a salvação é tão grande e tão rica que uma só palavra não abarca o seu significado! Glória a Deus! Tecnicamente, a palavra “expiar” — hb. kapar — significa “encobrir”, “cobrir”, “ocultar”, “tirar da vista”. A primeira menção dessa palavra nas Escrituras está em Gênesis 6.14 (hb. kapar, “betumarás”, ARC; “calafetarás”, ARA) e ilustra muito bem o seu emprego através da própria Bíblia, como a Palavra de Deus. Biblicamente, expiar é pagar, quitar, tirar os pecados de alguém, perdoar, mediante um sacrifício reparador exigido, mas também propiciador. Expiar, pois, é tirar o pecado mediante a morte de alguém como substituto do culpado e condenado. N o nosso caso, foi Jesus que morreu por nós, pecadores perdidos (Is 53.10; Jo 1.29; Ap 13.8; 2 Co 5.21). Sem expiação pelo sangue não há perdão do pecado (Lv 4.35). A expiação aplaca o Legislador, por satisfazer a sua Lei, violada que foi, pela culpa do pecado como ato praticado (Lv 5), bem como manchada e ultrajada pelo pecado como estado, na natureza do pecador (Lv 4). Neste capítulo, vemos quatro categorias universais de pecadores e a expiação de seus pecados mediante o sangue expiador. Mas a expiação vai além. Ela também torna o Legislador benevolente para com o transgressor perdoado. Essa decorrência da expiação é chamada de propiciação. A necessidade da expiação. A expiação pelo sangue foi necessária para dar satisfação à Lei divina caso contrário, essa Lei seria vã e seu Legislador escarnecido.

A pecaminosidade da natureza e dos atos do homem também tornou necessária a expiação divina. Jesus, para expiar nossos pecados, bastava morrer por nós na cruz; mas, para nos justificar diante de Deus e sua Lei violada, era preciso que Ele ressuscitasse (Rm 4.25; 5.10). Desse modo, a nossa ressurreição espiritual (isto é, a nossa regeneração) dependia da ressurreição dEle (I Pe 1.3; Cl 3.1). Glória a Deus porque Jesus ressuscitou! Há diferença entre a expiação, a redenção e a propiciação, todas realizadas por Jesus Cristo. A expiação é do pecado do pecador; a redenção é da pessoa do pecador; e a propiciação tem a ver com Deus em relação ao pecador já perdoado ( Lc 18.13; I Jo 2.2). A salvação de criancinhas inocentes — apesar de pecadores por natureza decorre da expiação efetuada por Cristo, e não primeiramente da redenção. A obra expiatória de Cristo. No Antigo Testamento, a expiação dos pecados na nação “durava” um ano apenas! O que ocorria anualmente no solene Dia da Expiação, mencionado em Levítico 16, era que a sentença de morte que pairava sobre todos, por causa do condenável e criminoso pecado, praticado pelo povo diariamente, era prorrogado por mais doze meses. Ora, isso apenas aumentava a dívida espiritual desse povo para com Deus, cada ano que passava (Hb 9.25; 10.1-3). Cristo na cruz, pelo seu sangue expiou os nossos pecados uma vez para sempre “... porque isso fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7.27); “Doutra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo; mas, agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9.26) , mas a salvação só se realiza na vida de cada pecador quando este aceita o Redentor, Jesus Cristo.

 

VIII. A Doutrina da Redenção


 Como já vimos, redenção tem a ver com a pessoa do pecador. Ela é realizada por Jesus Cristo: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1.7). Pois “... por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” (H b 9.12). Definição de redenção. Nos dias bíblicos, redenção é a libertação de um escravo, mediante um resgate gr. lytron (este termo aparece em Mateus 20.28), além de retirar esse escravo do mercado de escravos, para não mais ficar exposto à venda. Redenção sempre requer o preço a ser pago para garantir a liberdade do escravo. Há sete principais palavras originais no Novo Testamento para redenção:

 I) Agorazo, “compraste” (Ap 5.9). Comprar na praça. O pecador estava na praça do mercado de escravos, vendido ao pecado e servindo a Satanás: “Assim,

meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus” (Rm 7.4).

 2) Exagorazo, “resgatou” (Gl 3.13). Comprar o escravo na praça e retirá-lo de lá, para que não fosse mais exposto à venda: “Ele nos tirou da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor” (Cl I.13).

3) Lytroo, “resgatados” (I Pe 1.18,19). Pagar o preço exigido pelo resgate de um escravo e libertá-lo.

4) Lytrosis, “redenção” (Hb 9.12). Libertar mediante o pagamento de resgate. È um termo mais vigoroso do que lytroo.

 5) Apolytrosis, “redenção” (Ef 1.7). É empregado em Lucas 21.28 para significar soltura, libertação, livramento, desprendimento do povo de Deus, ao sair deste mundo opressor e escravisador, para ficar eternamente com o Senhor. Este termo é uma forma mais vigorosa que lytrosis.

6) Antilyron (I Tm 2.6). A troca de uma pessoa por outra; ou seja, a redenção de vida por vida, no caso de um cativo, escravo ou prisioneiro. 7) Lytron (Êx 21.30; Mt 20.28; Mc 10.45). O resgate pago pela redenção de um cativo, escravo ou prisioneiro de guerra. A redenção do pecador. A nossa redenção espiritual foi planejada e decidida por Deus antes da fundação do mundo (I Pe 1.18,19; Ap 13.8). Essa redenção, em Cristo, é formosa e claramente ilustrada em Levítico 25 — principalmente nos versículos 25, 48 e 49 — e Rute 2.20; 3.9-13; 4.1-9. Nessas passagens, o termo go’el significa “parente remidor”, o qual tinha de ser consanguíneo do escravo. Vemos claramente no papel desse parente remidor um tipo de nosso Redentor, o Senhor Jesus (Tt 2.14). O tríplice resultado da redenção. A nossa redenção efetuada por Jesus resulta na conversão da alma, pois esta foi perdida pelo homem, na sua Queda (Gn 2.17; Ez 18.20). Outro resultado da redenção é a nossa ressurreição, isto é, a redenção do corpo. O homem perdeu o seu corpo ao perder o direito a comer da árvore da vida, no Eden, devido à Queda: “Então, disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente” (Gn 3.22). A redenção resulta também em domínio da terra. O ser humano perdeu a terra ao pecar (Gn 1.28). Em João 1.29, vemos que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Ap 5.1-5,9).

N a Segunda Vinda de Cristo, começará a redenção da terra, que fora amaldiçoada depois da Queda: “maldita é a terra” (Gn 3.17).

 

 

IX. A Doutrina da propiciação


 Em Êxodo 32.30, está escrito: “E aconteceu que, no dia seguinte, Moisés disse ao povo: Vós pecastes grande pecado; agora, porém, subirei ao Senhor ; porventura, farei propiciação por vosso pecado”. Propiciar é aplacar; tornar benevolente o ofendido, mediante uma oferta judicial e expiatória, e que seja aceita. Definição. A propiciação resulta da expiação. A palavra portuguesa “propiciação” deriva do latimpropitio, “unir”, “reconciliar”, “pacificar”. O conceito pagão de propiciação é aplacar um deus irado, vingativo ( I Rs 18.26,29). Mas, à luz da Palavra de Deus, implica satisfazer a Lei divina violada e, desse modo, remover aquilo que impedia Deus de fazer extravasar e fluir o seu amor, sua benevolência e suas bênçãos sobre o pecador, salvando-o. Propiciar a Deus não foi só satisfazê-lo, reparando a sua Lei e a sua vontade ultrajadas, mas torná-lo benevolente e abençoador do ofensor. Aqui na Terra quando o próximo é ofendido e reparado, ele não quer ser benevolente nem abençoador do ofensor. Jesus é a nossa propiciação (Rm 3.25; I Jo 4.10). Como nosso Sumo Sacerdote, Ele é tanto a nossa propiciação, como o nosso propiciatório. “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (I Jo 2.2). A reconciliação do homem com Deus é resultado da propiciação pelo sangue de Jesus gr. katallage, “reconciliação” (Rm 5.11). Assim como a expiação leva à propiciação, esta leva à reconciliação. Cristo, ao consumar a expiação dos nossos pecados, consumou também a nossa reconciliação com Deus e com o nosso próximo (Ef 2.16,17). Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação (Rm 5.10,1 ) Em 2 Coríntios 5.18,19, está escrito: “E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação”. Vemos, aqui, que Ele nos deu o ministério da reconciliação (v. 18) e pôs em nós a palavra da reconciliação (v. 19).

A reconciliação que vem da expiação efetuada por Cristo abrange tudo o que foi criado, na terra e nos céus (Cl 1.20; H b 9.12). Cristo, pelo seu sangue, promoveu a paz, já que nós não podíamos. Em hebraico, um dos termos para salvação é shalom, “paz”, “saúde”, “integridade”, “completude”. Ilustração de propiciação. Em Lucas 18.13 (ARA) está escrito do humilde e indigno publicano, da parábola proferida por Jesus: “Ò Deus, sê propício [gr. bilaskomai] a mim, [o] pecador”. Literalmente, o publicano da parábola mencionada em Lucas 18.9-14 estava dizendo: “Deus, olha para mim, o pior pecador, assim como tu olhas para o sangue propiciador aspergido sobre o propiciatório, na arca da aliança”. Deus teve prazer em responder à sua oração! (v. 14).

 

 X. A Doutrina da fé Salvífica


Fé não é crer sem provas ela é baseada na maior de todas as provas: a Palavra de Deus. A fé é um fato, mas também um ato (Tg 2.17,26; Mt 17.20); manifesta-se por ações, por obras — “como um grão de mostarda”. H á dois aspectos da fé: ativo e passivo. A fé ativa diz respeito a nosso viver, nosso agir, nosso trabalhar para Deus. Já a passiva se relaciona com a fidelidade do crente ao Senhor e sua firme perseverança. Como a fé salvífica se manifesta. A fé salvífica tem a ver com o pecador em relação a Deus (Ef 2.8,9; At 16.31), pois “... sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6). A pergunta que o jovem rico devia ter feito, em Mateus 19.16, seria: “Em quem devo crer para ser salvo?”, e não “Que devo fazer para me salvar?” Salvação não é o que eu devo fazer, mas em quem devo crer para me salvar (At 16.31). Em Romanos 10.9,10 está escrito: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação”. De acordo com a passagem acima, o pecador confessa a Cristo e crê nEle como Senhor e Salvador rende-se a Ele (Jo 9.38; Rm 4.3). A fé natural. E a fé “da cabeça”, natural, que não resulta em salvação. A Palavra de Deus diz que até os demônios creem que há um só Deus e estremecem diante de tal fato (Tg 2.19). A fé que Tomé teve, inicialmente, foi meramente “da cabeça”. Daí Jesus lhe ter dito: “Porque me viste, Tomé, creste” (Jo 20.29a). Isso também aconteceu com Marta:

Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último Dia. Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus? (Jo 11.24,40). Um a pessoa pode, por conseguinte, crer só com a mente, e não com o coração. A fé natural — também chamada de “pensamento positivo” é de grande utilidade nas relações humanas, mas inoperante e sem valor para a salvação. A defesa da fé. Textos como 2 Timóteo 4.7 e Filipenses 1. 16 mostram que o crente deve defender a sua fé nesse mundo de tanta confusão e antagonismo quanto à fé. O apóstolo Paulo disse: “Combati o bom combate guardei a fé”. Isso significa que devemos viver pela fé cada dia, sem esmorecer, defendendo o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé deve ser conservada, pois é essencial à vida cristã (Rm I.1 7; G1 2.20; 2 Pe 1.5; Hb 11.6). Outras expressões dajé. A significação do termo “fé” varia, no NovoTestamento. Em Gálatas 5.22, ela é uma das virtudes do fruto do Espírito, expressando fidelidade. H á ainda outras expressões da fé: um dom do Espírito (I Co 12.9), o evangelho completo (2T m 4.7), a confiança absoluta em Deus, como proteção ou “escudo” (Ef 6.17), além de uma fé que santifica (Fp 3.9).

 

XI. A Doutrina do arrependimento


A fé se relaciona com Deus; o arrependimento, com o pecado. O arrependimento, pois, é uma doutrina básica quanto à salvação (Mt 3.2; 4.17; Lc 13.3; Mc 6.12). Foi por isso que Jesus ordenou que “em seu nome, se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24.47). O verdadeiro arrependimento é o que produz convicção do pecado; contrição do pecado; confissão do pecado; abandono do pecado; e conversão do pecado. Se essas cinco reações por parte do homem não ocorrerem, não se trata de arrependimento verdadeiro, completo, mas apenas tristeza e remorso: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte” (2 Co 7.10). Para que o homem não se glorie, o verdadeiro arrependimento é obra de Deus (At 5.31; I I . 18; 2 T m 2.25; Rm 2.4). Até o abrir do coração do pecador para o evangelho vem de Deus: “E certa mulher, chamada Lídia (...) nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia” (At 16.14). Isso ocorre pela exposição da Palavra de Deus, que conduz a pessoa ao arrependimento, sendo ela crente ou não (At 2.37,38,41; Jn 3). Uma das características sempre presente nos verdadeiros avivamentos, bem como entre um povo que se mantém avivado espiritualmente, é o arrependimento profundo. O arrependimento deve sempre acompanhar o crente durante toda a sua vida. Isso demonstra sua humildade e fá-lo zeloso de Deus e de suas coisas. Davi, por exemplo, era um crente que sabia se arrepender e chorar diante de Deus; e por isso venceu. O Filho Pródigo iniciou o caminho de subida, de volta ao pai, a partir do momento em que começou a se arrepender (Lc 15.11-24).

 

XII. A Doutrina da confissão


N o original, o verbo homologeo (gr.) e o substantivo homologia são os termos para confissão. Confessar é dizer de coração o que Deus diz sobre nós na sua Palavra (Rm 10.9,10; Lv 5.5; Sl 38.18; I Jo 1.9). No sentido bíblico, confissão não se refere primeiramente a confessar pecados. Significa concordar com o que Deus diz sobre nós e dEle na sua Palavra, bem como reconhecer os nossos pecados e faltas como sendo nossos e admitir os nossos erros, falhas, pecados e declará-los (At 19.18). Vemos em Hebreus 3.1 que Jesus Cristo é o Sacerdote da nossa confissão, isto é, a quem confessamos quanto à nossa salvação e tudo o mais pertinente à fé. Em I João 1.9, está escrito: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça”. Elementos da confissão. De acordo com ο I João 1.9, a confissão deve ser contrita e definida: “nossos pecados”. Observe que são “pecados” (plural). Outro elemento é a renúncia ao pecado (Pv 28.13). E, quanto for o caso, a confissão deve ser com restituição. Confissão secreta. E a confissão feita somente a Deus. Confissão de pecados cometidos pelo crente e conhecidos somente por ele e Deus. Tais pecados devem ser confessados secretamente ao Senhor, dependendo isso da base bíblica desse crente e da confiança plena e firme no que Deus declara na sua Palavra. Confissão pessoal. E a confissão feita a pessoas contra quem pecamos. Nesse caso, antes de irmos a Deus contritamente, temos de tratar com o ofendido ou o cúmplice, pois a comunhão espiritual é tanto vertical (comunhão com Deus) como horizontal — comunhão com o próximo (I Jo I.7a). Confissão pública. E a confissão feita à igreja, à congregação. São pecados conhecidos, cometidos contra a coletividade cristã.

 

 XIII. A Doutrina do perão dos pecados


E importante distinguir perdão divino (I Jo 1.9) de perdão humano (Cl 3.13). Do lado divino, perdão é a cessação da ira moral e santa de Deus contra o pecado, e o seu cancelamento ou anulação. Visto do lado humano, o perdão é o alivio ou remissão da culpa do pecado, que oprime a consciência culpada. Perdão é a remissão da punição do pecado, o qual leva à perdição eterna (Nm 23.21; Rm 8.33,34). Para nós, seres humanos, que, pela Queda, herdamos uma natureza pecaminosa e pecadora, parece fácil o perdão, e parece fácil Deus nos perdoar; isso por sermos todos uma raça de pecadores. Porém, com um Deus santíssimo em quem não há pecado, o caso é diferente! Ora, até o homem acha difícil perdoar quando é injustiçado. Quanto mais Deus! Deus nos perdoa porque Ele é amor; mas saibamos que o seu perdão é baseado na mais perfeita justiça (I Jo 1.9). Perdão judicial. E para o descrente. A condição exigida por Deus para esse perdão é a conversão do pecador: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19). O meio exigido, portanto, é a fé em Deus. Perdão doméstico. E para o filho de Deus; da casa de Deus. A condição exigida é a confissão dos pecados com arrependimento e o abandono desses pecados. Se confessarmos os nossos pecados} ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (l Jo l-9)

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas 0 que as confessa e deixa alcançará misericórdia (Pv 28.13). O meio exigido é também a fé em Deus, e segundo a Palavra. Se a condição exigida por Deus para perdoar o crente faltoso fosse uma nova conversão, seria necessário nos convertermos constantemente... As consequências de 0 crente não querer perdoar. O crente se recusar a perdoar, não querer perdoar de forma alguma, é uma atitude que afeta comunhão com Deus, individual e coletivamente. Afeta, ainda, a nossa comunhão com os irmãos com a igreja, bem como o nosso caráter cristão e a nossa saúde em geral (M t 18.34,35). Jesus, no seu ensino, no “Pai Nosso”, o único assunto que Ele repetiu três vezes foi o perdão; isto é, perdoarmos aos outros (Mt 6.12,14,15). O momento ideal para o crente perdoar o seu ofensor é durante a oração (Mt 11.25). Até nisso a oração é uma bênção! Crente que ora pouco, também perdoa pouco (ou nunca).

 Além do perdão entre os irmãos, deve haver reparação, quando for o caso (Ef 5.28; At 16.33; Lv 4 6). Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Dize aos filhos de Israel: Quando homem ou mulher fizer algum de todos os pecados humanos transgredindo contra 0 Senhor; tal alma culpada é. E confessará o pecado que fez; então, restituirá pela sua culpa segundo a soma total, e lhe acrescentará 0 seu quinto, e 0 dará àquele contra quem se fez culpado (Nm 5.5-7).

 

XIV. A Doutrina da regeneração espiritual


O termo regeneração tem a ver com a nossa inclusão na família de Deus (I Pe 1.3,23; Tt 3.5). Em Gênesis 1.27, temos a criação natural do homem; em Efésios 2.10, temos a sua criação espiritual. Regeneração é o ato interior da conversão, efetuada na alma pelo Espírito Santo. Conversão é mais o lado exterior e visível da regeneração. Uma pessoa verdadeiramente regenerada pelo Espírito Santo é também convertida ( Lc 22.32). Sendo regenerado pelo Espírito Santo, o crente é declarado filho de Deus (Jo 1.12,13). O que ocasiona a regeneração espiritual não é primeiramente a justificação pela fé, mas a comunicação da vida de Cristo da “vida eterna” ao pecador arrependido. Justificação tem a ver com o pecado do pecador; regeneração tem a ver com a natureza do pecador. Justificação é imputada por Deus; regeneração é comunicada por Deus. Bem vês que a fé cooperou com as suas ohras e que; pelas ohras, a fé foi aperfeiçoada, e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus (Tg 2.22,23).

 

XV. A Doutrina da imputação da Justiça de Deus


Imputação é o lançamento ou creditamento da justiça de Cristo a nosso favor, mediante a nossa fé em Cristo (Rm 4.3ss; Gl 2.16ss; 3.6-8; Gn I5.6;T g 2.23). “O Senhor Justiça Nossa” (Jr 23.6). “Mas vós sois dele em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus  justiça” (I Co 1.30). O princípio da doutrina da imputação da justiça de Deus é visto em passagens como Gênesis 3.21; 6.14 (hb.); e 15.6. Em Filemom v.I8 e Filipenses 4,17 vemos a imputação ilustrada na prática natural:, se te fez algum dano ou te deve alguma coisa põe isso na minha conta. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que aumente a vossa conta. Assim como a justiça divina é imputada ao que nEle crê, ao ímpio impenitente são imputados os seus pecados contra Deus (Sl 32.2). E também, da mesma forma, à nossa conta podem ser imputados males que cometemos contra o próximo (2 T m 4.16; At 7.60; I Ts 4.6; Mt 6.12 “as nossas dívidas”). Somos feitos justos diante de Deus, não primeiramente pela influência da moral cristã sobre nós, mas primacialmente pela imputação da justiça (retidão) de Deus sobre nós, pela fé em Jesus Cristo. Aleluia ao Deus Trino! Respondida está, por Deus, a pergunta de Jó, de antanho: “Como seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher?” (Jó 25.4). A

 

XVI. Doutrina da adoção de filhos


A adoção de filhos é mencionada em textos como Romanos 8.15; Efésios 1.5; e João 1.12. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor; mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. [Deus Pai] ... nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade. Mas a todos quantos 0 receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome. A expressão “adoção de filhos” é uma única palavra no original: huiothesis — de huios, “filho”, e thesis, “posição”. A ideia da adoção de filhos também se encontra no Antigo Testamento (Êx 2.10 ; Hb 11.24; Êx 4.22 ;Os I I.I ; Mt 2.15). Em Efésios 1.4,5 está escrito que fomos predestinados por Deus para adoção de filhos, antes da fundação do mundo; portanto, antes da existência do homem. Isso exclui qualquer mérito humano e somente revela a graça infinita de Deus. Na antiga Grécia.

A adoção de filhos, na antiga Grécia, nada tinha a ver com a filiação da criança, e sim com a sua posição em relação à família (gr. huiothesis). Por meio do ato da adoção, o “filho”, ao atingir a idade necessária, passava à posição de herdeiro da família. Daí a expressão bíblica “adoção de filhos” (G1 4.4,5). O ato da “adoção de filhos” passou dos gregos para os romanos, e assim chegou aos tempos do Novo Testamento e da igreja. Biblicamente, então, Deus “adota” a quem já é seu filho.

No presente. Há bênçãos desfrutadas já nesta vida, decorrentes da adoção, como: o nosso nome de família: “chamados filhos de Deus” (I Jo 3.1; E f 3.14,15); o testemunho do Espírito Santo em nosso interior, de que somos filhos de Deus (Rm 8.16); o recebimento do Espírito Santo (Rm 8.15; Lc I I.I I- I 3 ); a disciplina da parte de Deus que nos é ministrada, como seus filhos: “Se estais sem disciplina sois então bastardos, e não filhos” (Hb 12.8; vv.6-I I); a nossa herança celestial, declarada e garantida por Deus (Rm 8.17); e a redenção do nosso corpo.

Por meio da adoção, os nossos nomes foram registrados no livro da vida do Cordeiro (Lc 10.20; Fp 4.3; Ap 17.8; 3.5; 13.8; 20.12,15; 21.27).

 

No futuro.

 

Em Romanos 8.23, vemos que os nossos privilégios quanto à adoção de filhos de Deus têm ainda um lado futuro: “... gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo”. Isso se dará à vinda de Jesus para levar a sua Igreja. Vede quão grande caridade nos tem concedido 0 Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não conhece a ele. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a eh; porque como é 0 veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro (l Jo 3.1-3).

 

 XVII. A Doutrina da santificação do crente


A justificação efetuada por Deus para nos salvar põe-nos em correto relacionamento com Ele. Já a santificação comprova a realidade da justificação em nossa vida, manifestando seus frutos em nós; em nossa vida. Santo é aquele crente que vive separado do pecado, do mal, do mundo (mundanismo), e dedicado a Deus e ao seu serviço. Observe as palavras de Paulo em Atos 27.23: “Porque, esta mesma noite, o anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo”. O cristão tem duas naturezas: uma humana, herdada de Adão, pela geração natural; e outra, divina, através da geração espiritual (I Pe 1.23). Daí a santificação do crente ter dois aspectos: um diante de Deus, e outro, diante de si mesmo e do mundo (I Jo 3.3; 2 Co 7.1; Hb 12.14; Mt 5.16).

Essas duas naturezas do crente são vistas em Gálatas 5.17 e Romanos 6— 8. Em Levítico 20.8 “Eu sou o Senhor que vos santifica” vemos a santificação do crente diante de Deus, mas, no versículo 7, menciona-se a santificação crente diante de si mesmo e do mundo: “Santificai-vos e sede santos” ( I Pe I. 5).

Santificação de objetos, eventos, datas, pessoas, animais.

 Esse aspecto da santificação é muito comum em relação ao Tabernáculo e seus objetos, e seus oficiantes, os quais pertenciam somente a Deus, como vemos nos livros de Êxodo e Deuteronômio. Esse aspecto da santificação implica um só sentido, que é a posse de Deus, e a dedicação e separação desses elementos para o serviço de Deus.

Alguns exemplos desses elementos santos:

 • Eventos e datas (Êx 20.8; D t 5.12; Lv 25.10; 23.2).

• O Templo (I Rs 9.3).

• O altar dos holocaustos (Ex 29.37).

• As vestes sacerdotais (Êx 28.2; 29.29; 40.13).

• Pessoas (Êx 13.12; 28.41; 29.1,44; I Sm 16.5; I Cr 15.14; 2 Cr 29.5).

• Animais (Nm 18.17; Êx I3.2b).

 

Nesse sentido, os templos atuais da igreja são santificados a Deus, bem como os objetos dedicados ao serviço dEle. Santificação de pessoas. Há dois principais sentidos de santificação do crente em relação a Deus.

O primeiro diz respeito à separação do mal para pertencer a Deus “Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo” (Lv 20.26). E o sentido negativo da santificação, pois se ocupa do “não farás isso; não farás aquilo”; é separar-se para Deus. O segundo sentido de santificação do crente é 0 positivo. O crente, já separado do mal, dedica-se a Deus para o seu serviço, ocupa-se em fazer algo para Ele: “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2T m 2.21). Paulo, ao falar de Deus, disse: “de quem eu sou e a quem eu sirvo” (At 27.23). A santificação é dúplice. Ser santo não é somente evitar o pecado, mas também servir ao Senhor, com a vida; com os talentos; com os dons; com os bens; com a casa; com o tempo; com as finanças; com os serviços, inclusive mão de obra. Por isso, muitos crentes não conseguem viver uma vida santa; eles não vivem pecando continuadamente, mas não querem nada com as coisas do Senhor, nem com a sua obra, nem com a igreja para zelar por ela e promovê-la. Os tempos da santificação.

A santificação de pessoas quanto à vida cristã abrange três tempos:

I)                  Santificação passada e instantânea (I Co 6.11; Hb 10.10,14; Fp I.I; I Co 1.2; Jo 15.4).

E aspectual e posicionai, isto é, o crente estando “em Cristo” (Cl 1.20; Fp I.I). O crente posicionalmente “em Cristo” não pode ser mais santo do que o é no momento da sua conversão, pois a santidade de Cristo é a sua santidade (I Jo 4.17).

Na Igreja Romana, alguns são “canonizados” (feitos santos) depois de mortos, mas no Remo de Deus é diferente: os salvos são santos aqui, enquanto estão vivos!

2)    Santificação presente e progressiva (2 Co 7.1). E temporal, vivencial.

E a santificação experimental, ou seja, na experiência humana, no dia-a-dia do crente (I Ts 5.23; Hb 13.12 “para santificar o seu povo”). A santificação posicionai e a experimental (progressiva) são vistas juntas nestas passagens: Hebreus 12.10 com 12.14; Filipenses 3.15 ; 3.12; João 15.4 ; 15.5; I Coríntios 1.2; Filipenses I.I; e Levítico 20.7 ; 20.8.

3)    Santificação futura e completa (Ef 5.27; I Ts 3.13). E plena; trata-se da santificação final do crente (I Jo 3.2).

 Ela ocorrerá à Segunda Vinda de Jesus, para levar os seus (I Jo 3.2; Ef 5.26,27). Seremos então mudados: “num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (I Co 15.52).

Os meios divinos de santificação:

• Deus, o Pai (I Ts 5.23). Deus, o Filho (Hb 10.10; 13.12; Mt 121). Deus, o Espírito Santo (I Pe 1.2), cujo título principal Espírito Santo já indica a sua missão principal: santificar.

• A correção divina. E um meio de santificação (Hb 12.10,11).

• A Palavra de Deus. Lida, crida, estudada, ouvida, amada, meditada, pregada, ensinada, obedecida, vivida, memorizada (Sl 119.I I ; Jo 15.3; 17.17; Sl 119.9; Ef 5.26).

• A paz de Deus em nós. Seu cultivo, sua busca, sua promoção (Hb 12.14; 1 Ts 5.23a). Nestas duas passagens, a paz está ligada à santificação do crente.

• A fé em Deus.

Está baseada na sua Palavra, é um meio divino de santificação (Rm 4; Hb 11.33; 2 Ts 2.13b; At 26.18; 15.9). Alerta divino. A Palavra de Deus tem um alerta para a igreja quanto à santificação: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

E ainda: “Em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça” (Ec 9.8). Tenhamos cuidado com a falsa santidade, enganosa, sectarista, farisaica e exclusivista (2 Tm 3.5); sigamos a verdadeira santidade (Ef 4.24). 2) 3).

 

XVIII. A Doutrina da presciência de Deus


A presciência de Deus é o seu pré-conhecimento de todas as coisas (I Pe 1.2; Rm 8.29). Ela é parte do seu atributo de onisciência. Ele pré-conhece todas as coisas sobre o homem, mas não as evita, por ser o homem livre e responsável por seus atos. No caso do pecado de Adão, o Senhor sabia disso na sua presciência; porém, não o evitou, por ter Adão livre-arbítrio. N o caso de Judas Iscariotes, vemos que ele, que foi escolhido por Jesus como um dos doze (Jo 6.70; Lc 6.13), “tirava” e não apenas “tirou” da bolsa o que ali se lançava, o que indica um ato voluntário, preconcebido e continuado (Jo 12.6). E mais: a Palavra de Deus diz que Judas “se desviou”, o que denota ato voluntário, consciente e gradual (At 1.25). E importante enfatizar que ele não nasceu marcado para trair Jesus; apenas enquadrou-se nas condições da profecia sobre aquele que seria o traidor.

 O rei Saul que fora enviado por Deus (I Sm 9.15-17); ungido por Ele (I Sm 10.1); mudado (I Sm 10.9); possuído pelo Espírito (I Sm 10.10); que profetizara pelo Espírito ( I Sm 10.10-13); edificara um altar ao Senhor (I Sm 14.35) também desviou-se, ao edificar “uma coluna para si” (I Sm 15.12) e envolver-se, em seguida, em práticas espíritas. Por fim, morreu como suicida; distanciado de Deus.

Demas foi um obreiro que trabalhou com o apóstolo Paulo, porém se desviou, como lemos em 2 Timóteo 4.10: “Porque Demas me desamparou, amando o presente século...” Outros que também “naufragaram na fé”, desviando-se do caminho da verdade, foram Himeneu e Alexandre (I Tm 1.19,26). Basta ler a sucinta biografia desses obreiros para chegar à conclusão de que eles escolheram o seu próprio caminho, haja vista a presciência de Deus não forçar a livre-vontade do homem. O Todo-Poderoso, como onisciente, conquanto conheça de antemão os que o rejeitarão, não interfere, por ter Ele criado o homem dotado de livre-arbítrio. Deus não viola esse princípio.

Sim, o Senhor não criou o homem como um autômato, um robô, mas como ser moral, responsável por seus atos, com a faculdade de decisão e livre-escolha se bem que essas faculdades estão grandemente prejudicadas pelo efeito deletério do pecado, principalmente os de incredulidade e rebeldia.

 

XIX. A Doutrina da eleição Divina


“Eleição” e “escolha” são apenas um termo, no original: ecloge.

 A eleição “olha” para o aspecto passado da nossa salvação (I Pe 1.2; E f 1.4).

 Eleição divina é, pois, a nossa escolha para a salvação, feita por Deus. Nós, pecadores por natureza, não sabemos escolher, mas o Senhor nos escolhe (Jo 15.16).

 É claro que a eleição, em si, não implica salvação: Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o principio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade (2 Ts 2.13).

Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça e paz vos sejam multiplicadas (l Pe 1.2).

 Na Bíblia mencionam-se a eleição divina coletiva, como a de Israel (Is 45.4; 41.8,9) e a da Igreja (Ef 1.4); e a individual, como a de Abraão (Ne 7.9) e a de cada crente (Rm 8.29).

A vocação e a eleição do crente, do seu lado humano. Em 2 Pedro 1.IO lemos: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçar eis”. A escolha divina ocorre da maneira como é descrita em I Tessalonicenses 1.4-10. Ela se dá pelo recebimento do evangelho, pela fé, e permanência em Cristo, mediante a santificação daqueles que se convertem dos ídolos ao Deus vivo e verdadeiro, a fim de servi-lo “e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (v. 10). Deus não elege uns para a salvação, e outros, para a perdição. O homem é capaz de fazer a livre-escolha. E a graça de Deus não é irresistível, como muitos ensinam, valendo-se do falacioso chavão “Uma vez salvo, salvo para sempre”. 

XX. A  Doutrina da Glorificação 


Começaremos aqui com a definição básica de glorificação do crente e quando ela ocorre. Depois, abordaremos o aspecto da glorificação concernente à justificação, ou seja: a promessa de que, um dia, o crente estará face a face com Deus, confiante e sem se envergonhar.

A glorificação é o ato culminante da obra redentora de Deus no homem. Quando for glorificado, o crente estará moralmente perfeito. Terá recebido um corpo glorificado, terá herdado sua herança eterna* terá recebido como recompensa o louvor da parte de Deus e uma posição no céu, de acordo com sua fidelidade na terra.

Além disso, a glorificação do crente está inseparavelmente vinculada à vinda de Cristo e à revelação da plenitude da Sua glória. Muitos aspectos da glorificação, tais como o recebimento de um corpo glorificado (I Co 15.42), da herança (Rm 8.23) e dos galardões (2Co 5.10) - todos estes aguardam a vinda de Cristo.

A promessa de um corpo imortal

Quando criou o homem, Deus declarou a Sua obra como sendo boa. Desde então, a humanidade em geral jamais cessou de maravilhar-se diante desta indescritível criação.

Deus promete ao crente que ele será transformado e declara que o novo corpo será glorioso (I Co 15.43,44). Se nós, que somos meros mortais, ficamos pasmados ante as maravilhas deste corpo humano, que Deus chama de “bom”, imagine-se a maravilha do nosso corpo celestial que Deus classificou como “glorioso”.

Em 1 Coríntios 15 há uma descrição detalhada do novo corpo que o crente terá.

Em primeiro lugar, será como o corpo ressurreto de Cristo. “Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem” (v. 20, grifo nosso). Mais adiante está escrito: “... devemos trazer também a imagem do celestial” (v. 49).

A promessa de ser co-herdeiro de Cristo

A essência da salvação, desde o seu começo até a sua culminância, é a comunhão do crente com Cristo (I Co 6.17). Este relacionamento começa quando o crente une-se a Cristo na Sua morte para receber o perdão dos pecados (Rm 6.6,7). O crente também está unido com Cristo na Sua vida e, como resultado, torna-se co-participante da Sua natureza divina (2Tm 2.11; 2Pe 1.4). Esta união chegará ao seu ápice quando o crente for unido a Cristo na Sua exaltação, tornando-se, assim, co-herdeiro do reino, do poder e da glória de Cristo.

Cristo declarou que iria preparar moradas no céu para finalmente receber todos os crentes (Jo 14-2). Sabemos nós, em parte, das maravilhas que Deus criou em sete dias, porém, somos limitados para imaginar quão maravilhoso será o céu depois de preparativos tão extraordinários.

A herança do crente juntamente com Cristo não está limitada ao recebimento de um lar eterno; inclui, também, a participação da autoridade e do poder de Cristo.

Quando Cristo sentar-se em Seu trono e reinar, todos os crentes serão igualmente exaltados para governar e reinar juntamente em Ele, assim como compartilhar da Sua glória. Paulo disse que o crente será glorificado com Cristo (Rm 8.17).

A promessa dos galardões

O julgamento dos crentes nada tem a ver com a salvação. Todo crente receberá algum louvor da parte de Deus: e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus.” (I Co 4.5).

Isto significa que Deus julgará todos os crentes, não importa quão fiel ele tenha sido. Será mesmo um julgamento. Os crentes fiéis receberão muitos louvores e os que forem negligentes no seu viver cristão receberão bem poucos louvores. Os que querem viver carnalmente, fazendo sua própria vontade, perderão os galardões que poderiam ser seus: “se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.” (I Co 3.15). O julgamento, pois, consistirá de recebimento ou de perda de recompensa.

Os galardões outorgados no céu serão eternos, não temporais. Estes galardões são comparados às “coroas dos vencedores” conferidas nos jogos olímpicos antigos.

Aquelas coroas, por serem feitas de folhas, duravam bem pouco tempo. Num único dia de glória eram entregues como galardão, após longo período de intenso treinamento seguido de vitória. Contrastando isso, as coroas de Deus serão eternas, portanto, uma glória que nunca fenecerá. “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.” (I Co 9.25).

Não é somente louvor e recompensa que o crente receberá no céu. Também a alguns serão confiadas responsabilidades e cargos na hierarquia do céu, baseadas na sua fidelidade na terra. Notamos expressões tais como “primeiros" e “últimos” no reino

 

(Mt 19.30), menores ou maiores (Mt 5.19). Cristo ensina que haverá uma diferença específica na soma de autoridade confiada aos seus servos no reino do céu – tudo dependendo da fidelidade.

A Bíblia nos diz que Deus concederá galardões por muitas coisas, dentre elas, a conquista de almas, a resistência à tentação (Tg 1.12), sofrimento com paciência (Mt 5.11,12), ato de bondade (G16.10; Mt 10.42), hospitalidade (Mt 10.40,41 ) e o cuidado dos enfermos, necessitados e perseguidos (Mt 25.34-40).

O emprego sábio de oportunidade é uma fonte importante de galardões e a ociosidade resultará na perda deles (Mt 24.45,46 e Lc 19.26).

Até mesmo o emprego sábio de possessões materiais pode resultar em galardões.

Paulo diz que o dinheiro com que os filipenses contribuíram para o ministério dele era, na realidade, um depósito feito na conta deles no céu (Fp 4.17). Mais tarde, admoesta os crentes efésios a compartilharem com os pobres, a fim de acumularem para si sólido fundamento no céu para o futuro (l Tm 6.17-19).

É importante que lembremos que Deus olha a intenção do coração antes de olhar o ato. O verdadeiro motivo para fazer boas obras deve ser a “fidelidade a Cristo” (1Co 4.2).

Que Deus nos ajude a se manter cheios do Espírito Santo em nome de Jesus, amém.


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