sábado, 16 de julho de 2022

Série: As 10 doutrinas da Teologia Sistemática 3ª- Cristologia

 Por: Jânio Santos de Oliveira

  Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra

 Pastor Presidente: Eliseu Cadena

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  Email ojaniosantosdeoliveira@gmai.com

 


Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!  

As 10 doutrinas da Teologia Sistemática.

 Sumário geral

Capítulo 1

Bibliologia — a doutrina das Escrituras

Capítulo 2

Teologia — a doutrina de Deus

 Capítulo 3

 Cristologia — a doutrina de Cristo

 Capítulo 4

Pneumatologia — a doutrina do Espírito Santo

  Capítulo 5

Antropologia — a doutrina do homem

Capítulo 6

 Soteriologia — a doutrina da Salvação

 Capítulo 7

Eclesiologia — a doutrina da Igreja

 Capítulo 8

Angelologia — a doutrina dos Anjos

Capítulo 9

Hamartiologia - a doutrina do pecado

Capítulo 10

 Escatologia — a doutrina das últimas coisas

 

Cristologia — a Doutrina de Cristo

 

 Cristologia é o estudo que se ocupa dos atributos de Cristo como Deus e como Homem, bem como do relacionamento dessas duas naturezas. Começaremos a nossa análise pelos nomes e títulos do Senhor Jesus Cristo e as significações de cada um deles, além das características de sua perfeita humanidade. Nomes e títulos de Jesus Cristo Jesus. Este nome designa a Pessoa e a existência do Filho de Deus, que veio ao mundo para salvar os pecadores. Quando Ele é invocado como Senhor, Redentor e Salvador, é esse o seu nome íntimo e pessoal. Jesus Cristo o nome completo  compõe-se do nome próprio Jesus e de um título: Cristo. Ligados, designam o Filho de Deus bendito, o Salvador universal. Além de “Jesus Cristo”, há cerca de trezentos títulos e designações na Bíblia que se referem à sua gloriosa Pessoa. Senhor é o título da sua divindade; Jesus, além de um nome, é título da sua humanidade; Cristo, de seu oficio como Sumo Sacerdote, Rei e Profeta, e o Messias prometido nas profecias do Antigo Testamento. Cristo. O Credo de Nicéia, realizado na Bitínia (na atual Turquia), em 325, apresenta algumas declarações importantes a respeito de Jesus Cristo quanto ao fato de ser Ele tanto Homem como Deus, gerado, e não criado.

 Toda a discussão cristológica parte da resposta que se dá à pergunta: “Quem diz o povo ser o Filho do homem?”, e à crença na declaração: o Verbo era Deus.” A esta pergunta Pedro respondeu solenemente: "... Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”; ao que Cristo respondeu: “... não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.” (Mt 16.16, 17).

A revelação de Cristo não ocorre por canais humanos e naturais, mas é produto da revelação divina através de vidas transformadas pelo Espírito Santo.

  • Para João Batista, Cristo é: “... o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”(Jo 1.29). 
  • Para os samaritanos que O viram junto ao poço de Jacó, Ele é “... verdadeiramente o Salvador do mundo” (Jo 4-42). 
  • Para Maria Madalena, Ele é “o meu Senhor” (Jo 20.13). 
  • Para Tomé, Ele é o “Senhor meu e Deus meu! ” (Jo 20.28). 
  • Para o apóstolo Paulo Ele é aquele no qual “subsiste” (Cl 1.17). 
  • Para o escritor da Epístola aos Hebreus, Ele é o “sumo sacerdote ..., santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus.” (Hb 7.26). 
  • Para Deus, o Pai, Ele é “o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). Para os seres celestiais, Ele é o “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.16). E para você, o que Cristo é?

A encarnação de Deus na pessoa de Jesus Cristo é, sem dúvida, um dos maiores mistérios da doutrina cristã. Deus encarnou-se em Cristo para que no Seu próprio corpo pudesse levar à cruz as penalidades às quais você e eu estávamos sujeitos (Is 53).

A revelação do que Cristo foi, é, fez e fará brota sobrenaturalmente de Deus, através de um coração convertido e de uma alma salva, que mantém contato ininterrupto com Deus. Quanto maior a revelação que o aluno tiver da pessoa e da obra de Cristo, mais útil lhe será para o bem da Sua obra na terra.


Originalmente, o tal credo afirma: Creio em um Deus, 0 Pai Todo-poderoso, Criador dos céus e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis. Έ no Senhor Jesus Cristo, 0 Filho Unigênito de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não feito, sendo de uma substância como 0 Pai, por quem todas as coisas foram feitas... “Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo)”; “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem” (Jo 1.41; 4.25). Estas passagens mostram que judeus e samaritanos tinham a mesma esperança redentora em relação ao Messias prometido aos pais pelo Deus de Israel.

A ideia de um Messias (hb. mashiach, “Ungido”) para ser o Salvador ou Redentor de seu povo estava presente na mente dos povos, mesmo os que professavam diferentes religiões e crenças. Mas todos esperavam um Messias político. Também havia a ideia de um Libertador humano militar, eleito por Deus, para Israel e, por extensão, a toda a humanidade, comandando um poderoso exército, encontrava-se na mente de Israel. Jesus Cristo, 0 Senhor. Nos campos da adoração e da reverência, Jesus é chamado de Senhor. Especialmente depois de sua ressurreição, surgiu a expressão “Senhor Jesus”, que ocorre através do Novo Testamento. Lucas escreveu sobre as mulheres que tinham preparado especiarias para embalsamar o corpo Jesus. Chegando ao local, “acharam a pedra revolvida do sepulcro. E, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus” (Lc 24. 3). Daqui em diante, a expressão em apreço aparece em numerosas passagens neotestamentánas. A palavra “senhor” (gr. kyrios'), que é usada com relação a Jesus Cristo, é empregada, às vezes, apenas para fazer uma referência polida a um superior (Mt 13.27; 21.30; 27.63; Jo 4.11). Em outras ocasiões pode significar simplesmente o senhor de um escravo (Mt 6.24; 21.40). Ela também foi empregada na Septuaginta como tradução do tetragrama YHWH. Kyrios é um termo empregado para traduzir o nome de Deus mais de 6.500 vezes na versão grega do Antigo Testamento supramencionada. Nesse caso, qualquer leitor do grego do Novo Testamento reconheceria quando a palavra “Senhor” era uma referência ao nome do Criador dos céus e da terra, o Todo-Poderoso. Há muitos casos no Novo Testamento em que o vocábulo “senhor”, ao ser aplicado a Cristo, reveste-se do sentido que tem no Antigo Testamento: o Senhor, o Todo-Poderoso, isto é, YHWH. Tal uso pode ser notado na afirmação do anjo aos pastores de Belém: “Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador que é Cristo, o Senhor” (Lc 2. II). A palavra “Cristo”, nesse sentido, é a tradução grega de mãshiah (hb.). Conquanto esses termos nos sejam familiares, pelo uso frequente que deles fazemos no período do Natal, devemos considerar o quão surpreendentes foram para os judeus do primeiro século que conheceram um bebê chamado de “o Messias” e de “o Senhor” isto é, o próprio Senhor Deus encarnado! Quando Mateus mencionou a pregação de João Batista: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mt 3.3), fez uma citação de Isaías 40.3, que fala a respeito do próprio Senhor Deus manifesto entre seu povo. Mas o contexto aplica tal profecia ao fato de João preparar o caminho para a chegada de Jesus. O u seja, quando Jesus viesse, seria o próprio Senhor quem viria! Jesus identificou-se como o Senhor soberano do Antigo Testamento quando perguntou aos fariseus sobre Salmos 110.1 (Mt 22.44). A força dessa afirmação é que o Deus Pai disse ao Deus Filho (o Senhor de Davi): “Assenta-te à minha direita...” E os fariseus sabiam que Ele estava falando a respeito de si próprio. Nas Epístolas, Senhor é um título aplicado com frequência a Jesus Cristo. O apóstolo Paulo afirmou: “Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (I Co 8. 6).

1 Outros nomes e títulos. Há vários títulos atribuídos a Cristo no Antigo Testamento: Siló (Gn 49.10); Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade e Príncipe da paz (Is 9.6); Renovo (Jr 33.15; Zc 3.8; Is 4.2; Jr 23.5) No Novo Testamento, além dos mencionados, encontramos: Cristo Jesus (I Tm I .I 5); Senhor de todos (At 10.36); Senhor dos senhores (Ap 17.14); Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 2.20).

 

I. A Eternidade de Cristo

Jesus é o Filho de Deus bendito, enviado por Deus Pai; vindo ao mundo, humanizou-se, ao ser gerado pelo Pai no ventre de uma virgem, a fim de cumprir a vontade divina. As instruções sobre o mistério de sua encarnação foram dadas a Maria, de Nazaré, a qual recebeu a visita do anjo Gabriel. Entrando ele a sua casa, saudou-a: “Salve, agraciada; o Senhor é contigo: bendita és tu entre as mulheres”. O anjo instruiu Maria quanto ao processo sobrenatural da encarnação de Jesus mediante o Espírito Santo (Lc 1.28,31-35) e, no tempo assinalado, o Senhor nasceu numa estrebaria, em Belém, vivendo entre os homens, cheio de graça e de verdade. Ninguém há, pois, que possa negar a sua existência, haja vista que isso significa negar o próprio Deus e tudo o que sabemos a seu respeito. Mas não devemos limitar Jesus Cristo ao tempo e à história. Ele é preexistente existe antes que todas as coisas. Essa doutrina é clara nas Escrituras. O próprio Cristo fala de sua glória e relacionamento com o Pai “antes que o mundo existisse” ou “antes da fundação do mundo” (Jo 17.5; 17.24b). Tanto o contexto imediato quanto o remoto, nas páginas sagradas, evidenciam que Cristo foi, é e sempre será, como Ele mesmo afirmou, em João 8.58: “... em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse eu sou” (Jo 8.58). Sim, Ele é antes de todas as coisas (Cl I. 17). E tanto os escritores do Antigo como do Novo Testamentos asseveram que Ele é o Deus Eterno. Em Salmos 45.6,7, vemos o Senhor como o Todo-Poderoso, haja vista o autor de Hebreus ter aplicado tal passagem a Ele: “Mas, do Filho, diz: O Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amaste a justiça e aborreceste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros” (Hb 1.8-9). Cristo é eterno. E verdade que, como Filho do homem, o seu nascimento marcou uma fase da história. Contudo, quando o contemplamos do ponto de vista divino, Ele é eterno. E não somente isso; é o “Pai da eternidade” (Is 9.6). Miquéias também acrescenta que aquEle que nasceria em Belém e seria Senhor em Israel já existia “desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). Jesus tanto é eterno como histórico. Muitos afirmam que Ele somente existiu como homem, enquanto outros negam até a sua existência no contexto histórico. Entretanto, negar essa realidade é negar a própria História, à qual estão atrelados inúmeros fatos sobre Jesus. Basta observar as siglas a.C. e d.C., que significam “antes de Cristo” e “depois de Cristo”. Cristo é 0 mesmo. O Novo Testamento diz que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13.8). Essas três dimensões da sua existência revelam a sua eternidade. Elas refletem o que Ele foi, é e será para sempre, o Pai da eternidade (Is 9.6), acerca do qual está escrito, em Colossenses I .I 5-17: O qual é a imagem do Deus invisível 0 primogênito de toda a criação. Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele.

 

 II. A humanidade de Jesus

 

Cristo humanizou-se para aniquilar o que tinha o império da morte, o Diabo. O autor de Hebreus mostra isso de maneira sublime e sem igual: “E, visto que os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hb 2.14). Esse triunfo de Cristo sobre o Inimigo e seu império anulou a “cédula” que era contra nós (Jo 5.24; Ap 2 .1 1). Por isso, o apóstolo Paulo, inspirado por Deus, afirmou: “Havendo [Cristo] riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2.14,15). O corpo de Cristo. Ao se fazer Homem, Jesus tornou-se tríplice, constituído de corpo, alma e espírito. Quanto ao seu corpo, Ele mesmo disse: “Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu enterramento” (Mt 26.12). Jesus falou tanto da formação como do sofrimento e da morte de seu próprio corpo. Em Hebreus 10.5, está escrito: “Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste”. Essa predição apontava para a formação do corpo do Senhor no ventre da virgem Maria (Lc 1.35).

Quanto à sua morte, Jesus respondeu aos judeus, quando lhes pediram um sinal de sua autoridade, em João 2.19-22: Derribai este templo e, em três dias, o levantarei. Disseram pois os judeus: Em quarenta e seis anos, foi edificado este templo e tu 0 levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do Seu corpo. Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os Seus discípulos se lembraram de que lhes dissera isto, e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito. Foi o mesmo corpo que José de Arimatéia pediu para sepultar: “Este foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo lhe fosse dado. E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol” (M t 27.58,59). Quando as mulheres chegaram ao jardim onde Ele fora sepultado, “entrando no sepulcro, não acharam o corpo do Senhor” (Lc 24.3). Por conseguinte, após a sua ressurreição, Jesus apresentou-se com o mesmo corpo físico que recebera ao humanizar-se. Há, ainda, outras citações no Novo Testamento que mencionam o seu corpo após ter ressurgido dentre os mortos (M t 28.9; Lc 24.15,30,39,40; Jo 20.14,20,27; 21.13; At 1.3; 10.41). Através de seu corpo, ao morrer, Jesus cumpriu a sua missão terrena. Seu corpo, agora embalsamado por ervas aromáticas e envolvido num finíssimo lençol, fora depositado em uma sepultura comprada por um homem rico de Arimatéia e honrado membro do sinédrio, chamado José.

José envolveu o corpo do Senhor naquele lençol e o sepultou no túmulo novo que mandara escavar na rocha. Ali o corpo do Senhor repousaria da tarde da sexta-feira até à manhã do domingo, quando seria ressuscitado pelo supremo poder de Deus. A alma de Cristo. “O trabalho da sua alma ele verá, e ficará satisfeito...” (Is 53.11,12).

Neste texto, vemos que não somente o corpo de Cristo, mas a sua alma e toda a extensão do seu Ser foram entregues pelos pecados da humanidade. Durante a sua vida terrena, o Senhor Jesus tinha uma alma que é o centro das emoções humanas ligando ao seu corpo tanto a parte psíquica como a somática. Por isso, Ele sentiu pavor e angústia (Mc 14.33), indignação (Mc 10.14), compaixão (Mt 9.36) e agonia (Lc 22.44), além de chorar (Jo 11.35) e se perturbar (Jo 12.27). N o seu corpo, durante o seu viver aqui, Jesus experimentou as necessidades básicas do ser humano. N a cruz, sobre Ele caíram todos os nossos pecados, enfermidades, tristezas, males e dores (Is 53.4; Hb 2.14); (Mc 14. 34). Em Salmos 16.9,10, os seus corpo e alma são mencionados: “... a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno...” (SI 16. 9,10).

O salmista Davi, “nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo: que a sua alma não foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção” (At 2.31). O espírito de Cristo.

Há na Bíblia a expressão “Espírito de Cristo”, que não se refere ao espírito humano do Senhor diz respeito a um dos nomes do Espírito Santo. Contudo, ao se fazer Homem, Jesus passou a ter, evidentemente, um espírito, como lemos em Lucas 23.46: “E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Ao entregar o seu espírito ao Pai, Jesus cumpriu sua missão na Terra. Quando isso aconteceu, Ele, fisicamente, estava morto; o seu espírito voltara a Deus, sendo “mortificado, na verdade, na carne”. O próprio centurião certificou-se de que Ele estava morto! Contudo, a sua parte espiritual, o seu ser interior, fora “vivificado pelo Espírito”. Foi em espírito que Jesus cumpriu outra missão, além da terrena. Ele foi ao Hades, impelido pelo Espírito, que outrora quando o Senhor ainda estava em seu corpo físico fizera o mesmo, levando-o para o deserto (Lc 4.1).

Agora, o Senhor deveria entrar no Hades, em espírito, movido pelo Espírito, para proclamar a sua vitória “aos espíritos em prisão os quais, noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca...” (I Pe 3.18-20).

No espaço de tempo entre a sua morte e a sua ressurreição, enquanto o seu corpo (e apenas o seu corpo) repousava, o seu espírito encontrava-se no mundo dos mortos. Tudo isso foi possível porque, como Homem, Ele tornou-se semelhante a nós, possuindo corpo, alma e espírito. A dupla natureza de Cristo. A igreja do período apostólico enfatizava a divindade e a humanidade de Jesus, especialmente a sua origem divina e o milagre de sua encarnação no ventre de Maria. Isto é, Jesus, ao andar na Terra, era verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. O conceito de que Ele era 50% homem e 50% Deus não tem fundamento bíblico. Filho do homem e Filho de Deus são a mesma pessoa. Jesus na eternidade estava com Deus e era Deus (Jo I.I). Ao humanizar-se, não deixou de ser divino, pois atributos exclusivos da deidade foram manifestos por Ele entre os homens. Ao abrir mão, voluntariamente, de sua glória junto ao Pai, limitou-se, esvaziou-se, aniquilou-se a si mesmo, a fim de sofrer pela humanidade (Fp 2.6-8). No ventre de Maria, pois, uniram-se duas naturezas: a divina e a humana. Por amor de nós, para nos salvar, Deus se fez Homem.

 

III. Ensinamentos falsos sobre a dupla natureza de Cristo

 

O mistério das duas naturezas de Cristo tornou-se motivo de controvérsia entre certos grupos cristãos a partir do primeiro século. Apareceram no seio do cristianismo certos ensinamentos que foram posteriormente condenados e rejeitados tanto pelos apóstolos como pelos pais da igreja.

Gnósticos.

E provável que o gnosticismo tenha surgido como um segmento cristão, no Egito, entre o fim do século I e o início do século II. Muitos escritos do gnosticismo do segundo século foram encontrados, incluindo o chamado Evangelho Segundo Tomé. Os gnósticos formularam três conceitos diferentes:

 1) Negavam a realidade do “corpo humano” de Cristo. Ensinavam que Cristo apareceu na pessoa de Jesus, mas que este nunca foi realmente um ser humano. Tal “Cristologia” é conhecida por docetismo (gr. dokeo, “aparecer” ou “parecer”). Para eles, Jesus apenas se parecia com o homem. Toda a sua existência na terra teria sido uma farsa; Ele teria fingido ser carne e sangue, visando ao bem dos discípulos.

2) Afirmavam que Cristo tinha um “corpo real”, mas negavam que fosse material.

3) Ensinavam uma “Cristologia” dualista, pela qual “Cristo” teria entrado em “Jesus” no batismo e o abandonado pouco antes de sua morte. “Cristo” teria, por exemplo, usado as cordas vocais de “Jesus” para ensinar os discípulos, porém nunca foi realmente um ser humano. Afirmava, portanto, que “Jesus” e “Cristo” eram duas pessoas distintas. Há menções indiretas ao gnosticismo nas epístolas de João: “Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne [como homem]. Este tal é o enganador e o anticristo” (2 Jo v.7). Como e por que essa falácia surgiu entre os cristãos são perguntas sem respostas concretas.

 Alguns estudiosos acreditam que Pedro também teria feito menção dos gnósticos ao falar dos falsos mestres, que introduziriam, de modo sutil, heresias de perdição no meio do povo de Deus. Tais enganadores (gnósticos?), naqueles dias, após convencerem cristãos a seguirem às suas dissoluções, exigiam deles que fizessem uma confissão pública, a fim de negarem “o Senhor que os resgatou” (2 Pe 2.1,2). Os gnósticos acreditavam na existência de Deus, mas, ao mesmo tempo, afirmavam não ser possível conhecer a existência e a natureza divinas. Aceitavam a idéia da emanação ou platonismo, doutrina pela qual diziam que tudo quanto existe derivou-se do “Ser Supremo”, representado pelo Sol, cuja emanação mais forte é o Filho. Um pouco mais distantes estão os seres angelicais; depois, os homens... Enfim, Deus é inabordável. Por isso, não existia um mediador que pudesse conduzir o homem a Ele. Eles eram também liberais; não aceitavam a autoridade de Cristo. Estudavam a Bíblia como um livro qualquer. Até certo ponto aceitavam o sobrenatural, mas de acordo com a sua maneira de pensar. Eram, ainda, triteístas: viam Jesus como “Deus”, porém, de modo paradoxal, rejeitavam a sua deidade. As Escrituras mostram que eles estavam enganados (Jo I . I ; Fp 2.6; Ap 1.8; Hb 1.8). E o Credo Atanasiano deixa claro que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus: “Nesta Trindade nada é antes ou depois, nenhum é maior ou menor: mas as três pessoas são co-eternas, unidas e iguais. As pessoas não são separadas, mas distintas.

 A Trindade é composta de três Pessoas unidas sem existência separada, tão completamente unidas, que formam um só Deus”. Agnósticos. O termo “agnóstico” provém de duas palavras gregas: a, “não”, egnosis, “conhecimento”. Empregado pela primeira vez por T. H. Huxley (1825-1895), indicava literalmente “não-conhecimento”, numa oposição ao gnosticismo. Os agnósticos procuravam negar a Deus e a sua existência, dizendo que não se pode conhecê-lo. Ensinavam que a mente humana não podia conhecer a realidade; negavam, pois, a Deus e o sacrifício redentor de Jesus Cristo pela humanidade perdida. Muitos cristãos dos primeiros séculos deram ouvidos às doutrinas agnósticas e também às gnósticas, apesar de o Espírito Santo tê-los advertido por meio dos escritores do Novo Testamento. Alguns estudiosos sugerem que as religiões da Índia conseguiram iludir alguns cristãos egípcios, ou que estes teriam sido influenciados pelas ideias sincréticas vigentes à época. Nitidamente, o objetivo do agnosticismo e do gnosticismo era diminuir o Filho de Deus, negando, aberta ou encobertamente, a sua deidade. Gnósticos e agnósticos, certamente, faziam parte dos “muitos anticristos” (I Jo 2.18), uma vez que a sua filosofia e os seus ensinamentos continham algo daquilo que os falsos cristos procuravam ensinar. Ebionitas. Os ebionitas “pobres” ou “indigentes” surgiram no começo do século II. Eram judeus-cristãos que não abriram mão das cerimônias mosaicas. Segundo Justino e Orígenes, havia dos tipos de ebionitas, os brandos e rígidos. Os brandos, chamados de nazarenos, não denunciavam os crentes gentios que rejeitavam a circuncisão e os sábados judaicos. Já os rígidos (sucessores dos judaizantes dos tempos de Paulo) afirmavam que Jesus havia promulgado a Lei de uma forma rígida; ensinavam que, quando ao ser batizado no Jordão, Ele foi agraciado com poderes sobrenaturais. Mas todos eles negavam a realidade da natureza divina de Cristo, considerando-o como mero homem sobrenaturalmente encarnado. Para os ebionitas, a crença na deidade de Cristo lhes parecia incompatível com o monoteísmo. Um outro ponto discordante entre eles eram as epístolas de Paulo, porque, nelas, este apóstolo reconhecia os gentios convertidos como cristãos e, portanto, integrantes do corpo de Cristo. Maniqueus. De origem persa, foram assim chamados em razão de seu fundador, Mani, morto no ano de 276 por ordem do governo da Pérsia. O ensino deles dava ênfase ao fato de o Universo compor-se dos reinos das trevas e da luz, bem como ambos lutarem pelo domínio da natureza e do próprio homem. Recusavam Jesus; criam num “Cristo Celestial”. Severos quanto à obediência e ao ascetismo, renunciavam ao casamento.

O apóstolo Paulo profetizou acerca do surgimento dos maniqueus em I Timóteo 4.3: “Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis...” Eles foram perseguidos tanto por imperadores pagãos, como pelos primitivos cristãos. Agostinho, em princípio, era maniqueu. Entretanto, depois de sua conversão, escreveu contra o maniqueísmo. Arianos. Ario foi presbítero de Alexandria, nascido por volta de 280, na Africa do Norte, onde está atualmente a Líbia não muitos detalhes de sua vida na História. Os seus seguidores diziam que Cristo é o primeiro dos seres criados, através de quem todas as outras coisas são feitas. Por antecipação, devido à glória que haveria de ter no final, Ele é chamado de Logos, o Filho, o Unigênito.

Segundo os arianos, Jesus pode ser chamado de Deus, apesar de não possuir a deidade no sentido pleno. Ele estaria limitado ao tempo da criação, ao contrário do que diz a Palavra de Deus: “... ele [Jesus] é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl I.I7). As heresias de Ario foram rejeitadas pelos cristãos de seu tempo. E um bispo de Alexandria chamado Alexandre convocou um sínodo, em 321, depondo-o do presbitério e o excluindo da comunhão da igreja. Em 325, no Concilio de Nicéia, o arianismo foi condenado, e o ex-presbítero Ario, juntamente com dois de seus amigos, banidos para a Ilíria. Apolinarianos. Apolinário, bispo de Laodicéia a partir de 361, ensinou que a pessoa única de Cristo possuía um corpo humano, mas não uma mente ou espírito humanos. Além disso, para ele, a mente e o espírito de Cristo provinham da sua natureza divina. As idéias de Apolinário foram rejeitadas pelos líderes da igreja. Eles perceberam que não somente o corpo humano necessitava de redenção; a mente e o espírito (espírito+alma) humanos também. Nesse caso, Cristo tinha de ser plena e verdadeiramente homem a fim de nos salvar de modo igualmente pleno (Hb 2.17). Por isso, o apolinarianismo foi rejeitado pelos concílios, desde o de Alexandria, em 362, ao de Constantinopla, em 381. Nestorianos. Ê a doutrina que ensinava a existência de duas pessoas separadas no mesmo Cristo, uma humana e uma divina, em vez de duas naturezas em uma só Pessoa. Nestor ou Nestório, como aparece em outras versões nasceu em Antioquia. Ali, tornou-se um pregador popular em sua cidade natal. Em 428, tornou-se bispo de Constantinopla. Embora ele mesmo nunca tenha ensinado essa posição herética que leva o seu nome, em razão de uma combinação de diversos conflitos pessoais e de uma boa dose de política eclesiástica, Nestor foi deposto do seu ofício de bispo, e seus ensinos, condenados. Não há nas Escrituras a indicação de que a natureza humana de Cristo seja outra pessoa, capaz de fazer algo contrário à sua natureza divina.

Não existe uma indicação sequer de que as naturezas humana e divina conversavam uma com a outra, ou travavam uma luta dentro de Cristo. Ao contrário, vemos uma única Pessoa agindo em sua totalidade e unidade, e em harmonia com o Pai (Jo 10.30; 14.23). A Bíblia não diz que Ele “por meio da natureza humana fez isto” ou “por meio de sua natureza divina fez aquilo”, mas sempre fala a respeito do que a Pessoa de Cristo realizou. Eutiquístas. A ideia do eutiquismo acerca de Cristo é chamada de monofisismo idéia de que Cristo possuía uma só natureza (gr. monos, “uma”, e physis, “natureza”).

O primeiro defensor dessa idéia foi Êutico (378-454), líder de um mosteiro em Constantinopla. Ele opunha-se ao nestorianismo, negando que as naturezas humana e divina em Cristo tivessem permanecido plenamente humana e plenamente divina. Êutico asseverava que a natureza humana de Cristo foi tomada e absorvida pela divina, de modo que ambas foram mudadas em algum grau, resultando em uma “terceira natureza”. Uma analogia ao eutiquismo pode ser vista quando pingamos uma gota de tinta em um copo de água. A mistura resultante não é nem pura tinta nem pura água, mas uma terceira substância. Para Êutico, Jesus era uma “mistura dos elementos divinos e humanos”, na qual ambas as naturezas teriam sido, em algum sentido, modificadas para formar uma nova natureza. Assim, Cristo não era nem verdadeiramente Deus nem verdadeiramente homem; não poderia, pois, representar-nos como Homem nem como Deus. O que a Bíblia diz.

O ensino bíblico a respeito da plena divindade e plena humanidade de Cristo é claro, mediante as muitas referências bíblicas. O entendimento exato de como a plena divindade e a plena humanidade se combinavam em uma só Pessoa tem sido ensinado desde o início pela igreja, mas só alcançou a forma final na Definição de Calcedônia, em 451. Antes desse período, diversas posições doutrinárias inadequadas quanto às naturezas de Cristo foram propostas e rejeitadas. Primeiro, pelos apóstolos. Depois, pelos chamados pais da igreja. No caso do gnosticismo — que surgiu ainda quando o Novo Testamento estava sendo escrito , alguns livros o refutaram, de alguma forma: João, Efésios, Colossenses, I e 2 Timóteo, Tito, 2 Pedro, I, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Com a finalidade de resolver os problemas levantados pelas tais controvérsias, um grande concilio eclesiástico foi convocado em Calcedônia, em 451, chamado de a Definição de Calcedônia. Ela foi considerada a definição padrão da ortodoxia sobre a Pessoa de Cristo pelos grandes ramos do cristianismo: catolicismo, protestantismo e ortodoxia oriental. Diz a Definição de Calcedônia: Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade e perfeito quanto à humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeiramente bomem, constando de alma racional e de corpo; consubstanciai (“homoousios”) ao Pai, segundo a divindade, e consubstanciai a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado”, gerado, segundo a divindade, antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade; por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem María־ por parte de Deus (“theotókos Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis. A distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e substância ('í(hypostasisnão dividido ou separado em duas pessoas, mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor, conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e 0 mesmo Jesus Cristo nos ensinou e 0 credo que pais da igreja nos transmitiu.

Alguns estudiosos encontram dificuldades para entenderem a combinação da divindade e da humanidade de Jesus Cristo. A maturidade cristã, o andar com Deus e a livre ação do Espírito Santo são vitais aqui. Este assunto, evidentemente, é mais ligado ao campo da revelação do que mesmo o da explicação. Contudo, quando bem analisado do ponto de vista investigativo e teológico, existe uma certa facilidade de ser entendido pela mente natural. Examinando o Novo Testamento e observando a cada detalhe, veremos como a humanidade e a divindade de Cristo se harmonizam.

 

IV. O Homem – Deus e os seus atributos

 

A questão maior entre os pensadores liga-se aos atributos naturais da divindade e as limitações de Jesus: Onipotência. Nas Escrituras é apresentado o supremo poder pessoal do Filho de Deus, evidenciando-se os seus atributos naturais e morais, próprios de Deus Pai. Em várias passagens, menciona-se a onipotência do Senhor Jesus. Em Isaías são citados cinco nomes de Cristo em uma mesma passagem; um deles (Deus forte) refere-se à onipotência de Cristo: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz” (Is 9.6). Onipresença. “Como Jesus continuou onipresente se, ainda na Terra, estava limitado pelo tempo e o espaço, ocupando apenas um só lugar ao mesmo tempo?” Como Filho do homem (sua humanidade), Ele estava limitado às dimensões geográficas: quando estava na Galileia, não se encontrava, é claro, na Judeia. No entanto, como Filho de Deus (sua divindade), sempre esteve presente em todo o lugar (M t 28.20). O próprio Senhor Jesus disse aos seus discípulos: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt 18.20).

E ainda: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (Jo 14.23). Como Filho do homem, estava no mundo (Jo I.IO); como Filho de Deus, disse: “Eu já não estou no mundo” (Jo 17. II). Como Homem, o Senhor estava na Terra; como Deus, podia estar no Céu, ao mesmo tempo: “Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” (Jo 3.13). Depois de sua ressurreição, Ele declarou: “... estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt 28.20). Onisciência. “Se Jesus é onisciente, por que confessou, em certa ocasião, não saber o dia nem a hora de sua Segunda Vinda?” Como coexistiam Deus e Homem numa mesma Pessoa, sabemos que “toda a plenitude” da divindade encontrava-se em Jesus Cristo. Daí o profeta Isaías ter afirmado profeticamente que Ele seria possuidor da septiforme sabedoria divina: “E repousará sobre ele o espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11.2). Cristo é uma das Pessoas da Santíssima Trindade. Sendo igual a Deus em seus atributos, pôde administrar sem nenhum empecilho as naturezas divina e humana. As expressões ditas por Ele que mostram certas limitações estão ligadas à sua humanidade. Mas, quando preciso, Ele fez valer os seus atributos divinos. Quando Jesus disse: “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai” (Mc 13.32), fê-lo como Homem, não se valendo do seu atributo divino da onisciência. Ao dizer “nem o Filho”, expressou a sua humilhação e o seu esvaziamento decorrentes de sua encarnação (Fp 2.6-8). A despeito disso, a Ele foi dado todo o poder no Céu e na Terra; neste “todo” está incluído o atributo da onisciência (M t 28.18; Jo 16.30; 21.17), que Ele nunca perdeu, em potencial ( Jo 6.61), mas dele abriu mão parcialmente e em alguns momentos em que agiu como Homem. Outros atributos naturais. Além dos atributos acima existem outros em Cristo: unicidade (Jo 3.16; At 4.12); verdade (Jo 14.6); infinidade (M q 5.2; H b 1.12); imensidade (At 10.36); ubiquidade (Mt 18.20; 28.20); eternidade (Is 9.6); inteligência (Lc 2.47); sabedoria (Mt 23.34; Lc 1 1.49; I Co 1.24); amor (E f 3.19); justiça (Jr 23.6); retidão (2T m 4.8); presciência (Jo 2.24-25; 6.64); providência (Mc 16.20); vontade (M t 8.3); misericórdia (H b 4.15-16). Atributos morais de Cristo. Ele era e é: santo (Lc 1.35); justo (At 3.14); manso (M t 11.29); humilde (M t 11.29); inocente (H b 7.26); obediente (Fp 2.8); imaculado (Hb 7.26); amoroso (Jo 13.1). Em tudo foi tentado, mas sem pecado (H b 4.15

 

 V. A encarnação de Cristo

 

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós...” (Jo I.I4 ). Devemos observar aqui vários aspectos da vida de Cristo, envolvendo tanto o contexto divino como o humano: Sua concepção virginal. A concepção de Jesus foi um ato miraculoso de Deus. A promessa divina de que isso aconteceria foi feita pelo próprio Deus: “Eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is 7.14b). Paulo disse que a encarnação de Cristo foi um milagre e a chamou de “mistério da piedade” (I Tm 3.16). Existem os que sustentam a “virgindade perpétua de Maria”, dizendo que permaneceu ela virgem antes, durante e depois do parto. Mas essa doutrina não tem apoio nas Escrituras nem se coaduna com a história do nascimento de Jesus, que se processou de forma natural. Quanto à sua concepção pelo Espirito Santo no ventre da virgem, essa, sim, foi miraculosa e sobrenatural. A preservação da “virgindade perpétua de Maria” procura isentá-la de ter sido mãe de outros filhos. Essa doutrina forma a base dos argumentos que explicam erroneamente a negação dos “irmãos de Jesus”, que aparecem em vários lugares das Escrituras. Através do tal ensino falso afirma-se que os irmãos de Jesus eram, na verdade, primos. Parece razoável que uma doutrina dessa natureza, caso tivesse tanta importância como alguns afirmam, pelo menos fosse apoiada por uma pequena afirmação bíblica nesse sentido. Pelo contrário, o Novo Testamento afirma que Jesus tinha uma família do ponto de vista humano, a princípio pequena, formada por José, Maria e Jesus. Depois, mencionam-se os seus irmãos, Tiago, José, Judas e Simão, bem como suas irmãs (Mc 6.3). H á inúmeras referências à família biológica de Jesus nas Escrituras (SI 69.8; M t 12.46-50; Mc 3.21,31-35; Lc 8.19-21; Jo 7.1-7; At 1.13,14; I Co 9.5; G1 I.I9 ;T g I.I; Jd v.I;.).

 

1. Jesus nasceu na plenitude dos tempos

 

A Era Cristã. E um período que marca sistemas, computa intervalos de tempo determinados, com base em princípios astronômicos. Os calendários são baseados em unidades de tempo heterogêneas: as resoluções da Lua ou a translação aparente do Sol, conforme são apresentados pela ciência moderna. A escolha das unidades de tempo para periodizar a História é lógica em alguns casos e resultado do hábito em outros. A utilização da Era Cristã (E.C.) é um hábito entre escritores do Ocidente.

 

2. Definições de tempos e períodos.

 A fim de que entendamos o que significa a expressão “plenitude dos tempos”(Gl 4.4), faremos algumas definições.

Na Antiguidade, a datação dos anos partia do início de certos reinados. Os romanos contavam os anos a partir da fundação de Roma. Os gregos usavam como referência os Jogos Olímpicos. A cronologia cristã firmou-se, definitivamente, no fim da Idade Média. Mas não é a única que existe. Os árabes contam os anos a partir da Hégira, fuga de Muhamad (vulgarmente, Maomé) para Medina, em 16 de julho de 622 da E.C. A aceitação universal da cronologia cristã fez com que os anos anteriores ao nascimento de Cristo passassem a ser contados de trás para frente (e.g. 10 a.C.).

1)    Geração.

Um período de 25 a trinta anos corresponde a uma geração, tempo em que os indivíduos passam a constituir família e gerar filhos. Um século engloba quatro gerações. Entre os teólogos, existem opiniões de que uma geração cobre um período de quarenta anos; para os judeus, a palavra “geração” podia indicar a sucessão do pai por um filho (Mt I.I-I7 ; Lc 3.23-38).

2) Idade e época.

 Idade é um espaço de tempo durante o qual ocorreram fatos notáveis (Idade Média, Idade do Bronze, Idade do Ferro,).

 Época é um período iniciado por fato importante (Época do Dilúvio, Época do Renascimento).

1)    Período e etapa.

Período é o espaço de tempo entre dois acontecimentos ou duas datas; certo número de anos que mede o tempo de modo diverso para cada nação (o período tinita, o período ático). Etapa é parte de um processo que se realiza de uma só vez.

2)    Fase e tempo.

 

 Fase é um estado transitório, menor que a etapa ou o período. Tempo divide-se em três partes:

 passado, presente e futuro.

O tempo sem o movimento não seria tempo. Seria eternidade. O tempo é, pois, uma espécie de números. Mas não é um número descontínuo; é um número contínuo e fluente.

 

3)    Dispensação.

 

É um período de tempo em que o homem é experimentado em relação à sua obediência a alguma revelação especial da vontade divina.

A frase vem do latim iispensatio e significa “dispensar”, “distribuir”.

4)    Eternidade.

 

E um atributo que decorre da imutabilidade.

 O termo denota, com efeito, aquilo que não muda e não pode mudar de maneira alguma.

A eternidade é diferente do tempo.

O tempo corresponde ao que muda, ao que comporta a sucessão e o vir-a-ser.

 A eternidade é uma duração, quer dizer, uma permanência de ser, sem nenhuma sucessão; sem começo nem fim. Jesus nasceu em Belém. A profecia de Miquéias dizia que o Messias prometido aos filhos de Israel, nasceria em Belém, que, mesmo pequena em dimensões, tornou-se notória pelo nascimento e pela infância de Davi, que nela nasceu e cresceu. Contudo, o que mais imortalizou o seu nome foi sem dúvida o nascimento de Cristo. A palavra “belém” significa “casa de pão” (hb.) e “casa de carne” (ar.). A cidade de Belém está localizada cerca de nove quilômetros ao sul de Jerusalém, sobre uma colina rochosa, com uma população de aproximadamente quarenta mil habitantes. Seu nome primitivo era Efrata (Gn 35.19). Belém aparece pela primeira vez ligada a morte e sepultamento de Raquel, esposa de Jacó (Gn 35.19). Posteriormente, tornou-se famosa pela história de Rute, bisavó de Davi, nascida ali. Foi essa cidade escolhida por Deus para que nela Maria desse à luz ao seu primogênito: o Senhor Jesus (M q 5.2; Mt 2.1-6). Por isso, José, que era da casa e família de Davi, veio a Belém para se alistar com Maria, sua mulher (Lc 2.4-5). Desde esse acontecimento, que marcou a transição entre o Antigo e o Novo Testamentos, essa cidade se fez imortal. Atualmente, há em Belém duas pequenas entradas que conduzem a uma gruta, a da Natividade, que tem forma retangular e é iluminada por candelabros. Uma estrela de ouro, com a inscrição em latim Hic de Mana Virgine Jesus Chrístus natus este (“Aqui nasceu Jesus da Virgem Maria”), assinala o lugar do nascimento de Cristo. Uma manjedoura está situada à direita.

 

3 Data do nascimento.

 

Desde o início do cristianismo, a cristandade em geral comemora o Natal de nosso Senhor em 25 de dezembro. Esta data, entretanto, não é bem aceita pela maioria dos judeus; e até por historiadores e teólogos cristãos. Eles insistem em que a data verdadeira do nascimento de Cristo, de acordo com a Bíblia e os pais da igreja, seria 14 de Nisã do ano zero. O dia 25 de dezembro é mencionado na História como sendo Natal pela primeira vez em 354.

Na velha Roma, essa data era o dies natalis invkti (“dia do nascimento do invicto”).

 Segundo informações de escritores contemporâneos, no princípio do século III, em alguns círculos da igreja cristã se celebrava o aniversário natalício de Jesus no dia 6 de janeiro. Depois, essa data passou a se referir ao batismo, e não ao nascimento de Jesus. No século IV, foi oficializada a data de 25 de dezembro. A visita dos anjos. Corroborando o que dizem as Escrituras (I Tm 3.16; Hb I.6)

 

Como foi constante a assistência dos anjos ao Senhor Jesus.

 

·       No seu nascimento eles foram seus arautos e com hinos exultantes anunciaram as boas novas à humanidade (Lc 2.10-12,15-17).

·       Um anjo dirigiu sua fuga ao Egito (e o regresso) através de sonhos (M t 2.13-20).

·       Na tentação, os anjos o serviram;

·        Em sua agonia, o socorreram;

·       Na sua ressurreição, foram os primeiros a proclamar o seu triunfo;

·       Na sua ascensão, o escoltaram até ao trono; e,

·        Quando Ele voltar para julgar o mundo da presente Era, formarão o seu séquito

 

4.  Os magos do Oriente

 

O termo “mago” (gr. magoi) foi empregado pela primeira vez por Heródoto (historiador grego do século V a.C.), sobre uma tribo dos medos, que ocupavam funções sacerdotais no império persa.

Outros escritores clássicos mencionam o termo como sinônimo de “sacerdote”. Complementando isso, o texto de Daniel 7.20; 2.27; 5.15 aplica a palavra a certa classe de sábios ou astrólogos que interpretavam sonhos e mensagens dos deuses do paganismo. Em termos hodiemos, “mago” pode significar “um erudito que se dedica e se distingue no campo da astronomia, da matemática, da astrologia, da alquimia e da religião”. Entre os babilônios, por exemplo, o vocábulo era aplicado aos escribas sagrados, uma ordem de sábios que tinha a seu cargo os escritos sacros, que passaram de mão em mão, desde o tempo da Torre de Babel. Talvez o vocábulo “mago”, no Novo Testamento, tenha assumido uma posição negativa generalizada devido aos acontecimentos que envolveram Simão e Elimas (At 8.9,24; 13.4-II).

 

5. A origem dos magos.

 

As Escrituras nos levam a entender que os magos vieram de uma mesma terra. As evidências extraídas das luzes da fé e da razão natural nos indicam que eles eram da descendência da ramha Makeda de Aksum, conhecida pelos escritores da Bíblia como: “a rainha de Sabá” (1 Rs 10.1); “a rainha do meio-dia” (Mt 12.42); “a ramha do Sul” (Lc 11.31). O paralelismo entre as duas narrativas — a da rainha e a dos magos reforça o sentido desse pensamento: “E o rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo quanto lhe pediu o seu desejo, além do que lhe deu, segundo a largueza do rei Salomão. Então voltou e partiu para a sua terra...” (1 Rs 10.13). “E, sendo por divina revelação avisados em sonhos para que não voltassem para junto de Herodes, partiram para sua terra...” (Mt 2.12). Existe, entretanto, uma grande dificuldade para os eruditos no que diz respeito à terra natal dos magos. Eles “vieram do Oriente”. Mas o termo “oriente” se refere a “Oriente geográfico” ou a “Oriente astronômico”? Apesar de a forma singular anatole (gr. “leste”, em relação ao nascer do sol), induzir à conclusão de que o sentido é astronômico, o sentido geográfico mostra-se mais coerente quando se faz uma análise histórico-cultural. Para muitos, a expressão: “voltaram para sua terra” dá a entender que eles eram oriundos de um só país. Aqueles que identificam os magos como procedentes da Babilônia, acham que esses sábios foram influenciados pelas profecias de Daniel, Ezequiel.

Isso, entretanto, não oferece argumento lógico para tal afirmação. A posição mais lógica deve ser aquela já esboçada acima, isto é, de que tal influência deve ter sido originada na visita da rainha de Sabá à terra de Israel.

 

 A tradição ainda acrescenta que, durante uma expedição realizada pela mãe de Constantino, o Grande, ela encontrou os esqueletos dos magos. Da Igreja de Santa Sofia, seus ossos foram levados para Milão, e, por fim, transportados por Frederico Barba-Roxa, para Colônia, onde estariam os três crânios dos magos, numa urna de ouro.

 

 A visita dos magos ao menino Jesus. Os ricos fidalgos do oriente não encontraram Jesus na manjedoura como aconteceu com os pastores. Eles encontraram o menino Jesus já em sua casa, com Maria, sua mãe, onde, prostrando-se, o adoraram (Mt 2.1-12). O relato da visita dos magos não encontra paralelo em outra parte do Novo Testamento. Portanto, temos de usar da imaginação dentro daquilo que se pode depreender dos doze versículos que narram essa história.

 

 Esses embaixadores não visitaram o Senhor Jesus por ocasião do nascimento dEle; antes, segundo o contexto da narrativa, fizeram isso cerca de dois anos depois do dia natalício de Jesus, como se depreende de Mateus 2 .1 1 e Lucas 2.7,16. Os magos não encontraram Jesus na manjedoura (gr. phatne), e sim numa casa (gr. gikia).

 

 O plano de Herodes de matar Jesus foi executado dentro daquilo que eles tinham lhe informado (Mt 2.16).

 

Há opiniões variadas sobre os magos. Existem várias opiniões e até mesmo lendas no que diz respeito à identificação deles. Algumas não têm paralelo em outra parte da Bíblia; são ficções. Outras, porém, se harmonizam com alguns detalhes vividos na História. Os antigos cristãos orientais conservam tradições de que os magos eram doze sábios, cada um dos quais representaria uma das tribos de Israel. Alguns também antigos mosaicos mostram apenas dois magos, ao passo que outros exibem sete ou mesmo doze. O número onze teve apoiadores especiais, haja vista afirmarem que esse número é espiritual, podendo também predizer os números dos fiéis apóstolos (exceto Judas Iscariotes) de Cristo.

 

No século IV, a Igreja Ocidental estabeleceu o número de três, tomando como ponto de referência as dádivas que os sábios ofereceram a Cristo. Com o passar do tempo, os presentes foram considerados símbolos da verdade cristã: ouro para a sua humanidade, mirra para sua morte e incenso para sua divindade. Não obstante, o registro bíblico não diz quantos magos foram ver o Menino em Belém.

 

6. Guiados por uma estrela.

 

Há muitas interpretações e argumentos sobre os magos e a estrela que os guiara à terra de Israel (Mt 2.2).

 

  • A estrela teria sido uma personalidade, como um anjo, que, por expressa ordem de Deus, guiara os magos a Jerusalém.
  •  Tanto a estrela como a narrativa seriam um mito, uma criação do autor para engrandecer a Jesus e a história de seu nascimento. E a ideia que agrada aos modernistas, porém não passa de grosseira conjectura, destituída em tudo da mente religiosa, cristã e temente a Deus. Ê uma insônia.
  •  A estrela teria sido um fenômeno divino dado só aos magos como ponto de significação divina, pois ninguém, além deles, podia vê-la.
  •  Os astrônomos Kepler, Munter e Ideler, além de diversos intérpretes e teólogos acreditam que teria sido uma conjunção de planetas.

5)    Teria sido um cometa que fizera a mesma rota seguida pelos magos. Mas, à luz da Palavra do Senhor, a estrela foi um tipo de astro especial e miraculosamente preparado por Deus, para guiar os magos (Nm 24.7).

 

7. A infância de Jesus

 

Sua alimentação. Alguns têm opinado que Jesus, como Deus, tenha sido uma super-criança, e que também a sua alimentação tenha sido exclusiva, diferente da das crianças de seus dias. Mas isso não é verdade. Ele teve um desenvolvimento natural, moldado de acordo com as regras do procedimento.

 

Quando menino, Jesus gostava de comer o que quase toda criança gosta: “Manteiga e mel” (Is 7.15). Como recém-nascido, Ele foi amamentado nos seios de Maria, sua mãe. Depois, quando já bem crescido, comia de tudo que um judeu de seus dias podia comer. Foi até mesmo tachado de “comilão e beberrão” (Mt 11.19), de modo maldoso por aquela geração que não via nEle o brilho celestial da glória de Deus.

 

8. Sua obediência.

 

O que mais marcou a infância de Jesus foi a sua obediência a Deus e aos seus pais (Fp 2.6-8). O exemplo de obediência deixado por nosso Senhor deve ser seguido por seus servos na presente dispensação. Ele era Senhor, mas sempre se apresentou como Servo. Sua obediência com respeito ao Pai caracterizava a sua maneira de viver: foi “obediente até a morte”. A obediência deve fazer parte integral da vida cristã. A promessa feita pelo Senhor com respeito à coroa da vida é para aquele que for obediente e fiel a Ele até ao fim: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2.10). Foi esse o sentimento que houve em Cristo Jesus (Fp 2.5), o de ser fiel a Deus até à morte, e morte de cruz (Fp 2.8). A obediência, nesse caso, abrange todos os ângulos da vida do Cristo. Ela diz respeito a Deus e aos pais de Jesus (Lc 2.51).

 

9. A vida adulta de Jesus

 

A vida adulta de Jesus dos doze aos trinta anos, chamados de os “anos de obscuridade” tem gerado alguns questionamentos no meio teológico. Daí ser necessário considerarmos alguns pontos: Seu crescimento natural. “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2.52). Um dos aspectos mais visíveis da vida de Cristo foi seu desenvolvimento natural. Isto é, sofrendo e participando das mesmas circunstâncias de uma pessoa humana. As Escrituras mostram que o nosso Senhor, mesmo sendo Deus, teve um desenvolvimento humano natural: “... o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40). O desenvolvimento físico e mental de Jesus não deve ser explicado como sendo causado por sua divindade tão-somente, mas sim pelo resultado das leis comuns do crescimento humano. Mas o fato de Ele não ter possuído uma natureza pecaminosa, sem dúvida alguma contribuiu para o seu crescimento em graça e sabedoria para com Deus e os homens. Outrossim, o seu desenvolvimento mental não pode ser atribuído ao seu aprendizado tão-somente nas escolas de seus dias (Jo 7.15); deve ser atribuído também à sua educação em um lar piedoso e temente a Deus. Ele frequentava com regularidade a sinagoga (Lc 4 .16), como também o Templo (Lc 2.14,46,47), e sua familiaridade com as Escrituras Sagradas é percebido em Lucas 4.17b: “... achou o lugar em que estava escrito”.

 

 Partindo da manjedoura, temos a seguinte ordem cronológica de seu crescimento:

 

  • Com “um dia” de nascido, envolto em panos (Lc 2.7).
  •  Oito dias depois, conduzido ao ato da circuncisão (Lc 2. 21).
  •  Quarenta e um dias depois, seus pais o levaram ao Templo para a apresentação, segundo a lei cerimonial (Lc 2.22).
  •  Talvez dois anos (ou menos) mais tarde, é visitado pelos magos, que o encontraram numa casa, e não numa manjedoura.
  •  Não sabemos que espaço de tempo Ele passou no Egito. Mas antes dos doze anos, aconteceu o regresso (Os I I . I; Lc 2.43).

 

6.    Após os seus doze anos, as Escrituras fazem mais algumas referências à sua vida física (Lc 2.43-46). Alguns teólogos ociosos fazem objeções quanto aos dezoito anos de silencio na vida de Jesus e resmungam que não temos nenhuma outra fonte de

informação quanto a isso, a não ser o que diz a tradição. Isto é, que durante esse período Jesus esteve em meditação na cidade de Om, também chamada de Heliopolis, no Egito. Devemos silenciar onde a Bíblia silencia. Entretanto, as Escrituras quebram esse “silêncio”. Depois dos doze anos, temos algumas informações, como: Έ crescia Jesus... em estatura...” (Lc 2.52); e: Έ , chegando a Nazaré, onde fora criado...” (Lc 4.16a). Essas duas passagens mostram claramente que, no espaço de tempo antes de sua aparição pública, Ele viveu em Nazaré. Os meninos judeus, aos treze anos, deixavam a infância, mesmo que não fossem capazes de discutir, como o menino Jesus, com os doutores reunidos nos átrios do Templo (Lc 2.46,47). A partir dessa época exigia-se deles, como dos adultos em geral, que recitassem três vezes por dia a famosa oração Shema Israel, em que todo o crente deve proclamar sua fé no Deus único e verdadeiro. “Visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele participou das mesmas coisas...” (Hb 2.14a). Como Homem, Jesus cresceu também socialmente; participou da vida social dentro dos limites da aprovação divina. Ele foi a um casamento em Cana da Galileia (Jo 2.1ss) e participou de diversos jantares (Mt 9.11; Lc 19.1-10). Seu crescimento espiritual Έ crescia Jesus... em graça para com Deus” (Lc 2.52c). O desenvolvimento de Jesus em graça para com Deus está ligado à observação das leis da natureza e da educação que recebeu em seu lar piedoso, bem como às instruções recebidas no Templo por sacerdotes piedosos ( Sl 27.4; Lc 1.5,6), ao seu próprio estudo das Escrituras e, sobretudo, à sua íntima comunhão com o Pai. Paulo menciona o aperfeiçoamento no ministério cristão. E toma como base o modelo que existia no ministério de Cristo. Então ele diz: “Até que todos cheguemos a unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13).

 

10. A Genealogia de jesus

 

 Jesus provou, através de sua genealogia, que não foi alguém de origem duvidosa ou ignorada. Como Deus não era necessário provar nada, haja vista não ter Ele princípio de dias nem fim de existência. Mesmo, Deus Pai fez questão de mostrar a procedência de seu Filho: “Tu és meu Filho, hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho?” (Hb I.5b). A Palavra de Deus mostra também a origem de Jesus como Homem. Em Mateus I, a genealogia de Jesus abrange 42 gerações, cobrindo um período de dois mil anos — vai de Cristo a Abraão. Abraão foi pai de oito filhos: Ismael (por meio de Agar), Isaque (por meio de Sara), Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque e Suá (por meio de Cetura). Todavia, o filho da promessa era Isaque, através do qual viria o Messias. Em Lucas 3, a genealogia cobre um período maior: cerca de quatro mil anos (vai de Cristo a Adão). Difere da genealogia em Mateus I.I-I7 , pois Lucas menciona os antepassados humanos de Cristo, através de Davi e Abraão, até Adão, mostrando, portanto, sua conexão não somente com Israel, mas também com toda a humanidade. Mateus traça a linhagem real de Davi, desde Salomão até José, mostrando Jesus como herdeiro legal de Davi. Lucas traça os antepassados de Maria até Natã, outro filho de Davi, mostrando então que Jesus era “... da descendência de Davi segundo a carne” (Rm 1.3).

 As 42 gerações na genealogia de Mateus estão divididas em três partes de 14 gerações cada uma:

1) De Abraão a Davi (abrange mil anos aproximadamente).

2) De Davi ao exílio babilônico (abrange um período de quatrocentos anos).

 3) Do exílio até Cristo (abrange um período de seiscentos anos). Ela tem treze gerações, sendo que a décima quarta inclui Maria ou Jesus.

Na genealogia registrada em Mateus, as gerações sobem.

Em Lucas, descem.

A de Mateus é ligada mais à sua realeza.

A de Lucas, à sua humanidade.

 

VI. As profecias na vida de Jesus

 

O Senhor Jesus não veio ao mundo por acaso.

Houve um planejamento da parte de Deus antes da fundação do mundo, preparando o cenário da sua existência como homem. Do ventre da virgem à sua ascensão, os seus passos, palavras e atos foram preditos com antecedência de séculos.

O plano de Deus na formação das Escrituras e na redenção do homem não poderia se completar sem a presença de seu Filho. Sabemos que o Novo Testamento não existiria se Jesus não tivesse vindo; ele é formado por sua vida, suas palavras e obras, tanto as que foram realizadas durante a sua vida terrena, como as realizadas pelos apóstolos e discípulos sob a autoridade de seu nome (At 3.16). Com efeito, os dois Testamentos se completam em Cristo. Sem a sua Pessoa jamais estariam completos. Portanto, em Cristo temos a confirmação de tudo quanto estava escrito a seu respeito e de Deus. Todos, agora, sem exceção, podem pregar a sua Palavra e afirmar que Deus é o Deus da verdade, pois todos os vaticínios que falaram de Cristo, nos mínimos detalhes, foram cumpridos fielmente!

Profecias messiânicas.

As principais profecias acerca de Cristo que tiveram o seu cumprimento nos tempos do Novo Testamento são:

1) Filiação divina (SI 2.7; At 13.33; Hb I. 5).

2) Concepção no ventre de uma virgem (Is 7.14; Mt 1.22,23).

3) Nascimento natural (Gn 3.15; Gl 4.4).

4) Descendência de Abraão (Gn 22.18; M t I.I).

5) Procedência da tribo de Judá (Gn 49.10; Hb 7.14).

6) Descendência de Davi, segundo a carne (2 Sm 7.12; M t I.I).

7) Nascimento em Belém (Mq 5.2; M t 2.4-6).

8) Nome Jesus (Lc 1.31).

9) Nome Emanuel (Is 7.14; Mt 1.13).

10) Nome de cidadão, o Nazareno (M t 2.23).

Quando Pilatos escreveu a inscrição em hebraico, grego e latim, chamou a Jesus de “Jesus Nazareno” (Jo 19.19-20). Os profetas também falaram sobre esse nome, mas nada deixaram escrito. Quando os dois discípulos caminhavam para Emaús, se lembraram de que, durante a vida terrena de Cristo, em algum lugar, em certas ocasiões, Ele fora chamado de Nazareno (Lc 24. 19).

11) Visita de embaixadores reais (SI 72.10; Is 60.6; M t 2.1, 2).

12) Peregrinação no Egito (Os I I.I; M t 2.15).

13) Fuga sucedida pela morte de inocentes (Jr 31.15; M t 2.17,18).

14) O precursor (Is 40.3; M t 3.3).

15) Residência nos confins de Zebulom e Naftali (Is 9.1a; M t 4.I3-I5a).

16) Grande profeta (D t 18.18; At 7.37).

17) Misericordioso (Os 6.6; M t 9.13).

18) Sacerdote eterno (SI 110,4; H b 5.10).

19) Rei ungido (SI 2.6; Jo 18.37).

20) Menor que os anjos (SI 8. 5; H b 2.9).

21) Louvor profético (SI 22.22; Hb 2.12; Mt 26.30).

22) Primeiras palavras proféticas (SI 40.7,8a; H b 10.5-7).

23) Unção para pregar (Is 6 I.I; Lc 4.18,21).

24) Cheio do Espírito Santo (SI 45.7; H b 1.9).

25) Ensino por meio de parábolas (SI 78.2; M t 13.35).

26) Voz suave (Ct 5.16; Is 42.2; Mt 12.19).

27) Reputado como desconhecido (SI 69.8; Jo 7.5).

28) Ensino rejeitado por Israel (Is 6.9, 10; M t 13.14,15).

29) Entrada triunfal em Jerusalém (Zc 9.9; M t 21.4,5). .

30) Aborrecimento sem causa (SI 35.19; Jo 15.25).

31) Alvo de conspiração (Sl 2.1,2a; At 4.25,26).

32) Purificação do Templo (Sl 69.9; Jo 2.17).

33) Sacrifício expiatório, levando sobre si as nossas enfermidades (Is 53.4; Mt 8.17).

34) Traição por um amigo (Sl 41.9; Jo 13.18).

35) N a traição, vendido por trinta moedas (Zc 11.12,13; M t 26.15).

36) Perdição do traidor (Sl 109.7,8; Jo 17.12; At 1.20).

37) Prisão no Getsêmani (Zc 13.7; M t 26.31).

38) Agressões físicas (Mq 5.1; M t 27.30).

39) Cuspido (Is 50.6; Mc 15.19).

40) Pés e mãos traspassados (Sl 22.16; Jo 19.37).

41) Vestidos repartidos (Sl 22.18; Jo 19.24).

42) Contado com malfeitores (Is 53.12a; Mc 15.28).

43) Zombado na cruz (Sl 22.7,8; Mc 15.29).

 44) Sedento na cruz (Sl 69.21; Mc 15.23; Jo 19.28,29).

45) Oração, na cruz pelos inimigos (Is 53.12b; Lc 23.34a).

 46) Lado perfurado (Zc I2.I0a; Jo 19.34,36,37).

47) Ossos intactos, não quebrados (Sl 22.17; Jo 19.36).

48) Corpo reclamado por homem rico (Is 53.9a; M t 27.57,58a).

49) Alma não ficaria no Hades (Sl 16.10a; At 2.3Ia).

50) Corpo não seria destruído (Sl 16. 10b; At 2. 3 1 b).

51) Ressurreição (Jó 19.25; Is 55.3; Lc 24.46; At 13.34).

52) Ascensão ao Céu (Sl 68.18; Ef 4.8).

 53) Recebido no Céu pelo Pai (Sl 24.7; At I.I I).

54) Assento no trono junto ao Pai (Sl 110.1a; Hb I.3b).

55) Coroado (Sl 8.5b; Hb 2. 9).

 

Evidentemente, existem muitas outras profecias na Bíblia que falam de Cristo em todos os seus aspectos; é impossível narrar todos os seus cumprimentos aqui: “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem...” (Jo 21.25).

 

VII. A aparência de Jesus

 

 Existe uma escola que aponta fealdade em Jesus, com base em duas descrições feitas pelo profeta Isaías: “Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens... como raiz duma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos” (Is 52.14; 53.2).

Trata-se de uma escola de mentecaptos. Devemos ter em mente que essas passagens falam de sua meninice e infância, e de quando Ele encontrava-se desfigurado pela dor e sofrimento na cruz. De acordo com Salmos 45.2 — “Tu és mais formoso do que os filhos dos homens...” e outras informações históricas, Jesus era formoso.

Circulou em certo tempo uma suposta Carta de Públio Lêntulo, governador da Judéia, que fora enviada ao Senado Romano, no Império de Tibério.

A autenticidade do documento é questionada, o qual em certa parte diz: Apareceu em nossos dias um homem de grande virtude, chamado Jesus Cristo, 0 qual ainda vive entre nós. Os gentios 0 têm recebido como um profeta de verdade; mas os seus discípulos lhe chamam 0 Filho de Deus. Ressuscita os mortos, cura todo gênero de enfermidades. Sua estatura é mais que mediana; seu porte; circunspecto; sua presença, venerável; de modo que; quantos o veem 0 amam e 0 temem. Seu cabelo é castanho, basto e liso até as orelhas; delas para baixo é de cor mais loura e anelado, caindo-lhe em ondas sobre os ombros e, no meio da testa, se divide à maneira dos nazarenos. Tem a testa lisa e fina; em seu rosto não há mancha, sinal, nem ruga alguma, aformoseando-o uma bela cor rosada; no nariz e na boca não se pode encontrar defeito algum; sua barba é um pouco espessa e da cor do cabelo, mas não é comprida e tem a forma de um garfo; sua fisionomia respira inocência e sabedoria; seus olhos são pardos, claros e vivos. Quando condena, ê terrível; quando repreende ou admoesta, é cortês e moderado nas expressões. Em sua conversação ê agradável e cheio de gravidade. Ninguém 0 viu jamais; porém muitos 0 têm visto chorar. As proporções de seu corpo são excelentes; suas mãos e seus braços são os mais perfeitos que se podem ver. Em seu falar é muito parco, modesto e sensato. Homem de singular beleza, excede a todos os filhos dos homens. Seus cabelos eram pretos. Seu falar era suave. Sempre falava de forma correta para que todos o ouvissem. Não tinha costume de gritar (Mt 12.19)

. Seu falar era firme e veraz. Ninguém nunca falou como Ele (Jo 7.46). Seu porte era impressionante. Alguém tem sugerido que Jesus fosse uma pessoa sisuda e mal humorada. Mas essa maneira de julgar a Jesus não se coaduna com o seu caráter nem com o argumento principal das Escrituras. Ele, pelo contrário, tinha um senso de humor, e era simpático, e bondoso. Além de seu coração amoroso Jesus era sentimental. Seus hábitos eram os de uma pessoa humilde e simples. Sempre que podia descansava em uma pequena popa duma barca. Parece que somente fazia uma refeição diária devido à sua vida excessiva de trabalho e escassez de tempo. Nunca se atrasava. Sempre chegava na hora certa (Lc 8.45, 54, 55; Jo 1 1.6, 43,44).

 

VIII. O Ministério terreno de Cristo

 

A sua humilhação.

Cristo se fez Homem (Fp 2.6,7; Hb 10.5; I Tm 3.16; Jo 1.14)

e Servo (Fp 2.7).

Sendo rico, fez-se pobre (2 Co 8.9);

 sendo santo, foi feito pecado (2 Co 5.21).

 Fez-se maldição (G1 3. 13) e foi contado com os transgressores (Is 53.12; Mc 15.28). Sendo digno, consideraram-no indigno (Is 53.3;  Ap 5.9). Foi, ainda, feito menor que os anjos (SI 8.5; H b 2.9), que devem ter ficado espantados ao verem Deus encarnado, como servo, sendo tentado, sofrendo escárnio e crucificado! Mas, depois de tudo, o viram entronizado e glorificado.

 1. Início do ministério.

Após o seu batismo, Jesus inicia seu ministério. João Batista não via necessidade de que Ele fosse batizado: sentiu-se inferior e sabia que Jesus não tinha pecado — Ele não precisaria passar por um batismo de arrependimento nem tinha de que se arrepender. Mas Jesus fez questão de ser batizado, num ato de obediência e para cumprir toda a justiça, deixando-nos o exemplo (Mt 3.14,15). Seu ministério foi exercido na plenitude do Espírito (At 10.38). Sua preparação no deserto. Após ter sido batizado por João, no rio Jordão, Jesus foi impelido pelo Espírito Santo, a fim de jejuar quarenta dias e quarenta noites no deserto. Nesta fase de jejum, oração e meditação num lugar solitário, preparada pelo Espírito Santo, Ele teve o seu preparo espiritual. São inúmeros os exemplos de pessoas, nas Escrituras, que, ao serem chamadas por Deus, não foram colocadas de imediato em seus postos. Passaram primeiro pela fase de preparação e treinamento, como Abraão, Moisés, João Batista, os discípulos de Jesus e Saulo (também chamado Paulo), que, mesmo tendo a sua formação aos pés de Gamaliel, passou por uma nova fase de preparação depois de seu encontro com Cristo no caminho de Damasco.

2. A duração de seu ministério.

 O ministério de Jesus durou cerca de três anos. O cálculo da duração é feito com base nas festas pascais em que Ele esteve. O início de seu ministério se deu na véspera de uma Páscoa (Jo 2.11,13); depois, participou de mais duas (Jo 5.1; 6.1,4) e morreu na véspera de outra (Jo 19. 14). O primeiro ano foi o da obscuridade; o segundo, o do favor público; e o terceiro, o da oposição. Ministério exercido em três regiões. As áreas cobertas pelo ministério de Cristo foram as seguintes:

     

3. Oito meses na Judéia — região sul e sudeste.


 Aos quase trinta anos, Jesus deve ter tomado uma das rotas do vale do Jordão para chegar a João Batista, que se encontrava em Betábara. Ali batizado, percorreu toda a extensão do Jordão para o sul e entrou no árido deserto da Judéia, a oeste do mar Morto, onde jejuou por quarenta dias. Voltou a Betábara e chamou os primeiros discípulos.

4. Dois anos na Galileia — região norte.

 

Depois de ter chamado seus discípulos em Betábara, voltou à Galileia, onde assistiu a uma festa de casamento (Jo 2 .I-I I). Daí foi para Cafarnaum, cidade que ficava na curva noroeste do mar da Galileia (Jo 2.12).


5. Quatro meses na Peréia — região leste.

 

Jesus desceu de Jerusalém, passando por Jericó, ao vale do Jordão, a fim de levar seu ministério à Peréia, região situada a leste do rio. Terminando ali a sua missão, voltou pela longa subida do vale do Jordão a Betânia. Visitou, então, muitas cidades, além de aldeias e lugarejos. Supõe-se que Ele também tenha feito umas cinquenta viagens de extensões variáveis.

 

IX. O ministério messiânico de cristo

 

O ministério messiânico de Cristo envolve três ofícios:

 Sumo Sacerdote, Rei e Profeta.

Cristo como Sumo Sacerdote.

Três sacerdotes, na Bíblia, receberam ofícios sacerdotais diretamente de Deus: Melquisedeque, Arão e Jesus.

 I ) Melquisedeque. O historiador judeu Flávio Josefo fala em sua obra: “História dos Hebreus” bem pouco de Melquisedeque. A informação que temos dele, é esta: O rei de Sodoma veio até ele (Abraão) no lugar a que chamam de “campo real”, onde o rei de Salém, que agora é Jerusalém, o recebeu também com grandes demonstrações de estima e amizade. Este príncipe chamava-se Melquisedeque, isto é, rei justo; e ele era verdadeiramente justo, pois sua virtude era tal que, por consentimento unânime ele tinha sido feito sacrificador do Deus Todo-poderoso. Ele não se contentou de receber tão bem a Abraão, mas recebeu outrossim todos os seus; deu-lhes no meio dos banquetes que realizou, os louvores devidos à sua coragem e virtude e prestou a Deus públicas ações de graças por uma tão gloriosa vitória. Abraão, por sua vez, ofereceu a Melquisedeque a décima parte dos despojos que tinha feito dos inimigos; e este os aceitou.

O autor da Epístola aos Hebreus enfatizou que Cristo é Sacerdote por ser o eterno Filho de Deus, e não devido às circunstâncias de sua humanidade. O seu sacerdócio transcende a questão da descendência terrena, assim como o de Melquisedeque, reconhecido sacerdote do Deus Altíssimo sem nunca ter pertencido à ordem levítica (Gn 14.18-20; Sl II0.4).

2)    Arão.

 No tocante ao sacerdócio araônico, está escrito: “... ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão” (Hb 5.4). A escolha dele para exercer o sacerdócio não se deu devido ao seu parentesco com Moisés. Foi um ato soberano de Deus.

Tudo estava preparado e não restava mais que consagrar o Tabernáculo. Deus apareceu a Moisés e ordenou-lhe que fizesse a Arão, seu irmão, soberano sacrificador, porque era 0 mais digno do que qualquer outro para esse cargo. Moisés reuniu o povo, falou-lhe das virtudes da Arão, de seu interesse pelo bem público, que o tinha feito tantas vezes arriscar a vida. Todos aprovaram, não somente a escolha, mas o aprovaram com alegria. E então Moisés assim lhes falou: “Todas as obras que Deus tinha ordenado estão terminadas, segundo sua vontade e segundo nossas posses.

Com vós sabeis, Ele quer honrar este Tabernáculo, com sua presença; mas é preciso, antes de tudo 0 mais, criar o grande sacrificador, aquele que é mais competente, para bem desempenhar esse cargo, afim de que ele cuide de tudo o que se refere ao culto divino e lhe ofereça vossos votos e vossas orações.

Eu confesso que, se essa escolha tivesse dependido de mim, eu teria podido desejar essa honra, quer porque todos os homens são naturalmente levados a desejar incumbência tão honrosa, quer porque vós não ignorais quantas dificuldades e trabalhos sofri por vosso bem e da república; mas Deus mesmo, quis determinar Arão, há muito tempo, para esse sagrado ministério...’’‘ Os sacerdotes descendentes de Arão conservaram uma genealogia sacerdotal, e, segundo alguns, ela se estendeu desde o ano 350 a.C. até ao ano 70 d.C.

 

3.    Jesus. A ordem sacerdotal à qual Jesus pertenceu não tinha origem nem numa família e nem numa tribo.

“Visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio” (Hb 7.14). Portanto, Jesus pertence à ordem sacerdotal eterna e especial, como vemos em vários lugares da Epístola aos Hebreus (2.17; 3.1; 4.14,15; 5.6,10; 6.20; 7.11-28; 8.1; 9 .II; 10.21).

No que diz respeito à semelhança com Melquisedeque, as aplicações simbólicas parecem ser estas: Cristo é o Rei-Sacerdote, tal como aquele (Gn 14.18; Zc 6. 12,13); Cristo é o Rei justo de Salém ou Jerusalém (Is 1 1*5); Cristo é o Rei Eterno, não havendo registro de seu início no tempo (Jo I.I; Hb 7.3).

Nunca tendo sido nomeado por homem algum para o seu ministério (SI 110.4; Rm 6.9; H b 7.23-25) e como o mesmo também não terá fim, assim Ele não teve “... princípio de dias nem fim de vida”, conforme é dito acerca de Melquisedeque. Portanto, embora a obra de Cristo tenha seguido ao padrão do sacerdócio araônico, a alusão a Melquisedeque fala sobre sua autoridade real, sua eternidade e a natureza perene de sua obra. Cristo como Rei dos reis. Observando-se as regras naturais da realeza, a criança nasce príncipe e depois se torna rei. Mas a realeza de Jesus é sem igual, especial. Ele já nasceu Rei: “Onde está aquele que é nascido rei dos judeus?” (Mt 2.2). O próprio Senhor, quando arguido por Pilatos sobre a sua origem monárquica, respondeu-lhe: “Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci...” (Jo 18.33,37). Cristo como Profeta. A promessa de que Deus levantaria um Profeta “semelhante a Moisés” teve cumprimento em Cristo (Dt 18.18). As Escrituras do Novo Testamento afirmam que Jesus “... foi varão profeta, poderoso em obras e palavras” (Lc 24.19), assim como fora Moisés (At 7.22). 1) Obras. A sua função divina como Profeta está associada às suas predições e aos seus milagres.

 

 Jesus era poderoso em obras e realizou muitos milagres:

ressurreições (Lc 7 .1 1-I6; Mt 9.18-26; Jo 11.32-44; Mc 16. 9 -1 1); expulsões de demônios (M c 1.23-26; M t 12.22-23; 8.28-34; 9.32-35; 15.22-28; 17.14-21);

curas (Jo 4.46-54; M t 8.2-4,14-17; 9.1-8; Jo 5.1-16; Lc 6.6-10; 7 .I-I0 ; Mc 5.25-34; M t 9.27-31; Mc 7.32-37; 8.22-26; Jo cap.9; Lc I3 .II-I7 ; I4.I-6; I7 .II-I9 ; 18.35- 43; Mc 10. 46-52; Lc 22.50-51);

suprimentos (Jo 2 .I -I I; Lc 5 .I-I I; M t 14.15-21; 15.32-39; 17.24-27; Jo 2 I.6 -I4 );

outros (M t 8.30-32; 21.18-21; Lc 4.30; Mt 8.23-27; Mc 6.51; Mt 14.28-31; Jo 18.4-6; Mt 14.25-26; Mt I7 .I-I4).

 

Jesus “... operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, fora escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31).

4.    Palavras.

Jesus também era um Profeta poderoso em palavras: “E entrando em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo: Quem é este? E a multidão dizia: Este é Jesus, o Profeta de Nazaré da Galileia” (Mt 2 I .I0 - I I). A palavra “profeta”’ é grega e significa “aquele que fala por alguém”.

 

No Antigo Pacto, quando se queria invocar a autoridade da Lei, mencionavam-se “Moisés e os profetas” (Lc 16.29; 24.27). Com a vinda de Jesus, o Profeta, mudou-se essa terminologia. Agora, os profetas são mencionados ao lado dos apóstolos de Cristo ( Lc 11.49; Ef 2.20).

 

X. O Ministério de Cristo na nova Aliança

 

Sua devoção como Obreiro. Jesus, como pessoa humana, se interessava profundamente pelas coisas de Deus. Quando ainda tinha doze anos, interrogado por sua mãe sobre qual o motivo que o levara a ficar ali no Templo, Ele respondeu: “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lc 2.49).

1)    1) Jesus orava e jejuava (Mt 4.2).

Ele nasceu (Hb 10.5-7), viveu (Hb 5.7) e morreu orando (Lc 23.46). No Céu, continua orando (Rm 8.34). Em algumas ocasiões, começava o dia orando: “Levantando-se de manhã muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1.35). Durante seu ministério terreno, o Senhor Jesus orou sem cessar (M t 11.25-26; 14.19; 15.36; 23.34,46; 26.44; 27.46; Lc 3.21; 6.12-13; 21.32; 22.17-20; Jo I I . 41-42; 14.16; cap. 17).

2) O Senhor frequentava o Templo e as sinagogas. Quando estava em Jerusalém ou em uma outra localidade perto dali, ia com frequência ao Templo.

Quando se encontrava um pouco distante da Casa de Deus, tinha o costume de ir a uma sinagoga (Lc 2.21-27,42-46; 22. 53; Jo 2 .I3 -I7 ; 5. 14; 7. 14, 28; 8. 2; 10. 23; I I . 56; Mc I.2I-23; Lc 4.16; 6.6; 13.10). Quando ia aoTemplo ou às sinagogas, Ele curava os enfermos, expulsava os demônios e ensinava a Palavra aos que ali estavam.

3) Jesus lia as Escrituras. Ele não só as lia; era, também versado nelas. Sempre que fazia uso da Palavra de Deus, achava “... o lugar onde estava escrito” (Lc 4.17). Jesus; 0 Apóstolo (Hb 3.1b). N o grego, esta palavra significa “embaixador” ou “um enviado”. Entretanto, existem outros sentidos quando se aplica o termo para a pessoa e para o oficio. Pode significar “mensageiro”, “aquele que é enviado diante da face de outrem”. Jesus, 0 Profeta (Mt 2 I .I Ib). A ideia de que Jesus era um grande Profeta tinha se propagado entre o povo. Após Jesus haver realizado uma série de milagres e ter ressuscitado o filho da viúva de Naim, a multidão exclamou: “Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo” (Lc 7.16). Jesus; 0 Evangelista (Lc 4.18). Encontramos no Novo Testamento o Senhor Jesus desempenhando essa importante função, a de evangelizar os pecadores.

 

O apóstolo Paulo disse: “E, vindo ele [Cristo], evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto” (Ef 2. 17). Em outras passagens, vemos esse grande Evangelista itinerante pregando em todas as partes ("Mt 4.17,23; Mc 1.38,39).

 

Jesus, 0 Pastor (Jo I0 .II). Como Bom Pastor, Ele cuidava de suas ovelhas como nenhum outro. No Novo Testamento, esse título, vindo do Antigo Testamento, é transferido para nosso Senhor Jesus Cristo (H b 13.20; I Pe 2.25; 5.4; Ap 7. 15, 17). Jesus, 0 Mestre (Jo 3. 2). Nas páginas neotestamentárias, Jesus aparece como o Mestre vindo de Deus e, em inúmeras ocasiões, foi chamado de Rabi — que quer dizer mestre — até por seus inimigos (Mt 8. 19; 12. 38; 17. 24; 19. 16; 22. 16, 24, 35). Seus discípulos também o chamaram de Mestre (Mt 26.18, 25,49; Mc 5.36; 9. 5,17, 38; 10.17,20,51; 11.21; I3 .I; Lc 8.45; Jo 1.49; 3.2) e de Rabboni, “meu Mestre” (Jo 20.16).

Do ponto de vista formal, o ensino de Jesus era idêntico ao dos rabinos. Como eles, Jesus ensinava nas sinagogas (Mc 1.21) e se sentava depois da leitura (Mt 5.1; Lc 4.20; 5.3); como eles, comentava as Escrituras (Mt 5.17-48; 9.13; 19.16-20; Lc 4.16, 21). Mas, do ponto de vista divino, seu ensino é superior e revestido de suprema autoridade (Mc 1.27; Lc 4.22, 36; Jo 7.46). Jesus, 0 Diácono. “... qual é o maior: quem está à mesa, ou quem serve? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve” (Lc 22.27). “Serve”, no original (aqui), é cognato de diácono.

 

XI. A trajetória de Jesus em direção à cruz

 

 A semana de sua morte. A sua ida a Betânia deu-se seis dias antes da Páscoa, que Ele deveria celebrar pela última vez neste mundo. Ali, no domingo, teve os seus pés ungidos (Jo 12.1-7). Depois, na segunda-feira, ocorreu a sua entrada triunfal em Jerusalém e a purificação do Templo (Mt 2 I.I-I7 ). Ainda nesse dia, Ele amaldiçoou uma figueira (vv. 18-22). Ainda em Jerusalém, na terça, ensinou no Templo e no monte das Oliveiras (Mt 21.26); dirigiu-se nesse mesmo dia a Betânia, onde teve a sua cabeça ungida (Mt 26.6-13; Mc 14.3-9).

Na quarta, em Jerusalém, houve uma conspiração contra Ele (Mt 26.14-16; Mc 14.10,11; Lc 22.3-6). Na quinta, em Jerusalém, na última Ceia (Mt 26.17-29; Mc 14.12-25; Lc 22.7-20; Jo I3.I-38), conforta seus discípulos (Jo I 4 .I — 16.33); ora por si e por eles, no Getsêmani (Mt 26.36-46; Mc 14.32-42; Lc 22.40-46; Jo 17.1-26). Chega a sexta-feira, o dia de sua morte. Em Jerusalém, Jesus é preso e julgado (M t 26.27,26; Mc 14.43— 15.15; Lc 22.47— 23.25; Jo 18.2— 19.16), crucificado, no Gólgota (M t 27.27-56; Mc 15.16-41; Lc 26-49; Jo 19.17-30), e sepultado no Jardim de Getsêmani (M t 27.57-66; Mc 15.42-47; Lc 23.50-56; Jo 19.31-42).

Jesus celebra a Páscoa. Na quinta-feira à noite, Jesus celebrara a Páscoa com os seus discípulos. Ele fizera questão de dizer-lhes que aquele ato encerrava um período e dava início a outro a primeira Páscoa, celebrada pela primeira vez em Israel, na noite em que morreram os primogênitos do Egito, marcou um novo começo para Israel. A Ceia ministrada por Melquisedeque, que havia sido realizada há mais de dois mil anos, e a Páscoa, há mais 1.500 anos, tinham o mesmo sentido: apontavam para o Calvário. A Páscoa tinha um caráter prospectivo: apontava para a cruz de nosso Senhor; a segunda, a Ceia do Senhor, um caráter tanto retrospectivo como prospectivo, haja vista apontar hoje para a morte de Cristo (“anunciais a morte do Senhor...”), no passado; e para a sua vinda (“até que venha”). Assim, a Páscoa judaica encontrou seu cumprimento na vida, na morte e na ressurreição de Cristo. O Cordeiro de Deus substituiu o cordeiro pascoal (I Co 5.7). Jesus no Getsêmani. Terminada a Páscoa e tendo cantado o hino, Jesus foi “... para o monte das Oliveiras” (M t 26. 30b), localizado no leste de Jerusalém, do outro lado do vale de Cedron.

Cerca de cem metros mais alto que Jerusalém, do seu cume descobre-se uma magnífica vista da Cidade Velha e um impressionante panorama das colinas da Judéia até ao mar Morto e às montanhas de Moabe, ao leste. Descendo do monte das Oliveiras, há na parte inferior o jardim do Getsêmani. Tais lugares marcam a presença e os sofrimentos de Cristo neste mundo. O Getsêmani é um dos mais impressionantes lugares da Terra Santa, o qual possui oito oliveiras cuja idade se perde no tempo. Alguns botânicos afirmam que elas poderiam ter três mil anos! O Getsêmani tem, hoje, a mesma aparência que tinha há vinte séculos. Cidades e civilizações se sucederam, mas o jardim conservou-se quase o mesmo dos tempos de Jesus. João afirmou que, quando o Senhor lembrou os seus discípulos com respeito à sua morte, atravessou o ribeiro para o outro lado: “Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedron, onde havia um horto, no qual Ele entrou e seus discípulos” (Jo 18.1).Trata-se do jardim no qual Jesus passou a hora mais triste e angustiante de sua paixão. Sua solidão. Alguns psicólogos enumeram cinco tipos de solidão, e todas elas foram vividas por Jesus no Getsêmani:

I) Solidão opcional.

Há pessoas que, por opção, circunstâncias ou um outro motivo, vivem sozinhas.

2) Solidão da sociedade. Ê vivida por alguém que nunca recebe uma única carta; jamais ouve uma palavra de encorajamento; nunca recebe o aperto de mão de um amigo.

3) Solidão do sofrimento. Algumas pessoas são vítimas de acidentes ou doenças que lhes deixam imóveis para o resto da vida. Algumas delas ocupam cadeiras de rodas, leitos hospitalares ou mesmo uma cama em suas próprias casas. Outras foram aprisionadas e cumprem prisões perpétuas.

4) A solidão da tristeza. Vem através de diversas maneiras: isolamento ou rejeição (do superior ou do subordinado) por falta de comunicação ( ITm 6.18; Hb 13.16); perda de um ente querido; um ideal que não se concretizou de acordo com aquilo que se esperava; depressão; tristeza; solidão do pecado. Sua agonia. Nesse estado, Jesus orou três vezes ao Pai, dizendo estas palavras: “Pai, se queres, passa de mim este cálice, todavia não se faça a minha vontade, mas a tua... E posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lc 22.42-44). Alguns teólogos interpretam que o suor no corpo de Jesus que se tornou em grandes gotas de sangue classifica-se na medicina moderna de haimatodes hidros (suor sanguíneo), que alguns tratam de diapedese, quando ocorre uma filtração dos glóbulos vermelhos através dos vasos sanguíneos sem que haja rotura.

Sua prisão. Ao Getsêmani chegou Judas com os servos do sumo sacerdote, a fim de entregar-lhes o seu Mestre (Mt 26.47; Mc 14.44; Lc 22.47; Jo 18.2-3). Nesse jardim, o Senhor foi preso, sendo levado à casa de Caifás e condenado, no dia seguinte, à morte.

Judas, juntamente com os principais sacerdotes, planejaram a prisão de Jesus na escuridão da noite, talvez pensando em circunstâncias favoráveis a eles e desfavoráveis a Jesus:

1) Podem ter pensado em aproveitar o silêncio da noite e da ausência de pessoas para dificultar a possibilidade de que alguma delas comparecem ao Tribunal e testificassem contra eles.

2) Podem ter pensado que, devido ao trabalho incessante de Jesus, sem uma pausa para o descanso, àquela hora da noite, Ele se encontraria dormindo.

 3) Podem ter pensado e essa seria uma grande preocupação deles que, quando Jesus presenciasse a grande turba que vinha prendê-lo, abandonaria os discípulos à sua própria sorte, fugindo entre as árvores sombrias do jardim, o que os obrigaria a persegui-lo na escuridão. Por isso, teriam ido ali “com lanternas, e archotes e armas” (Jo 18.3).

4) Podem ter pensado no grande número de peregrinos que enchiam a cidade de Jerusalém. Nesse caso, concluiriam o julgamento de Jesus à noite; e, de manhã, quando a população acordasse, Jesus já seria apresentado como um criminoso condenado, em caminho para a execução. Seu julgamento. Preso, o Senhor foi conduzido ao Sinédrio uma forma helenizada da palavra grega synedrion, “assembléia”, a Suprema Corte Judaica. Era composto por setenta membros, e um presidente, na maioria das vezes o sumo sacerdote, chamado de Nasi. Para os rabinos, o Sinédrio foi criado por Moisés quando recebeu ordem de Deus para fazê-lo (Nm 11.16,24). O Sinédrio era, ao que tudo indica, um organismo da classe alta. Era composto, na maior parte, de membros da nobreza e dos mais elevados sacerdotes do Templo, identificados, quase sempre, com o grupo dos saduceus. O Talmude faz uma referência clara ao Sinédrio como sendo o Tribunal dos Saduceus. Esse tribunal tinha o poder de vida e de morte. As funções do Bet Din (hb. “Casa da Lei” ou “Corte Jurídica”) já existiam no período do Sinédrio sob três formas, conforme o Talmude: As disputas em Israel eram julgadas somente pela sorte de setenta e um (Sinédrio) na Câmara da Pedra Cinzelada (na área do Templo em Jerusalém), e outras cortes de vinte e três os juízes (para casos criminais׳ (situadas em cidades da terra de Israel, e ainda outras cortes de três (para casos civis). Em épocas posteriores, 0 “Bet Din” consistia de um tribunal de três juízes, que só se reuniam nos grandes centros judaicos.

Os juízes em número de três existiam para que não houvesse julgamento Jeito só por uma ou duas pessoas, pois ninguém pode julgar sozinho, a não ser UM (isto é, Deus), era um dos conselhos dos Pais da “Mishnah O julgamento de Jesus teve sete fases importantes:

três eclesiásticas,

três civis e uma divina.

 1) Julgamentos eclesiásticos: diante de Anás, Caifás e Sinédrio (Jo 18.13,24; Mt 26.57).

 2) Julgamentos civis: diante de Pilatos, de Herodes e de Pilatos outra vez (Jo 18.28; Lc 23.7,11).

3) Julgamento divino: diante do Pai (G1 3.13; Is 53.6 ,Dt 21.23). Sua condenação. Os fatos de Jesus ter sido “... entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus” e a condenação ter sido preparada pelos judeus com antecedência tornaram impossível a sua absolvição em qualquer das estâncias que passou. Mesmo havendo os esforços de Pilatos e de sua mulher (M t 2 7 .19) para que Jesus fosse solto, "... os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o!” (Jo 19.6). N o mesmo tempo em que Jesus e dois salteadores foram sentenciados à morte, um outro preso, Barrabás, também o fora. Este, bem conhecido, era um grande homicida. Não fazia muito tempo que ele fizera uma sedição e praticara um homicídio (Lc 23.25). Mas a multidão enfurecida pedia que se soltasse Barrabás. Ouvindo os gritos da multidão enfurecida pedindo a crucificação de Jesus, Pilatos, para se ver livre do problema, “... julgou que devia fazer o que eles pediam”. Então, “... entregou Jesus à vontade deles”. Sua partida para 0 Gólgota. Assim se deu a sua partida para o lugar chamado Caveira: “E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para um lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota” (Jo 19.17). O nome “Calvário” talvez se derive do formato que esse lugar tem; seu aspecto físico, na sua parte frontal, parece com uma caveira. Ou, segundo Jerômmo, o nome origina-se do fato de vários corpos terem sido vistos ali insepultos.

 

XII. A crucificação de Cristo

 

“E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram...” (Lc 23.33). Finalmente “... o cordeiro foi levado ao matadouro...” (Is 53.7); ali o crucificaram, cravejando suas mãos e seus pés como vaticinara Davi (SI 22.16). O local de sua crucificação. O Gólgota não é um grande monte. Trata-se de uma elevação no formato de uma caveira ao lado norte do Portão de Damasco. Para os cristãos, é esse o verdadeiro local da crucificação e ressurreição de Jesus Cristo, conquanto haja duas versões no tocante ao local onde nosso Senhor, foi crucificado e sepultado.

I)                  O jardim de Gordon.

Em 1833, o general inglês Charles Gordon, ao observar um montículo rochoso que se parecia a um crânio, sugeriu sua identificação com o verdadeiro Calvário. A presença de um túmulo cortado na rocha, bem próximo ao lugar, que, ao que parece, data do século I, ajudou a reforçar a ideia de que, de fato, se trata do sepulcro novo onde Jesus Cristo foi sepultado.

O local, de fato, tem a aparência de um jardim e dá uma clara visão do lugar da crucificação e do sepultamento de Cristo naquela época. Haja vista a descrição feita por João: “E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado, e no horto um sepulcro novo, em que ninguém havia sido posto. Ali pois (por causa da preparação dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro), puseram a Jesus” (Jo 19.41,42). Jesus foi, então, posto num túmulo novo escavado na rocha, aos pés do Calvário, feito para a família de José de Arimatéia. O tipo de túmulo, usado por judeus ricos, consistia de duas câmaras: a primeira servia como lugar de reunião dos enlutados, e na segunda era colocado o corpo do defunto sobre uma espécie de plataforma cortada na rocha.

2) A Igreja do Santo Sepulcro. Outro local onde teriam ocorrido a crucificação, o sepultamento e a ressurreição de Jesus foi construída, em 324, a Igreja do Santo Sepulcro. Esse lugar, também chamado de Calvário, é uma grande rocha que se eleva a quinze metros da superfície do solo. Nesse mesmo local, em 135, Adriano, querendo apagar toda e qualquer lembrança das religiões judaicas e cristã, mandou erigir um templo romano dedicado a Júpiter. Em 326, o templo de Adriano foi demolido pela rainha Helena, mãe de Constantino, e em seu lugar foi erigido uma basílica. Esse monumento de Constantino foi destruído no ano de 614 pelos persas; e, depois, reconstruído em proporções reduzidas pelo Abade Modesto. O monumento foi novamente destruído pelo Califa Haken, em 1009, e restaurado em 1048, por Constantino Monômaco.

 A Igreja atual tida como o local do Santo Sepulcro foi erigida em 1149. Com foi a crucificação.

A morte por crucificação era indescritivelmente horrível. Como Cícero, o orador e político romano que a tinha presenciado muitas vezes disse, “era o mais bárbaro e selvagem dos castigos. Que ele nunca se aproxime do corpo dum cidadão romano; nem do corpo, nem mesmo dos pensamentos, dos olhos, ou dos ouvidos”. Era reservado para os escravos e para os revolucionários cujo fim se quisesse cobrir de uma desonra. Para os romanos (e até para os judeus) nada mais fora do natural e mais revoltante do que suspender um homem vivo em tal posição. De acordo com Flávio Josefo, essa forma ignominiosa teve a sua origem inspirada pelo costume de se pregar em estacas, num lugar exposto, os animais daninhos, de modo a servir a um tempo de punição para eles e de divertimento para os assistentes. Era uma morte aflitiva. A vítima, em geral, durava dois ou três dias, sentindo nas mãos e nos pés dores insuportáveis produzidas pelos cravos, torturada pelo endurecimento das veias e, pior do que tudo, uma sede abrasadora, que aumentava constantemente. Era impossível deixar de mover o corpo, a fim de obter alívio a cada nova atitude da dor, mas cada movimento trazia uma nova e cruciante agonia. Mas era necessário aquele grito de dor que partiu do recôndito de uma alma imaculada. “Não vos comove isto a todos vós que passais pelo caminho? Atendei, e vede, se há dor como a minha dor...” (Lm 1. 12). A inscrição sobre a cruz. Pilatos, ao mandar preparar a cruz para Jesus, lembrara-se de que era costume romano colocar uma descrição do crime do condenado acima de sua cabeça ou em seu pescoço. No caso de Cristo, a inscrição foi colocada acima da cabeça, a fim de que todos que passassem pudessem ler a frase, escrita em hebraico, grego e latim: “ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS”. Alguns teólogos afirmam que cada evangelista registrou uma parte do título completo: “JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS” ( Mt 27.37; Mc 15.26; Lc 23.38; Jo 19.19). Este título teria sido escrito pelo próprio punho de Pilatos (Jo 19.22) e estava, sem dúvidas, colocado na parte vertical da cruz onde se encontrava a cabeça do Senhor. Aquela inscrição foi escrita nas línguas mais importantes daqueles dias.

O motivo disso foi o poder de influência política que os idiomas hebraico, grego e latim tinham no mundo de então. Eram as línguas de maior valor para todos.

1) O hebraico indicava o lugar onde o suplício se consumou; era a língua da revelação, dos oráculos sagrados, pela qual Deus fez conhecidas suas boas novas ao mundo o aramaico, um hebraico modificado, era apenas o vernáculo para os palestinos, mas não possuía o valor da primeira língua.

2) O grego relacionava-se á grande turba helenista que veio para a Páscoa; era a língua da beleza, do comércio, da filosofia e da sabedoria.

3) O latim dizia respeito à majestade do Império Romano; era a língua da lei, do direito, da administração e dos documentos oficiais do império. Seu amor e compaixão. Mesmo sentindo as dores cruciantes que o levaram à morte, Jesus continuou amando os seus amigos e inimigos até ao fim. A sua promessa de redenção estendeu-se àqueles que rodeavam a cruz: justos ou malfeitores.

Na cruz, Jesus dirigiu palavras:

1) As filhas de Jerusalém: “Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos” (Lc 23. 23). Ele não se referiu àquelas que o seguiram durante o seu ministério terreno, mas às moradoras da cidade que batiam no peito e o lamentavam. N o ano 70, as palavras de Jesus se cumpriram literalmente com a destruição da cidade de Jerusalém.

2) A sua mãe. Mesmo diante de suas dores e sofrimento, Jesus mostrou ao mundo por que veio: para servir a vontade divina e a necessidade humana. Olhando para a sua mãe, ao pé da cruz, e para João, filho de Zebedeu, disse: “Mulher, eis aí o teu filho” e depois disse a João: “Eis aí tua mãe” (Jo 19. 27-27). Usando duas expressões idiomáticas, Ele demonstrou amor e ternura para com a sua família. Como filho mais velho duma família de oito membros (seu pai por certo já havia morrido), não se esqueceu de deixar a sua mãe aos cuidados de João, seu primo; ordenou também que Maria adotasse João como filho. A Palavra de Deus e a História confirmam que, desde “aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa”. E cuidou dela até à sua morte, cumprindo fielmente a recomendação de Jesus.

3) Ao malfeitor que estava ao seu lado. Bem perto de sua cruz, encontrava-se um homem que iria morrer naquela tarde. De acordo com a tradição, um homem de físico avantajado, de parecer firme, que contava com uns cinquenta anos de idade. Antes de sua prisão, teria sido chefe dos sicários. Agora, preso, foi condenado à pena de morte. Sua sentença dizia que ele deveria morrer ao lado de Jesus, naquele dia (Lc 23.40-43). Mas, ao se arrepender de tudo que fizera de errado em sua vida e num gesto de respeito e ternura, aquele criminoso voltou-se para Jesus: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lc 23.42). E o Senhor lhe respondeu: “Em verdade te digo hoje estarás comigo no Paraíso”. O seu corpo deve ter ido para o vale do Filho de Hinom, onde teria sido queimado numa fornalha. Mas a sua alma arrependida foi para o Paraíso, onde aguarda a ressurreição por ocasião do arrebatamento da Igreja do Senhor.

4) Aqueles que estavam executando a sua morte. Em meio ao seu sofrimento Cristo roga perdão ao Pai pelos seus inimigos, dizendo: “... Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem...” (Lc 23.34). A cruz de Cristo. Paulo gloriava-se na cruz de Cristo: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6.14). A cruz de nosso Senhor é o ponto central de toda História. Cristo foi desamparado para que nós fôssemos amparados; ferido para que fôssemos sarados! N o seio da igreja cristã, quando se falava da cruz, era falar da significação de sua morte. Por isso, o Novo Testamento não dirige maior atenção às dores físicas que Cristo sofreu no madeiro, e sim para a ignomínia desse suplício. Para os gregos e romanos era a morte infamante de escravos criminosos, que a gente decente nem sequer mencionava; para os judeus, era sinal da maldição de Deus sobre o réu, separado do seu povo (H b 13.12). Cristo Jesus, pois, suportando o suplício da cruz, desprezou a ignomínia (Hb 12.2) e deu a medida da sua obediência (Fp 2.6-8). Para nós, que cremos em Cristo, a cruz é a fonte de toda vitória. Através dela seremos também vitoriosos em cincos aspectos: sobre a morte (1 Co 15.56,57); sobre o “eu” (G12.20); sobre a carne (Gl 5.24); sobre o mundo (Gl 6.14); e sobre Satanás (Gl 2.15). O apóstolo Paulo falou da eficácia da obra de Cristo na cruz da seguinte forma: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Co I . I 8). Isso significa que, pela morte na cruz, Jesus trouxe eterna salvação àqueles que, em qualquer tempo ou lugar, o aceitam como Salvador e Senhor. Quando cruz de Cristo foi levantada, a sua mensagem se tornou eterna! E, como a cruz aponta para várias direções, isto é, para cima, para baixo e para os lados, assim é a mensagem da vitória de Cristo na cruz: dirigida para todos os lados e também para o tempo e a eternidade (Jo 3.14-16).

 

XIII. A morte de Jesus.

 Chega, pois, a hora do Cordeiro de Deus expirar. Mas, antes disso, Ele pronuncia sete frases.

 

As sete palavras (ou frases) da cruz.

As três primeiras demonstram preocupação pelos outros; as outras três relacionam-se com o seu sacrifício.

E a última mostram que Ele voluntariamente rendeu o espírito.

 1) “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34).

2) “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23.43).

3) “Mulher, eis aí o teu filho... Eis aí tua mãe” (Jo 19.26,27).

4) “Eli, Eli, lamá sabactani” (M t 27.46).

5) “Tenho sede” (Jo 19.28).

6) “Está consumado” (Jo 19.30).

7) Céu, Terra e reino das trevas, em silêncio profundo, aguardavam o momento em que a espada aguda da Justiça divina imolaria o Cordeiro. E Jesus olha para o mundo que tanto amou e, em seguida, contemplando o Pai, pronuncia a última palavra: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46).

Fatos sobre a sua morte. Sangue e água jorraram de Jesus após a sua morte. “Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (Jo 19.34).

O soldado romano talvez tivesse em mente atingir o coração de Jesus no local chamado septo, onde se localizaria a alma, segundo uma crendice da época. Mas a lança teria atingido o pericárdio — membrana que envolve o coração e se divide numa espécie de pasta sanguínea e soro aquoso. As informações que vieram dos soldados que tencionavam quebrar as pernas de Jesus, bem como o laudo feito pelo centurião que Pilatos enviara, confirmaram que realmente Ele estava morto (M c 15.44-45; Jo 19.32-33).

 Alguns fatos sobre a crucificação de Jesus chamam a nossa atenção.

1 ) 0 Pai teve de abandoná-lo. As palavras “Eli, Eli, lamá sabactani; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Que Jesus pronunciou antes de entregar o espírito ao Pai (Mt 27.46) — apontam para o momento fatal em que o aguilhão do pecado, a morte, atingiu o Filho de Deus.

2) Ele mesmo entregou a sua vida. Isaías 53 mostra o mais impressionante relato sobre a morte sacrificial de Cristo. Cada versículo dá um vislumbre do Cordeiro crucificado. O profeta Isaías salienta que nosso Senhor Jesus morreu voluntariamente. A sua morte foi voluntária: “Foi levado” (v.7). Jesus não foi forçado à cruz. Nada fez contra a sua vontade. Submeteu-se à aflição espontaneamente. Humilhou-se até à morte, e morte de cruz. Deixou-se crucificar. Que graça espantosa por parte daquEle que tudo podia fazer para evitar tamanho suplício! Ele tinha o poder de entregar a sua vida e tornar a tomá-la e de fato fez isso. Sim, o eterno Salvador não foi forçado ao Calvário, mas atraído para ele, por amor a Deus e à humanidade perdida.

3) Sua morte foi vicária. Sem dúvida, o profeta Isaías tinha em mente o cordeiro pascal, oferecido em lugar dos israelitas pecadores. Sobre a cabeça do cordeiro sem mancha realizava-se uma transferência dupla. Primeiro, assegurava-se o perdão divino mediante o santo cordeiro, oferecido e morto. Segundo, o animal, sendo assado, servia de alimentação para alimentar o povo eleito. O sacrifício de Cristo foi duplo: morreu para nos salvar e ressuscitou para nossa justificação. Cristo também é o Pão da vida, o nosso “alimento diário”.

4) Sua morte foi cruel. Ele foi levado ao matadouro! Esta palavra sugere brutalidade. Não é de admirar que a natureza envolvesse a cruz em um manto de trevas, cobrindo, assim, a maldade dos seres humanos!


XIV. O sepultamento de Jesus


 José de Arimatéia discípulo oculto de Jesus por medo dos judeus conseguiu permissão de Pilatos para tirar o corpo da cruz. E, com Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arratéis dum composto de mirra e aloés, envolveram o corpo do Senhor em lençóis com as especiarias, como era costume dos judeus. Havia no horto daquele lugar um sepulcro em que ainda ninguém havia sido posto. Ali puseram Jesus (Jo 19.38-42). Sepultar os mortos era considerado um ato de piedade, o que se poderia esperar de um homem como José de Arimatéia. Também era comum que se sepultassem os mortos no mesmo dia de seu falecimento.

O corpo de um homem executado não tinha permissão de ficar pendurado na cruz a noite inteira (Dt 21.23), pois isso, para a mente judaica, poluiria a terra. As seis horas, começaria o sábado da semana da Páscoa, durante a qual estava proibida qualquer execução.

A proximidade da Páscoa explica a maneira como foram precipitados os acontecimentos do dia. A prisão noturna, o julgamento, execução e o sepultamento de Jesus, tudo em poucas horas. Mas, mesmo assim, havia algo de sobrenatural para que as Escrituras fossem cumpridas. Paulo disse: que Jesus foi sepultado segundo as Escrituras (1 Co 15.4). A preparação dc seu corpo. A fim de preparar um corpo para o sepultamento, os judeus o colocavam sobre uma mesa de pedra na câmara funerária. Primeiro o corpo devia ser lavado com água morna. O Talmude registra que essa lavagem era muito importante, não devendo ser feita por uma pessoa apenas, mesmo que se tratasse de uma criança. O morto não devia ser mudado de posição, a não ser por duas pessoas no mínimo. O corpo era colocado numa prancha, com os pés voltados para a porta, e coberto com um lençol limpo. Então, era lavado com água tépida da cabeça aos pés; durante esse trabalho cobria-se a boca do morto para que não escorresse água para dentro. Tudo indica que José e Nicodemos, com seus auxiliadores, teriam feito tudo isso ( At 9.37). 715 especiarias. “E foi Nicodemos (aquele que anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis dum composto de mirra e aloés” (Jo 19.39). Era costume, como se verifica no Novo Testamento, preparar o corpo, depois de lavado, com várias espécies de ervas aromáticas. Lucas disse que o mesmo cuidado tiveram as mulheres que haviam seguido a Jesus durante seu ministério terreno (Lc 23.56). O túmulo. O túmulo de Cristo é uma sala de 4,60 metros de largura, 3,30 de fundo; e 2,50 de altura. Quem já teve a oportunidade de nele entrar, deve ter notado que, à direita, se veem duas sepulturas: uma junto à parede da frente, e outra junto à dos fundos. Ficam um pouco abaixo do nível do piso da câmara mortuária, separadas por uma parede baixa. A sepultura da frente parece que nunca foi concluída. Tudo indica que só a sepultura dos fundos foi alguma vez ocupada, e ainda assim sem indícios de restos mortais. Quem por lá passou observa que o túmulo é suficientemente capaz de acomodar um grupo de mulheres, além dos anjos que ali estiveram, se é que esses limitam-se a espaços (Mc 16.5; Jo 20.12). Para o bom observador, à direita da porta vê-se uma janela por onde, ao romper do dia, a luz solar teria penetrado na sepultura ocupada até então. O corpo de Jesus foi colocado em um túmulo novo, cavado na rocha sólida, numa área de cemitérios particulares. Tudo agora tinha terminado, segundo aquilatavam aqueles que, durante sua vida terrena, foram seus inimigos. Ele agora encontrava-se morto; seu corpo sepultado debaixo de quase duas toneladas de pedra.

No texto de Marcos 16.4, do Manuscrito Bezae, da Biblioteca de Cambridge, na Inglaterra, foi encontrado um comentário intercalado que acrescenta: “E quando Ele foi colocado lá, ele (José) pôs contra o sepulcro uma pedra que vinte homens não podiam tirar”. Isso corrobora o que está escrito em Mateus 27.60: “... rodando uma grande pedra para a porta do sepulcro, foi-se”.

 A vigilância do túmulo.

 Existiam dois tipos de segurança

1) A Guarda doTemplo. Composta por 270 homens que eram distribuídos em lugares diferentes do Templo. Um grupo de dez levitas fazia a supervisão, enquanto os demais permaneciam postados em seus lugares.

2)    A Guarda Romana.

No tempo de Jesus havia várias organizações militares do Império Romano. A prisão de Jesus no Getsêmane foi efetuada por uma coorte (Jo 18.3), constituída por seiscentos homens. Era dividida em três manípulos, e estes, em seis centúrias. Cada uma tinha cem homens, e duas centúrias formavam um manipulo. Três manípulos formavam a coorte. Contudo, no sepulcro de Jesus não estava a coorte, e, sim, a guarda (Mt 27.62-66), que era composta de cem homens comandados por um centurião.

 

XV. Seu ministério além - túmulo


Quando Jesus morreu, seu corpo foi levado por José de Arimatéia e sepultado. Envolto em lençóis, o seu corpo permaneceu até à manhã do domingo. Mas Ele, em espírito, foi ao Paraíso levar a mensagem de seu triunfo aos santos que tinham morrido na esperança messiânica. De lá foi ao reino dos mortos, o Hades, a fim de anunciar a sua vitória aos espíritos que estavam nas cadeias da escuridão. A mensagem anunciada por Cristo aos espíritos é retratada em várias passagens do Novo Testamento. Isso ocorreu no período entre a sua morte e a sua ressurreição, isto é, da tarde da sexta-feira ao domingo pela manhã, enquanto o seu corpo permaneceu no túmulo. Mas a justiça que é da fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo). Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)?” (Rm 10.6, 7). Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do Dom de Cristo. Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. Ora, isto ele subiu que é, senão que também antes tinha descida às partes mais baixas da terra (Ef 4.7-9). Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, 0 justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade na carne; mas vivificado pelo Espirito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais, noutro tempo, foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram. Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo (l Pe 3.18-2l). Porque por isto foi também pregado o evangelho aos mortos, para que, na verdade; fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito (1 Pe 4.6). A descida de Cristo ao Hades é vista pelos teólogos com muita reserva. Pedro faz menção explícita desse acontecimento. Ver também Atos 2.27,31. Pedro disse que Ele foi pregar (no sentido de proclamar, anunciar) àqueles espíritos que “... rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (I Pe 3.20). Mas a extensão da pregação de Cristo, ali no Hades, conforme descreve o apóstolo, alcançou também todos os espíritos humanos que ali se encontravam (I Pe 4.6).

No primeiro caso, a passagem aponta diretamente para o tempo do dilúvio, quando Noé, sua esposa, seus filhos e respectivas noras foram salvos por Deus da grande catástrofe. Os contemporâneos de Noé não deram ouvido à advertência divina, pregada em forma do evangelho da justiça de Deus. Quando Noé lembrava aquela gente do perigo iminente que viria sobre o mundo, eles zombaram de tal advertência! E até pedirem a Deus que se retirasse deles: “retira-te de nós” (Jó 22.15-17). Esses espíritos desincorporados foram lançados em prisões eternas e ali aguardam o dia do Juízo Final. Eles constituem o povo incrédulo e rebelde dos dias de Noé e que foi tragados pelas águas do dilúvio. Esse relato bíblico talvez inclua os anjos decaídos, mencionados em 2 Pedro 2.4 e Judas v.6. Os anjos são às vezes chamados de “espíritos”, como em Hebreus 1.14. Também, nessa ocasião pode ter ocorrido a trasladação por Jesus, dos santos falecidos do Antigo Testamento, que se achavam no “seio de Abraão”(Lc 16.22,23), para o Paraíso de Deus no Céu (Ef 4.8-10). Três dias e três noites no seio da Terra (Mt 12.40). Os teólogos liberais têm questionado a veracidade da afirmação de Jesus, de que, ao morrer, permaneceria três dias e três noites no seio da Terra. Os textos e contextos que mencionam isso são Jonas I . I 7 e Mateus 12.40. Muitos perguntam: “Como o corpo de Jesus permaneceria no túmulo três dias e três noites se Ele foi crucificado na sexta-feira e ressuscitou no domingo pela manhã?”

A expressão em apreço (M t 12.40) equivale a “depois de três dias” (M t 27.63; M c 8.31; 10.34; Jo 2.19) e a “no terceiro dia” (Mt 16.21; 17.23; 20.19; Lc 9.22; 24.7; 21.46). Conforme o costume dos judeus e de outros povos da antiguidade, parte de um dia, no começo e no fim de um período, era contado como um dia ( Et 4.16; 5.1). Jerônimo afirmou: Tenho abordado mais completamente o trecho, sobre o profeta Jonas, em meu comentário. Direi agora somente que isto [esta passagem] deve ser explicado como o modo de falar chamado sinédoque, quando uma porção representa a totalidade. Não devemos exigir matematicamente que nosso Senhor passou três dias e três noites inteiras no sepulcro, mas sim, parte de sexta-feira, parte do domingo e todo o dia de sábado, o que é apresentado como três dias e três noites. De acordo com os Evangelhos, Jesus foi crucificado e sepultado na sexta-feira, antes do pôr-do-sol, que era considerado o começo do dia seguinte, para os judeus. Ele ressuscitou no primeiro dia da semana, isto é, domingo, por ocasião do nascer do sol. Os três, portanto, reiterando, foram: parte da sexta-feira, o sábado inteiro e parte do domingo.

Se a frase “após três dias” não tivesse substituído a expressão “terceiro dia”, os fariseus teriam pedido um guarda para o quarto dia. Muitas vezes a expressão “um dia e uma noite” era a expressão idiomática usada pelos judeus para indicar um dia, mesmo quando somente parte de um dia era indicada, para expressar tal significado do pensamento. Em 1 Samuel 30.12, está escrito: “... havia três dias e três noites que não tinha comido pão nem bebido água”. E no versículo seguinte lemos: “... meu senhor me deixou, porque adoeci há três dias!” Em Gênesis 42.17,18 ocorre o mesmo.

O Talmude Babilônico relata que “uma parte de um dia é o total dele”. No Talmude de Jerusalém, assim chamado porque foi escrito em Jerusalém conforme descreve o doutor Artur C. Custance, em seu livro A Ressurreição de Jesus Cristo está escrito: “... um dia e uma noite são um Onah, e a parte de um Onah é como o total dele. Um Onah é, simplesmente, um período de tempo”.


XVI. A ressurreição de Cristo


A ressurreição de Jesus deu-se em confirmação de tudo o que Deus e os profetas dEle falaram. Um líder de um certo segmento fazer discípulos e depois morrer como um mártir não é nenhuma novidade. Mas Cristo — além de não ter morrido como mártir, pois entregou o seu espírito voluntariamente a Deus (Jo 10.17,18) ressuscitou dentre os mortos, demonstrando o seu supremo poder pessoal. Outros líderes morreram, mas não ressuscitaram. N a comprovação da escolha de Arão pelo próprio Deus, quando a sua vara produziu flores, renovos e amêndoas, vemos a ressurreição de Cristo tipificada, conforme Números 17.6-8: Falou pois Moisés aos filhos de Israel, e todos os seus maiorais deram-lhe cada um uma vara, por cada maioral uma vara, segundo as cassas de seus país, doze varas; e a vara de Arão estava entre as suas varas. E Moisés pôs estas varas perante 0 Senhor na tenda do testemunho. Sucedeu pois que no dia seguinte Moisés entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Arão, pela casa de Levi, florescia; porque produzira flores, e brotara renovos e dera amêndoas. Doze varas foram postas ali, mas somente uma floresceu, a de Arão. Da mesma forma, vários fundadores de religiões do mundo têm morrido. Mas Cristo ressuscitou dentre os mortos, mostrando-se diferente de todos os líderes religiosos. Conceitos errôneos sobre a ressurreição. De acordo com Sócrates, Platão e Aristóteles, há apenas uma espécie de ressurgimento: o da alma no mundo da imortalidade; negavam uma ressurreição corporal. Porém, a ressurreição de Cristo trouxe algo novo e sem igual ao pensamento humano.

 A sua ressurreição também não foi natural, quando alguém volta a viver para depois morrer de novo. A crença egípcia  que, depois, passou para os gregos da imortalidade da alma (através da transmigração da alma) era um tanto absurda; e é o que podia ser chamado, hoje, de espiritismo disfarçado. Segunda tal crença, a alma de Caim teria passado a Jetro; o espírito deste a Coré, e o corpo a um egípcio... A alma de Eva teria passado a Sara, a Ana, à Sunamita e à viúva de Sarepta. E assim por diante. A ressurreição de Cristo e a imortalidade. Nesse sentido, de ressurreição final, plena, eterna, em glória, Cristo tornou-se “... o primeiro da ressurreição dos mortos” (At 26.23). Isto é, da ressurreição para a imortalidade. Nessa “grande colheita” Ele foi “o primeiro exemplar”. Sua ressurreição foi a de seu corpo, e a não de sua alma, contrariando a falsa teoria filosófica citada (IC o 15.20,23).

Por meio de sua ressurreição, Cristo “ aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho” (2 T m I.IO). Antes disso, Ele tinha avisado aos saduceus de que a negação da ressurreição provinha da ignorância acerca de Deus, da sua Palavra e do seu poder (Mt 22.29;  I Co 15.12,34). Somente com a morte e a ressurreição de Cristo é que as ideias da ressurreição e da imortalidade emergiram das sombras do Antigo Testamento para a plena luz da realidade no Novo Testamento. A ressurreição de Cristo trouxe-nos a imortalidade. Ele foi declarado “o primeiro da ressurreição dos mortos”isto é, as primícias.

A ressurreição dos salvos tem mais de uma etapa, segundo as Escrituras: “cada um por sua ordem”(I Co 15.23). A necessidade de sua ressurreição. A morte e a ressurreição de Cristo é o tema central da salvação e da justificação da pessoa humana. Cristo, como dizem as Escrituras, morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. Esse é o significado de sua morte e sua ressurreição. Triunfando sobre a morte, por meio de sua ressurreição, Ele tornou-se a garantia certeira da vida eterna e da ressurreição da imortalidade. O amor de Deus pela humanidade perdida fez com que Cristo viesse ao mundo e morresse.

Ele se humanizou, tendo “nascido de mulher, nascido sob a lei”. O propósito do Pai ao enviar o Salvador para morrer em favor dos homens ultrapassa qualquer possibilidade de entendimento da mente humana. Entretanto, o plano salvífico incluía não só a morte de Cristo. Deus o ressuscitou por seu poder, como Paulo afirmou: “... agora Cristo ressuscitou dos mortos” (I Co 15.20). Devemos, portanto, ter em mente esse “agora” hoje; neste momento; no presente, considerando o “amanhã” da eternidade; e, assim, proclamar a ressurreição de nosso Senhor como um fato sempre novo! A ressurreição de Cristo foi (e é) a suprema e majestosa História dos Evangelhos e da humanidade. A missão plena do Cordeiro de Deus através de seus nascimento, vida, morte e ressurreição foi fazer a vontade divina e solucionar a necessidade humana a partir da salvação. Tudo isso foi possível porque Deus o mundo amou! A negação de sua ressurreição. “... alguns da guarda, chegando à cidade, anunciaram aos príncipes dos sacerdotes todas as coisas que haviam acontecido. E, congregados eles com os anciãos, e tomando conselho entre si, deram muito dinheiro aos soldados, dizendo: Dizei: Vieram de noite os seus discípulos e, dormindo nós, o furtaram” (Mt 28.12,13). As autoridades religiosas reconheciam o poder do suborno e, em suas práticas políticas, aplicavam esta prática condenável em suas atividades, frequentemente.

Haviam corrompido a Judas Iscariotes, empregando essa prática e tinham a certeza de que aqueles soldados pagãos, por causa de suas naturezas corruptas, não declarariam a verdade; antes, haveriam de cooperar com eles.

Tendo Cristo ressuscitado, a guarda romana foi imediatamente aos principais sacerdotes (Mt 2 8 .1 1-15) pois os soldados sabiam que estariam em dificuldades se tivessem ido diretamente a Pilatos. Sabiam que a ressurreição do Rabi judeu influenciaria politicamente o governador romano, e, por isso, foram primeiro aos sacerdotes em busca de proteção. Isso prova que não era a guarda do Templo que vigiava o túmulo. E sim, a guarda romana. Provas de sua ressurreição. Sempre foi fácil identificar Jesus, quando Ele andou na Terra. Contudo, quando ressuscitou dentre os mortos, em suas várias aparições não foi identificado de imediato pelos discípulos. Ele não perdeu a sua individualidade e as suas características, porém, agora, agindo sem as limitações que a sua natureza humana lhe impunha. Cristo provou que tinha ressurgido dentre os mortos pelo o seu próprio testemunho, consubstanciando-o mediante suas aparições. Seguindo a uma ordem cronológica, foram dez as aparições do Senhor ressurreto:

1) Cinco aparições no dia da ressurreição: a Maria Madalena (Mc 16.9); às mulheres, de manhã sedo (Mt 28.9,10); aos dois discípulos no caminho de Emaús (Lc 24.13-25); a Pedro (Lc 24.34); e aos onze, na noite daquele dia (Mc 16.14; Lc 24.36).

 2) Mais cinco aparições: aos onze, uma semana depois de ter ressuscitado (Jo 20.26-31); a sete discípulos junto do mar da Galileia (Jo 21.1-22); aos onze e a “... mais de quinhentos irmãos” (I Co 15.5-6); a Tiago, irmão do Senhor (I Co 15.7); e, finalmente, antes de ser assunto ao Céu, em Betânia e no monte das Oliveiras (Mc 16.19; Lc 24.50-51; At 1.3,9). Apareceu também a Saulo de Tarso (At 9.3-5, 17; 22.5-8; 26.12-15; I Co 15.7). As testemunhas de sua ressurreição, O próprio Deus e o Espírito Santo são testemunhas da ressurreição de Cristo.

Além dEles, os anjos; depois, as mulheres; os apóstolos; e os discípulos. O apóstolo Pedro disse: “... nós somos testemunhas acerca destas coisas, nós e também o Espírito Santo” (At 5.32). Paulo declarou que, além das testemunhas mencionadas, havia mais de quinhentos irmãos que viram o Senhor ressurreto. Ele afirma que uma minoria já tinha morrido, havendo muitos ainda vivos (I Co 15.6). Duas ou três testemunhas já seriam suficientes. Nos melhores tribunais, basta uma para estabelecer um assassínio; duas, para alta traição, três, para a execução de um testamento; e sete, para um testemunho oral. No caso da ressurreição Cristo, ela foi testemunhada por mais de quinhentas pessoas!

 

XVII. Seu ministério celestial

 

É o período que vai da ressurreição de Cristo ao Estado Eterno. Após a sua ressurreição, Ele passou a exercer esse ministério. O tal período engloba os cerca de quarenta dias que antecederam a subida de Cristo ao Céu, durante o qual transmitiu “... mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera. Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarentas dias...” (At 1.2,3). A ascensão de Cristo. Após ter terminado a sua obra redentora na Terra, Cristo regressou ao Céu. Sua ascensão foi marcada pela presença de seus discípulos e dos mensageiros celestiais. Dois anjos vestidos de branco da corte divina receberam de Deus a missão de acompanhá-lo (At Ι.ΙΟ ,Ι I). “E levou-os fora, até Betânia; e, levantado as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou deles e foi elevado ao céu” (Lc 24.50-51). Jesus, ao subir, levantou as mãos e se despediu dos seus discípulos. A missão que recebera do Pai chegara ao fim.

Durante a sua vida terrena, Ele foi um santuário onde Deus ministrava a favor da humanidade. Mas agora Ele está no verdadeiro e eterno Santuário, onde continua ministrando por nós perante a face de Deus. Sua recepção no Céu. “Esse Jesus... foi recebido no céu” (At I .II ). Esta foi a mensagem dos dois varões vestidos de branco aos discípulos que se encontravam no monte das Oliveiras com seus olhos fixados no céu. Eles confirmaram que Jesus tinha sido recebido com honras incomensuráveis na corte celestial. Sua glorificação. A glorificação de Cristo foi um ato honroso e sem precedente na História.

No Céu, Ele é foi entronizado e coroado pelo Pai. Ao morrer e ressuscitar, Jesus completou a missão redentora que do Pai tinha recebido. Deus ficou plenamente satisfeito quando à obra redentora consumada por seu Filho, que foi pelo Pai assentado no seu próprio trono (Mc 16.19; H b 1.3; 12.2; Ap 3.21; 22.1,3). “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hb 2. 9). Cristo encontra-se hoje assentado no seu trono de glória, onde o seu governo divino é exercido. Dois tronos pertencem ao Ungido do Senhor, por direito e por resgate: um terrestre, e o outro, celestial. O terrestre é o trono davídico, que pertence a Cristo, a raiz e geração de Davi.

 Mas os seus compatriotas não permitiram que Ele se assentasse nesse trono e reinasse sobre eles: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19.14). Esse trono, pois, refere-se ao comando de toda a nação de Israel; contudo, será ocupado por Cristo, que, através dEle, exercerá seu Reino de paz, durante o Milênio.

O trono em que Cristo presentemente está assentado, exercendo seu ministério celestial, é o trono da majestade, que lhe pertence por direito de filiação divina. Nele, Cristo Jesus exerce todo o poder e autoridade no governo do mundo e na direção de sua Igreja (Mt 28.18; Ef 1.20-22).

 

 Conclusão

 

Ao terminar este capítulo, quero enfatizar a importância de o servo de Deus conhecer mais e mais a doutrina da Cristologia segundo as Escrituras. Aqui vimos alguns aspectos do Homem Deus; e sabemos que Ele “... operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais” que não foram escritos (Jo 20.30). “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem” (Jo 21.25). Mas, ainda enfatizando o que está registrado nas páginas sagradas, vemos que Cristo é “... santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” (H b 7.26).

E estudar sobre Ele é importante, ainda, para sabermos sobre: Sua proeminência no Universo. A Palavra de Deus diz, em Colossenses 1. 15 -18 e Hebreus 1.3: O qual é imagem do Deus invisível0 primogênito de toda a criação. Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações; sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade nas alturas. A natureza obedece às leis estabelecidas por Deus.

O Universo não ultrapassa qualquer limite além daquilo que lhe foi prescrito. Todo esse complexo de seres e coisas se encontram orientados e sustentados “pela palavra do seu poder”. Glória ao Senhor Jesus! Cristo é mais sublime do que os céus: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” (Hb 7.26). Cristo, nosso Sumo Sacerdote eterno ofereceu-se a si mesmo uma única vez (Hb 9.28) e “... subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” (Ef 4.10). Isso significa que a sua imensidade e o seu poder são reconhecidos por todos, tanto na esfera humana como na celestial, como lemos em I Pedro 3.22: “... havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências”. Sua importância para a Igreja. De acordo com o Novo Testamento, a Igreja surgiu primeiro como um organismo vivo. Nesse sentido, ela inclui todos os crentes regenerados, tirados de todo o mundo entre o primeiro e segundo advento de Cristo. Seu alcance é vasto; abrange todos os salvos, do passado e do presente, haja vista os que morreram na Terra estarem vivos no Céu (Hb 12.23). A universal assembleia, mística, composta de todos os santos de todas as épocas e de todos os lugares os que aceitaram Cristo como cabeça é um organismo vivo, espiritual, que tem Cristo como centro e fonte perene de sua vida. Ele, por conseguinte, é e sempre será o fundamento principal do cristianismo. Algumas filosofias e religiões podem existir sem a presença de seus fundadores: o confucionismo existe sem Kung Futsé (Confúcio); o budismo, sem Sidarta Gautama (Buda); o islamismo, sem Mohamad (vulgarmente, Maomé); o mormonismo, sem Joseph Smith Jr.; a chamada Ciência Cristã, sem Mary Baker Eddy; O Raiar do Milênio (Testemunhas de Jeová), sem Charles Taze Russell.

Mas é impossível haver cristianismo bíblico sem a Pessoa de Cristo.

 Nossa vitória em Cristo. Ela se dá ocorre por meio de Cristo; não se prende à luta física, pois, se assim fosse, seria um fracasso, e não vitória. Alexandre Magno conquistou por força e brutalidade o Império Medo-Persa ( Dn 8.3-8). Ele foi, de fato, um hábil guerreiro dentro do contexto humano, porém tudo quanto fez e conquistou foi derramando sangue dos outros. Mas Cristo derramou o seu próprio sangue em prol da humanidade. Alexandre o Grande enquanto viveu, conquistou todos os tronos; e o Senhor Jesus, na morte e na vida, conquistou o Trono de Glória. Aquele sendo homem e servo fez-se deus e senhor. Cristo, que sempre foi Deus e Senhor, desde os dias da eternidade, fez-se H om em e Servo (Fp 2. 6,7). Essa comparação seria muito extensa, mas a conclusão a que chegamos é que o Homem-Deus, após realizar a sua obra redentora, recebeu do Pai “um nome que é sobre todo o nome” (Fp 2.9).

Graças à sua vitória sobre o pecado e o poder das trevas, temos nEle “... a promessa da vida presente e da que há de vir” (I Tm 4.8). Agora, em Cristo, “... todos nós, com cara descoberta, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Co 3.17,18).  

Cristo nos faz triunfar, porque Ele é vitorioso em tudo. Ele é “o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu...” (Ap 5.5). 

 

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