Por: Jânio Santos de Oliveira
Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra
Pastor Presidente: Eliseu Cadena
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Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!
O sumário da biografia completa do rei Davi
I. A biografia de Davi.
II. Os talentos de Davi.
III. Davi, um homem segundo o coração de Deus?
IV. O tempo de Deus na vida do rei Davi.
V. As três unções do rei Davi.
VI. As conquistas do rei Davi.
VII. O pecado e a restauração espiritual de Davi.
VIII . Davi e o preço da negligência na família
IX. Os cinco Gigantes que Davi não Venceu.
X. Não retires de mim o teu Espírito Santo (Sl 51.11).
XI. A Diferença entre Saul e Davi.
XII. A perpetuidade do reinado de Davi.
XIII. Davi, um tipo de Cristo.
Estamos de volta para falar sobre a restauração espiritual de Davi. Vamos acompanhar!
2 Samuel 11.2,4,5,14-17. A vida de Davi como homem comum pode ser dividida em dois momentos: antes e depois de sua tentação e queda. Com certeza, ele não vigiou espiritualmente, como reiteradas vezes nos adverte as Sagradas Escrituras a fazermos. Pode ser que Davi não tenha considerado as consequências que seu ato lhe traria. O adultério com Bate-Seba, o planejamento e a covarde execução de Urias, o esposo, sem dúvida estão entre os acontecimentos mais condenáveis e repulsivos já narrados na história bíblica. Deus, o Senhor de toda a justiça, reprovou o ato de Davi (2 Sm 11.27), todavia, em sua infinita misericórdia, perdoou-lhe quando este demonstrou arrependimento (Sl 51). 1. Davi e a tentação antes do
pecado. A. A realidade da tentação. Ninguém pode negar
que a tentação para praticar o mal, o pecado, é uma realidade bem presente em
todos nós (Mc 7.21-23; Tg 1.14). Inclusive, um dos nomes do Diabo é
"Tentador" (1 Ts 3.5), até a Jesus ele tentou (Mt 4.3). Todos somos
tentados de alguma forma. Ninguém está imune à tentação. A tentação em si não
é pecado; pecado é ceder-lhe. Todo cristão deve manter-se sempre vigilante
neste sentido, pois a tentação, uma vez consumada, sempre produzirá frutos
amargos. Davi estava no auge do seu reinado quando tragicamente caiu em
pecado, vencido pela sua própria paixão desenfreada. Época de triunfo e
realização é também momento de vigilância contra o mal. Davi à essa altura
também já era culpado da quebra do mandamento assinalado em Deuteronômio
17.17. Não sabemos qual era a
proximidade que havia entre Bate-Seba e Davi. O fato é que a mulher
portava-se indevidamente em local praticamente público e veio a se tornar
objeto de cobiça do rei que, desocupado, a avistou banhando-se, desejou-a,
mandou que a trouxessem e adulterou com ela. Como se isso não bastasse,
Bate-Seba ainda ficou grávida. E é aqui que o desenrolar do restante da
tragédia tem início. B. As fontes da tentação. A Escritura revela três fontes básicas da
tentação, que são respectivamente o Diabo, o mundo e a carne. O Diabo é um
ser espiritual, "o maligno" (Mt 13.19), que se opõe a Deus e à sua
criação; o mundo, como sistema e filosofia de vida, é inimigo dos valores
cristãos; e a carne no sentido bíblico é a natureza humana, depravada,
decaída e propensa ao pecado (Rm 7.18). A fim de vencer os desafios das
"fontes da tentação" no que diz respeito ao Tentador, a
recomendação bíblica é que devemos resisti-lo e assim ele fugirá (Tg 4.7).
Quanto aos apelos do mundo, a Palavra nos instrui a que não o amemos (1 Jo
2.15). Em relação à carne, somos advertidos a não somente "viver",
mas também a "andar" em Espírito (Gl 5.25). A tentação é uma realidade na
vida do crente e possui três fontes básicas: o Diabo, o mundo e carne. 2. Davi e o seu
pecado. A. O pecado camuflado. Depois de ter consumado o
seu ato pecaminoso, Davi, de várias maneiras e durante um bom tempo, tentou
ocultá-lo (2 Sm 11.27). As tentativas foram cada vez mais pecaminosas. Isso
sempre acontece com quem tenta esconder seu pecado (Sl 42.7; Nm 32.23).
Analisemos as etapas em que o pecado de Davi se avolumou, trazendo mais danos
ao seu relacionamento com Deus, à sua consciência, e às pessoas que foram
envolvidas nesta trama diabólica: a) Primeiro Davi ordenou que
Urias viesse da guerra para dar-lhe notícias dela, em seguida, ofereceu-lhe
um presente e deu-lhe licença para ir a sua própria casa (2 Sm 11.6-8). Tudo
era mentira, engano, logro. b) Em segundo lugar, Davi
insistiu que Urias permanecesse em casa, noutras palavras reincidiu no mal
(v.10). c) Em terceira instância, Davi
ofereceu um banquete a Urias com vinho embriagante (vv.12,13). d) Em quarto e último lugar,
Davi enviou uma carta real ao comandante Joabe, através de Urias, onde estava
contida a sentença de morte do próprio portador (vv.14,15)! Um assassinato
covarde de um leal soldado, planejado pelo rei da Nação Escolhida (vv.16,17). Por meio de tudo isso (e muito
mais), Davi estava tentando esconder e incubar o seu pecado. Quando o crente
procede dessa forma, o julgamento divino o aguarda, pois "Deus não se
deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará"
(Gl 6.7). . O pecado descoberto e exposto. Quando Davi achava que, morto o
esposo da mulher com quem adulterara, o seu problema estava resolvido, Deus
envia o profeta Natã para confrontá-lo (2 Sm 12.1-25). Natã narra
a parábola do camponês, que possuía uma única ovelha, e do fazendeiro, que
tinha muitas ovelhas. O fazendeiro rico toma a única ovelha do camponês e
oferece aos seus visitantes. Ao ouvir tal fato, Davi ficou tão irado e
furioso com o fazendeiro - uma característica de quem vive com pecado
acobertado - que exige a morte de tal homem e ainda a restituição quatro
vezes mais ao camponês (2 Sm 12.5,6). É comum alguém que pecou e não
tratou de forma devida o seu pecado projetar um sentimento de
"justiça" e uma falsa santidade perante os outros. Ele exige dos
outros aquilo que ele mesmo não fez. Cobra santidade, requer compromisso,
exige dedicação, no entanto, nega com a sua prática a eficácia desses
valores. Natã, com divina autoridade, declarou que Davi era o tal homem (2 Sm
12.7), e que o rei acabara de promulgar sua própria sentença! Devemos ter
cuidado para não projetarmos nossos pecados nos outros, pois eles acabarão se
voltando contra nós mesmos. Ao tentar esconder seu pecado,
Davi o agravou ainda mais, levando Deus a expô-lo por meio do profeta Natã. 2. O pecado de Davi e suas consequências Muito já se foi dito sobre a tentação e consequente pecado do maior
rei de Israel. Livros e sermões já foram inspirados nele. Afinal de contas,
por que um homem tão amado por Deus, de virtudes inescapáveis, chegou a
praticar crime tão covarde contra um de seus fieis súditos? É uma pergunta
que tem sido levantada durante os séculos e respondida de várias maneiras por
aqueles que se dispõe a analisar o comportamento humano. Como um homem de
Deus chega a tamanha crueldade e covardia? Talvez Davi seja o personagem
bíblico que melhor representa o ser humano em suas complexas potencialidades,
tanto para fazer o bem, como para fazer o mal. Com esse comentário, levanto a
questão de o quanto somos circunstanciais, imprevisíveis e vulneráveis. Como
disse um professor: "Nos recônditos da alma humana, existe um amontoado
de desejos miseráveis, e a linha que separa o desejo do ato é muito
tênue". Por isso a necessidade constante que temos de nos policiarmos,
pois potencialmente o mal mora logo ali, ou melhor, logo aqui, dentro de cada
um. Antecedentes de uma tragédia. 1) A ociosidade do rei. O escritor bíblico diz que no tempo em que os
reis saiam à guerra, Davi enviou Joabe, e a seus servos com ele, e a todo o
Isael para que destruíssem os filhos de Amom e cercassem Rabá, porém Davi
ficou no palácio (não deixe escapar a importância do porém, o grifo é nosso).
Note que era tempo de guerra e não de descanso. Os reis saiam para a batalha
a partir da primavera, definindo conquistas e reafirmando as fronteiras de
seu país. Davi errou, não apenas em não liderar o povo à guerra, mas
principalmente por descumprir a lei da guerra, conforme Deuteronômio 20, a
qual rezava que os líderes deveriam estar na dianteira do povo. O rei de
Israel, todavia, estava em casa descansando ocasião, ocioso, passeando no
terraço da casa real (2 Sm 11.1-2). Há um adágio que diz: Todos precisam achar alguma forma de gastar o
tempo. É preciso matar o tempo em algum lugar. Não nos enganemos: a atenção
humana nunca está alheia ou neutra, ela sempre se volta para alguma coisa.
Enquanto passeava pelo palácio, o rei teve a sua atenção atraída para uma
mulher muito bonita que estava se lavando em algum lugar inadequado. Até aqui
tudo bem. O rei poderia ter desviado a atenção ou se dirigido a outro lugar
do palácio, porém, condescendente com o próprio desejo, como alguém que
aprecia uma simples paisagem ao entardecer, inflamou a lascívia do seu
coração e foi dominado pela cobiça. Até aqui, ele ainda tinha a capacidade de
dominar sobre o seu desejo. 2) A cobiça desrespeita todos os valores e não mede conseqüências.
Davi, fascinado pela beleza da mulher, resolveu dar mais um passo em direção
ao perigo: mandou perguntar o nome da da beldade. Era Bate-Seba, filha de
Eliã, mulher de Urias. Urias e Eliã faziam parte dos valentes de Davi, dois
súditos leiais do rei. No livro de 2 Samuel, capítulo 23, a partir do
versículo 24, começa a listagem dos grandes guerreiros de Davi, e ali dois
nomes se destacam: “Eliã, filho de Aitofel, gilonita”, (v 34) e Urias, heteu
(v 39). Note que este Aitofel, avô de Bate-Seba, era o grande conselheiro de
Davi que, mais tarde, como num ato de vingança, aconselhou Absalão
a possuir as mulheres do rei publicamente (2 Sm 16.20-23). Os laços de
amizade e lealdade deveriam ter servido de freio ao desejo insano do rei,
porém o veneno da cobiça já corria em toda a sua corrente sanguínea e já
havia contaminado todas as suas células. A partir daí, o desejo não conhece
obstáculo nem mede conseqüências. É por isso que quando uma pessoa se entrega
à tentação, pode se encontrar numa situação absolutamente impossível de
resistir. Note que a barreira principal que se interpõe entre a tentação e a
prática do pecado é o temor a Deus expressado na observância de sua Palavra
(Sl 119.11). Por isso, as leis de Deus deveriam ter servido de freio para
Davi, porém, no incidente com Bate-Seba, ele quebraria o sexto mandamento:
"Não matarás"; o sétimo mandamento: "Não adulterarás"; e
o décimo mandamento: "Não cobiçarás" (Êx 20:1-17). Todas essas
barreiras morais seriam dirimidas pelo trator da cobiça. Quantas histórias já ouvimos de maridos que abandonaram esposas, de
amigos que jogaram para o ar anos de lealdade, chefes de família que
abandonaram filhos, pastores que abandonaram igrejas; enfim, pessoas que
cuspiram em todos os valores e princípios que defenderam a vida toda, porque
viraram presa da cobiça quando brincavam com o pecado. Convém salientar que
nem todos que procedem desta maneira realmente não amavam seus pares, não
eram homens honestos e justos - não é isso -, mas não vigiaram em algum lugar
de sua vida, momento em que deveriam ter eliminado o mal no seu nascedouro, e
foram envenenados pela concupiscência. Não nos enganemos: se o pecado não fosse
realmente tão danoso, a Bíblia não soaria um alarme tão estridente contra ele
(1 Coríntios 10:12). A consumação do pecado. "Depois, havendo a concupiscência concebido-a, dá à luz ao
pecado” (Tg 1.15). Prostrado finalmente à concupiscência, Davi manda trazer
Bate-Seba e se deita com ela, totalmente cego às conseqüências de seu ato. A
Bíblia mostra que a tentação segue algumas etapas. Tiago diz que cada pessoa
é tentada quando atraída ou engodada pela sua própria concupiscência.
Primeiro, Davi olhou; depois mandou perguntar o nome da mulher; em seguida,
mandou buscá-la para o palácio. Neste ponto, a concupiscência já havia
concebido, e daria luz ao pecado. Agora, o homem de Deus era apenas um
escravo do seu pecado e desejos. O homem que, outrora, estivera a serviço de
Deus, agora estaria a serviço do diabo. A loucura de querer reparar um erro irreparável. A Bíblia diz que um abismo chama outro abismo (Sl 42.7). Alguns dias
depois do adultério, Davi ficou sabendo que Bate-Seba estava grávida. Tal
notícia caiu como uma bomba na cabeça do rei, e então ele começou um
vale-tudo para encobrir o seu pecado. Tanto Davi como Bate-Seba estavam
cientes das implicações de seu erro. Levítico 20.10 deixa claro: “Se um homem
cometer adultério com a mulher de seu próximo, ambos, o adúltero e a adúltera
certamente serão mortos”. Bom, o pecado de Bate-Seba estaria visível ante o
seu marido; ela seria certamente punida. Será que ela teria coragem de acusar
o rei? Se fizesse, as suas palavras teriam alguma credibilidade? Davi
assumiria sua culpa ou, uma vez adoecido pelo pecado, refutaria Bate-Seba?
Isto nós não sabemos. O que não podemos perder de vista é que qualquer desvio
da vontade de Deus abre o caminho para cada vez mais loucura e engano.
Transgredindo a vontade de Deus, Davi abriu o caminho para mais tentações. A
condescendência com uma paixão, longe de removê-la, só torna essa paixão mais
e mais forte. Se Davi tivesse seguido o ideal de Deus, ele teria estado menos
sujeito às tentações de Satanás. Neste caso, as comportas foram abertas, e
Davi foi arrastado pela inundação. Um apelo à astúcia Atormentado pelo desespero, o rei apelou para a astúcia.
Arquitetou um plano, aos seus olhos infalível: resolveu dar férias a Urias, o
marido traído, e mandou que o trouxessem do campo de batalha para casa
(bondoso, não?). Davi pensava consigo: estando Urias com a sua mulher,
entrará a ela, e a gravidez dela será atribuída a ele (2 Sm 11.10-12). Davi
só não contava com a lealdade e a sensatez de Urias, o qual se recusou terminantemente
aos prazeres do sexo, enquanto seus compatriotas estavam no calor da batalha.
“ A arca, e Israel, e Judá estão em tenda, e Joabe, meu senhor, e os servos
de meu senhor estão acampados ao relento. Como poderia eu entrar na minha
casa, para comer e beber, e para me deitar como minha mulher? Tão certo como
vives, não farei tal coisa” (2 Sm 11.11). Todavia a astúcia do rei desviado
desconhecia limites. Ele, então, tentou forçar Urias por meio do álcool e o
embriagou; porém a lealdade deste também desconhecia limites e ele mais uma
vez se recusou a ir à sua casa. Alguém disse uma vez que a vantagem que o mal às vezes tem em relação
ao bem é que o mal não reconhece limites em suas ações, enquanto que o bem só
pode atuar dentro de certos limites traçados pela ética e pelo bom senso. O
rei de Israel já não conhecia limites às suas ações ímpias. Ele queria se
livrar daquela situação a qualquer custo. Ele apelou, então, para uma solução
extrema: matar Urias. Crueldade desmesurada. Vencido pela persistência de Urias, Davi escreveu uma carta do próprio
punho, ordenando a Joabe que pusesse Urias no lugar mais perigoso da batalha
e retirasse os homens de detrás dele para que fosse ferido e morresse, e a
mandou pelas mãos do próprio Urias (2 Sm 11.15). Como Urias era um servo fiel, não violou a carta. Se o tivesse feito,
veria que estava levando a própria sentença de morte. Às vezes eu me pego pensando na surpresa de Joabe quando abriu aquela
carta. Ele estava sendo forçado a ser cúmplice do rei em um assassinato
covarde, sem nem saber o motivo. Sem dúvida ficou sabendo mais tarde quando
voltou e viu Bate-Seba na casa de Davi. A minha proposição é que, a partir
dali, Davi ficou praticamente nas mãos de Joabe, pois os atos deste se
tornavam cada dia mais reprováveis e desobedientes, porém o rei Davi não o
puniu nenhuma vez, muito pelo contrário, vemos Joabe repreendendo asperamente
o rei e o ameaçando quando aquele general matou absalão, desobedecendo a
ordem do rei (ver 2 Sm 18.5-18; 19.1-10). Foi Joabe quem enganou o rei para
trazer absalão de volta do exílio (2 Sm 14.1-21). Tendo Davi posto Amasa no
lugar de Joabe, à frente do exercito de Israel, Joabe o matou covardemente e
retomou sua posição (ver 2 Sm 19.13; 20.10). Davi não tomou nenhuma medida
para puni-lo. Note ainda a alfinetada que Joabe deu em Davi quando mandou
avisar ao rei da morte de Urias em 2 Sm 11.19-21 Somente depois de passar o
reino a Salomão, antevendo a sua iminente morte, Davi dar ordem para que,
depois de sua morte, Salomão mate Joabe, como punição pelos seus crimes (1 Rs
2.5,6). Davi, depois de seu pecado, era um rei sem autoridade, o que
normalmente sucede a todos os que pecam e causam escândalo. Insensibilidade Sabendo da morte de Urias, Davi, cinicamente, mandou dizer a Joabe:
“Não te pareça mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como
aquele” (2 Sm 11.25). Estava resolvida a questão: Davi tomou Bate-Seba como
sua esposa e se portou tranqüilamente como se nada houvera acontecido por
cerca de um ano. O homem de Deus estava com a consciência cauterizada (cf 1
Tm 4.2). Seu estado de entorpecimento era tão grande que se não fosse um
confronto direto com Deus por iniciativa deste, ele teria morrido em seu
pecado sem nunca confessá-lo. Davi e a intervenção de Deus Uma das grandes lições deste episódio é a imparcialidade da justiça
divina, bem como as riquezas de sua misericórdia. Deus não pode condescender
com o pecado, seja lá de quem for - Ele é justo. Certamente Davi pensou que o
fato de ser rei de Israel, ungido do Senhor, lhe isentaria do juízo de Deus.
“Não fará justiça o Senhor de toda a terra?” (Gn 18.25). Mais ou menos um ano
depois – o menino já havia nascido (2 Sm 12.14) – , o rei estava tranqüilo em
sua casa, celebrando a chegada de mais um filho, quando o profeta Natã
aparece no pátio. Natã estava levando uma causa para que o rei julgasse. O
que ele tinha para dizer era muito sério. Tratava-se de um camponês que
possuía uma única ovelha e de um fazendeiro que tinha muitas ovelhas. Certa
ocasião, o fazendeiro rico tomou a única ovelha que o pobre camponês tinha, a
qual ele amava, e ofereceu como guisado ao seu visitante (2 Sm 12.1-6). Quem
poderia ficar impassível diante de uma injustiça dessa? Davi ficou irado.
“Este homem é digno de morte” ele disse. “Pela cordeira restituirá o
quádruplo, porque fez tal coisa e não se compadeceu” (2 Sm 12.6). Davi estava
promulgando sua própria sentença. É comum desculparmos em nós mesmos aquilo que com veemência condenamos
os outros. É comum alguém que pecou e não tratou de forma devida o seu pecado
projetar um sentimento de justiça e uma falsa santidade perante os outros. O conceito de projeção em Psicologia consiste em o indivíduo atribuir
ao outro aquilo que é predicado seu. Por não aceitar em si, ele reprime e
projeta no outro. Foi o que aconteceu com Davi, depois que o grande mestre
Natã manipulou tão bem as questões emocionais não resolvidas do rei. Na
parábola, Natã expôs o mal de maneira tão clara que conseguiu despertar uma
resposta de indignação moral no empedernido coração do rei de Israel. “Tu és este homem”, replicou o profeta Natã. “Assim diz o Senhor, Deus
de Israel: A Urias, o heteu, feriste a espada, e a sua mulher tomaste por tua
mulher; a ele mataste com a espada dos filhos de Amom” (2 Sm 12.7,9). O rei
de Israel agora estava diante do espelho, de frente às suas misérias,
desnudo, algo que só pode acontecer por meio de um confronto com Deus (cf Is
6.5). Há situação em que o estado de cauterização da consciência é tão grande
que somente um encontro com Deus é capaz de fazer cair as escamas dos olhos e
expor as misérias humanas. E o mais interessante: a iniciativa é sempre de
Deus. 1) Sentenças divinas. Após denunciar o pecado de Davi, ali mesmo, o
profeta proferiu duas sentenças divinas conta o rei. “Agora, portanto, a
espada jamais se apartará da tua casa”. Foi exatamente o que aconteceu. O
filho que nascera daquele adultério morreu logo em seguida (2 Sm 12.14). Amom
foi assassinado por Absalão (2 Sm 13.28,29). Absalão foi morto por ter-se
rebelado contra o pai (2 Sm 18.9-17). Mais tarde, Adonias também seria morto
à espada (1 rs 2.24,25). Lembremos que Davi sentenciou que o homem da
parábola, que tomou a ovelha do outro deveria pagar quatro vezes mais (2 Sm
12.6). “Assim diz o Senhor: Eu suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti,
e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei ao teu próximo, o
qual se deitará com elas a plena luz do dia. Tu o fizeste em oculto, mas eu
farei este negócio perante todo o Israel, a plena luz do dia” (2 Sm
12.11,12). Para começar, Davi teve uma de suas filhas estuprada por um de
seus irmãos (2 Sm 13.10-15). Depois Absalão, seu próprio filho, usurpou-lhe o
reino e abusou sexualmente de suas mulheres em plena praça pública (2 Sm
15.1ss). 2) Conseqüências emocionais. Davi era um homem de alma despedaçada. As
vergonhas, humilhações e execrações (2 Sm 16.5-8) por que passou o rei de
Israel não encontram pares na Bíblia. As desgraças que se abateram sobe ele
envolveram rompimento de antigas amizades (2 Sm 23.34), vexações familiares,
desagregação do seu reino, deslealdade de seus súditos e perda de autoridade.
Era um homem com feridas profundas na alma e sulcos profundos sobre as suas
costas (Salmo 129). Seus salmos retratam com nítidas cores seus infortúnios
(ver os salmos 6, 13, 22, 25, 38, 40, 41). A idade em que morreu - cerca de
setenta anos (cp 2 Sm 5.4 e 1 Rs 2.10) - debilitado como estava, talvez tenha
muito a ver com as angústias e frustrações de sua alma. Todavia, convém
salientar, todas as sua feridas o impeliram para cima de Deus e o levaram a
aprofundar suas experiências com Ele. Como já foi dito, o pecado cobra seu
preço. 3) Consequências espirituais e físicas. Não há dúvida de que os maiores efeitos do pecado de Davi estão na
esfera espiritual. O pecado parece doce, inofensivo e natural, no entanto,
suas consequências são amargas. Paulo, o apóstolo, adverte em sua primeira
carta aos coríntios: “Por causa disso [do pecado], há entre vós muitos fracos
e doentes e muitos que dormem” (1 Co 11.30). Em outras palavras, aquilo que é
espiritual num primeiro plano, tem consequências físicas em segundo. Os
especialistas advertem que há muitas doenças psicossomáticas, isto é, doenças
da alma ou de origem psicológica que afetam o corpo físico. A Bíblia nos
mostra que há também doenças de origem espiritual. A Palavra de Deus adverte:
“Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que
sareis ; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos (Tg 5.16).
Davi pôs em prática isso e clamou ao Senhor: “[...] Tem piedade de mim; sara
a minha alma, porque pequei contra ti” (Sl 41.4). “Depois de algum tempo você descobre que se leva anos para se
construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer
coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.” Esta
frase de Willian Shakespeare é um verdadeiro tratado sobre a condição humana.
Ela resume bem este episódio triste da vida de Davi. A sua decisão por ceder
à tentação, quando deveria ter resistido, deixaria manchas irremovíveis em
sua historia de vida. Mas não é só isso. Sua história com Bate-Seba nos
mostra que até os mais piedosos dos homens, se não forem cuidadosos, são
capazes de cometer os piores pecados; mostra que as conseqüências de nossos
atos são inevitáveis; mas também mostra que, por mais profundo que seja o
lamaçal em que o pecador esteja mergulhado, o perdão de Deus pode alcançá-lo. O pecado de Davi trouxe
consequências emocionais, espirituais e físicas para ele e sua família. |
A restauração espiritual
de Davi
Salmos 51.1-4,7-12,17.
1 - Tem misericórdia de mim, ó
Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a
multidão das tuas misericórdias.
2 - Lava-me completamente da
minha iniquidade e purifica-me do meu pecado.
3 - Porque eu conheço as minhas
transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
4 - Contra ti, contra ti somente
pequei, e fiz o que a teus olhos é mal, para que sejas justificado quando
falares e puro quando julgares.
7 - Purifica-me com hissopo, e ficarei
puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.
8 - Faze-me ouvir júbilo e
alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste.
9 - Esconde a tua face dos meus
pecados e apaga todas as minhas iniquidades.
10 - Cria em mim, ó Deus, um
coração puro e renova em mim um espírito reto.
11 - Não me lances fora da tua
presença e não retires de mim o teu Espírito Santo.
12 - Torna a dar-me a alegria da
tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário.
17 - Os sacrifícios para Deus são
o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó
Deus.
O
relacionamento pecaminoso de Davi com Bate-Seba foi rápido, mas as suas
consequências foram duradouras. Até ser confrontado pelo profeta, ele agiu à
semelhança dos nossos primeiros pais, que também tentaram ocultar seus pecados
(Gn 3.1-13). Todavia, uma vida de pecados ocultos apenas prolonga o sofrimento
de quem os comete, já que de Deus ninguém consegue esconder nada. Por certo,
Davi só obteve paz espiritual após dizer a frase que resume a atitude de um
pecador arrependido: "Pequei contra o Senhor" (2 Sm 12.13).
4. A restauração e a
Palavra de Deus.
A.
Davi e a Palavra de Deus. Davi certamente era um homem que amava a
Palavra de Deus. Entretanto, podemos afirmar com segurança que no momento de
sua queda espiritual ele estava longe da lei divina. Poderia um homem estar
agindo de acordo com a Palavra de Deus e ainda assim possuir a mulher do seu
próximo e mandar matar seu marido? Por certo não! O mais simples é entendermos
que Davi se tornara um burocrata, e um crente com uma vida devocional pobre, e
que, por isso, não percebera sua fragilidade nem tampouco a cilada de Satanás.
Davi
foi confrontado pela Palavra de Deus pronunciada pelo profeta Natã (1 Sm 12).
Qual outra fonte se atreveria a confrontar o rei? Somente a Palavra de Deus é
poderosa para lançar luz em nossas densas trevas.
B.
O cristão e a Palavra de Deus.
Em
o Novo Testamento encontramos várias atitudes que o cristão deve tomar em
relação à Palavra de Deus, a fim de que não venha tropeçar (Rm 10.17; 1 Ts
1.6). O crente necessita ouvir a Palavra, recebê-la e também nela meditar (Sl
1.2). A Palavra precisa ser aceita e acolhida por nossas mentes e corações.
Quantos tropeçam porque não recebem aquilo que Deus está a lhes falar? Armar-se
com a Palavra é outra atitude fundamental para não fracassar (Ef 6.17).
Contudo, o que adianta armar-se com a Palavra ou estar cheio dela se não
soubermos como usá-la? É preciso manejar bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15).
A
Palavra de Deus é fundamental no processo de restauração, atuando como luz em
nossas densas trevas.
5. A restauração e a
influência de fatores externos em nossas decisões
A.
A influência do meio.
Embora
não sirva de desculpa, não há como negar que Davi se deixou influenciar pelo
meio no qual vivia. Na cultura do Antigo Oriente os reis eram quase
semi-deuses, podendo exercer um poder absoluto e ter praticamente tudo o que
queriam. Ser o homem de várias mulheres era algo considerado "normal"
naqueles dias. Com Davi não foi diferente. Essa influência do meio fez com que
ele desejasse e possuísse Bate-Seba, sem se dar conta do grande mal que estava
praticando.
Veremos
mais adiante que o meio não deve servir de justificativa para nos eximir de
nossas responsabilidades morais, no entanto, não devemos subestimar o poder
exercido por ele (Rm 12.2). Tomemos cuidado com o meio no qual vivemos.
A. Nossa responsabilidade moral.
Já falamos que Davi
estava no lugar errado e na hora errada. Porém, em seu processo de restauração,
isso não é levado em conta e nem deveria, já que a Escritura coloca sobre nós
toda a responsabilidade pelas decisões que tomamos. Devemos dar a resposta
adequada ao meio onde nos encontramos. A restauração de Davi começa por essa
conscientização.
É
bom sabermos que, como agentes morais livres, somos responsáveis por nossas
ações ou decisões. Não é possível nenhum processo de restauração quando
desconsideramos esse fato. Por que Davi caiu? Por que Pedro negou a Jesus? Por
que Judas o traiu? Em todos os casos, de quem era a culpa? Deus pode ser
responsabilizado pelas ações desses homens? Algum deles foi predestinado a
cometer tal ato? Em todos esses casos, quer estivessem motivados por agentes da
tentação externos, quer não, a Escritura põe a responsabilidade desses atos
sobre cada um deles. A culpa foi de Davi, a culpa foi de Pedro, a culpa foi de
Judas. A culpa é nossa. É por isso que, para ser restaurado, Davi exclamou:
"Porque eu conheço as minhas transgressões; e o meu pecado está sempre
diante de mim" (Sl 51.3).
O
meio exerce uma poderosa influência sobre nós, mas isso não nos exime de nossa
responsabilidade moral.
6. A restauração e a
atitude diante do pecado.
A.
Reconhecendo a misericórdia de Deus.
Possivelmente
nenhum obstáculo é maior no processo de restauração do que o sentimento de
indignidade que a culpa produz. Satanás é sabedor deste fato e costuma
explorá-lo até as últimas consequências. Quantos cristãos estão encostados
porque, após terem fracassado, acham-se eternamente indignos de ser restaurados
e de levantar a cabeça? Quando Davi tropeçou, consciente de seu erro, exclamou
do fundo da sua alma: "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a sua
benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas
misericórdias" (Sl 51.1). A restauração só é possível, porque Deus é
gracioso para conosco e está pronto a mostrar o seu favor imerecido. De fato,
um dos significados da palavra graça é "favor imerecido". Davi estava
consciente de que, para ser restaurado, ele necessitava do favor e da compaixão
do Eterno.
B.
Reconhecendo a nossa pecaminosidade e a santidade de Deus.
Nos
versículos 2 e 3 do Salmo 51, Davi reconhece sua iniquidade e transgressão.
Essas duas palavras são usadas para nomear a malignidade do pecado. A
transgressão é maligna, e a sua consequência imediata é a culpa. Somos
portadores de uma natureza pecaminosa, e o reconhecimento desse fato é
importantíssimo no processo de restauração (Rm 7.18). Por que culpar o outro
quanto na verdade somos a causa do problema? A ordem do processo de restauração
é sempre essa: arrependimento, conscientização, confissão e abandono da prática
pecaminosa.
Davi
ora e diz: "Esconde a tua face dos meus pecados" (Sl 51.9). Nenhum
pecado é tratado devidamente se não se leva em conta a santidade do Senhor. O
pecado é cometido primeiramente contra Deus e sua Palavra. A nossa transgressão
deve provocar um sentimento de vergonha diante da divindade, que é santa. Se o
pecado mancha nossa vida e agride a santidade de Deus, precisamos urgentemente
ser purificados. Por isso, Davi exclama: "Purifica-me com hissopo, e
ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve" (Sl 51.7).
O
reconhecimento dos nossos pecados, da santidade e da misericórdia divinas são
fundamentais no processo de restauração.
A
Escritura comprova que Davi foi totalmente restaurado diante de Deus, e suas
poesias expostas nos Salmos confirmam essa restauração. Não há porque vivermos
sob o domínio do pecado, uma vez que a Escritura assegura-nos de que o sangue
de Jesus quebrou esse domínio e tem poder para nos purificar totalmente dele
(Rm 6.14; 1 Jo 1.7,9). Contudo, no processo de restauração, cabe a nós
demonstrar uma atitude de arrependimento, confissão, quebrantamento e abandono
do pecado, assim como fez Davi.
Em breve estaremos de volta com o seguinte tema: Davi e o preço da negligência na família
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