terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Série o rei Davi. 8 - Davi e o preço da negligência na família

 

Por: Jânio Santos de Oliveira

  Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra

 Pastor Presidente: Eliseu Cadena

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Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor! 




O sumário da biografia completa do rei Davi

  I.          A biografia de Davi.

  II.        Os talentos de Davi.

  III.      Davi, um homem segundo o coração de Deus?

  IV.      O tempo de Deus na vida do rei Davi.

  V.       As três unções do rei Davi.

  VI.     As conquistas do rei Davi.

  VII.   A restauração espiritual de Davi.

  VIII . Davi e o preço da negligência na família

  IX.    Os cinco Gigantes que Davi não Venceu.

  X.     Não retires de mim o teu Espírito Santo (Sl 51.11).

  XI.      A Diferença entre Saul e Davi.

  XII.   A perpetuidade do reinado de Davi.

  XIII. Davi, um tipo de Cristo.




Estamos de volta para falar sobre Davi e o preço da negligência 

na família. Vamos acompanhar!


 

2 Samuel 13.2,5,10-12,14,15

 

2 - E angustiou-se Amnom, até adoecer, por Tamar, sua irmã, porque era virgem; e parecia, aos olhos de Amnom, dificultoso fazer-lhe coisa alguma.

5 - E Jonadabe lhe disse: Deita-te na tua cama, e finge-te doente; e, quando teu pai te vier visitar, dize-lhe: Peço-te que minha irmã Tamar venha, e me dê de comer pão, e prepare a comida diante dos meus olhos, para que eu a veja e coma da sua mão.

10 - Então, disse Amnom a Tamar: Traze a comida à câmara e comerei da tua mão. E tomou Tamar os bolos que fizera e os trouxe a Amnom, seu irmão, à câmara.

11 - E, chegando-lhos, para que comesse, pegou dela e disse-lhe: Vem, deita-te comigo, irmã minha.

12 - Porém ela lhe disse: Não, irmão meu, não me forces, porque não se faz assim em Israel; não faças tal loucura.

14 - Porém ele não quis dar ouvidos à sua voz; antes, sendo mais forte do que ela, a forçou e se deitou com ela.

15 - Depois, Amnom a aborreceu com grandíssimo aborrecimento, porque maior era o aborrecimento com que a aborrecia do que o amor com que a amara. E disse-lhe Amnom: Levanta-te e vai-te.

 

 

Admirados diante dos grandes feitos de Davi como rei de Israel, achamos difícil admitir a sua negligência como pai de família. Às vezes corremos o risco de cuidar demasiadamente da imagem pessoal e do progresso profissional, e descuidar da assistência ao lar. Não há como eximir Davi de sua omissão na educação de seus filhos. Isso fica mais evidente quando descobrimos que os maiores escândalos sexuais aconteceram dentro da família real (2 Sm 13.1-19; 16.20-23). Não seria este o momento de não apenas estudarmos acerca dos erros de Davi, mas de extrairmos lições que nos ajudem na formação de nossos familiares?

 


O rei Davi foi negligente no seio da família.

 

– Davi conquistou Jerusalém e, com este gesto, como já estudado neste trimestre, iniciou a expansão de seu reino, chegando às fronteiras prometidas por Deus a Abraão.

 

Se na vida “profissional”, a conquista de Jerusalém trouxe um impulso sem igual a Davi, a ponto de fazê-lo entender que havia confirmação divina para o seu reinado (II Sm.5:12), tornando-o o grande conquistador da história de Israel, representou, em termos de vida familiar, o aprofundamento das falhas cometidas na constituição de sua família.

 

– Com efeito, logo em seguida à declaração bíblica de que Davi tivera o discernimento da confirmação do seu reino, o que teria de ter como contrapartida um maior cuidado na formação da “fartura de gente” que levara a Jerusalém, as Escrituras registram que Davi tomou mais concubinas e mulheres (II Sm.5:13).

 

– Apesar da confirmação do reino, Davi não teve qualquer preocupação de estruturar a família cuja constituição se dera em Hebrom, mas, bem ao contrário, assumiu, de uma vez por todas, os costumes dos reis das nações, formando um verdadeiro “harém real”, não só com mais mulheres, mas também com concubinas. Tomava, pois, a decisão de moldar a sua casa assim como os reis das demais nações, em nada se distinguindo dos monarcas de seu tempo.

 

– Lamentavelmente, não tem sido diferente em nossos dias. Muitos servos de Deus, ainda que confirmados pelo Senhor seja na obra do Senhor (ministério), seja na vida secular, tomam a deliberação de construir suas vidas familiares de acordo com os padrões mundanos.

 

Fazem “como tudo mundo faz” e as consequências não tardam a chegar. Não é outro o motivo por que, na atualidade, vemos, nas famílias dos que cristãos se dizem ser, as mesmas mazelas que vemos nos lares dos incrédulos:

 

divórcios e separações,

envolvimento dos filhos com drogas e prostituição,

desobediência dos filhos em relação aos pais,

falta de união e afeto entre pais e filhos e entre os cônjuges e

até mesmo situações inadmissíveis como abusos sexuais, adultérios e homossexualismo.

Por que isto acontece nas famílias dos crentes tanto quanto nas famílias dos incrédulos? Porque muitos fizeram como Davi: resolveram adotar os mesmos costumes dos gentios, resolveram moldar a vida familiar nos mesmos ditames do mundo.

 

Uma vez confirmado no reino, Davi resolveu fazer tanto quanto os reis das demais nações, tomando mais concubinas e mulheres, o que contribuiria única e exclusivamente para o fracasso completo de sua vida familiar.

 

– Foram tantas as mulheres e concubinas tomadas por Davi que o texto sagrado apenas registra o nome dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Samua, Sobabe, Natã, Salomão, Ibar, Elisua, Nefegue, Jafia, Elisama, Eliada e Elifelete (II Sm.5:14-16; I Cr.3:5-8), fora as filhas, que não foram explicitamente nomeadas e das quais conhecemos pelo menos uma, Tamar, irmã germana de Absalão (II Sm.13:1; I Cr.3:9).

 

– Não bastasse esta multiplicação de mulheres, a Bíblia diz-nos que Davi, também, teve mais filhos e filhas (II Sm.5:13).

 

Esta expressão do texto sagrado mostra-nos, claramente, que Davi era tão somente um “procriador”, alguém que estava interessado em suscitar descendentes para segurança da dinastia, mas que não se importava em criar seus filhos, como, aliás, muitos fazem nos dias hodiernos.

 

– Tal comportamento de Davi também não correspondia ao que era exigido pelo Senhor. Quando observamos a lei, vemos que há um dever dos pais em ensinar seus filhos a sã doutrina (Dt.6:6-9), ensino este que se faz mediante um acompanhamento diário dos filhos, a terem a presença dos pais em todos os instantes do dia, seja nos momentos de comunicação (assentar em casa), seja nas atividades (andar pelo caminho), seja no término do dia (deitar), seja no início do dia (levantar).

 

– A educação dos filhos exige que os pais tenham plena ciência do cotidiano de seus filhos, estejam presentes no seu universo, como referência, como aconselhadores, guias e orientadores a cada momento, formando laços de convivência e de amor que não possam ser quebrados por terceiros ao longo da jornada da vida.

 

Davi, entretanto, apenas tinha mais filhos e filhas, mas era completamente ausente dos filhos, não lhes ensinando coisa alguma, nem se preocupando em fazê-lo.

 

– Durante o relato bíblico da vida de Davi, não o encontramos, salvo às vésperas da morte, conversando com qualquer filho ou estando na companhia de qualquer filho. Jessé o chamava para que fosse ver seus irmãos (I Sm.17:17), Saul se fazia acompanhar de Jônatas nas batalhas (tanto que ambos morreram juntos) e costumava tomar as refeições com seu filho, num companheirismo, aliás,

 

que foi declarado pelo próprio Davi (II Sm.1:23), mas Davi, durante todo o seu reinado, não é visto dando instruções a este ou aquele filho, fazendo-se acompanhar deste ou daquele filho nas batalhas, tomando refeição com qualquer filho. Era um pai completamente ausente, que não tinha nenhuma participação na formação de sua descendência.

 

– Este distanciamento de Davi em relação a seus filhos evidencia-se em alguns episódios bíblicos. Quando Amnom, enlouquecido de paixão por sua meia-irmã Tamar, adoeceu por causa disso, quem o acolheu e o aconselhou não foi Davi, mas, sim, seu primo Jonadabe (II Sm.13:3-5).

 

Amnom, embora fosse o primogênito e, portanto, o herdeiro do trono, a quem Davi, ainda que só por motivos políticos, devia ser mais próximo, não tinha qualquer intimidade com seu pai, a ponto de ter segredado seu amor por Tamar a um “amigo”, a Jonadabe, que, então, fazia as vezes de “pai”, dando, inclusive, péssimo conselho a Amnom.

 

– A ausência de um pai na criação e formação do filho faz surgir “Jonadabes” na vida das crianças, jovens e adolescentes, “Jonadabes” que nem sempre são bem-intencionados, que nem sempre são procedentes do Senhor.

 

Muitos pais têm sido substituídos por traficantes, rufiões, pedófilos, que se apresentam para suprir as carências afetivas dos filhos abandonados, levando-os para o mundo e para a destruição.

 

Enquanto os pais estão ocupados com tantas coisas, como estava Davi, deixam que “Jonadabes” se aproximem e estimulem a prática do pecado e da maldade. Acordemos, pais, e assumamos nossas responsabilidades diante de Deus, pois os filhos são herança do Senhor (Sl.127:3).

 

– A ausência de Davi era tanta e tão notória que Jonadabe disse a Amnom que se fingisse doente, pois Davi somente viria visitá-lo se Amnom apresentasse um quadro de doença.

 

Que situação lamentável: um pai que só se lembra de visitar e ver o filho, embora vivendo sob o mesmo teto, se o filho ficar de cama! É esta precisamente a situação de muitos na atualidade:

 

o filho só tem a companhia dos pais quando adoece, só recebe atenção dos filhos quando precisa de cuidados médicos, muitas vezes hospitalares.

 

Aliás, a psicologia e a medicina afirmam que muitas doenças se manifestam única e exclusivamente para que o filho tenha atenção que lhe tem sido negada.

 

– Davi compareceu para ver seu filho ao saber que estava doente. Amnom, então, ao receber a visita do rei, pediu-lhe que Tamar lhe fosse preparar bolos, sendo atendido.

 

Mas, e aqui vemos como Davi era ausente, Davi não se deu ao trabalho sequer de chamar Tamar para lhe fazer este pedido, mandou apenas que Tamar fosse avisada para que fosse até onde estava Amnom (II Sm.13:7). Definitivamente, não havia qualquer diálogo entre Davi e seus filhos.

 

– A omissão de Davi em relação a educação de seus filhos se evidencia ainda mais quando Amnom abusa de Tamar e a despede, numa cena humilhante, cena esta que é aumentada em sua publicidade pela reação de Tamar que rasgou a roupa de muitas cores que vestia e pôs cinza sobre sua cabeça, andando desta maneira à vista de todos (II Sm.13:8-19).

 

Diante de tamanho escândalo, Davi apenas “acendeu-se em ira” (II Sm.13:21), não tomando qualquer atitude seja em relação a Amnom, seja em relação a Tamar. Era um pai completamente ausente, que não tinha qualquer comprometimento com o comportamento de seus filhos.

 

– Aqui é oportuno observar que a omissão dos pais no que respeita à disciplina dos filhos é outra falha que tem causado muito dano às famílias na atualidade.

 

A psicologia moderna, baseada em princípios antibíblicos, tem defendido que os pais não podem castigar seus filhos.

 

Não estamos aqui a defender que os pais venham a espancar os filhos, pois isto é agressão, não, castigo.

 

Todavia, o que pretende esta linha de pensamento é destruir a imagem da autoridade dos pais em relação aos filhos, algo que não tem qualquer fundamentação bíblica e que deve ter o rechaço de todos quantos servem a Deus.

 

– A correção é uma demonstração de amor (Pv.13:24), cujo resultado é o bem daquele que é corrigido(Hb.12:6-11).

 

As Escrituras contêm vários ensinamentos a respeito da necessidade de os pais corrigirem seus filhos a fim de lhes proporcionar um crescimento sadio e uma vida melhor, tanto no aspecto secular, quanto no aspecto espiritual (Pv.4:1; 5:23; 6:23; 22:15; 23:13,14; 29:15).

 

– No entanto, para que haja correção, torna-se necessário que, antes, tenha havido ensino (II Tm.3:16).

 

Muitos pais não corrigem seus filhos, porque não os ensinaram e, desta maneira, não têm autoridade, não têm condições de impor aos filhos alguma espécie de correção, algum tipo de castigo.

 

Era esta, precisamente, a situação de Davi. O rei era ausente com relação aos filhos e, portanto, diante daquele escândalo, só podia “morder-se de raiva”, ficar irado, mas não tinha qualquer condição de efetuar qualquer repreensão seja a Amnom, seja a Tamar.

 

– Diante da omissão paterna, Absalão, outro filho de Davi, resolveu fazer justiça com as suas próprias mãos. Passados dois anos deste episódio, Absalão põe em ação o plano que começara a arquitetar quando dos fatos, quando foi acudir sua irmã Tamar (II Sm.13:20).

 

– Absalão foi até a presença de Davi e o convidou para uma festa em Baal-Hazor, onde tinha tosquiadores, mas Davi, mais uma vez mostrando ser um pai ausente e desinteressado em manter uma vida familiar, não quis ir, tendo-o abençoado (II Sm.13:24-26).

 

Absalão pediu, então, que o rei autorizasse que Amnom fosse, tendo o rei aceitado que não só Amnom mas todos os filhos do rei acompanhassem Absalão nesta festa familiar.

 

– Observamos como Davi não tinha em conta a sua vida em família. Não foi à festa, embora todos seus filhos tivessem ido.

 

Absalão sabia muito bem que Davi não o acompanharia nesta festança, prova de que Davi não comparecia a qualquer cerimônia festiva da família.

 

Era um completo ausente e, quando os filhos sabem que seus pais não acompanham os seus passos, começam a ser instados a arquitetar “festejos” que estão completamente fora de parâmetros.

 

As “festinhas” onde há sexo, drogas e tantas coisas danosas ocorrem sempre porque os pais são ausentes, não sabem quem são os “amigos” de seus filhos, nem quais são os seus “costumes”.

 

Muitos, na atualidade, querem controlar os filhos com celulares, GPS, como se isto gerasse efetivo controle.

 

O controle da situação vem de um acompanhamento diário dos filhos, de uma efetiva convivência, de um compartilhamento que gere confiança e união entre pais e filhos, não de instrumentos ou equipamentos trazidos pela tecnologia.

 

– Como Davi era um pai ausente, Absalão pôde montar a sua “festinha” nas “barbas” do rei e, mais do que isto, com a própria “bênção” do pai e, na “festinha”, regada a muito vinho, acabou por matar Amnom. Davi colhia mais um fruto de sua vida familiar desastrosa (II Sm.13:27-36).

 

– Após praticar o crime, Absalão fugiu e se foi a Talmai, seu avô, rei de Gesur, tendo ali ficado três anos. Davi teve saudades de Absalão, uma vez consolado pela perda de Amnom, mas foi incapaz de externar tal sentimento.

 

Era um pai distante, ausente e que não conseguia demonstrar seu afeto por seus filhos. Não façamos isto. Pais, demonstrem seu afeto para com seus filhos! Afinal de contas, ser pai é demonstrar amor.

 

Por que Deus é chamado de “Pai nosso”? Precisamente porque demonstrou Seu amor para conosco de forma visível e palpável, não ficou apenas tendo dó de nós e sentindo saudades em Seu trono de glória sem nenhuma medida efetiva.

 

Os pais são aqueles que externam seus sentimentos aos filhos, que sabem dar boas dádivas a eles, ainda que sejam maus, como nos ensinou o Senhor Jesus (Mt.7:11; Lc.11:13).

 

– Entretanto, Davi se fechou, não externou seu sentimento. Joabe, seu comandante do exército, porém, notou esta circunstância e usou de um estratagema para fazer com que Davi trouxesse do exílio a Absalão, fazendo com que Davi efetuasse um julgamento em que se condenava por não permitir o retorno de seu filho (II Sm.14:1-22).

 

Davi, então, após ser assim “descoberto” em seus intentos, autorizou que Joabe trouxesse Absalão de volta a Jerusalém, mas não quis vê-lo nem falar com ele (II Sm.14:23,24).

 

– Davi mostrou-se extremamente soberbo e insensível. Embora tivesse dó e saudades de Absalão, não quis, de forma alguma, mostrar isto a seu filho, o que lhe custaria muito caro. Deixou que Absalão retornasse para Jerusalém, mas não permitiu sequer que fosse vê-lo.

 

Que diferença com o que José fez com seus irmãos, que, mesmo tendo sido seus algozes, não só foi visto como José teve prazer de com eles se alimentar, mesmo não se dando a conhecer num primeiro momento (Gn.43:15-17).

 

Quantos não fazem como Davi: não veem seus familiares, não falam com eles, guardam mágoas e ressentimentos anos a fio, apesar de ter dó e saudades deles. Davi, com este comportamento, apenas promoveu um maior distanciamento de Absalão.

 

Em Jerusalém, Absalão ficou mais distante de seu pai do que quando estava em Gesur, um distanciamento emocional que transformou o amor em ódio e que levou Absalão ao gesto mais extremo que um filho pode ter em relação ao pai: a rebelião. Tomemos cuidado!

 

– Durante dois anos, Absalão não viu a face do rei, somando um total de cinco anos de completa falta de contato. Para ser visto pelo rei, Absalão precisou criar constrangimentos para Joabe.

 

Absalão apresentou-se a Davi e Davi apenas o beijou, cena que não deve ser confundida pelo leitor da Bíblia. O encontro entre ambos foi meramente protocolar: Absalão se prostrou diante do rei e o rei o beijou (II Sm.14:33).

 

Nenhuma troca de palavras, nenhuma manifestação de afeto. Um encontro gélido, despido de qualquer afetividade, que teve como consequência apenas a consolidação do ódio no coração de Absalão e o início da execução do seu plano de revolta.

 

– Davi, tão cioso de seu reinado a ponto de desprezar a vida familiar, sem saber, por causa de seu desprezo para com sua família, punha em risco o seu próprio governo.

 

O formalismo demonstrado para com Absalão, hipócrita, pois Davi muito amava Absalão; a recusa em derramar lágrimas, em mostrar a afeição que tinha por seu filho foi o elemento que faltava para que Absalão iniciasse a sua vingança e levasse Davi para uma grande provação.

 

Verdade é que recuperou o reino, até porque Absalão estava fora da direção divina, sendo um homicida, um rebelde e desobediente, mas perdeu para sempre o seu filho.

 

Quando chorou amargamente pela morte de Absalão (II Sm.18:33), Davi, certamente, deve ter refletido que, neste encontro gélido e formal, perdera o seu filho para sempre. Pais, antes que choremos diante de uma situação irreversível, mostremos amor e afeto aos nossos filhos!

 

– Este distanciamento de Davi com seus filhos também é demonstrado pelo fato de que, por amor a Jônatas, Mefibosete era alguém que sempre comia na mesa do rei (II Sm.9:13).

 

Apesar de o gesto de Davi ser altamente elogiável (como se vê no apêndice nº 1 deste trimestre), não podemos nos esquecer de que, ao mesmo tempo em que dava honras ao filho de Jônatas, Davi desprezava os seus próprios filhos, pois não é dito, em momento algum nas Escrituras, que tivessem os filhos de Davi acesso à mesa do rei ou que, de contínuo, comiam eles com o rei, como, por exemplo, a Bíblia fala que ocorria com Saul e Jônatas.

 

– Não podemos, em hipótese alguma, permitir que terceiros venham a ocupar o lugar de nossos familiares em nossa vida.

 

A família deve ter uma posição que somente é inferior a de Deus. Tudo o mais depende de nossa vida familiar e, portanto, não introduzamos “Mefibosetes” que substituam nossa família em nossa escala de valores.

 

Ministros do Evangelho, lembrem-se que a família está acima da igreja em sua vida. Sem a família, não há como se ter um ministério profícuo, lição que muitos, a exemplo de Davi, vão aprender somente quando tudo já estiver irreversível, quando for tarde demais.

 

– Apesar da dura experiência sofrida por Davi na revolta de Absalão, não vemos que Davi tenha mudado sua conduta familiar ao retornar ao trono. Não tinha também mais muito o que fazer, já que a idade avançara, os filhos já haviam sido criados (e mal criados).

 

No término de sua vida, como demonstração do “modus vivendi” que havia adotado, seus servos lhe trouxeram uma moça virgem para “aquecê-lo”, Abisague.

 

Davi tinha gerado o costume do “harém real” e, ante a sua enfermidade e velhice, logo procuraram “ajudá-lo” com uma mulher, mulher com a qual não teve Davi relações sexuais, diante da sua avançada idade e doença (I Rs.1:1-4).

 

– Davi definitivamente criara uma “cultura de harém” na corte real, cultura esta que chegaria ao extremo no reinado seguinte, com Salomão e suas setecentas mulheres e trezentas concubinas que lhe perverteram o coração (I Rs.11:3) e que acabaram por dar fim ao reino de Israel.

 

A brecha aberta por Davi na sua vida familiar levou à destruição da nação israelita, que nunca mais se restaurou. Quando abrimos brecha na vida familiar, pomos em risco a própria igreja! Lembremos disto.

 

– Diante desta situação, Adonias, o filho mais velho de Davi entre os que ainda viviam, na qualidade de herdeiro presuntivo do trono, levantou-se contra o seu pai e se proclamou rei, tendo o apoio de Joabe e de Abiatar.

 

Este gesto, uma verdadeira desonra a Davi, diz-nos a Bíblia, é resultado de uma vida sem disciplina que viveu Adonias. O texto sagrado relata-nos que Adonias nunca foi contrariado por Davi (I Rs.1:6).

 

Como diz o proverbista, a falta de repreensão e de correção gera pessoas que envergonham os pais (Pv.29:15).

 

– No leito de morte, Davi ainda recebe um insulto desta natureza. Adonias declara-se rei e, enquanto está banqueteando, Davi recebe a visita de sua mulher Bate-Seba, em mais uma demonstração de que, apesar de ser mulher de Davi, Bate-Seba não tinha acesso à câmara do rei, onde ficava apenas Abisague (I Rs.1:15), apesar de ter sido a mulher pelo qual fizera tantas loucuras.

 

Assim é a paixão, passageira e que não se sustenta ao longo dos anos. Uma vida de isolamento de seus familiares era a vida de Davi.

 

– Sendo informado por Bate-Seba e por Natã a respeito da rebelião de Adonias, Davi é forçado a transferir o reino antes mesmo de sua morte.

 

Manda que Salomão seja ungido rei e proclamado como tal em Jerusalém, o que foi o bastante para que Adonias desistisse de seu intento (I Rs.1:32-53).

 

– Em seguida, como numa tentativa de compensar tudo quanto havia feito de errado em sua vida, Davi, no leito de morte, chama Salomão e lhe dá conselhos antes que morresse (I Rs.2:1-9), buscando orientar seu filho na sucessão, algo que será tema de uma lição ainda neste trimestre.

 

Somente no leito de morte, e ainda em virtude das precipitações políticas, Davi se dispõe a ter um contato mais amiúde com um filho seu. Salomão muito aproveitou esta oportunidade e tal contato, ainda que pequeno, trouxe algumas bênçãos não só para Salomão como para todo o Israel, em especial no tocante à construção do templo e à estabilização do culto a Deus.

 

Que bom seria se Davi tivesse feito isto desde o início, mas não o fez.

 

– Será que precisamos aguardar o leito de morte para tentarmos remediar os erros que cometemos em nossa vida familiar?

 

Davi teve esta chance, mas não podemos nos esquecer que esta oportunidade se deveu a dois fatores:

 

ao ultraje sofrido diante da revolta de Adonias e

 

ao próprio propósito divino para a salvação do homem, o que levou Davi, diante da proximidade da morte e da promessa messiânica recebida, a ter de mudar de atitude em relação a seu herdeiro e sucessor Salomão.

 

– Como marido, Davi não teve melhor sorte. Como já tivemos ocasião de verificar ao longo deste estudo, Davi não valorizava o amor das mulheres, vendo-as sob um ângulo utilitário tão somente.

 

Levado pelo impulso no instante em que decidia casar, também não cultivava o amor para com aquelas mulheres que se sentiam atraídas por ele.

 

– Assim se deu tanto no caso de Mical, quanto de Abigail, as suas duas primeiras mulheres, que o texto sagrado diz que amavam Davi (I Sm..18:20; 25:31,41,42), mas cujo amor Davi não correspondeu.

 

No caso de sua primeira mulher, vemos que Davi desprezou Mical, tratando-a tão somente como um “troféu” quando ela retorna ao seu convívio, vez que com ela sequer manteve um relacionamento conjugal, desprezo este que se transforma em amargura e revolta, a ponto de ela cometer o desatino de repreendê-lo publicamente, o que lhe causou a esterilização da parte do Senhor (II Sm.6:16, 20-23).

 

– Com Abigail não foi diferente. Pouco depois de ter casado com ela, Davi também se casa com Ainoã, a jizreelita (I Sm.25:43), numa clara demonstração de que o impulso demonstrado no episódio de Naval foi passageiro, a ponto de Davi ter achado outra mulher pouco depois que lhe interessou.

 

Abigail passa a ser tratada apenas como “mais uma mulher”, tendo da parte do rei o mesmo tratamento das demais mulheres, tanto que, assim como as outras, teve apenas um filho com o rei em Hebrom (II Sm.3:3; I Cr.3:1), prova de que passou a ser vista por Davi também sob o ângulo utilitário tão somente, o que, aliás, é próprio da “cultura do harém”.

 

– A palavra “marido” tem origem na raiz “masc”, que se refere ao macho, ao varão. O papel do marido, biblicamente falando, é o de cabeça do casal (Ef.5:23), ou seja, aquele a quem o Senhor incumbiu de efetuar o planejamento e a direção da vida conjugal, pois a cabeça é feita para pensar, planejar, comandar.

 

Como cabeça, o marido deve estabelecer quais as tarefas, quais as missões a serem cumpridas pelos integrantes da família, tarefas e missões a serem, obviamente, previamente perquiridas junto ao Senhor, que é a cabeça do varão (I Co.11:3).

 

– Davi, portanto, tinha todas as condições de ser um excelente marido, pois, sendo cheio do Espírito Santo, poderia ter buscado a direção do Senhor na sua vida conjugal e familiar. No entanto, não o fez e este é o primeiro fator que fez com que sua vida familiar tenha sido o desastre que foi.

 

– Todo marido salvo, que também tem o Espírito Santo, deve buscar a orientação e direção divina, para, então, tomar as necessárias decisões na vida familiar, pois a ele, marido, incumbe tal função.

 

Evidentemente que, assim como o próprio Deus permite ao homem, apesar de Sua soberania, que este traga à presença de Deus os seus desejos, planos e projetos (Sl.69:33; Is.59:1; Jr.33:3), de igual maneira o marido não deve ser um ditador, um “sabe-tudo”, devendo, sim, ser aberto ao diálogo com a mulher e com os filhos na formulação da vida familiar.

 

– Somente quando o marido tem um projeto de vida familiar, elaborado na direção do Espírito Santo e que tem a colaboração dos demais familiares, obterá de sua mulher a sujeição, a submissão. “Submissão” é “pôr-se debaixo de” algo, é “disposição para obedecer”.

 

Ora, como se pode exigir da mulher, que tem uma sensibilidade mais aguçada que a do homem, que se ponha debaixo do nada, de algo que não existe, visto que muitos maridos não têm qualquer plano de vida?

 

E, mais ainda, como exigir de uma mulher salva, que tem o Espírito Santo, se subordine a projetos e planos que não têm a orientação divina, já que, como seres humanos espirituais, os salvos têm a mente de Cristo (I Co.2:14-16)?

 

– Mas, além da incumbência de ter um plano de vida familiar na direção do Espírito Santo, o marido, também, tem de ter a iniciativa do amor. Como cabeça da mulher, deve o marido ser o primeiro a demonstrar amor por ela.

 

Assim como Cristo nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, por isso, é a cabeça da Igreja, por ser Ele o próprio Salvador do corpo (Ef.5:23), o marido também deve ser o primeiro a mostrar amor pela mulher.

 

– A submissão da mulher ao marido depende fundamentalmente de a mulher se sentir amada pelo marido, amor que não se traduz apenas em gestos sentimentais, em carícias e em palavras (embora tudo isto seja necessário e indispensável até ante a sensibilidade feminina), mas que se deve traduzir, principalmente, em obras, em atitudes, em ações (I Jo.3:17,18).

 

A submissão da mulher é uma atitude de reação ao amor demonstrado pelo marido, amor este que deve chegar ao ponto de o marido estar disposto de dar a sua própria vida pela mulher (Ef.5:25; I Jo.3:16).

 

– Davi falhou precisamente neste quesito. Tão dedicado em suas funções profissionais, disposto a dar a sua vida pelos seus liderados, desde os tempos em que comandou parte da gente de guerra de Saul, em relação a suas mulheres não demonstrou este mesmo amor. Pelo contrário, não tomou iniciativa alguma de amor em relação a suas mulheres, o que lhe gerou os sucessivos fracassos matrimoniais.

 

Mical é o exemplo mais claro desta circunstância: o desprezo sofrido levou-a à revolta explícita, ao insulto público.

 

Muitos maridos salvos padecem do mesmo mal e têm consequências terríveis em suas vidas, máxime se envolvidos na obra do Senhor. Os maridos têm a Cristo como exemplo e devem demonstrar o amor para com suas mulheres, é deles esta iniciativa.

 

– Somente com relação a uma mulher Davi teve tal demonstração. Foi com Bate-Seba.

 

Diz-nos o texto sagrado que, após a morte do primeiro filho que ambos tiveram, em cumprimento à sentença divina proferida por intermédio do profeta Natã (II Sm.12:14), o rei tomou a iniciativa de consolar Bate-Seba. A restauração espiritual promovida em Davi fê-lo rever esta sua condição de marido insensível.

 

– Davi preocupou-se com Bate-Seba, com seu bem-estar, demonstrando-lhe afeto e carinho.

 

Acabou retomando o relacionamento conjugal com Bate-Seba e o resultado foi que não só teve um segundo filho, Salomão, como também mais outros três filhos (Simeia, Sobabe e Natã), tendo sido a única mulher de Davi que teve tantos filhos, prova de que Davi resolveu, após “o caso de Urias, o heteu” estabelecer, ao menos com uma mulher, uma vida conjugal plena (I Cr.3:5).

 

É interessante notar que a Bíblia, ao relatar tal circunstância, chama Bate-Seba de “Bate-Sua”, cujo significado é “filha da opulência”, dando-nos a entender, portanto, que Bate-Seba conseguiu a plenitude da femininidade, que é a de ser amada plenamente pelo marido e de atingir a maternidade.

 

– Tratou-se, sem dúvida, de uma evolução para a vida familiar de Davi, mas nos parece que, apesar deste progresso, o rei não mudou muito seu comportamento com o desenrolar dos anos, visto que, no final de sua vida, vemos que não mais mantinha uma vida conjugal plena com Bate-Seba, que nem sequer tinha acesso livre à recâmara do rei (I Rs.1:11,15,28).

 

A “cultura do harém” tinha firmemente se estabelecido na corte de Davi e impediu que o rei mantivesse esta vida conjugal plena de forma constante.

 

Talvez o despertar de Davi como marido tenha sido assaz tardio e as circunstâncias que ele próprio criou foram tais que não teve mais como se desvencilhar do “monstro” que havia criado.

 


– .Não percamos a oportunidade de, mediante esta lição, revermos nossos conceitos de vida familiar e, assim, podermos construir um lar que seja um verdadeiro altar que adore a Deus.

Há por certo outras virtudes de Davi que ainda não contemplamos, todavia, essa análise às avessas visa nos alertar para os perigos que cercam nossas famílias. Seja como for, quer de forma positiva, quer de forma negativa, Davi nos ensina.

 



Em breve estaremos de volta com o seguinte tema: Os cinco Gigantes que Davi não Venceu.

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