Por: Jânio Santos de Oliveira
Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra
Pastor Presidente: Eliseu Cadena
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Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!
O sumário da biografia completa do rei Davi
I. A biografia de Davi.
II. Os talentos de Davi.
III. Davi, um homem segundo o coração de Deus?
IV. O tempo de Deus na vida do rei Davi.
V. As três unções do rei Davi.
VI. As conquistas do rei Davi.
VII. A restauração espiritual de Davi.
VIII . Davi e o preço da negligência na família
IX. Os cinco Gigantes que Davi não Venceu.
X. Não retires de mim o teu Espírito Santo (Sl 51.11).
XI. A Diferença entre Saul e Davi.
XII. A perpetuidade do reinado de Davi.
XIII. Davi, um tipo de Cristo.
Estamos de volta para falar sobre Davi e o preço da negligência
na família. Vamos acompanhar!
2 Samuel 13.2,5,10-12,14,15
2 - E angustiou-se Amnom, até
adoecer, por Tamar, sua irmã, porque era virgem; e parecia, aos olhos de Amnom,
dificultoso fazer-lhe coisa alguma.
5 - E Jonadabe lhe disse:
Deita-te na tua cama, e finge-te doente; e, quando teu pai te vier visitar,
dize-lhe: Peço-te que minha irmã Tamar venha, e me dê de comer pão, e prepare a
comida diante dos meus olhos, para que eu a veja e coma da sua mão.
10 - Então, disse Amnom a Tamar:
Traze a comida à câmara e comerei da tua mão. E tomou Tamar os bolos que fizera
e os trouxe a Amnom, seu irmão, à câmara.
11 - E, chegando-lhos, para que
comesse, pegou dela e disse-lhe: Vem, deita-te comigo, irmã minha.
12 - Porém ela lhe disse: Não,
irmão meu, não me forces, porque não se faz assim em Israel; não faças tal
loucura.
14 - Porém ele não quis dar
ouvidos à sua voz; antes, sendo mais forte do que ela, a forçou e se deitou com
ela.
15 - Depois, Amnom a aborreceu
com grandíssimo aborrecimento, porque maior era o aborrecimento com que a
aborrecia do que o amor com que a amara. E disse-lhe Amnom: Levanta-te e
vai-te.
Admirados
diante dos grandes feitos de Davi como rei de Israel, achamos difícil admitir a
sua negligência como pai de família. Às vezes corremos o risco de cuidar
demasiadamente da imagem pessoal e do progresso profissional, e descuidar da
assistência ao lar. Não há como eximir Davi de sua omissão na educação de seus
filhos. Isso fica mais evidente quando descobrimos que os maiores escândalos
sexuais aconteceram dentro da família real (2 Sm 13.1-19; 16.20-23). Não seria
este o momento de não apenas estudarmos acerca dos erros de Davi, mas de
extrairmos lições que nos ajudem na formação de nossos familiares?
O rei Davi foi negligente no seio da família.
–
Davi conquistou Jerusalém e, com este gesto, como já estudado neste trimestre,
iniciou a expansão de seu reino, chegando às fronteiras prometidas por Deus a
Abraão.
Se
na vida “profissional”, a conquista de Jerusalém trouxe um impulso sem igual a
Davi, a ponto de fazê-lo entender que havia confirmação divina para o seu
reinado (II Sm.5:12), tornando-o o grande conquistador da história de Israel,
representou, em termos de vida familiar, o aprofundamento das falhas cometidas
na constituição de sua família.
–
Com efeito, logo em seguida à declaração bíblica de que Davi tivera o discernimento
da confirmação do seu reino, o que teria de ter como contrapartida um maior
cuidado na formação da “fartura de gente” que levara a Jerusalém, as Escrituras
registram que Davi tomou mais concubinas e mulheres (II Sm.5:13).
–
Apesar da confirmação do reino, Davi não teve qualquer preocupação de
estruturar a família cuja constituição se dera em Hebrom, mas, bem ao
contrário, assumiu, de uma vez por todas, os costumes dos reis das nações,
formando um verdadeiro “harém real”, não só com mais mulheres, mas também com
concubinas. Tomava, pois, a decisão de moldar a sua casa assim como os reis das
demais nações, em nada se distinguindo dos monarcas de seu tempo.
–
Lamentavelmente, não tem sido diferente em nossos dias. Muitos servos de Deus,
ainda que confirmados pelo Senhor seja na obra do Senhor (ministério), seja na
vida secular, tomam a deliberação de construir suas vidas familiares de acordo
com os padrões mundanos.
Fazem
“como tudo mundo faz” e as consequências não tardam a chegar. Não é outro o
motivo por que, na atualidade, vemos, nas famílias dos que cristãos se dizem
ser, as mesmas mazelas que vemos nos lares dos incrédulos:
divórcios
e separações,
envolvimento
dos filhos com drogas e prostituição,
desobediência
dos filhos em relação aos pais,
falta
de união e afeto entre pais e filhos e entre os cônjuges e
até
mesmo situações inadmissíveis como abusos sexuais, adultérios e
homossexualismo.
Por
que isto acontece nas famílias dos crentes tanto quanto nas famílias dos
incrédulos? Porque muitos fizeram como Davi: resolveram adotar os mesmos
costumes dos gentios, resolveram moldar a vida familiar nos mesmos ditames do
mundo.
Uma
vez confirmado no reino, Davi resolveu fazer tanto quanto os reis das demais
nações, tomando mais concubinas e mulheres, o que contribuiria única e
exclusivamente para o fracasso completo de sua vida familiar.
–
Foram tantas as mulheres e concubinas tomadas por Davi que o texto sagrado
apenas registra o nome dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Samua, Sobabe,
Natã, Salomão, Ibar, Elisua, Nefegue, Jafia, Elisama, Eliada e Elifelete (II
Sm.5:14-16; I Cr.3:5-8), fora as filhas, que não foram explicitamente nomeadas
e das quais conhecemos pelo menos uma, Tamar, irmã germana de Absalão (II
Sm.13:1; I Cr.3:9).
–
Não bastasse esta multiplicação de mulheres, a Bíblia diz-nos que Davi, também,
teve mais filhos e filhas (II Sm.5:13).
Esta
expressão do texto sagrado mostra-nos, claramente, que Davi era tão somente um
“procriador”, alguém que estava interessado em suscitar descendentes para
segurança da dinastia, mas que não se importava em criar seus filhos, como,
aliás, muitos fazem nos dias hodiernos.
–
Tal comportamento de Davi também não correspondia ao que era exigido pelo
Senhor. Quando observamos a lei, vemos que há um dever dos pais em ensinar seus
filhos a sã doutrina (Dt.6:6-9), ensino este que se faz mediante um
acompanhamento diário dos filhos, a terem a presença dos pais em todos os
instantes do dia, seja nos momentos de comunicação (assentar em casa), seja nas
atividades (andar pelo caminho), seja no término do dia (deitar), seja no
início do dia (levantar).
–
A educação dos filhos exige que os pais tenham plena ciência do cotidiano de
seus filhos, estejam presentes no seu universo, como referência, como
aconselhadores, guias e orientadores a cada momento, formando laços de
convivência e de amor que não possam ser quebrados por terceiros ao longo da
jornada da vida.
Davi,
entretanto, apenas tinha mais filhos e filhas, mas era completamente ausente
dos filhos, não lhes ensinando coisa alguma, nem se preocupando em fazê-lo.
–
Durante o relato bíblico da vida de Davi, não o encontramos, salvo às vésperas
da morte, conversando com qualquer filho ou estando na companhia de qualquer
filho. Jessé o chamava para que fosse ver seus irmãos (I Sm.17:17), Saul se
fazia acompanhar de Jônatas nas batalhas (tanto que ambos morreram juntos) e
costumava tomar as refeições com seu filho, num companheirismo, aliás,
que
foi declarado pelo próprio Davi (II Sm.1:23), mas Davi, durante todo o seu
reinado, não é visto dando instruções a este ou aquele filho, fazendo-se
acompanhar deste ou daquele filho nas batalhas, tomando refeição com qualquer
filho. Era um pai completamente ausente, que não tinha nenhuma participação na
formação de sua descendência.
–
Este distanciamento de Davi em relação a seus filhos evidencia-se em alguns
episódios bíblicos. Quando Amnom, enlouquecido de paixão por sua meia-irmã
Tamar, adoeceu por causa disso, quem o acolheu e o aconselhou não foi Davi,
mas, sim, seu primo Jonadabe (II Sm.13:3-5).
Amnom,
embora fosse o primogênito e, portanto, o herdeiro do trono, a quem Davi, ainda
que só por motivos políticos, devia ser mais próximo, não tinha qualquer
intimidade com seu pai, a ponto de ter segredado seu amor por Tamar a um
“amigo”, a Jonadabe, que, então, fazia as vezes de “pai”, dando, inclusive,
péssimo conselho a Amnom.
–
A ausência de um pai na criação e formação do filho faz surgir “Jonadabes” na
vida das crianças, jovens e adolescentes, “Jonadabes” que nem sempre são
bem-intencionados, que nem sempre são procedentes do Senhor.
Muitos
pais têm sido substituídos por traficantes, rufiões, pedófilos, que se
apresentam para suprir as carências afetivas dos filhos abandonados, levando-os
para o mundo e para a destruição.
Enquanto
os pais estão ocupados com tantas coisas, como estava Davi, deixam que
“Jonadabes” se aproximem e estimulem a prática do pecado e da maldade.
Acordemos, pais, e assumamos nossas responsabilidades diante de Deus, pois os
filhos são herança do Senhor (Sl.127:3).
–
A ausência de Davi era tanta e tão notória que Jonadabe disse a Amnom que se
fingisse doente, pois Davi somente viria visitá-lo se Amnom apresentasse um
quadro de doença.
Que
situação lamentável: um pai que só se lembra de visitar e ver o filho, embora
vivendo sob o mesmo teto, se o filho ficar de cama! É esta precisamente a
situação de muitos na atualidade:
o
filho só tem a companhia dos pais quando adoece, só recebe atenção dos filhos
quando precisa de cuidados médicos, muitas vezes hospitalares.
Aliás,
a psicologia e a medicina afirmam que muitas doenças se manifestam única e
exclusivamente para que o filho tenha atenção que lhe tem sido negada.
–
Davi compareceu para ver seu filho ao saber que estava doente. Amnom, então, ao
receber a visita do rei, pediu-lhe que Tamar lhe fosse preparar bolos, sendo
atendido.
Mas,
e aqui vemos como Davi era ausente, Davi não se deu ao trabalho sequer de
chamar Tamar para lhe fazer este pedido, mandou apenas que Tamar fosse avisada
para que fosse até onde estava Amnom (II Sm.13:7). Definitivamente, não havia
qualquer diálogo entre Davi e seus filhos.
–
A omissão de Davi em relação a educação de seus filhos se evidencia ainda mais
quando Amnom abusa de Tamar e a despede, numa cena humilhante, cena esta que é
aumentada em sua publicidade pela reação de Tamar que rasgou a roupa de muitas
cores que vestia e pôs cinza sobre sua cabeça, andando desta maneira à vista de
todos (II Sm.13:8-19).
Diante
de tamanho escândalo, Davi apenas “acendeu-se em ira” (II Sm.13:21), não
tomando qualquer atitude seja em relação a Amnom, seja em relação a Tamar. Era
um pai completamente ausente, que não tinha qualquer comprometimento com o
comportamento de seus filhos.
–
Aqui é oportuno observar que a omissão dos pais no que respeita à disciplina
dos filhos é outra falha que tem causado muito dano às famílias na atualidade.
A
psicologia moderna, baseada em princípios antibíblicos, tem defendido que os
pais não podem castigar seus filhos.
Não
estamos aqui a defender que os pais venham a espancar os filhos, pois isto é
agressão, não, castigo.
Todavia,
o que pretende esta linha de pensamento é destruir a imagem da autoridade dos
pais em relação aos filhos, algo que não tem qualquer fundamentação bíblica e
que deve ter o rechaço de todos quantos servem a Deus.
–
A correção é uma demonstração de amor (Pv.13:24), cujo resultado é o bem
daquele que é corrigido(Hb.12:6-11).
As
Escrituras contêm vários ensinamentos a respeito da necessidade de os pais
corrigirem seus filhos a fim de lhes proporcionar um crescimento sadio e uma
vida melhor, tanto no aspecto secular, quanto no aspecto espiritual (Pv.4:1;
5:23; 6:23; 22:15; 23:13,14; 29:15).
–
No entanto, para que haja correção, torna-se necessário que, antes, tenha
havido ensino (II Tm.3:16).
Muitos
pais não corrigem seus filhos, porque não os ensinaram e, desta maneira, não
têm autoridade, não têm condições de impor aos filhos alguma espécie de
correção, algum tipo de castigo.
Era
esta, precisamente, a situação de Davi. O rei era ausente com relação aos
filhos e, portanto, diante daquele escândalo, só podia “morder-se de raiva”,
ficar irado, mas não tinha qualquer condição de efetuar qualquer repreensão
seja a Amnom, seja a Tamar.
–
Diante da omissão paterna, Absalão, outro filho de Davi, resolveu fazer justiça
com as suas próprias mãos. Passados dois anos deste episódio, Absalão põe em
ação o plano que começara a arquitetar quando dos fatos, quando foi acudir sua
irmã Tamar (II Sm.13:20).
–
Absalão foi até a presença de Davi e o convidou para uma festa em Baal-Hazor,
onde tinha tosquiadores, mas Davi, mais uma vez mostrando ser um pai ausente e
desinteressado em manter uma vida familiar, não quis ir, tendo-o abençoado (II
Sm.13:24-26).
Absalão
pediu, então, que o rei autorizasse que Amnom fosse, tendo o rei aceitado que
não só Amnom mas todos os filhos do rei acompanhassem Absalão nesta festa
familiar.
–
Observamos como Davi não tinha em conta a sua vida em família. Não foi à festa,
embora todos seus filhos tivessem ido.
Absalão
sabia muito bem que Davi não o acompanharia nesta festança, prova de que Davi
não comparecia a qualquer cerimônia festiva da família.
Era
um completo ausente e, quando os filhos sabem que seus pais não acompanham os
seus passos, começam a ser instados a arquitetar “festejos” que estão
completamente fora de parâmetros.
As
“festinhas” onde há sexo, drogas e tantas coisas danosas ocorrem sempre porque os
pais são ausentes, não sabem quem são os “amigos” de seus filhos, nem quais são
os seus “costumes”.
Muitos,
na atualidade, querem controlar os filhos com celulares, GPS, como se isto
gerasse efetivo controle.
O
controle da situação vem de um acompanhamento diário dos filhos, de uma efetiva
convivência, de um compartilhamento que gere confiança e união entre pais e
filhos, não de instrumentos ou equipamentos trazidos pela tecnologia.
–
Como Davi era um pai ausente, Absalão pôde montar a sua “festinha” nas “barbas”
do rei e, mais do que isto, com a própria “bênção” do pai e, na “festinha”,
regada a muito vinho, acabou por matar Amnom. Davi colhia mais um fruto de sua
vida familiar desastrosa (II Sm.13:27-36).
–
Após praticar o crime, Absalão fugiu e se foi a Talmai, seu avô, rei de Gesur,
tendo ali ficado três anos. Davi teve saudades de Absalão, uma vez consolado
pela perda de Amnom, mas foi incapaz de externar tal sentimento.
Era
um pai distante, ausente e que não conseguia demonstrar seu afeto por seus
filhos. Não façamos isto. Pais, demonstrem seu afeto para com seus filhos!
Afinal de contas, ser pai é demonstrar amor.
Por
que Deus é chamado de “Pai nosso”? Precisamente porque demonstrou Seu amor para
conosco de forma visível e palpável, não ficou apenas tendo dó de nós e
sentindo saudades em Seu trono de glória sem nenhuma medida efetiva.
Os
pais são aqueles que externam seus sentimentos aos filhos, que sabem dar boas
dádivas a eles, ainda que sejam maus, como nos ensinou o Senhor Jesus (Mt.7:11;
Lc.11:13).
–
Entretanto, Davi se fechou, não externou seu sentimento. Joabe, seu comandante
do exército, porém, notou esta circunstância e usou de um estratagema para
fazer com que Davi trouxesse do exílio a Absalão, fazendo com que Davi
efetuasse um julgamento em que se condenava por não permitir o retorno de seu
filho (II Sm.14:1-22).
Davi,
então, após ser assim “descoberto” em seus intentos, autorizou que Joabe
trouxesse Absalão de volta a Jerusalém, mas não quis vê-lo nem falar com ele
(II Sm.14:23,24).
–
Davi mostrou-se extremamente soberbo e insensível. Embora tivesse dó e saudades
de Absalão, não quis, de forma alguma, mostrar isto a seu filho, o que lhe
custaria muito caro. Deixou que Absalão retornasse para Jerusalém, mas não
permitiu sequer que fosse vê-lo.
Que
diferença com o que José fez com seus irmãos, que, mesmo tendo sido seus
algozes, não só foi visto como José teve prazer de com eles se alimentar, mesmo
não se dando a conhecer num primeiro momento (Gn.43:15-17).
Quantos
não fazem como Davi: não veem seus familiares, não falam com eles, guardam
mágoas e ressentimentos anos a fio, apesar de ter dó e saudades deles. Davi,
com este comportamento, apenas promoveu um maior distanciamento de Absalão.
Em
Jerusalém, Absalão ficou mais distante de seu pai do que quando estava em
Gesur, um distanciamento emocional que transformou o amor em ódio e que levou
Absalão ao gesto mais extremo que um filho pode ter em relação ao pai: a
rebelião. Tomemos cuidado!
–
Durante dois anos, Absalão não viu a face do rei, somando um total de cinco
anos de completa falta de contato. Para ser visto pelo rei, Absalão precisou
criar constrangimentos para Joabe.
Absalão
apresentou-se a Davi e Davi apenas o beijou, cena que não deve ser confundida
pelo leitor da Bíblia. O encontro entre ambos foi meramente protocolar: Absalão
se prostrou diante do rei e o rei o beijou (II Sm.14:33).
Nenhuma
troca de palavras, nenhuma manifestação de afeto. Um encontro gélido, despido
de qualquer afetividade, que teve como consequência apenas a consolidação do
ódio no coração de Absalão e o início da execução do seu plano de revolta.
–
Davi, tão cioso de seu reinado a ponto de desprezar a vida familiar, sem saber,
por causa de seu desprezo para com sua família, punha em risco o seu próprio
governo.
O
formalismo demonstrado para com Absalão, hipócrita, pois Davi muito amava
Absalão; a recusa em derramar lágrimas, em mostrar a afeição que tinha por seu
filho foi o elemento que faltava para que Absalão iniciasse a sua vingança e
levasse Davi para uma grande provação.
Verdade
é que recuperou o reino, até porque Absalão estava fora da direção divina,
sendo um homicida, um rebelde e desobediente, mas perdeu para sempre o seu
filho.
Quando
chorou amargamente pela morte de Absalão (II Sm.18:33), Davi, certamente, deve
ter refletido que, neste encontro gélido e formal, perdera o seu filho para
sempre. Pais, antes que choremos diante de uma situação irreversível, mostremos
amor e afeto aos nossos filhos!
–
Este distanciamento de Davi com seus filhos também é demonstrado pelo fato de
que, por amor a Jônatas, Mefibosete era alguém que sempre comia na mesa do rei
(II Sm.9:13).
Apesar
de o gesto de Davi ser altamente elogiável (como se vê no apêndice nº 1 deste
trimestre), não podemos nos esquecer de que, ao mesmo tempo em que dava honras
ao filho de Jônatas, Davi desprezava os seus próprios filhos, pois não é dito,
em momento algum nas Escrituras, que tivessem os filhos de Davi acesso à mesa
do rei ou que, de contínuo, comiam eles com o rei, como, por exemplo, a Bíblia
fala que ocorria com Saul e Jônatas.
–
Não podemos, em hipótese alguma, permitir que terceiros venham a ocupar o lugar
de nossos familiares em nossa vida.
A
família deve ter uma posição que somente é inferior a de Deus. Tudo o mais
depende de nossa vida familiar e, portanto, não introduzamos “Mefibosetes” que
substituam nossa família em nossa escala de valores.
Ministros
do Evangelho, lembrem-se que a família está acima da igreja em sua vida. Sem a
família, não há como se ter um ministério profícuo, lição que muitos, a exemplo
de Davi, vão aprender somente quando tudo já estiver irreversível, quando for
tarde demais.
–
Apesar da dura experiência sofrida por Davi na revolta de Absalão, não vemos
que Davi tenha mudado sua conduta familiar ao retornar ao trono. Não tinha
também mais muito o que fazer, já que a idade avançara, os filhos já haviam
sido criados (e mal criados).
No
término de sua vida, como demonstração do “modus vivendi” que havia adotado,
seus servos lhe trouxeram uma moça virgem para “aquecê-lo”, Abisague.
Davi
tinha gerado o costume do “harém real” e, ante a sua enfermidade e velhice,
logo procuraram “ajudá-lo” com uma mulher, mulher com a qual não teve Davi relações
sexuais, diante da sua avançada idade e doença (I Rs.1:1-4).
–
Davi definitivamente criara uma “cultura de harém” na corte real, cultura esta
que chegaria ao extremo no reinado seguinte, com Salomão e suas setecentas
mulheres e trezentas concubinas que lhe perverteram o coração (I Rs.11:3) e que
acabaram por dar fim ao reino de Israel.
A
brecha aberta por Davi na sua vida familiar levou à destruição da nação
israelita, que nunca mais se restaurou. Quando abrimos brecha na vida familiar,
pomos em risco a própria igreja! Lembremos disto.
–
Diante desta situação, Adonias, o filho mais velho de Davi entre os que ainda
viviam, na qualidade de herdeiro presuntivo do trono, levantou-se contra o seu
pai e se proclamou rei, tendo o apoio de Joabe e de Abiatar.
Este
gesto, uma verdadeira desonra a Davi, diz-nos a Bíblia, é resultado de uma vida
sem disciplina que viveu Adonias. O texto sagrado relata-nos que Adonias nunca
foi contrariado por Davi (I Rs.1:6).
Como
diz o proverbista, a falta de repreensão e de correção gera pessoas que
envergonham os pais (Pv.29:15).
–
No leito de morte, Davi ainda recebe um insulto desta natureza. Adonias
declara-se rei e, enquanto está banqueteando, Davi recebe a visita de sua
mulher Bate-Seba, em mais uma demonstração de que, apesar de ser mulher de
Davi, Bate-Seba não tinha acesso à câmara do rei, onde ficava apenas Abisague
(I Rs.1:15), apesar de ter sido a mulher pelo qual fizera tantas loucuras.
Assim
é a paixão, passageira e que não se sustenta ao longo dos anos. Uma vida de
isolamento de seus familiares era a vida de Davi.
–
Sendo informado por Bate-Seba e por Natã a respeito da rebelião de Adonias,
Davi é forçado a transferir o reino antes mesmo de sua morte.
Manda
que Salomão seja ungido rei e proclamado como tal em Jerusalém, o que foi o
bastante para que Adonias desistisse de seu intento (I Rs.1:32-53).
–
Em seguida, como numa tentativa de compensar tudo quanto havia feito de errado
em sua vida, Davi, no leito de morte, chama Salomão e lhe dá conselhos antes
que morresse (I Rs.2:1-9), buscando orientar seu filho na sucessão, algo que
será tema de uma lição ainda neste trimestre.
Somente
no leito de morte, e ainda em virtude das precipitações políticas, Davi se dispõe
a ter um contato mais amiúde com um filho seu. Salomão muito aproveitou esta
oportunidade e tal contato, ainda que pequeno, trouxe algumas bênçãos não só
para Salomão como para todo o Israel, em especial no tocante à construção do
templo e à estabilização do culto a Deus.
Que
bom seria se Davi tivesse feito isto desde o início, mas não o fez.
–
Será que precisamos aguardar o leito de morte para tentarmos remediar os erros
que cometemos em nossa vida familiar?
Davi
teve esta chance, mas não podemos nos esquecer que esta oportunidade se deveu a
dois fatores:
ao
ultraje sofrido diante da revolta de Adonias e
ao
próprio propósito divino para a salvação do homem, o que levou Davi, diante da
proximidade da morte e da promessa messiânica recebida, a ter de mudar de
atitude em relação a seu herdeiro e sucessor Salomão.
–
Como marido, Davi não teve melhor sorte. Como já tivemos ocasião de verificar
ao longo deste estudo, Davi não valorizava o amor das mulheres, vendo-as sob um
ângulo utilitário tão somente.
Levado
pelo impulso no instante em que decidia casar, também não cultivava o amor para
com aquelas mulheres que se sentiam atraídas por ele.
–
Assim se deu tanto no caso de Mical, quanto de Abigail, as suas duas primeiras
mulheres, que o texto sagrado diz que amavam Davi (I Sm..18:20; 25:31,41,42),
mas cujo amor Davi não correspondeu.
No
caso de sua primeira mulher, vemos que Davi desprezou Mical, tratando-a tão
somente como um “troféu” quando ela retorna ao seu convívio, vez que com ela
sequer manteve um relacionamento conjugal, desprezo este que se transforma em
amargura e revolta, a ponto de ela cometer o desatino de repreendê-lo
publicamente, o que lhe causou a esterilização da parte do Senhor (II Sm.6:16,
20-23).
–
Com Abigail não foi diferente. Pouco depois de ter casado com ela, Davi também
se casa com Ainoã, a jizreelita (I Sm.25:43), numa clara demonstração de que o
impulso demonstrado no episódio de Naval foi passageiro, a ponto de Davi ter
achado outra mulher pouco depois que lhe interessou.
Abigail
passa a ser tratada apenas como “mais uma mulher”, tendo da parte do rei o mesmo
tratamento das demais mulheres, tanto que, assim como as outras, teve apenas um
filho com o rei em Hebrom (II Sm.3:3; I Cr.3:1), prova de que passou a ser
vista por Davi também sob o ângulo utilitário tão somente, o que, aliás, é
próprio da “cultura do harém”.
–
A palavra “marido” tem origem na raiz “masc”, que se refere ao macho, ao varão.
O papel do marido, biblicamente falando, é o de cabeça do casal (Ef.5:23), ou
seja, aquele a quem o Senhor incumbiu de efetuar o planejamento e a direção da
vida conjugal, pois a cabeça é feita para pensar, planejar, comandar.
Como
cabeça, o marido deve estabelecer quais as tarefas, quais as missões a serem
cumpridas pelos integrantes da família, tarefas e missões a serem, obviamente,
previamente perquiridas junto ao Senhor, que é a cabeça do varão (I Co.11:3).
–
Davi, portanto, tinha todas as condições de ser um excelente marido, pois,
sendo cheio do Espírito Santo, poderia ter buscado a direção do Senhor na sua
vida conjugal e familiar. No entanto, não o fez e este é o primeiro fator que
fez com que sua vida familiar tenha sido o desastre que foi.
–
Todo marido salvo, que também tem o Espírito Santo, deve buscar a orientação e
direção divina, para, então, tomar as necessárias decisões na vida familiar,
pois a ele, marido, incumbe tal função.
Evidentemente
que, assim como o próprio Deus permite ao homem, apesar de Sua soberania, que
este traga à presença de Deus os seus desejos, planos e projetos (Sl.69:33;
Is.59:1; Jr.33:3), de igual maneira o marido não deve ser um ditador, um
“sabe-tudo”, devendo, sim, ser aberto ao diálogo com a mulher e com os filhos
na formulação da vida familiar.
–
Somente quando o marido tem um projeto de vida familiar, elaborado na direção
do Espírito Santo e que tem a colaboração dos demais familiares, obterá de sua
mulher a sujeição, a submissão. “Submissão” é “pôr-se debaixo de” algo, é
“disposição para obedecer”.
Ora,
como se pode exigir da mulher, que tem uma sensibilidade mais aguçada que a do
homem, que se ponha debaixo do nada, de algo que não existe, visto que muitos
maridos não têm qualquer plano de vida?
E,
mais ainda, como exigir de uma mulher salva, que tem o Espírito Santo, se
subordine a projetos e planos que não têm a orientação divina, já que, como
seres humanos espirituais, os salvos têm a mente de Cristo (I Co.2:14-16)?
–
Mas, além da incumbência de ter um plano de vida familiar na direção do
Espírito Santo, o marido, também, tem de ter a iniciativa do amor. Como cabeça
da mulher, deve o marido ser o primeiro a demonstrar amor por ela.
Assim
como Cristo nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, por isso, é a cabeça da Igreja,
por ser Ele o próprio Salvador do corpo (Ef.5:23), o marido também deve ser o
primeiro a mostrar amor pela mulher.
–
A submissão da mulher ao marido depende fundamentalmente de a mulher se sentir
amada pelo marido, amor que não se traduz apenas em gestos sentimentais, em
carícias e em palavras (embora tudo isto seja necessário e indispensável até
ante a sensibilidade feminina), mas que se deve traduzir, principalmente, em
obras, em atitudes, em ações (I Jo.3:17,18).
A
submissão da mulher é uma atitude de reação ao amor demonstrado pelo marido,
amor este que deve chegar ao ponto de o marido estar disposto de dar a sua
própria vida pela mulher (Ef.5:25; I Jo.3:16).
–
Davi falhou precisamente neste quesito. Tão dedicado em suas funções
profissionais, disposto a dar a sua vida pelos seus liderados, desde os tempos
em que comandou parte da gente de guerra de Saul, em relação a suas mulheres
não demonstrou este mesmo amor. Pelo contrário, não tomou iniciativa alguma de
amor em relação a suas mulheres, o que lhe gerou os sucessivos fracassos
matrimoniais.
Mical
é o exemplo mais claro desta circunstância: o desprezo sofrido levou-a à
revolta explícita, ao insulto público.
Muitos
maridos salvos padecem do mesmo mal e têm consequências terríveis em suas
vidas, máxime se envolvidos na obra do Senhor. Os maridos têm a Cristo como
exemplo e devem demonstrar o amor para com suas mulheres, é deles esta
iniciativa.
–
Somente com relação a uma mulher Davi teve tal demonstração. Foi com Bate-Seba.
Diz-nos
o texto sagrado que, após a morte do primeiro filho que ambos tiveram, em
cumprimento à sentença divina proferida por intermédio do profeta Natã (II
Sm.12:14), o rei tomou a iniciativa de consolar Bate-Seba. A restauração
espiritual promovida em Davi fê-lo rever esta sua condição de marido
insensível.
–
Davi preocupou-se com Bate-Seba, com seu bem-estar, demonstrando-lhe afeto e
carinho.
Acabou
retomando o relacionamento conjugal com Bate-Seba e o resultado foi que não só
teve um segundo filho, Salomão, como também mais outros três filhos (Simeia,
Sobabe e Natã), tendo sido a única mulher de Davi que teve tantos filhos, prova
de que Davi resolveu, após “o caso de Urias, o heteu” estabelecer, ao menos com
uma mulher, uma vida conjugal plena (I Cr.3:5).
É
interessante notar que a Bíblia, ao relatar tal circunstância, chama Bate-Seba
de “Bate-Sua”, cujo significado é “filha da opulência”, dando-nos a entender,
portanto, que Bate-Seba conseguiu a plenitude da femininidade, que é a de ser
amada plenamente pelo marido e de atingir a maternidade.
–
Tratou-se, sem dúvida, de uma evolução para a vida familiar de Davi, mas nos
parece que, apesar deste progresso, o rei não mudou muito seu comportamento com
o desenrolar dos anos, visto que, no final de sua vida, vemos que não mais
mantinha uma vida conjugal plena com Bate-Seba, que nem sequer tinha acesso
livre à recâmara do rei (I Rs.1:11,15,28).
A
“cultura do harém” tinha firmemente se estabelecido na corte de Davi e impediu
que o rei mantivesse esta vida conjugal plena de forma constante.
Talvez
o despertar de Davi como marido tenha sido assaz tardio e as circunstâncias que
ele próprio criou foram tais que não teve mais como se desvencilhar do
“monstro” que havia criado.
–
.Não percamos a oportunidade de, mediante esta lição, revermos nossos conceitos
de vida familiar e, assim, podermos construir um lar que seja um verdadeiro
altar que adore a Deus.
Há
por certo outras virtudes de Davi que ainda não contemplamos, todavia, essa
análise às avessas visa nos alertar para os perigos que cercam nossas famílias.
Seja como for, quer de forma positiva, quer de forma negativa, Davi nos ensina.
Em breve estaremos de volta com o seguinte tema: Os cinco Gigantes que Davi não Venceu.
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