Por: Jânio Santos de Oliveira
Uma introdução à Teologia
ÍNDICE
1. “TEOLOGIA ” - A DOUTRINA DE DEUS
A Existência de DEUS......................................................................
A Revelação de DEUS .....................................................................
A Natureza de Deus e seus Atributos..............................................
A Natureza de Deus e seus Atributos (C o n t.)..........................
A Santidade de Deus ...................................................................
A Trindade Divina...........................................................................
As Obras de Deus ............................................................................
2. “CRISTOLOGIA ” - A DOUTRINA DE CRISTO
Cristo no Antigo Testamento .........................................................
A Divindade de Cristo .....................................................................
A Humanidade de Cristo ................................................................
A Morte de Cristo............................................................................
A Ressurreição de Cristo.................................................................
O Sacerdócio de Cristo....................................................................
3. “PNEUMATOLOGIA” - A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO
A Natureza do Espírito Santo .........................................................
O Espírito Santo no Antigo Testamento..........................................
O Espírito Santo no Novo Testamento............................................
O Espírito Santo no Crente..............................................................
O Batismo no Espírito Santo ..........................................................
Os Dons do Espírito Santo .............................................................
4. “ANGELOLOGIA” - A DOUTRINA DOS ANJOS
A Natureza dos Anjos ....................................................................
Os Anjos Como Agentes de Deus ...................................................
Origem, Rebeldia e Queda de Lúcifer ............................................
Satanás, o Agente da Tentação .....................................................
Satanás na Consumação dos séculos .............................................
5. “ANTROPOLOGIA ” - A DOUTRINA DO HOMEM
A Origem e a Criação do Homem ...................................................
A Natureza do Homem ..................................................................
O Homem - Imagem e Semelhança de Deus ..................................
O Destino do Homem .....................................................................
Provação e Queda do Homem .......................................................
6. “H AMARTIOLOGIA ” - A DOUTRINA DO PECADO
A Origem do Pecado.......................................................................
A Natureza do Primeiro Pecado do Homem...................................
A Descrição Bíblica do Pecado........................................................
O Pecado Original e o Pecado Praticado........................................
O Pecado e o Crente ...........................................................
7. “SOTERIOLOGIA ” - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO
A Providência Salvadora..................................................................
Quatro Aspectos da Provisão de Cristo Quanto à Salvação
O Lado Divino da Conversão do Pecador.......................................
A Participação do Homem na Conversão......................................
A Justificação
A Regeneração.................................................................................
A Adoção..................................
A Santificação ..............................................................................
Advertências e Promessas...............................................................
A Glorificação..................................................................................
8. “BIBLIOLOGIA
9. “ECLESIOLOGIA ” - A DOUTRINA DA IGREJA
A Origem da Igreja...........................................................................
O Que É a Igreja...............................................................................
O Fundamento da Igreja..................................................................
Formação e Administração da Igreja..............................................
A Missão da Igreja...........................................................................
10. “ESCATOLOGIA BÍBLICA ” - A D. BÍB . DAS ÚLT. COISAS
O Arrebatamento da Igreja.............................................................
Após o Arrebatamento da Igreja.....................................................
A Grande Tribulação.......................................................................
A Volta de Jesus...............................................................................
O Milênio..............................................................................
Eventos Finais..................................................................................
A Doutrina da Salvação
Nesta Lição e na
próxima, estudaremos a doutrina-chave da Bíblia: a Doutrina da Salvação. Nos
círculos teológicos, esta doutrina é chamada “Soteriologia”, termo baseado em
duas palavras gregas: soteria, significando salvação ou libertação, e logia,
significando discurso ou tratado. Assim, soteriologia é o tratado da salvação.
Iniciaremos o estudo
desta Lição focalizando a providência salvadora. Continuando, abordaremos os
aspectos da provisão de Cristo para a salvação do homem, através de Sua morte
na cruz e de Sua ressurreição. Também trataremos dos esforços da parte de Deus
quanto à experiência da conversão do pecador, observando especialmente o
significado das palavras: conhecer de antemão, predestinar, chamar e eleger.
Na sequência,
estudaremos atos que envolvem a conversão para a salvação, o que envolve o
arrependimento e quando ele ocorre, e o que é, segundo as Escrituras, a fé que
salva.
Por fim, estudaremos a
justificação, que é a declaração de Deus de que as exigências 3a Lei foram
cumpridas na justiça de Seu Filho, e a base da justificação que é a morte de
Cristo.
ESBOÇO
1. A Providência
Salvadora
2. Quatro Aspectos da
Provisão de Cristo Quanto à Salvação
3. O Lado Divino da
Conversão do Pecador
4- A Participação do
Homem na Conversão
5. A Justificação
I.
A PROVIDÊNCIA SALVADORA
O pecado do homem
Começamos nosso estudo
sobre o que a Bíblia ensina a respeito da salvação explicando quem é que
necessita da salvação e por quê (Rm 3.23). Entre os porquês temos:
1. A Depravação Total.
A raiz do problema que o homem confronta é a sua própria natureza pecaminosa,
herdada de Adão (SI 51.5; Jr 17.9; Rm 7.18).
2. A Culpa Universal.
No Antigo Testamento, vemos que Salomão observou que não havia homem algum que
não necessitasse da salvação (Ec 7.20), e no Novo Testamento, o apóstolo Paulo
fez a mesma observação (Rm 3.10).
3. A Culpa de Adão.
Agostinho, um dos “Pais da Igreja”, propôs uma teoria em que afirmava que todos
os homens são culpados diante de Deus por causa do pecado cometido por Adão.
Esta teoria foi mais tarde enfatizada por Calvino, que a introduziu na teologia
evangélica. Em oposição a esta teoria, a Bíblia afirma que o homem dará conta a
Deus (Rm 14.12).
Aspectos e tipos da
graça de Deus manifesta ao homem
A graça de Deus é um
dos temas predominantes em toda a Bíblia e envolve dois aspectos: o favor
imerecido de Deus, por Ele expresso a todos os pecadores, e o poder divino que
refreia o pecado, atrai os homens a Deus e regenera os crentes. Citamos três
tipos da graça de Deus manifesta aos homens:
Graça por Graça: Não
deve se confundir a graça de Deus como uma “obrigação divina”. E somente o
profundo amor de Deus que O constrange a providenciar a salvação e até a
convencer o homem a aceitá-la. Ler João 1.16.
Graça Comum: Devido à
sua natureza depravada, o homem é incapaz de, por si mesmo, procurar agradar a
Deus. Por este motivo, Deus tem concedido “graça comum” . Esta “graça comum”
não salva automaticamente o homem, mas revela-lhe a bondade de Deus.
Graça Especial: A
“graça comum” concede a cada homem a capacidade de buscar a Cristo. A medida
que o homem responde afirmativamente à graça que o atrai a Deus, ele é
beneficiado por uma “graça especial”, que o ajuda a chegar cada vez mais perto
dEle. Entretanto, esclarecemos que esta graça especial não garante a decisão da
parte do homem, quanto à sua comunhão com Deus.
Enquanto continuar a
responder afirmativamente à graça de Deus, o homem será o agente pelo qual
receberá a justificação (Tt 3.7), a regeneração (Jo 3.3), a santificação (At
26.18) e a segurança em Deus (I Pe 1.5).
A provisão de Cristo
Na provisão de Cristo,
vemos que a fonte da nossa salvação é a graça de Deus, mas não se deve
confundir graça com tolerância, pois Deus é amor, mas é também justiça e
santidade. Então, como pode Deus ser justo e ainda salvar pecadores? A resposta
está no fato de que Deus não desculpou o pecado, antes o removeu, quando
ofereceu a Si mesmo como um cordeiro (Is 53).
No Antigo Testamento,
ao oferecer um sacrifício pelo pecado, colocava-se as mãos na cabeça da vítima,
transferindo simbolicamente os pecados para o animal substituto
(Êx 29.10; Lv 1.1-5; Nm
8.12). Semelhantemente, Cristo carregou o fardo do pecado da humanidade (Is
53.10,11).
Durante o sacrifício
era feita a imolação do cordeiro,
que representava a sua
vida em substituição à vida do ofensor. Do mesmo modo, Cristo tornou-se o
sacrifício expiatório em favor do mundo (Rm 5.8). O passo final era cozinhar
parte da carne, que então era consumida pelo ofensor. A participação no
sacrifício indicava que o ofensor tinha restabelecido a sua comunhão com Deus
(Hb 10.19,20).
A extensão da provisão
divina
Durante séculos a
Igreja tem argumentado sobre a pergunta: “Por quem Cristo morreu?”. Se alguém
responde: “Pelo mundo inteiro”, outro pode objetar: “Então por que todos os
homens não são salvos?”. Se alguém responde: “Ele morreu somente pelos eleitos,
os quais Deus sabe que crerão”, alguém alegará que Deus, por esta razão, não é
justo, uma vez que nem todos os homens têm, obviamente, possibilidade de serem
salvos. Examinemos como as Escrituras respondem a esta pergunta:
a) A provisão divina
pelo mundo. A Bíblia ensina enfaticamente que a redenção de Cristo é suficiente
para todos os homens (2Co 5.14; Hb 2.9; l jo 2.2).
b) A provisão divina
especial pelos que creem. Mesmo as múltiplas promessas mostrando que Cristo
morreu pelo mundo inteiro, há um sentido em que a expiação é uma provisão
divina feita especialmente por aqueles que creem em Cristo (l Tm 4-10). Cristo
é a provisão de Deus para a salvação de todos os homens, mas esta salvação é
aplicável somente àqueles que nEle creem. Ler 2 Coríntios 5.18-20; Mateus
20.28; João 11.51,52; 15.13; Tito .14.
c) Alguns, pelos quais
Ele morreu, perecerão. Em resposta àqueles que creem que a propiciação efetuada
por Cristo salvará todos os homens, basta observar que a Bíblia declara que
existem aqueles por quem Cristo morreu e que não obterão a vida eterna. Entre
estes estão os que aceitam a expiação e depois a rejeitam, e também aqueles que
recusam aceitá-la. Observemos esses dois grupos lendo 1 Coríntios 8.11 e 2
Pedro 2.1.
A provisão salvífica,
efetuada na cruz, sozinha, sem fé, não pode garantir a chegada de ninguém no
céu. Por outro lado, fé, sem propiciação, não tem efeito.
II.
QUATRO ASPECTOS DA
PROVISÃO DE
CRISTO QUANTO À SALVAÇÃO
Dedicamos esta parte do
texto ao exame dos dois grandes eventos: a morte de Cristo e Sua ressurreição.
Ao estudá-los, encaremo-los como a provisão de Cristo para a salvação do mundo,
considerando quatro aspectos diferentes desta salvação:
1. Substituição; 2.
Ressurreição; 3. Reconciliação; 4- Redenção.
São quatro pontos de
vista inter-relacionados dos mesmos eventos. Mesmo assim, cada conceito tem uma
ênfase específica que ensina uma verdade valiosa a respeito da provisão que
Deus fez para salvação.
Ao enfatizarmos a
substituição, ressaltaremos a culpa do homem, que quebrou a Lei de Deus.
Estudando a reconciliação, contemplaremos a cruz como o meio para se vencer a
inimizade que existia entre Deus Santo e o homem pecador. Finalmente, ao falar
da redenção, ressaltaremos a libertação da humanidade da escravidão do pecado.
Substituição: o
problema da culpa do pecador
A Bíblia não deixa
dúvida alguma quanto à exigência de Deus para a salvação, que é perfeita
retidão (Lv 18.5; Ez 18.5-9; Mt 19.17). Sendo o homem condenado à morte por
causa do pecado, a solução para esta situação crítica é a substituição vicária
de Cristo, que satisfaz a penalidade da Lei mediante Sua morte.
A penalidade pela culpa
do homem não somente o exclui do céu por causa do seu pecado como sentencia-o à
morte (Ez 18.4). Alguns erroneamente pensam que Deus aboliu a necessidade da
realização da penalidade ou aboliu a dívida do pecado.
Mas Deus não apagou a
dívida simplesmente: Ele mesmo pagou essa dívida na pessoa do Seu Filho, Jesus
Cristo. Desta maneira, voltou-se à única solução possível: Seu Filho, que
morreria vicariamente no lugar de todos os homens.
A Bíblia diz que:
“Aquele que não conheceu pecado, ele (o Pai) o fez (Cristo) pecado por nós;
para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2Co 5.21). Não quer isto
dizer que Cristo tornou-Se pecador, mas, sim, explica que tomou sobre Si a
plena responsabilidade pelos nossos pecados (Hb 9.28, Hb 2.9; Is 53.6; I Pe
3.18). Visto que o homem é insuficiente para salvar-se, a morte vicária de
Cristo satisfez as exigências da Lei quanto à morte pelo pecado.
Ressurreição: o
problema da “morte espiritual” do pecador
Sem ressurreição, a
cruz teria feito de Cristo o maior mártir do mundo. Mas a cruz, com a
ressurreição, fez dEle o único Salvador do mundo, pois, somente o poder da
ressurreição poderia levar os homens a alcançarem esta nova vida (I Pe1.3).
A Bíblia não promete
que os crentes serão poupados da morte física. O que a Bíblia promete mesmo é a
vitória final sobre a morte. A ressurreição de Cristo é a garantia da vitória
sobre a morte (I Co 15.26,55,57).
Reconciliação: o
problema da alienação do pecador
A razão fundamental em
reconciliar o homem com Deus não era o ódio de Deus contra o homem, mas, sim,
contra o pecado do homem. Deus nunca cessou de amar o homem e a prova disto é
que Ele mesmo providenciou a solução para o restabelecimento da comunhão com a
humanidade (Rm 5.8,10; 2Co 5.19).
A obra da reconciliação
entre Deus e o homem foi completada no momento da morte de Cristo, quando
exclamou: "Está consumado” (Jo 19.30). Entretanto, o fato da obra de
Cristo na cruz garantir provisão para a reconciliação não significa que todos
os homens estejam bem com Deus. Este processo de reconciliação não depende
exclusivamente de Deus, mas também da disposição do homem de se reconciliar com
Ele (2Co 5.20).
E quanto aos santos do
Antigo Testamento? Eles foram reconciliados com Deus?
A resposta encontra-se
achada na palavra kafar do Antigo Testamento, que significa cobrir, e que é
traduzida por expiar. Outra palavra importante referente à reconciliação é a
palavra grega hilascomai, traduzida por propiciação, no Novo Testamento. Esta
palavra significa reconciliar ou aplacar, propiciar.
Redenção: o problema da
escravidão do pecador
A redenção abarca a
substituição, a ressurreição e a reconciliação. No Antigo Testamento, a base da
redenção tem sua origem no conceito de resgate (Lv 25.51). O conceito central de
redenção é, pois, libertar alguém pagando o preço do seu resgate. O Novo
Testamento descreve a redenção em termos da compra de um escravo no mercado de
escravos.
O crente vive no meio
de um campo de batalha espiritual. Em
Cristo, já não estamos
escravizados do poder de Satanás, mas devemos estar alertas quanto aos ataques
do inimigo, e a melhor defesa contra ele é o uso constante da armadura de Deus
(Ef 6.11-17).
O preço da redenção do
pecador
O amor de Deus o levou
a dar seu filho Jesus como pagamento da redenção da queda do homem. Salmos
49.7,8 diz que nenhum homem pode pagar o resgate da alma do seu semelhante, mas
a morte de Cristo foi suficiente para salvar todos os homens (2Co 5.14; Hb
9.12,28; 7.27; 10.10).
A Bíblia se refere como
o preço da redenção o derramamento do sangue de Cristo (At 20.28; Ef 1.7; I Pe
1.18,19). A palavra sangue é sinônimo de vida no contexto da oferta de
sacrifícios vicários (Lv 17.11). Sem derramamento de sangue não poderia haver
remissão para os nossos pecados (Hb 9.22). A prova de que Cristo satisfez o
preço da redenção é visto na resposta imediata do céu (Lc 23.45).
A aplicação da redenção
à vida do crente deve ser manifesta na atitude de se odiar o pecado e de se
apegar firmemente à retidão (I Pe 1.14, 18; I Co 6. 20 ).
III.
O LADO DIVINO DA
CONVERSÃO DO PECADOR
Neste texto estudaremos
os esforços da parte de Deus quanto à experiência da conversão do pecador,
observando especialmente o significado das palavras: conhecer de antemão
(presciência), eleger, predestinar e chamar.
A presciência de Deus
Presciência é o aspecto
da onisciência relacionado com o fato de Deus conhecer todos os eventos e
possibilidades futuros. A palavra no Novo Testamento traduzida por presciência
(ou: conhecer de antemão) é prognosis, da qual deriva a palavra prognóstico, em
português. Significa saber antes (pro = antes; gnosis = saber ou conhecer). Ler
Daniel 2,7; Isaías 44.26-28; 45.1-7; Mateus 11.21.
Relacionando com as
escolhas do homem, a presciência divina não afeta as decisões do homem e nem
seu livre-arbítrio. A presciência de Deus não deve causar confusão mas, sim,
confiança. Presciência é uma garantia da certeza de que os planos e propósitos
de Deus para a Igreja nunca serão frustrados (At 2.23; 26.5; Rm 3.25, 8.29,
11.2; IPe 1.2,20; 2Pe3.17).
A eleição
Eleição é uma das
palavras mais comuns na Bíblia, mas tem sido frequentemente mal interpretada,
de modo que os crentes tendem a evitá-la. A eleição não significa que Deus
escolhe alguns para serem salvos e outros para serem perdidos, sem qualquer
participação das pessoas nessa escolha. Examinemos o significado verdadeiro da
eleição.
A palavra eleição
significa escolha. Esta palavra foi usada no Antigo Testamento para descrever a
escolha que Deus fez de alguns indivíduos, de algumas famílias e da nação de
Israel para privilégios especiais ou propósitos divinos. E empregada
primeiramente para descrever a escolha que Deus fez de Cristo para a tarefa de
consumar a salvação, mas também Sua escolha dos que estão “em Cristo” para
salvação.
No que diz respeito à
salvação, eleição é a escolha da parte de Deus de homens para a salvação e
privilégios, baseada na escolha que, inicialmente, eles fizeram de viver com
Deus.
A Predestinação
A predestinação é uma
das doutrinas mais consoladoras da
Bíblia, quando
devidamente entendida. Sua essência jaz no fato de que Deus tem um plano geral
e original para o mundo e que
Seus propósitos nunca
serão baldados.
Na definição de
predestinação, é necessário entendermos em primeiro lugar o que ela não é.
Certamente não é uma manipulação de faculdade de escolha do homem. A
predestinação nunca predetermina as escolhas do homem, mas, sim, preordena as
escolhas de Deus no que concerne ao Seu relacionamento com as inclinações,
necessidades e escolhas do homem (Rm 8.28,29; Ef 1.5,11,12).
O Chamamento
Deus jamais força
pessoa alguma a aceitá-lO, mas, certamente, convida todos os homens a receberem
a salvação. Este convite inclui o dom da graça e o poder do Espírito Santo para
convencer, que ajudam o homem na decisão pela sua salvação. Os atos da graça
divina mediante os quais Deus concede e ajuda o homem a receber a salvação são
conhecidos como “o chamamento de Deus” (Rm 8.28).
É importante
compreender que o chamamento de Deus à salvação é tanto universal quanto
resistível. Há três argumentos das Escrituras que descrevem a universalidade do
chamamento de Deus ao pecador, a saber:
1º. Argumento. Declara
que Deus deseja que todos os homens sejam salvos. Ele não força a decisão do
homem, mas Seu próprio desejo é que o mundo O receba (2Pe3.9).
2º. Argumento. Envolve
a natureza universal do chamamento divino, conforme se percebe no mandamento de
Cristo no sentido de evangelizar o mundo inteiro. Os crentes são conclamados a
“proclamar” o Evangelho ao mundo inteiro e “persuadir” os homens a aceitá-lO
(Mc 16.15; 2Co 5.11).
39. Argumento. A
natureza universal do chamamento de Deus é revelada no “convite da Escritura”
(Is 55.1; Mt 11.28). Embora o chamamento de Deus seja dirigido a todos os
homens, estes não são obrigados a aceitá-lo; pode ser resistido.
Cooperando com Deus na
salvação
Os crentes evangélicos
formam dois grupos quanto à questão do recebimento da salvação. As teorias
destes dois grupos podem ser chamadas de “determinismo” e “livre arbítrio”.
1.0 Determinismo. O
evangélico que aceita o “determinismo” (ou predestinação) crê que Deus
predetermina quem será salvo e quem será condenado, sem qualquer escolha da
parte do homem quanto àquela decisão. A salvação, portanto, é uma consequência
inteiramente da graça de Deus. A fé expressa, não como uma decisão da parte do
crente, mas, sim, como uma resposta irresistível do homem à atuação de Deus
sobre o seu espírito para a salvação.
Para aqueles que
aceitam o “determinismo”, a “presciência” é simplesmente “amor de antemão” e a
eleição é baseada inteiramente na própria vontade soberana de Deus,
independente dos atos do homem seja ele “eleito” ou “condenado”.
Os deterministas também
acreditam que a predestinação é mais do que o planejamento de antemão por Deus
dos seus próprios atos. Acreditam também que Deus decreta de antemão todo
evento e decisão que ocorre na terra na vida dos homens.
Aqueles que aceitam o
“determinismo” são geralmente chamados calvinistas, conforme o nome do
proponente mais famoso desta teoria - João Calvino.
Deve-se tomar cuidado
para fazer distinção entre erros de doutrina que afetam a base da salvação e os
erros que apenas afetam a prática do Cristianismo. Os que sustentam o ponto de
vista determinista não são hereges, mas não são, tampouco, corretos na sua
interpretação da Bíblia.
2. O Livre-Arbítrio.
Resumidamente, esta teoria afirma que todos os tratos de Deus com o homem,
inclusive a eleição e a predestinação, estão baseados nas decisões que os
homens fazem conforme seu próprio livre-arbítrio. Deus é soberano, mas criou o
homem com o livre-arbítrio. O homem, por causa do pecado, não pode responder de
modo positivo a Deus, mas Ele graciosamente lhe restaurou esta capacidade.
Aqueles que aceitam o
“livre-arbítrio” creem que a todo homem é concedida a oportunidade de buscar a
Deus.
Concluindo, a eleição é
a escolha que Deus faz do homem baseada na escolha que o homem faz de Deus, ao
passo que a predestinação é limitada ao plano predeterminado dos atos de Deus,
não predeterminando as escolhas do homem. O chamamento de Deus é idêntico para
cada homem. Aqueles que fazem a escolha de atender ao Seu chamamento, conforme
seu próprio livre-arbítrio, podem, semelhantemente, rejeitar esta salvação em
qualquer tempo da sua vida.
0 LADO DIVINO 0
DETERMINISMO O LIVRE-ARBÍTRIO
A Presciência
Simplesmente amor de antemão.
0 conhecimento de Deus,
de antemão.
A Eleição Baseado
inteiramente na vontade de Deus.
Baseado na presciência
da decisão do homem.
A Predestinação
Decreto de antemão de
todos os eventos e decisões.
Decreto de antemão som
ente dos atos de
Deus.
0 Chamamento Dirigido
só às pessoas pré-escolhidas.
Dirigido a todos os
homens.
IV.
A PARTICIPAÇÃO DO
HOMEMN A CONVERSÃO
Salvação é obra de Deus
para o homem; não obra do homem para Deus. Como já vimos, o homem é
completamente incapaz de agradar a Deus por si próprio, pois leva sobre si a
sentença da “morte espiritual”. Deus tomou a iniciativa da redenção, efetuando
a provisão para a salvação, pela morte e ressurreição do Seu Filho. Neste texto
estudaremos o significado de conversão, arrependimento e fé.
O que é conversão?
A palavra conversão
literalmente significa virar-se para a direção oposta. Na Bíblia, esta palavra
é usada para descrever a mudança total que ocorre na vida da pessoa que
abandona o pecado e entrega Sua vida a Cristo (l Ts 1.9).
Da definição
arrependimento + fé — conversão, vem os que a conversão envolve dois atos:
1. Dar as costas ao eu
e ao pecado, o que chamamos “arrependimento”, isto é, abandonar algumas coisas
para seguir a Cristo como Salvador (At 14-15, 26.18; Ez 18.30);
2. O homem crer (fé) em
Deus, voltando-se para Ele e abraçando a vida eterna (At 26.20; Mt 7.14 e lTs
1.8,9).
A conversão para a
salvação consiste no abandono da vida pecaminosa e no reconhecimento da
necessidade de um Salvador. Citamos três passos encontrados na parábola do
Filho Pródigo que descrevem esse processo.
O primeiro corresponde
ao arrependimento: o
Pródigo reconheceu sua
condição pecaminosa e a sua necessidade do pai. O segundo passo foi sua decisão
de retornar a seu pai. O último passo foi o de agir com um coração arrependido
e com fé. Se ele não tivesse voltado para o seu pai, sua decisão de
arrepender-se teria sido somente um sentimentalismo momentâneo. Neste caso,
houve uma conversão sincera, pois ele “levantou-se”, deixou o “chiqueiro” do
pecado e “foi para seu pai”, iniciando, uma nova vida (Lc 15.17-20).
O Que é arrependimento?
O arrependimento
envolve uma completa mudança de pensamento sobre o pecado e a percepção da
necessidade de um Salvador. Esclarecemos o fato de que o arrependimento em si
não é suficiente para a salvação. Porém, sem arrependimento, não há salvação. E
um pré-requisito à fé salvadora (Mc 1.15; Lc 24-47).
O arrependimento em si
não salva, contudo produz o remorso no homem e move-o a deixar o pecado e a entregar-se
à graça salvadora de Deus. Mas, arrependimento não é somente remorso. Sentir
mágoa e reconhecer que pecou é remorso, mas não arrependimento.
O arrependimento só
ocorre quando a pessoa resolve deixar o pecado, reconhecendo que necessita de
um Salvador. Em 2 Coríntios 7.9 vemos o relacionamento entre remorso e
arrependimento: “agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque
fostes contristados para arrependimento: pois, fostes contristados segundo
Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. ”.
Neste texto, a palavra
contristados é tradução de metameima no original e significa ter tristeza pelos
pecados; arrependimento é metamelomai e significa mudança de mente.
Mostrando claramente
que o remorso pode levar ao arrependimento, isto é, uma resolução para mudança.
Ressaltamos, também que o reconhecimento do pecado, a tristeza pelo pecado e o
abandono do pecado são a sequência dos três passos do arrependimento (SI 51).
O verdadeiro
arrependimento não se preocupa com um pecado isoladamente, procurando esconder
os demais, mas sente aflição pelo pecado na sua totalidade (SI 38.3,4,6).
O que é fé salvadora?
Num confronto com uma
pessoa adepta de uma seita falsa, ficamos impressionados ao saber que ela alega
crer que a salvação é obtida através da fé? De fato, é difícil encontrar uma
seita “pseudo-cristã” que não admita nos seus ensinos que a salvação seja
recebida através da fé. Entretanto, é evidente que eles redefiniram, diminuíram
ou acrescentaram algo a esta doutrina, falsificando assim o verdadeiro ensino
bíblico.
Para confrontar tais
distorções, é necessário que tenhamos uma descrição nítida, baseada apenas nas
Escrituras, do que é realmente a fé que salva.
Relacionamos algumas
bases da fé salvadora:
1. A fé salvadora é
dirigida a Cristo. A fé que salva não se dirige a um credo ou a uma crença
doutrinária, mas a uma pessoa - Cristo (Cl 2.5). Não basta ao homem aceitar as
verdades divinas sobre a salvação, se ele não se render a Cristo com o seu
Salvador pessoal e não cultivar uma comunhão íntima com Ele (Tg 2.14).
2. A fé salvadora é
baseada na revelação bíblica. Deve ter Cristo como seu objeto, entretanto, um
conhecimento mínimo de quem é Jesus é fundamental à fé salvadora (Rm 10.17; 2Tm
3.15);
3. A fé salvadora leva
a uma entrega total de vida. Fé salvadora não é uma simples confissão por parte
da pessoa, mas uma dedicação completa de vida a Cristo.
4. A fé salvadora é o
único meio de Salvação. O homem não pode fazer nada para merecer a salvação.
Nem a fé é obra para garantir a salvação, mas simplesmente um meio, pelo qual
Deus manifesta a Sua abundante graça na vida do pecador para salvá-lo. Bem
sabemos que não é a fé que salva, mas Cristo através da fé.
5. A fé salvadora é uma
decisão pessoal. A fé, como ato de crer em Cristo, provém da nossa própria
vontade; vontade essa sob o efeito da graça de Deus e da convicção advinda pelo
Espírito Santo (Ef 2.8,9; Leia estes versículos cuidadosamente para vermos o
que é o “dom de Deus"). Reparemos bem que a palavra fé é do gênero feminino
e não concorda em gênero gramatical com “isto”, que é do gênero neutro; o mesmo
ocorre no original grego. Portanto, “isto” refere-se à salvação. Então a
salvação é dom de Deus, e não o ato de exercitar fé para a salvação.
Esclarecimentos sobre a
salvação pela fé
Salientamos o ensino
bíblico que diz que o pecador pode ser salvo somente pela fé. Surge então a
pergunta: isto inclui os justos do Antigo Testamento, as crianças que morrem e
o pagão que nunca ouviu a mensagem clara e plena da salvação? No tocante a esses
questionamentos* respondemos:
a) Os justos do Antigo
Testamento. Muitos, erroneamente, têm suposto que os que viveram no período do
Antigo Testamento foram salvos pela Lei, pela obediência e pelas contínuas
ofertas e sacrifícios. Em Gálatas 2.16, o apóstolo Paulo refuta esta ideia.
Como então foram salvos os que viveram e morreram antes do sacrifício redentor
de Cristo? Encontramos a resposta em Romanos 4.2,3. Vemos neste versículo que
Abraão foi um homem justo porque era um “crente”. O conteúdo da sua fé era
limitado, mas sua qualidade e perseverança foram suficientes para salvá-lo. De
fato, todos os justos do Antigo Testamento foram salvos somente pela fé nas
promessas que Deus lhes tinha revelado, e não por causa de seus sacrifícios ou
obediência à Lei (Hb 11.13).
b) As crianças que
morrem. A Bíblia ensina que crianças inocentes não têm consciência do pecado
(Rm 9.11), contudo, elas herdam a natureza pecaminosa de Adão e, por isso, não
podem entrar no céu. Deus, porém, pela obra propiciatória de Cristo, provê-lhes
a justiça necessária, assegurando-lhes a vida eterna.
O fato de que crianças
inocentes estão salvas tem apoio nas Escrituras, tanto no Antigo como no Novo
Testamento (2Sm 12.23). O próprio Cristo, em Mateus 19.14 disse que é
necessário que o homem torne-se como uma criança, a fim de entrar no céu (Mt
18.3).
c) Aqueles que nunca
ouviram. A Bíblia ensina e enfatiza que as obras do homem não operam a sua
salvação (Is 57.12; Rm 9.32); a fé é o único meio de salvação (Ef 2.8). Nem
tampouco a justiça de um homem pode absolvê-lo do pecado (Ez 33.12,13). Se o
homem pudesse salvar-se através da lei escrita no seu coração, Cristo teria
morrido em vão (G1 2.21).
A Bíblia mostra também
que todo o homem é inescusável quanto a buscar e conhecer a Deus (Rm 1.20). Mas
isto não significa que todos têm tido idêntica oportunidade ou que muitos
outros poderiam ser “persuadidos” a aceitar Cristo se alguém testificasse para
eles (I Co 5.11). E, do outro lado da história, aqueles que rejeitam a Cristo,
após muitas oportunidades de serem persuadidos, serão julgados com mais
severidade do que os pagãos menos privilegiados (Lc 12.48). Ler também Hebreus
10.28,29 e Romanos 2.6-12.
V.
A JUSTIFICAÇÃO
Estudaremos ainda
quatro maneiras segundo as quais a provisão de Cristo para a salvação é
aplicada, na prática, à vida do crente, mediante a justificação, a regeneração,
a adoção e a santificação.
Neste texto,
ocupar-nos-emos da justificação. Trata-se da declaração da parte de Deus de que
o crente está legalmente justificado (isento de culpa). Esta justificação
envolve dois atos: o cancelamento da dívida do pecado na “conta” do pecador, e
o “lançamento”, em seu lugar, da justiça de Cristo. Aprenderemos, também, que a
justificação não entra em conflito com as obras. A realidade é que a mesma fé
que justifica também motiva às obras, como uma demonstração para o mundo do
amor e da graça de Deus.
A aplicação da provisão
de Cristo
A fim de obter uma
compreensão melhor do que vamos estudar, vejamos uma visão global do plano da
salvação:
G R A Ç A
Conforme a ilustração,
Cristo efetuou uma quádrupla provisão para a alma do homem, através da
salvação. Na coluna Aplicação, vemos como estas provisões se aplicam à vida do
crente.
1. Justificação é a
solução do problema da posição do pecador diante da lei divina violada por ele.
Especialmente, ela remove a culpa do homem perante a lei divina violada e
imputa a perfeição de Cristo na “conta” celestial do crente.
2. Regeneração é a
solução do problema do homem natural espiritualmente morto; e, portanto,
incapaz de servir a Deus. O homem precisa mais do que uma nova posição legal;
precisa de um novo “eu”; um novo ser espiritual.
3. Adoção é a solução
do problema da separação ou alienação do homem da presença de Deus. Por causa
da reconciliação efetuada por Cristo, o homem já não é um inimigo de Deus; pelo
contrário, está em comunhão tão estreita com Ele, que é adotado como filho.
Notemos que a regeneração cria uma nova “vida espiritual” e que, através da
adoção, esta nova “criação” recebe o privilégio de fazer parte da família real
divina.
4- Santificação é a
solução para o problema da escravidão do homem pela sua própria natureza
pecaminosa. Embora a regeneração comunique ao homem uma vida nova, ela não
destrói sua velha natureza. O crente, portanto, tem duas naturezas.
De muitas maneiras, a
santificação abrange elementos de cada uma das demais provisões, mas ela é
diferente, por não ser estática, mas, sim, progressiva e sempre contínua na
vida do crente.
O que é justificação
No texto 2, aprendemos
que a lei de Deus tinha duas exigências rígidas que tornavam impossível a
entrada do homem no céu. A primeira exigência era a perfeita obediência à Lei,
e a segunda, a sentença do castigo eterno a que o homem estava sujeito se
violasse apenas um dos seus mandamentos (G13.10-13). Ninguém jamais foi salvo
por obediência à Lei. Somente Deus poderia resolver o problema insolúvel do
homem. Mas, conforme
Paulo explica, Deus não
poderia simplesmente declarar o pecador inocente, nem podia alterar Sua própria
lei. Era mister que Deus fosse “Justo e Justificador” simultaneamente (Rm
3.26).
A situação era tal que
o amor de Deus não permitiria que Ele abandonasse a humanidade, nem a Sua
Justiça permitiria que Ele quebrasse sua própria lei. A única solução era
enviar um substituto que pudesse satisfazer as exigências da Lei, de tal modo
que o homem tivesse comunhão com Deus. Assim Deus providenciou Seu Filho, Jesus
(Rm 3.24- 26), que nos justificou.
Justificação é uma
declaração legal de que estamos isentos de culpa, isto é, justos diante de
Deus. Esta declaração é outorgada a quem a aceitar pela fé em Cristo. É
primeiramente perdão dos pecados, mas, mais do que isto, a pessoa não é apenas
isenta da penalidade do pecado, mas também é declarada “justa”, ou seja,
segundo a lei divina, “digna” da salvação.
Vemos, portanto, que a
justificação é tanto subtração como adição.
1. Primeiramente, é a
subtração da sentença de morte do crente, mantida na sua “conta” do livro da
vida;
2. Em segundo lugar, é
a adição da justiça de Cristo em lugar da dívida do pecado. No caso do crente,
Cristo já pagou a penalidade exigida pela lei de Deus para isentar-nos da culpa
dos nossos pecados (I Pe 2.24; 3.18).
MINHA CULPA
- A SENTENÇA
ESTOU PERDOADO
MINHA FRAQUEZA
+ SUA JUSTIÇA
ESTOU JUSTIFICADO
Sendo justificados
desta maneira, temos paz com Deus e acesso a Ele (Rm 5.1,2). Por causa da
justificação divina, não somos apenas declarados sem culpa: somos também
declarados “justos”, uma vez que Cristo pagou a penalidade dos nossos pecados.
Ler Romanos 3.22, 5.19, 10.4; Gálatas 5.5; 1 Coríntios 1.30; 2 Coríntios 5.21.
Na obtenção e
conservação da justificação, a fé salvífica é o único meio do homem tornar-se
justo e assim permanecer. Os efeitos da justificação pela fé abrangem a
totalidade da vida do crente no tocante ao passado, ao presente e ao futuro, -
Passado. A fé justificou-o, libertando-o inicialmente da condenação do pecado.;
- Presente. A fé
continua a justificá-lo, libertando-o da “prática do pecado”; - Futuro. Á
medida que ele continua na fé, a justificação do crente culminará na
glorificação, libertando-o para todo o sempre da própria “presença do pecado”.
A fé não deve ser
limitada à experiência inicial da salvação no passado, mas, sim, deve ser
mantida no decurso da vida do crente no presente. É uma virtude contínua, que
deve ser demonstrada diariamente através de um relacionamento de dedicação a
Cristo e confiança nEle até o fim. Assim, ela também assegura o futuro do
cristão (Cl 1.22,23; I Pe 1.5,9).
Os benefícios da
justificação
A justificação não é
uma experiência; é uma declaração legal de justiça, que é possível somente
mediante o relacionamento com Cristo. Essa declaração traduz inúmeros
resultados benéficos a serem desfrutados na vida do crente. Estudemos quatro
destes benefícios, que dizem respeito a um novo relacionamento:
1. quanto à Lei. A
justificação concede ao crente uma nova posição em relação à lei de Deus, que
exigia perfeita obediência para se obter a vida eterna (Mt 19.17). A solução
divina não foi abolir a Lei, mas, sim, fazer com que Cristo “cumprisse” a Lei
por nós, pois, Ele pôde obedecer à Lei de modo perfeito (Mt 5.17; Rm 3.21,22,
10.4).
2. quanto a Deus. O
profeta Isaías ensina que o pecado separa o homem de Deus (Is 59.2). No
entanto, mediante a justificação, esta separação entre o homem e Deus é
transformada em “paz com Deus”, e a ira de Deus contra nosso pecado é removida,
legal e completamente (Rm 5.1,9).
3. quanto à culpa
pessoal. Mediante a justificação, todo crente recebe a provisão divina para
ficar livre da culpa pessoal (Hb 9.14) • Infelizmente, muitos crentes ainda
sofrem de “falsa” culpa ou acusação porque não se apropriam desta provisão. As
vezes, estes sentimentos de culpa são aplicados por fontes externas, tais como
amigos críticos, entes queridos que não perdoam etc., que querem lembrar-nos
dos nossos fracassos e manter-nos na prisão da culpa. O crente em Jesus não
precisa sofrer esse mal, porque a provisão da justificação que Cristo realizou
liberta-o de toda a culpa (Rm 8.33,34).
4. quanto ao futuro. A
justificação não somente liberta o crente da culpa do passado, como também o
livra de todas as culpas do futuro, porque, uma vez justificado por Deus, o
crente pode saber, nesse exato momento, que é salvo. Não precisa esperar até a
consumação dos séculos para ver se ele foi “suficientemente bom” para merecer
então a salvação. O crente pode, com confiança, encarar o futuro, sabendo que,
a qualquer momento, poderá entrar na presença de Deus, purificado dos seus
pecados e com as vestes brancas da justiça de Cristo (Tt 3.7, Is 61.10).
A justificação, a fé e
as obras
Conforme já estudamos,
a Bíblia afirma claramente que a justificação é uma dádiva que só pode ser
obtida mediante a fé em Jesus Cristo. Entretanto, há vários versículos que
parecem contradizer este fato, mas, sabemos que a Bíblia não se contradiz.
Ê necessário fazer o
importante processo de examinar o contexto que envolve o texto.
Exemplos:
a)
Fé salvífica X fé
professada. Quando fala da fé que justifica, Paulo está falando somente da fé
salvífica.
Como um relacionamento real com Cristo, baseado no amor,
confiança e consagração da vida e vontade a Ele. Tiago, no entanto, fala de uma
confissão de fé, seja ela a fé que salva ou meramente um assentimento à
existência de Deus (o que também fazem os demônios, Tg 2.19). Notemos que o
elemento da fé professada é claramente denotado nas palavras “se alguém disser”
e “mostra-me” (Tg 2.14,18). O propósito de Tiago não era atacar a fé como meio
de salvação, mas, sim, atacar a simples confissão de fé na existência de Deus
como meio de salvação.
b) Obras que salvam X
obras de amor. Paulo e Tiago também tratam de dois tipos de obras. Paulo
condena as obras como esforço arrogante do homem procurando merecer a sua
própria salvação (G1 3.11 e Rm 3.20). Contrastando com isso, ao referir-se às
obras, Tiago fala dessas expressões de fé como resultado natural da
justificação. Poderíamos chamar as obras mencionadas por Paulo como “as obras
da Lei” e as de Tiago como “as obras da fé ”.
c) A justificação do
homem X a justificação da sua fé. Paulo fala da justificação como a declaração
da parte de Deus de que um homem é justo por causa da sua fé em Jesus Cristo.
Tiago enfatiza a declaração dos homens de que a fé da pessoa é legítima quando
comprovada por obras de amor e de dedicação ao reino de Cristo.
Em continuação ao
estudo da Soteriologia, iniciaremos esta sequência pelo segundo elemento
atuante na salvação, a Regeneração, que significa, literalmente, nascer de
novo. Em várias passagens, o Novo Testamento menciona a “nova vida” que o
Espírito comunica ao crente. Esta verdade aparece descrita de várias maneiras,
como: o novo nascimento (Jo 3.5); o nascer da parte de Deus (1 Jo 3.9); a nova
vida (Ef 2.1-
5); uma nova criação
(G1 6.15). Todos estes termos referem-se ao mesmo fenômeno biblicamente chamado
de “Regeneração”.
Já o terceiro elemento
atuante na salvação ocorre pelo novo nascimento. Todos aqueles que aceitam a
Cristo como seu Salvador tornam-se filhos de Deus. Embora estivesse alienado de
Deus e sem esperança de vida eterna, mediante a provisão de Cristo o homem
passa de “inimigo” a “filho de Deus”, pela Adoção.
O quarto efeito ou
benção que estudaremos é a separação entre o crente e o mundo. Esta é a
Santificação, que envolve o desenvolvimento progressivo do crente na vida
cristã. O crente não pode ser mais justificado, mais nascido de novo ou mais
filho de Deus do que no momento da sua conversão, mas pode prosseguir
amadurecendo espiritualmente, mediante o processo da santificação.
Também nesta Lição
estudaremos algumas advertências aos crentes carnais, as promessas de perdão
para os desviados arrependidos e de poder para os crentes fiéis. A Bíblia faz
inúmeras advertências, ao mesmo tempo que contém muitas promessas divinas.
Depois de abordarmos
somente os aspectos da salvação que concernem a esta vida presente, trataremos:
1. do corpo glorificado
que o crente nascido de novo receberá;
2. da promessa de
recebimento da herança e a elevação à devida posição, a saber, reinar
juntamente com Cristo.
3. do recebimento dos
galardões por todas as vitórias que o crente obtiver sobre o pecado e pelas
obras feitas durante sua vida na terra. Todas estas bênçãos são aspectos
futuros da salvação e estão contidos numa só palavra: Glorificação.
ESBOÇO
1. A Regeneração
2. A Adoção
3. A Santificação
4. Advertências e
Promessas
5. A Glorificação
VI.
A REGENERAÇÃO
Neste Texto,
estudaremos o segundo elemento atuante na salvação do homem: a Regeneração, que
é a obra sobrenatural e instantânea de Deus que concede nova vida ao pecador
que aceita a Cristo como seu Salvador.
É importante fazer uma
distinção entre regeneração e santificação. A regeneração é instantânea,
enquanto que a santificação é progressiva. Pela regeneração o homem recebe nova
vida e poder, enquanto que santificação é a capacidade de aplicar esta vida e
poder no seu viver diário.
O milagre da
regeneração
Quando o homem entrega
sua vida a Cristo, no momento em que crê no Salvador Jesus, ele “nasce de
novo”; é regenerado. Neste milagre da regeneração, duas bênçãos são concedidas
ao homem: a nova vida e a nova natureza.
1. Por nova vida,
referimo-nos ao fato de que o homem que estava espiritualmente morto, agora
está ressurreto no seu espírito e pode entrar em comunhão com o
Espírito de Deus.
2. Por nova natureza,
referimo-nos ao fato de que o homem passa a ter uma nova atitude para com o
pecado e a justiça.
Vista da perspectiva
“celestial”, a regeneração confere ao homem uma nova vida espiritual, a de
comunhão com Deus. Vista da perspectiva “terrestre”, ela confere ao homem uma
natureza ou atitude (modo de pensar ou sentir) inteiramente nova, odiando o
pecado e amando a justiça.
As Escrituras
frequentemente se referem à natureza pecaminosa do homem como “a carne”. Esta
natureza, que procede de Adão, é herdada fisicamente por todos os homens, em
contraste com a natureza divina, que é outorgada espiritualmente apenas àqueles
que creem em Cristo.
O poder da regeneração
A grande mensagem da
Doutrina da Regeneração é que a vida do crente não é uma simples filosofia, mas
é uma vida de poder. Mesmo assim, os crentes têm tido a tendência de perder de
vista este poder, preferindo reduzir sua fé a um sistema de ritos e regras.
Exemplo disso, temos nos crentes da Galácia, pois se tornaram vítimas dessa
tendência (G1 3.2,3).
Vitória - A evidência
da regeneração
A regeneração é um
milagre invisível e, justamente por esta razão, origina duas dificuldades
sérias:
1. Os crentes professos
que não são crentes verdadeiros. Afirmam que são “nascidos de novo”, porém
continuam vivendo no pecado e trazendo má fama sobre a Igreja.
2. Os crentes
verdadeiros que chegam a duvidar da sua experiência de salvação. Suspeitam
constantemente que suas lutas nas tentações e sua falta de perfeição parecem
indicar que nunca receberam uma nova natureza. Vivem espiritualmente frustrados
e com dúvidas desnecessárias.
Embora seja invisível,
o milagre da salvação é manifesto na vida da pessoa através de vitórias e de
frutos espirituais.
Anteriormente à
regeneração, o homem era inimigo de Deus, vivendo em paz com o mundo e com o
pecado (Tg 4.4), mas, depois de receber a nova natureza divina, tem paz com
Deus e não se sente à vontade com o pecado. Porém, existe uma luta contínua
entre o crente e o pecado, e a razão desta luta é a existência de duas naturezas
num só corpo. Esta guerra das duas naturezas não terminará até que a natureza
pecaminosa venha a ser completamente removida do crente, no porvir.
Mas, e se o cristão
tropeçar na batalha? A Bíblia claramente responde que ele deve confessar seu
pecado e levantar-se com forças espirituais renovadas para voltar a enfrentar o
inimigo (l jo 1.9).
Não se deve confundir a
verdadeira natureza da salvação pela graça com ideia humanista de que a
salvação se obtém mediante a perfeita obediência à Lei.
A verdadeira salvação
pela graça não exige demonstração de equilíbrio numa corda bamba; pelo
contrário, provê um caminho bem iluminado que conduz ao céu. O homem não é
salvo apenas por andar no caminho mas, sim, por permanecer na luz (Cristo).
O apóstolo João
declarou que o crente pode andar na luz e ter necessidade de purificação dos
seus pecados (l jo 1.7). Acrescentou, também, que ninguém está isento de pecado
(l jo 1.8). Ler 1 João 3.9 e Romanos 6.1,2.
Concluímos dizendo que
a regeneração nada tem a ver com o que a pessoa faz mas, sim, com o que ela é.
No momento da salvação, o homem se torna uma nova criatura em Cristo e passa a
viver numa atitude diferente em relação ao pecado (2Co 5.17).
Apesar disto, o crente
não é perfeito, porque a sua velha e a sua nova naturezas são opostas entre
si...” (G1 5.17).
Vida frutífera - A
evidência da regeneração
Vimos que “o novo
nascimento” é evidenciado por uma nova atitude: a de repúdio ao pecado e de
vitória sobre a tentação. Aqui, vemos que “o novo nascimento” também se manifesta
como uma nova atitude para com Deus.
Conforme Efésios 2.10,
o propósito principal da regeneração não é apenas o homem vencer o pecado, o
qual traria vergonha para o nome de Deus, mas produzir fruto espiritual, que
glorifique o Seu nome. Entretanto, boas obras não produzem salvação, nem são o
meio de assegurá-la ou mantê-la; no entanto, estão integradas à vida do crente
como evidência de uma pessoa regenerada.
Batismo em água -
símbolo da regeneração
A Igreja observa duas
importantes ordenanças: a Santa Ceia e o Batismo em Agua. Ao participar da
Santa Ceia, o crente relembra a morte de Cristo na cruz; no ato do batismo, ele
relembra o Seu sepulcro e ressurreição. A Santa Ceia ressalta o perdão, ao
passo que o batismo ressalta a separação da vida antiga, portanto, sua morte e
separação, ressurreição para uma nova vida.
A verdade central da
regeneração é que o crente é uma nova criatura, que foi separada do seu passado
e introduzida num novo futuro (2Co 5.17). O ato do batismo por imersão total é
um símbolo visual do crente afirmando que morreu para a velha vida e
ressuscitou para uma nova vida (Rm 6.4) • O batismo por si mesmo não resulta em
regeneração da alma; é um ato simbólico demonstrando que a regeneração já
ocorreu na sua vida.
VII.
A ADOÇÁO
Estudaremos o terceiro
elemento atuante na salvação: a Adoção, mediante a qual o homem “nascido de
novo” torna-se filho de Deus - o privilégio mais alto que o céu pode conceder a
um ser criado.
Definindo sob a
perspectiva humana, vemos que adoção é o processo pelo qual uma criança é
trazida e aceita numa família, quando por natureza não teria direito algum de
pertencer a essa família. Esta transação legal resulta em a criança tornar-se
um filho com plenos direitos sobre o patrimônio da família.
A adoção espiritual é
baseada neste mesmo princípio. O homem, que por natureza é filho da ira (Ef
2.3), ao crer em Cristo, é feito filho de Deus, e passa a ter direitos e
privilégios inerentes àquela posição. O privilégio da filiação, o privilégio de
ser um membro da família de Deus e o direito de ser herdeiro de Deus e co herdeiro
com Cristo (Rm 8.15-17). Ressaltamos que as Escrituras ensinam que ninguém pode
tornar-se filho de Deus a não ser pela fé em Cristo para a salvação (Rm 9.8).
Além disso, é possível perder-se o privilégio de ser filho de Deus (Gn 6.2; Dt
32.18-20).
O crente como filho de
Deus
Para o crente, ser
“filho de Deus” é uma realidade bem presente. João escreveu, destacando o fato
da nossa posição de filhos de Deus, se bem que certas bênçãos desta honra serão
desfrutadas somente no futuro (l jo 3.2). Vejamos as bênçãos especiais
resultantes desta posição real, bem como as responsabilidades que ela envolve:
1. Certeza. Um dos
benefícios de ser filho de Deus é a certeza de uma comunhão estreita e amorosa com
o Pai Celestial (Rm 8.15);
2. Obediência. O fato
de o crente ter sido honrado e colocado na posição de filho de Deus, deve
motivá-lo grandemente a viver em retidão. O filho de Deus deve sempre
lembrar-se da dignidade que seu novo título e posição encerra, lembrando sempre
do Pai a quem ele representa aqui no mundo (Mt 5.16; Fp 2.15; 2Co 6.17,18).
3. Orientação e
Disciplina. Há dois fatores que evidenciam a filiação espiritual do crente. Um
deles é a presença interna do Espírito Santo, dirigindo-o e testificando em seu
ser que ele é realmente filho de Deus (Rm 8.14,16). Notemos, nestes versículos,
que o Espírito guia e dá testemunho, mas nem força, nem coage.
Outra evidência da
filiação espiritual do crente é obedecer à disciplina do Pai Celestial; quando
tropeça e cai em pecado sente-se profundamente repreendido pela convicção
interior do Espírito Santo. Esta convicção do Espírito não deve ser motivo para
desespero, mas de encorajamento para o arrependimento; é um sinal positivo da
disciplina do Pai. A resposta correta a tal disciplina deve ser uma nova e
firme resolução da pessoa para erguer-se e continuar na fé. Ler Hebreus
12.5,6,12,13.
4. Acesso a Deus. A
posição do crente como filho de Deus inclui a promessa consoladora: o
privilégio do acesso à presença de Deus (Ef 2.18). Por causa da promessa de
acesso contínuo a Deus e a certeza do Seu cuidado para com Seus filhos, o
crente pode levar todas as suas necessidades espirituais, sociais e físicas ao
Pai Celestial, sabendo com certeza que será ouvido e atendido (Mt 6.31.32; Lc
11.11-13; Fp 4-19).
O crente como irmão de
Cristo
Ao adotar o crente como
filho, Deus criou uma posição de honra e dignidade que anteriormente não
existia. Este fato modificou toda a hierarquia do universo. A Bíblia relata que
os anjos foram criados superiores aos homens naturais, mas, mediante a provisão
feita por Deus para a salvação e adoção do crente, este foi exaltado para
reinar sobre aqueles (Hb 1.14; 2.5,7).
Uma das frases mais
singulares da Bíblia encontra-se em Hebreus 2.11. Ali, ao referir-Se aos
crentes, Cristo diz que “não se envergonha de lhes chamar irmãos”. Ser chamado
“filho de Deus” é em si muito difícil entender, mas ser chamado irmão de Cristo
é quase além do nosso entendimento. É um fato extremamente maravilhoso.
Cristo trouxe não só um
homem a Seu Pai, mas “muitos filhos" (Mt 23.8; Ef 2.19; Hb 2.10). Aqueles
que fazem parte da “família de Deus” são unidos pelo amor de Deus, tendo
comunhão uns com os outros. De fato, é exatamente este amor que comprova a realidade
da nossa adoção como filhos de Deus (Jo 13.35; l jo 3.14).
O crente como herdeiro
do céu
Mediante a adoção
divina, os crentes não somente foram elevados à posição de participantes da
aristocracia do céu, mas tornaram-se herdeiros do maior patrimônio do universo
(Rm 8.17; I Co 2.9).
Em contraste com as
heranças terrestres que são entregues ao herdeiro quando o pai morre, o crente
recebe sua plena herança quando ele morre (ou é arrebatado). O crente foi feito
herdeiro de riquezas sumamente grandes. Paradoxalmente, todas estas riquezas
tornaram-se nossas porque um quis se empobrecer por nós (2Co 8.9).
Certas riquezas
espirituais do crente são desfrutadas aqui; outras, somente no porvir. Paulo
disse que já recebera as “primícias do Espírito”, enquanto esperava a plena
“herança” da sua adoção (Rm 8.23).
Como “filhos de Deus”,
embora adotivos, os crentes podem sentir segurança quanto à permanência dessa
posição. Mas até mesmo um filho, por sua própria escolha, pode abandonar seu
pai e seu lar e perder o que tem. O Filho Pródigo trocou a comunhão com seu pai
pelos prazeres fugazes do mundo. Felizmente, arrependeu-se e não perdeu toda a
sua herança. Este exemplo nos lembra as palavras de Cristo, no Apocalipse,
quando adverte que a herança é somente para os que vencem o mundo até ao fim,
pela sua fé (Ap 21.7).
VIII.
A SANTIFICAÇÃO
A santificação começa
com um ato de separação, de abandono do mundo. Deus chama todos os crentes de
santos, independentemente da sua experiência na fé ou da sua maturidade
espiritual. O alvo de viver uma vida santificada não é a perfeição, mas sim, a
progressão. Deus apresenta ao crente o alvo da santificação como sendo a
perfeição do Seu próprio caráter (Mt 5.48).
De muitas maneiras,
Deus age qual um pai humano. Ele nunca exigiu a prática da santidade absoluta
como um padrão para a salvação, mas Ele ordena e deseja que todos os crentes se
esforcem por atingir este alvo (Jo 14-23).
Notemos no gráfico a
linha que vai de “fé” até o “padrão de Deus”. Esta representa a posição legal
do crente: salvo e considerado santo pela sua fé. No outro lado, a linha
irregular e inclinada representa a vida prática, não perfeita do crente, mas
progredindo na direção do padrão perfeito de Deus.
Liberto da natureza
pecaminosa
Ao falar da necessidade
de progredir na santificação, o apóstolo Paulo reconhecia que estava longe de
ser perfeito (Fp 3.12). Mesmo assim, continuava a esforçar-se, conforme o
exemplo perfeito de Cristo (Fp 3.12-14). Hm Romanos 7 e 8, o apóstolo testifica
como a batalha diária que travava contra a velha natureza levou-o ao desespero.
Mas também escreve como
conseguiu libertar-se do domínio da velha natureza.
Examinemos quatro
passos para galgar esta liberdade.
1. Reconhecer a origem
e a solução do problema (Rm 7.7-25). O crente não deve enganar-se, pensando que
sua velha natureza pecaminosa será totalmente erradicada ou transformada,
enquanto viver neste mundo. E importante que o crente reconheça a existência em
si desta velha natureza, que quer sempre fazer a sua própria vontade e que
saiba como obter o controle sobre ela (Rm 7.23-25; 8.2).
2. Não desanimar (Rm
8.1-4). É estranho, porém verídico, que a presença real e constante do Espírito
Santo na vida do crente às vezes o faz sentir-se mais pecador do que justo! E
porque o Espírito Santo é como uma luz que brilha com fulgor nos compartimentos
da vida há muito tempo abandonados ao descuido.
3. Andar no Espírito
(Rm 8.5-9). A fonte da santificação é o poder do Espírito Santo. Alguns crentes
pensam, erroneamente, que “andar no Espírito” é ser um “robô espiritual”; que é
ser totalmente controlado por uma força divina sobrenatural.
Isto está longe da
realidade, pois a natureza pecaminosa do homem nunca será erradicada nesta vida
e o Espírito Santo nunca forçará o crente a ser justo, contra a sua vontade.
Ele mesmo deve escolher em retidão, mediante o poder e a direção do Espírito
Santo.
4. Não dar atenção à
velha natureza (Rm 8.10-12). O apóstolo Paulo ilustra o relacionamento entre o
crente e a velha natureza pecaminosa usando a figura de um escravo moribundo.
Uma vez morto, o escravo já não está obrigado a servir a seu antigo senhor.
Destarte, o crente deve considerar-se morto para o pecado (seu antigo senhor),
mas vivo para Deus (Rm 8.10).
Liberto dos maus
pensamentos
Em sua segunda carta à
igreja de Corinto (2 Co 10.3-5), Paulo observou que o pensamento daqueles
cristãos tinha sido escravizado por ideias falsas, filosofias malignas (as
“fortalezas”).
Essas fortalezas a que
o apóstolo se referiu são filosofias mundanas que podem se alojar na mente do
crente.
Dentre as “fortalezas”
temos: a intelectual, que tem a ver com as filosofias humanas, com base na
suposição de que a sabedoria humana é superior à sabedoria bíblica (Cl 2.8); a
da moral, que representa as atitudes da sociedade ímpia para com o sexo, a
honestidade, a justiça, direitos pessoais (Rm 12-2); a espiritual, que se
tratam das falsas filosofias religiosas que podem invadir a mente do crente e
que, se aceitas, podem tornar-se em poderosas fortalezas contra pensamentos ou
conceitos bíblicos (2Tm 3.5).
Nenhuma guerra pode ser
travada, e muito menos ganha, a não ser que os soldados estejam dispostos a
lutar. Da mesma forma, a batalha pelo controle da mente do crente não pode ser
ganha se este não considera importante a luta. Ponderemos:
1. Se o crente acalenta
pensamentos ímpios, isto resulta em atitudes e ações pecaminosas. Destarte, os
maus pensamentos são pecaminosos porque resultam em ações ímpias. Por esta
razão, Deus menciona tanto a predominância dos pensamentos retos em nosso
espírito, pois alimentar pensamentos malignos é pecado (Rm 8.7; Pv 24.9; Pv
15.26 ).
2. O crente precisa
reconhecer o fato de que, ao dar guarida a pensamentos pecaminosos, torna-se
vulnerável às tentações (Tt 1.14,15).
3. É importante para o
crente entender que pensamentos malignos são como sementes plantadas no jardim
da mente. Se não forem completamente removidos, crescerão e se multiplicarão, e
produzirão um jardim de ervas daninhas malignas, ao invés do “fruto do
Espírito" (Mt 15.19). Ler Jeremias 4.14.
Temos necessidade de
controlar nossos pensamentos, como também precisamos servir a Cristo ativamente
através da nossa vida mental, levando cativo todo pensamento à obediência de
Cristo.” (2Co 10.5). Como, porém, o crente pode servir a Cristo através dos
seus pensamentos?
1. É preciso fortalecer
seus pensamentos puros mais e mais, por meio da comunhão cristã, dos cultos na
igreja, dos estudos bíblicos;
2. Lembrar que a chave
para progredir numa comunhão maior com Deus é meditar na Sua Palavra e
perseverar em oração (Fp 4-7,8; Cl 3.2).
Liberto da carnalidade
A Bíblia descreve o
Diabo como um leão faminto, procurando crentes que estão dominados e vencidos
por seus pecados secretos (I Pe 5.8). Faz uma advertência clara contra a recusa
do crente em submeter cada área da sua vida ao Senhor (Hb 12.1,2).
A liberdade em Cristo
não é liberdade para pecar, mas, sim, liberdade para viver acima do pecado!
Liberto da escravidão do medo, o crente está livre para servir a Deus, com
dedicação total, por causa do seu amor por Ele. O propósito de vivermos uma
vida piedosa deve ser o de glorificar a Deus.
O gráfico a seguir
retrata o estado da santificação do crente carnal. Notemos o “tamanho” da sua
fé, que começa a diminuir a partir do momento em que ele permite que o pecado
domine a sua vida.
O PADRÃO DE DEUS
A fé diminuindo resulta
na regressão da santificação.
Liberto da estagnação
A santificação é
caracterizada, não por galgar-se um alto nível de atividade cristã, mas, sim,
por um contínuo crescimento na graça de Deus até o fim da vida física do
crente. É um erro comum equiparar a santificação bíblica com os padrões da
igreja local, visto que a igreja não pode fazer exigências baseadas apenas em
pensamentos e atitudes.
Por contraste, o padrão
de Deus é o próprio Cristo (I Pe 2.21). Nenhum livro de regras poderia
descrever todas as situações e respostas necessárias para seguir o padrão de
Cristo de modo perfeito. Por esta razão, a Bíblia ressalta que o crente deve
“ser” muito mais do que aquilo que deve “fazer”, pois aquilo que o homem é
somente é demonstrado pelo o que ele faz.
Vejamos que o gráfico a
seguir ilustra o crente que vive segundo falsos conceitos de santificação.
Notemos que sua fé e sua santificação crescem até o ponto que ele acha que é
perfeito, ou que é bastante bom para agradar a Deus. Daí começa a estagnar-se.
No mundo vegetal,
nota-se que tudo que, via de regra, não é verde ou não está crescendo, ou está
maduro ou está apodrecendo. Esta verdade pode ser aplicada ao mundo espiritual.
O crente que pensa que chegou a um ponto tal de “maturidade espiritual” e que
não há possibilidade de crescer mais logo começará a entrar em decadência
espiritual. Embora mantenha um padrão alto diante dos homens, descobrirá que
está deixando o primeiro amor que sentia pelo Senhor, no começo da fé.
Paulo referiu-se a esta
obra completa e santificadora do Espírito, quando disse: “O mesmo Deus da paz
vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados
íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo." (l Ts
5.23).
Notemos que a ordem é
espírito, alma e corpo. Se a ordem fosse invertida, representaria a reforma
humana e não a santificação espiritual. A reforma humana resulta apenas na
obediência superficial. A santificação espiritual é ilustrada no gráfico a
seguir. O círculo mais interno representa o espírito, o seguinte representa a
alma, e o círculo externo, o corpo.
Em relação à
santificação e ao batismo no Espírito Santo, uma das evidências da submissão do
crente ao controle do Espírito Santo é o batismo do Espírito Santo com a
evidência física do falar noutras línguas. Vejamos alguns esclarecimentos sobre
este assunto.
1 .0 batismo do
Espírito Santo não é uma promoção para o crente ingressar numa elite
espiritual; pelo contrário, é um dom gratuito concedido a todos os que
sinceramente O buscam.
2. O batismo concede
poder adicional à vida do crente para que este viva santa e piedosamente. Esta
experiência, no entanto, não substitui a necessidade diária do crente de
disciplinar sua própria vontade e servir ativamente a Cristo, nem tampouco
imuniza o crente das tentações comuns.
IX.
ADVERTÊNCIAS E
PROMESSAS
“Não vos enganeis; de
Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque
o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que
semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna." (GI 6.7,8)
Esta advertência direta
segue-se a uma passagem que admoesta o crente que caiu em pecado (Gl 6.1 -5). A
Bíblia faz inúmeras advertências ao crente, admoestando-o a tomar cuidado para
não perder a sua salvação, mas também contém muitas promessas divinas, tais
como a promessa de que um desviado, sinceramente arrependido, pode voltar para
Deus (Jr 4.1 -3). A Bíblia também registra muitas promessas assegurando ao
crente que Deus pode guardá-lo do desvio espiritual (Jd v. 24).
Neste texto,
estudaremos algumas advertências aos crentes carnais, as promessas de perdão
para os desviados arrependidos e de poder para os crentes fiéis.
Pode o crente perder a
salvação?
No século V d.C.,
Agostinho, um dos chamados “Pais da Igreja”, foi o primeiro erudito a ensinar
que o crente nunca poderia perder a sua salvação. Esta declaração deu início a
um debate teológico que se estende até os dias de hoje.
Ao estudarmos as
evidências bíblicas que apoiam este fato, compreendemos porque quatro séculos
se passaram da morte de Cristo, para, então, surgir um ponto de vista oposto
sobre o assunto em pauta.
Um dos argumentos mais
expressivos mostrando que se pode perder a salvação é a frequente menção do
condicional “se” com respeito à salvação. Seguem-se, aqui, algumas citações
bíblicas que mencionam essa condicional: Jo 15.6; Cl 1.23; I Co 15.2; Hb 2.3,
3.14, 10.38; l jo 1.7.
A Bíblia não somente
ensina que é possível perder a salvação, como também registra casos de várias
pessoas que viraram as costas para Deus, perdendo sua total comunhão com Ele
(ISm 10.9,10; Mt 10.7,8; l Tm 1.19,20; Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.10).
Em relação ao período
que dura a rejeição de Cristo, alguns teólogos creem que a apostasia é apenas
um distanciamento temporário de Cristo, e não uma perda permanente da salvação.
Isto, no entanto, contradiz as advertências bíblicas no sentido de que um
crente pode perder, não somente sua comunhão com Cristo agora, mas também a
vida eterna (l C r 28.9).
Como ocorre a
apostasia?
Há pelo menos quatro
ilustrações bíblicas que nos ajudam a entender como ocorre a apostasia. Estas
são: um navio à deriva, um cordeiro desgarrado, um servo desobediente e uma
planta sufocada.
1. Um navio à deriva
(Hb 2.1). Nesta referência, a palavra traduzida "desviar-se” é um termo
náutico que se refere a um navio à deriva e sem controle; a lição contida nessa
advertência é a de que a apostasia pode ocorrer como resultado de negligência
espiritual, ou pela prática de pecado.
2. Um c ordeiro
desgarrado (Ez 34.6; Lc 15.4). A ilustração desses textos nos ensina que o
crente deve ficar bem perto do pastor, se não quiser se perder.
Distanciar-se um pouco
de Cristo, parece não ter efeito negativo imediato sobre a vida espiritual da
pessoa e, deste modo, é fácil o crente afastar-se mais e mais do Pastor e do
Seu rebanho.
3. Um servo
desobediente (Lc 16.13). Um símbolo comum usado no Novo Testamento para
descrever o crente é o de um servo. Em decorrência disso, o servo desobediente
é símbolo do apóstata. Este versículo ensina que o crente não pode servir ao
pecado e a Deus ao mesmo tempo. À medida que começa a servir ao pecado, seu
amor a Deus se esfria (Ap 2.4; 3.16) e, finalmente, fica totalmente frio (Mt
24.12).
É erro comum pensar que
a salvação baseada na fé cancele a necessidade da obediência. Outro erro comum
é pensar que somente certos tipos de pecados conduzirão à apostasia (Jo 8.34).
Em Gálatas 5.20,21, o apóstolo Paulo cita uma longa lista de pecados e termina
com esta afirmação: “não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam
(habitualmente) ”.
4- Uma planta sufocada.
A apostasia é um processo de degeneração gradual.
Destarte, a apostasia
não é assim como o homem que acidentalmente cai num precipício.
E qual uma planta
gradualmente sufocada por ervas daninhas, até morrer (Mc 4.18,19).
A mera presença de uma
erva daninha não significa a morte da planta. Se, porém, a erva daninha for
deixada ali, crescerá e se multiplicará, e finalmente sufocará a planta e a matará
por enfraquecimento (Tg 1.14,15).
Pode um desviado voltar
a Deus?
Conforme já estudamos,
a Bíblia adverte que a pessoa pode perder a sua salvação.
Mas poderíamos
perguntar: é possível essa pessoa, voltar para o Senhor? Muitos apóstatas nunca
voltarão para Deus; porém, sempre há um convite ao pecador sinceramente
arrependido dos seus pecados para voltar-se para Deus, não importando os
pecados e erros do seu passado.
O fato de que Deus, em
todo tempo, convida os desviados a voltarem para Ele, demonstra Sua disposição
em recebê-los de volta. Veremos, a seguir, exemplos deste convite. Embora
alguns deles sejam dirigidos a grupos, Deus insiste com cada indivíduo dentro
do grupo, pois a salvação é sempre uma questão pessoal, individual. A Bíblia
contém muitos convites diretos ao desviado (Jr 4.1,6,16; Os 14-4; Ml 3.7).
Mais uma prova de que o
desviado pode voltar para
Deus temos na oração de
Davi: um homem que cometeu adultério, enganou o seu próximo e depois o
assassinou. Pela fé, Davi fez uma oração de arrependimento, empregando três
belas figuras do perdão. Pediu que o seu pecado fosse apagado, que Deus o
lavasse como um homem lava uma veste imunda, e que Deus o purificasse da
enfermidade do pecado que o controlava (SI 51.1,2).
Notemos que o desviado
precisa reconhecer, em primeiro lugar, seu estado decaído. Deve desejar
livrar-se do seu pecado (“... porque, pelos teus pecados, estás caído...”. Os H
-lJ.-Em segundo lugar, o desviado precisa “ter palavras de arrependimento” e
voltar ao Pai. O terceiro passo é a transformação espiritual, de desviado
arrependido em crente verdadeiro* que adora a Deus com louvor. Esse louvor é
descrito como “... sacrifícios dos nossos lábios” (Os 14-2).
Muitos desviados são
atormentados com a dúvida quanto à possibilidade de terem cometido o pecado
imperdoável. Mas todo desviado verdadeiramente humilhado e arrependido dos seus
pecados, pode voltar para Deus± se estiver disposto a submeter todas as áreas
da sua vida a Cristo.
O papel da igreja na
restauração do desviado
A aplicação da
disciplina bíblica, na igreja, deve ser feita com amor aos membros que dela
precisarem. Na disciplina justa e cristã da Igreja está uma das ferramentas
mais eficazes para restaurar o desviado a Cristo e despertar um crente carnal a
buscar a vitória de que necessita.
A Bíblia trata de dois
tipos de disciplina eclesiástica:
1. A exclusão por
pecados graves. Exemplo deste tipo de disciplina encontra-se registrado em 1
Coríntios, que relata a história de um homem que abandonara a Deus e que estava
vivendo no pecado. Mesmo assim, a igreja local mantinha-o em comunhão, apesar
de viver em pecado. Paulo ordenou que a igreja o excluísse da comunhão, de modo
que ele viesse a reconhecer e a sentir o seu pecado, e assim, ser levado ao
arrependimento (I Co 5.5). Ele estava em comunhão com a igreja local, mas não
em comunhão com Deus.
2. A conduta cristã
habitualmente irregular e/ou conhecida. Este tipo de disciplina tem a ver com
membros que abandonam de vez a igreja e outros que não querem abandonar seus
pecados, vivendo uma vida escandalosa, dando mau exemplo para os de dentro e
servindo de tropeço para os de fora (2Ts 3.11,14,15; T t 3.10).
A aplicação da
disciplina pela igreja jamais deve ter o propósito de punição ou vingança.
Deve, sim, ser aplicada com amor, como meio de restaurar o faltoso à comunhão.
A igreja deve agir com humildade, compaixão e amor, ao disciplinar os crentes.
Outro propósito da
disciplina é conservar a igreja livre de influências pecaminosas.
Notemos que o versículo
supra é seguido das seguintes palavras: “... Não sabeis que um pouco de
fermento leveda a massa toda!1” (ICo 5.6). Um só caso de pecado, se for
permitido continuar livremente na igreja, pode espalhar o erro e ocasionar a
dissensão na totalidade da igreja.
E quem deve ser
disciplinado? O membro da igreja que continua rebelde, com sua teimosia,
pecando arrogantemente, e rejeitando a exortação, precisa ser disciplinado.
Por outro lado, o
crente, por ser fraco e falho, mas que sabe se arrepender, e vive na igreja,
esta deve ajudá-lo e fortalecê-lo com amor, assim como quando nossos filhos
estão fracos, não os evitamos, nem os tratamos duramente, mas os alimentamos
melhor e tomamos cuidado especial com eles.
Quanto à forma de
disciplinar, é apropriado examinarmos aqui os seguintes textos que orientam
como aplicar a disciplina à vida daqueles que se rebelam: 2 Timóteo 2.24,25;
Tito 3.2; Hebreus 13.1; Gálatas 6.1; Efésios 4-15.
A segurança da salvação
do crente
Embora possa perder a
salvação por negligência e pecado, o crente fiel não precisa ter dúvida se está
verdadeiramente salvo ou ficar temeroso quanto a perder a salvação.
A atitude do crente
fiel deve ser a de certeza presente e de esperança futura (Cl 1.23; Hb 6.11;
10.22; IPe 1.13).
O testemunho do
Espírito do Espírito Santo é uma das principais evidências da certeza da
salvação do crente (Rm 8.16). Notemos que o testemunho do Espírito Santo é dado
em nosso espírito. Se fosse em nosso corpo, seria como um sexto sentido. Se
fosse em nossa alma, seria apenas uma emoção e nada mais. Mas visto que é um
testemunho em nosso espírito, temos neste testemunho uma convicção
sobrenatural, convencendo-nos de que somos filhos de Deus (Rm 8.17). Este
testemunho não substitui, mas a confirma a fé.
A presença do Espírito
Santo na vida do crente é prova adicional da salvação (l jo 3.24). A Bíblia
descreve-0 como sendo o “penhor” da nossa plena redenção vindoura (Ef 1.14).
O crente pode abandonar
Deus (2Tm 2.13), mas Deus nunca abandonará o crente. O crente pode ser induzido
a afastar-se de Deus, mas jamais pode ser arrastado à força, contra sua
vontade, para fora da comunhão com Deus (Hb 13.5; Jo 10.28; Rm
8.31-39).
A despeito de todas as
evidências da salvação já mencionadas, dúvidas insistentes permanecerão na vida
de todo crente que não remover a fonte primária das suas dúvidas
— Uma vida comprometida
com o pecado e o mundo.
O pecado e a confiança
espiritual não podem coexistir. Um homem pecaminoso pode alegar que tem confiança
quanto à sua salvação, mas, na realidade, ele é acusado por meio de dúvidas e
insegurança interior; somente uma vida de obediência e retidão é que motivará a
confiança (l jo 2.3,5).
A real certeza da
salvação de nossa alma não está baseada numa confissão de fé, feita num dado
momento, mas, sim, numa comunhão sempre presente e crescente em amor, confiança
e submissão a Cristo.
O crente fiel e
dedicado ao Senhor tem essa certeza; isso é bíblico. É por isso que Judas
admoestou seus leitores a se edificarem na fé com oração no Espírito e a se
conservarem no amor de Deus. A medida que o crente mantém uma real comunhão com
Cristo, Deus, por Sua vez, o guarda de cair (Jd v. 20,21,24).
Uma bela ilustração de
como um relacionamento estreito com Deus resulta em nova força encontra-se em
Isaías 40.31:“mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com
asas como águias correm e não se cansam, caminham e não se fatigam. ”
O esperar descrito aqui requer um
relacionamento de fé ativa. A medida que este relacionamento é mantido, o
crente recebe forças espirituais. Assim como é difícil imaginar uma águia cair
durante o seu vôo, assim também é difícil imaginar um crente que “espera” no
Senhor, cair da graça enquanto “espera” nEle.
X.
A GLORIFICAÇÃO
Começaremos aqui com a
definição básica de glorificação do crente e quando ela ocorre. Depois,
abordaremos o aspecto da glorificação concernente à justificação, ou seja: a
promessa de que, um dia, o crente estará face a face com Deus, confiante e sem
se envergonhar.
A glorificação é o ato
culminante da obra redentora de Deus no homem. Quando for glorificado, o crente
estará moralmente perfeito. Terá recebido um corpo glorificado, terá herdado
sua herança eterna* terá recebido como recompensa o louvor da parte de Deus e
uma posição no céu, de acordo com sua fidelidade na terra.
Além disso, a
glorificação do crente está inseparavelmente vinculada à vinda de Cristo e à
revelação da plenitude da Sua glória. Muitos aspectos da glorificação, tais
como o recebimento de um corpo glorificado (I Co 15.42), da herança (Rm 8.23) e
dos galardões (2Co 5.10) - todos estes aguardam a vinda de Cristo.
A promessa de um corpo
imortal
Quando criou o homem,
Deus declarou a Sua obra como sendo boa. Desde então, a humanidade em geral
jamais cessou de maravilhar-se diante desta indescritível criação.
Deus promete ao crente
que ele será transformado e declara que o novo corpo será glorioso (I Co
15.43,44). Se nós, que somos meros mortais, ficamos pasmados ante as maravilhas
deste corpo humano, que Deus chama de “bom”, imagine-se a maravilha do nosso
corpo celestial que Deus classificou como “glorioso”.
Em 1 Coríntios 15 há
uma descrição detalhada do novo corpo que o crente terá.
Em primeiro lugar, será
como o corpo ressurreto de Cristo. “Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os
mortos, sendo ele as primícias dos que dormem” (v. 20, grifo nosso). Mais
adiante está escrito: “... devemos trazer também a imagem do celestial” (v.
49).
A promessa de ser
co-herdeiro de Cristo
A essência da salvação,
desde o seu começo até a sua culminância, é a comunhão do crente com Cristo (I
Co 6.17). Este relacionamento começa quando o crente une-se a Cristo na Sua
morte para receber o perdão dos pecados (Rm 6.6,7). O crente também está unido
com Cristo na Sua vida e, como resultado, torna-se co-participante da Sua
natureza divina (2Tm 2.11; 2Pe 1.4). Esta união chegará ao seu ápice quando o
crente for unido a Cristo na Sua exaltação, tornando-se, assim, co-herdeiro do
reino, do poder e da glória de Cristo.
Cristo declarou que
iria preparar moradas no céu para finalmente receber todos os crentes (Jo
14-2). Sabemos nós, em parte, das maravilhas que Deus criou em sete dias,
porém, somos limitados para imaginar quão maravilhoso será o céu depois de
preparativos tão extraordinários.
A herança do crente
juntamente com Cristo não está limitada ao recebimento de um lar eterno;
inclui, também, a participação da autoridade e do poder de Cristo.
Quando Cristo sentar-se
em Seu trono e reinar, todos os crentes serão igualmente exaltados para
governar e reinar juntamente em Ele, assim como compartilhar da Sua glória.
Paulo disse que o crente será glorificado com Cristo (Rm 8.17).
A promessa dos
galardões
O julgamento dos
crentes nada tem a ver com a salvação. Todo crente receberá algum louvor da
parte de Deus: e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus.” (I Co
4.5).
Isto significa que Deus
julgará todos os crentes, não importa quão fiel ele tenha sido. Será mesmo um
julgamento. Os crentes fiéis receberão muitos louvores e os que forem
negligentes no seu viver cristão receberão bem poucos louvores. Os que querem
viver carnalmente, fazendo sua própria vontade, perderão os galardões que
poderiam ser seus: “se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse
mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.” (I Co 3.15). O
julgamento, pois, consistirá de recebimento ou de perda de recompensa.
Os galardões outorgados
no céu serão eternos, não temporais. Estes galardões são comparados às “coroas
dos vencedores” conferidas nos jogos olímpicos antigos.
Aquelas coroas, por
serem feitas de folhas, duravam bem pouco tempo. Num único dia de glória eram
entregues como galardão, após longo período de intenso treinamento seguido de
vitória. Contrastando isso, as coroas de Deus serão eternas, portanto, uma
glória que nunca fenecerá. “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para
alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.” (I Co 9.25).
Não é somente louvor e
recompensa que o crente receberá no céu. Também a alguns serão confiadas
responsabilidades e cargos na hierarquia do céu, baseadas na sua fidelidade na
terra. Notamos expressões tais como “primeiros" e “últimos” no reino
(Mt 19.30), menores ou
maiores (Mt 5.19). Cristo ensina que haverá uma diferença específica na soma de
autoridade confiada aos seus servos no reino do céu – tudo dependendo da
fidelidade.
A Bíblia nos diz que
Deus concederá galardões por muitas coisas, dentre elas, a conquista de almas,
a resistência à tentação (Tg 1.12), sofrimento com paciência (Mt 5.11,12), ato
de bondade (G16.10; Mt 10.42), hospitalidade (Mt 10.40,41 ) e o cuidado dos
enfermos, necessitados e perseguidos (Mt 25.34-40).
O emprego sábio de
oportunidade é uma fonte importante de galardões e a ociosidade resultará na
perda deles (Mt 24.45,46 e Lc 19.26).
Até mesmo o emprego
sábio de possessões materiais pode resultar em galardões.
Paulo diz que o
dinheiro com que os filipenses contribuíram para o ministério dele era, na
realidade, um depósito feito na conta deles no céu (Fp 4.17). Mais tarde,
admoesta os crentes efésios a compartilharem com os pobres, a fim de acumularem
para si sólido fundamento no céu para o futuro (l Tm 6.17-19).
É importante que lembremos que Deus olha a intenção do coração antes de olhar o ato. O verdadeiro motivo para fazer boas obras deve ser a “fidelidade a Cristo” (1Co 4.2).
Que Deus nos ajude a se manter cheios do Espírito Santo em nome de Jesus, amém.
DOUTRINA DA BÍBLIA - BIBLIOLOGIA
Um resumo da Bíblia
A Bíblia é uma coleção de 66 livros, escritos por 40 ou mais autores, formada durante um período de aproximadamente 1.200 anos. No início, a tradição era oral, passando os eventos da história antiga de uma geração para outra, durante muitos séculos. Mais tarde, essas histórias foram anotadas, talvez começando com Jó e os livros de Moisés.
À medida que Deus continuava a revelar sua verdade aos seus profetas, mais e mais livro foram acrescentados à Palavra de Deus. O povo de Deus veio a reconhecer quais livros eram de Deus (O Cânon) entre os muitos livros que alegavam ter escritos por profetas ou apóstolos.
O Antigo Testamento foi escrito em hebraico, a língua dos israelitas, com alguns trechos em aramaico, a língua que começou a predominar na região, no final do período.
O Novo Testamento foi escrito em grego, a principal língua falada na Palestina na época do Império Romano. Em 388 dC., os 66 livros canônicos do Antigo e do Novo Testamento foram traduzidos para o latim por um estudioso de Nome Jerônimo, tradução chamada de “Vulgata”, que continha os mesmos 66 livros que se encontram na Bíblia protestante de hoje. A Bíblia Católica Romana contém 15 livros e trechos adicionais, chamados de apócrifos, que foram acrescentados em 1546 por uma decisão de um concílio da Igreja Católica.
A primeira tradução da Bíblia para uma língua moderna, no caso o inglês, foi feita por John Wycliffe em 1384. No entanto, a Bíblia teve uma circulação mais ampla apenas após a invenção da imprensa na Alemanha, em 1456. A primeira tradução para o português foi feita por João Ferreira de Almeida, em 1681.
As descobertas recentes da arqueologia permitiram aos estudiosos traduzir várias versões muito acuradas da Bíblia, nos últimos anos. A descoberta dos rolos do Mar Morto, em 1947, confirmou aos estudiosos que os livros da Bíblia tinham sido copiados com muito cuidado pelos escribas de uma geração para a outra.
DOUTRINAS
O Objetivo de Deus é que todos os Seus filhos cresçam na Graça e no Conhecimento (Ef. 4.11-16). A estagnação espiritual não é vontade de Deus e nem faz parte do Seu Santo Plano. O Apóstolo Paulo, escrevendo aos irmãos de Efésios, diz: “...não devemos ser como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.” (4.14)
Todos os filhos de Deus são convocados para conhecer a Deus, pois a própria Bíblia mostra para nós três tipos de doutrina, ou seja, de ensino:
• A Doutrina de Deus: Dt. 32.2; Pv. 4.1-27; Mt. 7.24-29; Lc. 4.32; At. 2.42; 13.12; Tt. 2.1
• A Doutrina de Homens: Mt. 15.9; Col. 2.22; Tt. 1.14
• A Doutrina de Demônios: I Tm. 4.1
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repressão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (II Tm 3.16-17 )
A Bíblia é o fundamento para todo o estudo cristão. Ela é, sem dúvida, o registro das palavras e dos feitos de Deus ao longo da história. Ela não foi escrita somente para teólogos, pastores, estudiosos, etc., mas para todo o Povo de Deus.
A partir deste momento iremos estudar a matéria Bibliologia (Estudo da Bíblia), mostrando, inicialmente, que a mesma se divide em duas partes principais: O Antigo Testamento e o Novo Testamento.
Como a palavra “testamentum” significa “aliança”, em latim, o Antigo Testamento mostra a aliança que Deus fez com o Seu povo no Monte Sinai (Ex. 19.5). Ele foi escrito pela comunidade judaica, sendo preservado durante um milênio, ou mais, até o tempo de Jesus.
Já o Novo Testamento mostra uma aliança entre o Deus Santo e a humanidade perdida, instituída pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele mesmo disse: “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.” O Novo Testamento foi composto pelos discípulos do Nosso Senhor Jesus Cristo, ao longo do século I d.C.
A palavra “testamento” significa uma aliança, pacto ou acordo celebrado entre duas partes. No Antigo Testamento temos o contrato antigo, feito entre Deus e o Seu povo (Judeus), e no Novo Testamento temos a aliança entre Deus e os cristãos, através de Cristo Jesus.
Jesus Cristo, sem dúvida alguma, é o tema central da Bíblia, desde o seu início até o fim. Já em Gênesis 3.15, no início, dá para perceber a presença do que se pode chamar de primeiro evangelho (Boas-Novas), mostrando Jesus como o prometido da semente da mulher. Em Apocalipse, o mesmo Jesus prometido está sentado no grande trono branco, julgando a todos os homens.
A palavra Bíblia, na língua grega, significa “livros”, uma coleção de livros que foi escrita ao longo de 1.200 anos, por vários autores, envolvendo um total de 40 pessoas.
I. REVELAÇÃO: É a operação divina que comunica ao homem fatos que a razão humana é insuficiente para conhecer. É, portanto, a operação divina que comunica a verdade de Deus ao homem (ICo.2:10).
A) Provas da Revelação: O diabo foi o primeiro ser a pôr em dúvida a existência da revelação: "É assim que Deus disse?" (Gn.3:1). Mas a Bíblia é a Palavra de Deus. Vejamos alguns argumentos:
1) A Indestrutibilidade da Bíblia: Uma porcentagem muito pequena de livros sobrevive além de um quarto de século, e uma porcentagem ainda menor dura um século, e uma porção quase insignificante dura mil anos. A Bíblia, porém, tem sobrevivido em circunstâncias adversas. Em 303 A.D. o imperador Dioclécio decretou que todos os exemplares da Bíblia fossem queimados. A Bíblia é hoje encontrada em mais de mil línguas e ainda é o livro mais lido do mundo.
2) A Natureza da Bíblia:
a) Ela é superior: Ela é superior a qualquer outro livro do mundo. O mundo, com sua sabedoria e vasto acúmulo de conhecimento nunca foi capaz de produzir um livro que chegue perto de se comparar a Bíblia.
b) É um livro honesto: Pois revela fatos sobre a corrupção humana, fatos que a natureza humana teria interesse em acobertar.
c) É um livro harmonioso: Pois embora tenha sido escrito por uns quarenta autores diferentes, por um período de 1.600 anos, ela revela ser um livro único que expressa um só sistema doutrinário e um só padrão moral, coerentes e sem contradições.
3) A Influência da Bíblia: O Alcorão, o Livro dos Mórmons, o Zenda Avesta, os Clássicos de Confúncio, todos tiveram influência no mundo. Estes, porém, conduziram a uma ideia apagada de Deus e do pecado, ao ponto de ignorá-los. A Bíblia, porém, tem produzido altos resultados em todas as esferas da vida: na arte, na arquitetura, na literatura, na música, na política, na ciência etc.
4) Argumento da Analogia: Os animais inferiores expressam com suas vozes seus diferentes sentimentos. Entre os racionais existe uma presença correspondente, existe comunicação direta de um para o outro, uma revelação de pensamentos e sentimentos. Consequentemente é de se esperar que exista, por analogia da natureza, uma revelação direta de Deus para com o homem. Sendo o homem criado à Sua imagem, é natural supor que o Criador sustente relação pessoal com Suas criaturas racionais.
5) Argumento da Experiência: O homem é incapaz por sua própria força descobrir que:
a) Precisa ser salvo.
b) Pode ser salvo.
c) Como pode ser salvo.
d) Se há salvação.
Somente a revelação pode desvendar estes mistérios eternos. A experiência do homem tem demonstrado que a tendência da natureza humana é degenerar-se e seu caminho ascendente se sustêm unicamente quando é voltado para cima em comunicação direta com a revelação de Deus.
6) Argumento da Profecia Cumprida: Muitas profecias a respeito de Cristo se cumpriram integralmente, sendo que a mais próxima do primeiro advento, foi pronunciada 165 anos antes de seu cumprimento. As profecias a respeito da dispersão de Israel também, se cumpriram (Dt.28; Jr.15:4;l6:13; Os.3:4); da conquista de Samaria e preservação de Judá (Is.7:6-8; Os.1:6,7; IRs.14:15); do cativeiro babilônico sobre Judá e Jerusalém (Is.39:6; Jr.25:9-12); sobre a destruição final de Samaria (Mq.1:6-9); sobre a restauração de Jerusalém (Jr.29:10-14).
7) Reivindicações da Própria Escritura: A própria Bíblia expressa sua infalibilidade, reivindicando autoridade. Nenhum outro livro ousa fazê-lo. Encontramos essa reivindicação na seguintes expressões: "Disse o Senhor a Moisés" (Ex.14:1,15,26;16:4;25:1; Lv.1:1;4:1;11:1; Nm.4:1;13:1; Dt.32:48) "O Senhor é quem fala" (Is.1:2); "Disse o Senhor a Isaías" (Is.7:3); "Assim diz o Senhor" (Is.43:1). Outras expressões semelhantes são encontradas: "Palavra que veio a Jeremias da parte do Senhor" (Jr.11:1); "Veio expressamente a Palavra do Senhor a Ezequiel" (Ez.1:3); "Palavra do Senhor que foi dirigida a Oséias" (Os.1:1); "Palavra do Senhor que foi dirigida a Joel" (Jl.1:1), etc. Expressões como estas são encontradas mais de 3.800 vezes no Velho Testamento. Portanto o A.T. afirma ser a revelação de Deus, e essa mesma reivindicação faz o Novo Testamento (ICo.14:37; ITs.2:13; IJo.5:10; IIPe.3:2).
B) Natureza da Revelação: Deus se revelou de sete modos:
1) Através da Natureza: (Sl.19:1-6; Rm.l:19-23).
2) Através da Providência: A providência é a execução do programa de Deus das dispensações em todos os seus detalhes (Gn.48:15;50:20; Rm.8:28; Sm.57:2; Jr.30:11; Is.54:17).
3) Através da Preservação: (Cl.1:17; Hb.1:3; At.17:25,28).
4) Através de Milagres: (Ex.4:1-9).
5) Através da Comunicação Direta: (Nm.12:8; Dt.34:10).
6) Através da Encarnação: (Hb.1:1; Jo.8:26;15:15).
7) Através das Escrituras: A Bíblia é a revelação escrita de Deus e, como tal, abrange importantes aspectos:
a) Ela é variada: Variada em seus temas, pois abrange aquilo que é doutrinário , devocional, histórico, profético e prático.
b) Ela é parcial: (Dt.29:29).
c) Ela é completa: Naquilo que já foi revelado (Cl.2:9,10);
d) Ela é progressiva: (Mc.4:28).
e) Ela é definitiva: (Jd.3).
II. INSPIRAÇÃO: É a operação divina que influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a receber a mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-la com exatidão, impedindo-os de cometerem erros e omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e infalível, garantindo a exata transferência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana inteligível (ICo.10:13; IITm.3:16; IIPe.1:20,21).
A) Autoria Dual: Com este termo indicamos dois fatos:
1) Autoria Divina: Do lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que se originaram nEle e são a expressão de Sua mente. Em IITm.3:16 encontramos a referência a Deus: "Toda Escritura é divinamente inspirada" (theopneustos = soprada ou expirada por Deus) . A referência aqui é ao escrito.
2) Autoria Humana: Do lado humano certos homens foram escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber a Palavra e passá-la para a forma escrita. Em IIPe.1:21 encontramos a referência aos homens: "Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo" (pherô = movidos ou conduzidos). A referência aqui é ao escritor.
B) Inspiração ou Expiração? A palavra inspiração vem do latim, e significa respirar para dentro. Ela é usada pela ARC. (Almeida Revista e Corrigida) somente duas vezes no N.T. (IITm.3:16; IIPe.1:21). Este vocábulo, embora consagrado pelo uso, e, portanto, pela teologia, não é um termo adequado, pois pode parecer que Deus tenha soprado alguma espécie de vida divina em palavras humanas. Em IITm.3:16 encontramos o vocábulo grego theopneustos que significa soprado por Deus. Portanto podemos afirmar que toda a Escritura é soprada ou expirada por Deus, e não inspirada como expressa a ARC. As Escrituras são o próprio sopro de Deus, é o próprio Deus falando (IISm.23:2). Em IIPe.1:21 este vocábulo se torna mais inadequado ainda, pois a tradução da ARC. transmite a ideia de que os homens santos foram inspirados pelo Espírito Santo. O fato é que o homem não é inspirado, mas a Palavra de Deus é que é expirada (Compare Jó.32:8; 33:4; com Ez.36:27; 37:9). A ARA. (Almeida Revista e Atualizada), porém, apesar de utilizar o termo inspiração em IITm.3:16, usa, com acerto, o verbo mover em IIPe.1:21, como tradução do vocábulo grego pherô, que significa exatamente mover ou conduzir.
Considerada esta ressalva, não devemos pender para o extremo, excluindo a autoria humana da compilação das Escrituras. Ela própria reconhece a autoria dual no registro bíblico. Em Mt.15:4 está escrito que Deus ordenou enquanto que em Mc.7:10 diz que foi Moisés quem ordenou. E muitas outras passagens há semelhantes a esta (Compare Sl.110:1 com Mc.12:36; Ex.3:6,15 com Mt.22:31; Lc.20:37 com Mc.12:26; Is.6:9,10; At.28:25 com Jo.12:39-41; Mt.1:22;2:15; At.l:16;4:25; Hb.3:7-11; Hb.9:8;10:15) Deus opera de modo misterioso usando e não anulando a vontade humana, sem que o homem perceba que está sendo divinamente conduzido, sendo que neste fenômeno, o homem faz pleno uso de sua liberdade (Pv.16:1;19:21; Sl.33:15;105:25; Ap.17:17). Desse mesmo modo Deus também usa Satanás (Compare ICr.21:1 com IISm.24:1; IRs.22:20-23), mas não retira a responsabilidade do homem (At.5:3,4), como também o faz na obra da salvação (Dt.30:19; Sl.65:4; Jo.6:44).
C) O Termo Logos: Este termo grego foi utilizado no N.T. cerca de 200 vezes para indicar a Palavra de Deus Escrita, e 7 vezes para indicar o Filho de Deus (Jo.1:1,14; IJo.1:1;5:7; Ap.19:13). Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento e o que a fala é para a razão, portanto o Logos de Deus é a expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva (Compare Jo.14:6 com Jo.17:17).
1) Cristo é a Palavra Viva: Cristo é o Logos, isto é, a fala, a expressão de Deus.
2) A Bíblia é a Palavra Escrita: A Bíblia também é o Logos de Deus, e assim como em Cristo há dois elementos (duas naturezas), divino e humano, igualmente na Palavra de Deus estes dois elementos aparecem unidos sobrenaturalmente.
D) Provas da Inspiração: Somos acusados de provar a inspiração pela Bíblia e de provar a verdade da Bíblia pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo vicioso. Mas o processo parte de uma prova que todos aceitam: a evidência. Esta, primeiro prova a veracidade ou credibilidade da testemunha, e então aceita o seu testemunho. A veracidade das Escrituras é estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a sua veracidade, ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas dizem de si mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, e elas ou devem ser cridas neste particular ou rejeitadas em tudo mais.
1) O A.T. afirma sua Inspiração: (Dt.4:2,5; IISm.23:2; Is.1:10; Jr.1:2,9; Ez.3:1,4; Os.1:1; Jl.l:1; Am.1:3;3:1; Ob.1:1; Mq.1:1).
2) O N.T. afirma sua Inspiração: (Mt.10:19; Jo.14:26;15:26,27; Jo.16:13; At.2:33;15:28; ITs.1:5; ICo.2:13; IICo.13:3; IIPe.3:16; ITs.2:13; ICo.14:37).
3) O N.T. afirma a Inspiração do A.T.: (Lc.1:70; At.4:25; Hb.1:1, IItm.3:16; IPe.1:11; IIPe.1:21).
4) A Bíblia faz declarações científicas descobertas posteriormente: (Jó.26:7; Sl.135:7; Ec.1:7; Is.40:22).
E) Teorias da Inspiração: Podemos ter revelação sem inspiração (Ap.10:3,4), e podemos ter inspiração sem revelação, como quando os escritores registram o que viram com seus próprios olhos e descobriram pela pesquisa (IJo.1:1-4; Lc.1:1-4). Aqui nós temos a forma e o resultado da inspiração. A forma é o método que Deus empregou na inspiração, enquanto que o resultado indica a consequência da inspiração. Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a dinâmica e a do ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que a teoria verbal plenária indica o resultado.
1) Teoria da Inspiração Dinâmica: Afirma que Deus forneceu a capacidade necessária para a confiável transmissão da verdade que os escritores das Escrituras receberam ordem de comunicar. Isto os tornou infalíveis em questões de fé e prática, mas não nas coisas que não são de natureza imediatamente religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os ensinamentos e preceitos doutrinários, as verdades desconhecidas dos autores humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Ela não explica como os escritores bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos sobrenaturais ao registrarem uma sentença, e serem rebaixados a um nível inferior ao relatarem um fato de modo natural. Ela não fornece a psicologia daquele estado de espírito que deveria envolver os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente sobre matérias de doutrina, enquanto se desviam a respeito dos fatos mais simples da história. Ela não analisa a relação existente entre as mentes divina e humana, que produz tais resultados. Ela não distingue entre coisas que são essenciais à fé e à pratica e àquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter, Paley, Doellinger e Strong compartilham desta teoria.
2) Teoria do Ditado ou Mecânica: Afirma que os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses), não seres cujas personalidades foram preservadas. Se Deus tivesse ditado as Escrituras, o seu estilo seria uniforme. Teria a dicção e o vocabulário do divino Autor, livre das idiossincrasias dos homens (Rm.9:1-3; IIPe.3:15,16). Na verdade o autor humano recebeu plena liberdade de ação para a sua autoria, escrevendo com seus próprios sentimentos, estilo e vocabulário, mas garantiu a exatidão da mensagem suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido ditada por Deus. Não há nenhuma insinuação de que Deus tenha ditado qualquer mensagem a um homem além daquela que Moisés transcreveu no monte santo, pois Deus usa e não anula as suas vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza sobremaneira a autoria divina ao ponto de excluir a autoria humana.
3) Teoria da Inspiração Natural ou Intuição: Afirma que a inspiração é simplesmente um discernimento superior das verdades moral e religiosa por parte do homem natural. Assim como tem havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que produziram obras de arte que nunca foram superadas, também em relação as Escrituras houve homens excepcionais com visão espiritual que, por causa de seus dons naturais, foram capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção mais baixa de inspiração, pois enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos pelagianos e unitarianos.
4) Teoria da Inspiração Mística ou Iluminação: Afirma que inspiração é simplesmente uma intensificação e elevação das percepções religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação até certo ponto, mas alguns tem mais do que outros. Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo, através da energia divina especial, poderia escrever as Escrituras. Schleiermacher foi quem disseminou esta teoria. Para ele inspiração é "um despertamento e excitamento da consciência religiosa, diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou sentimentos intuitivos dos homens santos".
5) Inspiração dos Conceitos e não das Palavras: Esta teoria pressupõe pensamentos à parte das palavras, através da qual Deus teria transmitido ideias mas deixou o autor humano livre para expressá-las em sua própria linguagem. Mas ideias não são transferíveis por nenhum outro modo além das palavras. Esta teoria ignora a importância das palavras em qualquer mensagem. Muitas passagens bíblicas dependem de uma das palavras usadas para a sua força e valor. O estudo exegético das Escrituras nas línguas originais é um estudo de palavras, para que o conceito possa ser alcançado através das palavras, e não para que palavras sem importância representem um conceito. A Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples conceito (ICo.2:13; Jo.6:63;17:8; Ex.20:1; Gl.3:16).
6) Graus de Inspiração: Afirma que há inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência, orientação e revelação direta, são palavras usadas para classificar estes graus. Esta teoria alega que algumas partes da Bíblia são mais inspiradas do que outras. Embora ela reconheça as duas autorias, dá margem a especulação fantasiosa.
7) Inspiração Verbal Plenária: É o poder inexplicado do Espírito Santo agindo sobre os escritores das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzí-los) na transcrição do registro bíblico, quer seja através de observações pessoais, fontes orais ou verbais, ou através de revelação divina direta, preservando-os de erros e omissões, abrangendo as palavras em gênero, número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo, a inerrância das Escrituras, e dando à ela autoridade divina.
a) Observação Pessoal: (IJo.1:1-4).
b) Fonte Oral: (Lc.l:1-4).
c) Fonte Verbal: (At.17:18; Tt.1:12; Hb.1:1).
d) Revelação Divina Direta: ( Ap.1:1-ll; Gl.1:12).
e) Gênero: (Gn.3:15).
f) Número: (Gl.3:16).
g) Tempo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
h) Modo: (Ef.4:30; Cl.3:13).
i) Voz: (Ef.5:18)
j) Explicação dos itens e,f,g,h,i: A inspiração verbal plenária fica assim estabelecida. Em Gn.3:15 o pronome hebraico está no gênero masculino, pois se refere exclusivamente a Cristo (Ele te ferirá a cabeça...). Em Gl.3:16 Paulo faz citação de um substantivo hebraico que está no singular, fazendo, também, referência exclusiva a Cristo. Em Ef.4:30 e Cl.3:13 o verbo perdoar encontra-se, no grego, no modo particípio e no tempo presente, o que significa que o perdão judicial de Deus realizado no passado, quando aceitamos a Cristo, estende-se por toda a nossa vida, abrangendo o perdão dos pecados do passado, do presente, e do futuro (IJo.1:9 trata do perdão do pecado doméstico e não do judicial). Jesus Cristo reconheceu a inspiração verbal plenária quando declarou que nem um til (a menor letra do alfabeto hebraico) seria omitido da lei (Mt.5:18 e Lc.16:l7).
III. ILUMINAÇÃO: É a influência ou ministério do Espirito Santo que capacita todos os que estão num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras (I Cor.2:12; Lc.24:32,45; IJo.2:27).
A iluminação não inclui a responsabilidade de acrescentar algo às Escrituras (revelação) e nem inclui uma transmissão infalível na linguagem (inspiração) daquele que o Espirito Santo ensina.
A iluminação é diferencia
a da revelação e da inspiração no fato de ser prometida a todos os crentes, pois não depende de escolha soberana, mas de ajustamento pessoal ao Espirito Santo. Além disso a iluminação admite graus podendo aumentar ou diminuir (Ef.1:16-18; 4:23; Cl.1:9).
A iluminação não se limita a questões comuns, mas pode atingir as coisas profundas de Deus (ICo.2:10) porque o Mestre Divino está no coração do crente e, portanto, ele não houve uma voz falando de fora e em determinados momentos, mas a mente e o coração são sobrenaturalmente despertados de dentro (ICo.2:16). Este despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas (ICo.2:15), ao passo que aquele que é carnal não pode receber as verdades mais profundas de Deus que são comparadas ao alimento sólido (ICo.2:15;3:1-3; Hb.5:12-14).
A iluminação, a inspiração e a revelação estão estritamente ligadas, porém podem ser independentes, pois há inspiração sem revelação (Lc.1:1-3; IJo.1:1-4); inspiração com revelação (Ap.1:1-11); inspiração sem iluminação (IPe.1:10-12); iluminação sem inspiração (Ef.1:18) e sem revelação (ICo.2:12; Jd.3); revelação sem iluminação (IPe.1:10-12) e sem inspiração (Ap.10:3,4; Ex.20:1-22). E’ digno de nota que encontramos estes três ministérios do Espirito Santo mencionados em uma só passagem (ICo.2:9-13); a revelação no versículo 10; a iluminação no versículo 12 e a inspiração no versículo 13.
IV. AUTORIDADE: Dizemos que a bíblia é um livro que tem autoridade porque ela tem influência, prestígio e credibilidade (quanto a pureza na transcrição ou tradução), por isso deve ser obedecida porque procede de fonte infalível e autorizada.
A autoridade está vinculada a inspiração, canonicidade e credibilidade, sem os quais a autoridade da Bíblia não se estabeleceria. Assim, por ser inspirado, determinado trecho bíblico possui autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico possui autoridade, e por ter credibilidade, determinadas informações bíblicas possuem autoridade, sejam históricas, geográficas ou científicas.
Entretanto, nem tudo aquilo que é inspirado é autorizado, pois a autoridade de um livro trata de sua procedência, de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor da Bíblia, e como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado na Bíblia procedeu da boca de Deus. Por exemplo, o que Satanás disse para Eva foi registrado por inspiração, mas não é a verdade (Gn.3:4,5); o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt.16:22); as acusações que Elifaz fez contra Jó (Jó.22:5-11), etc. Nenhuma dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem dEle (procedem apenas por inspiração), e por isso não têm autoridade. Um texto também perde sua autoridade quando é retirado de seu contexto e lhe é atribuído um significado totalmente diferente daquele que tem quando inserido no contexto. As palavras ainda são inspiradas, mas o novo significado não tem autoridade.
V. CREDIBILIDADE OU VERACIDADE: Um livro tem credibilidade se relatou veridicamente os assuntos como aconteceram ou como eles são; e quando seu texto atual concorda com o escrito original.
Nesse caso credibilidade relaciona-se ao conteúdo do livro (original), e a pureza do texto atual (cópia ou tradução). Por exemplo, as palavras de Satanás em Gn.3:4,5 são inspiradas, mas não possuem autoridade, porque não é verdade, porém tem credibilidade ou veracidade (quanto a sua transcrição) porque foram registradas exatamente como Satanás disse. A veracidade das palavras de Satanás não se relacionam ao o que ele pronunciou, mas sim como ele as pronunciou.
A) Credibilidade do A.T.: Estabelecida por três fatos:
1) Autenticado por Jesus Cristo: Cristo recebeu o A.T. como relato verídico. Ele endossou grande número de ensinamentos do A.T., como, por exemplo: A criação do universo por Deus (Mc.3:19), a criação do homem (Mt.19:4,5), a existência de Satanás (Jo.8:44), o dilúvio (Lc.17:26,27), a destruição de Sodoma e Gomorra (Lc.17:28-30), a revelação de Deus a Moisés na sarça (Mc.12:26), a dádiva do maná (Jo.6:32), a experiência de Jonas dentro do grande peixe (Mt.12:39,40). Como Jesus era Deus manifesto em carne, Ele conhecia os fatos, e não podia se acomodar a idéias errôneas, e, ao mesmo tempo ser honesto. Seu testemunho deve, portanto, ser aceito como verdadeiro ou Ele deve ser rejeitado como Mestre religioso.
2) Prova Arqueológica e Histórica:
a) Arqueológica: Através da arqueologia, a batalha dos reis registrada em Gn.14 não pode mais ser posta em dúvida, já que as inscrições no Vale do Eufrates "mostram indiscutivelmente que os quatro reis mencionados na Bíblia como tendo participado desta expedição não são, como era dito displicentemente, ‘invenções etnológicas’, mas sim personagens históricos reais. Anrafel é identificado como o Hamurábi cujo maravilhoso código de leis foi tão recentemente descoberto por De Morgan em Susa". (Geo. F. Wright, O Testemunho dos Monumentos à Verdade das Escrituras).
As tábuas Nuzi esclarecem a ação de Sara e Raquel ao darem suas servas aos seus maridos (Jack Finegan, Ligth from the Ancient Past = Luz de um Passado Antigo).
Os hieróglifos egípcios indicam que a escrita já era conhecida mais de 1.000 anos antes de Abraão (James Orr, The Problem of the Old Testament = O Problema do Velho Testamento).
A arqueologia também confirma o fato de Israel ter vivido no Egito, como escravo, e ter sido liberto = A Voz Decisória dos Monumentos).
Muitas outras confirmações da veracidade dos relatos das Escrituras poderiam ser apresentados, mas esses são suficientes e devem servir como aviso aos descrentes com relação às coisas para as quais ainda não temos confirmação; podemos encontrá-la a qualquer hora.
b) Histórica: A história fornece muitas provas da exatidão das descrições bíblicas. Sabe-se que Salmanezer IV sitiou a cidade de Samaria, mas o rei da Assíria, que sabemos ter sido Sargom II, carregou o povo para a Síria (IIRs.17:3-6). A história mostra que ele reinou de 722-705 a.C. Ele é mencionado pelo nome apenas uma vez na Bíblia (Is.20:1). Nem Beltsazar (Dn.5), nem Dario, o Medo (Dn.6) são mais considerados como personagens fictícios.
3) As Escrituras possuem Integridade:
a) Integridade Topográfica e Geográfica: As descobertas arqueológicas provam que os povos, línguas, os lugares e os eventos mencionados nas Escrituras são encontrados justamente onde as Escrituras os localizam, no local exato e sob as circunstâncias geográficas exatas descritas na Bíblia.
b) Integridade Etnológica ou Racial: Todas as afirmações bíblicas sobre raças tem sido demonstrada como corretas com os fatos etnológicos revelados pela arqueologia.
c) Integridade Cronológica: A identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos com o período de sua ocorrência é corroborada pela cronologia síria e pelos fatos revelados pela arqueologia.
d) Integridade Histórica: O registro dos nomes e títulos dos reis está em harmonia perfeita com os registros seculares, conforme demonstrados por descobertas arqueológicas.
e) Integridade Canônica: A aceitação pela igreja em toda a era cristã, dos livros incluídos nas Escrituras que hoje possuímos, representa o endosso de sua integridade.
Exemplares do A.T. e do N.T. impressos em 1.488 e 1.516 d.C., concordam com os exemplares atuais. Portanto a Bíblia como a possuímos hoje, já existia há 400 anos passados.
Quando essas Bíblias foram impressas, certo erudito tinha em seu poder mais de 2.000 manuscritos. Esse número é sem dúvida suficiente para estabelecer a genuinidade e credibilidade do texto sagrado, e tem servido para restaurar ao texto sua pureza original, e fornecem proteção contra corrupções futuras (Ap.22:18-19; Dt.4:2;12:32).
Enquanto a integridade canônica da Bíblia se baseia em mais de 2.000 manuscritos, os escritos seculares, que geralmente são aceitos sem contestação, baseiam-se em apenas uma ou duas dezenas de exemplares.
As quatro Bíblias mais antigas do mundo, datadas entre 300 e 400 d.C., correspondem exatamente a Bíblia como a possuímos atualmente.
B) Credibilidade do N.T.: Estabelecida por cinco fatos:
1) Escritores Competentes: Possuíam as qualificações necessárias, receberam investidura do Espirito Santo e assim escreveram não somente guiados pela memória, apresentações de testemunho oral e escrito, e discernimento espiritual, mas como escritores qualificados pelo Espirito Santo.
2) Escritores Honestos: O tom moral de seus escritos, sua preocupação com a verdade, e a circunstância de seus registros indicam que não eram enganadores intencionais mais sim homens honestos. O seu testemunho pôs em perigo seus interesses materiais, posição social, e suas próprias vidas. Por quê razão inventariam uma estória que condena a hipocrisia e é contrária a suas crenças herdadas, pagando com suas próprias vidas?
3) Harmonia do N.T.: Os sinópticos não se contradizem mas suplementam um ao outro. Os vinte e sete livros do N.T. apresentam um quadro harmonioso de Jesus Cristo e Sua obra.
4) Prova Histórica e Arqueológica:
a) Histórica: O recenseamento quando Quirino era Governador da Síria (Lc.2:2), os atos de Herodes o Grande (Mt.2:16-18), de Herodes Antipas (Mt.14:1-12), de Agripa I (At.12:1), de Gálio (At.18;12-17), de Agripa II (At.25:13-26:32) etc.
b) Arqueológica: As descobertas arqueológicas confirmam a veracidade do N.T. Quirino (Lc.2:2) foi Governador da Síria duas vezes (16-12 e 6-4 a.C.), sendo que Lucas se refere ao segundo período.
Lisânias, o Tetrarca é mencionado em uma inscrição no local de Abilene na época a que Lucas se refere.
Uma inscrição em Listra registra a dedicação da estátua Zeus (Júpiter) e Hermes (Mercúrio), o que mostra que esses deuses eram colocados no mesmo nível, no culto local, conforme descrito em At.14:12.
Uma inscrição de Pafos faz referência ao Proconsul Paulo, identificado como Sergio Paulo (At.13:7).
VI. Inerrância ou infalibilidade:
Inerrância significa que a verdade é transmitida em palavras que, entendidas no sentido em que foram empregadas, entendidas no sentido que realmente se destinavam a ter, não expressam erro algum.
A inspiração garante a inerrância da Bíblia. Inerrância não significa que os escritores não tinham faltas na vida, mas que foram preservados de erros os seus ensinos. Eles podem ter tido concepções errôneas acerca de muitas coisas, mas não as ensinaram; por exemplo, quanto à terra, às estrelas, às leis naturais, à geografia, à vida política e social etc.
Também não significa que não se possa interpretar erroneamente o texto ou que ele não possa ser mal compreendido.
A inerrância não nega a flexibilidade da linguagem como veículo de comunicação. É muitas vezes difícil transmitir com exatidão um pensamento por causa desta flexibilidade de linguagem ou por causa de possível variação no sentido das palavras.
A Bíblia vem de Deus. Será que Deus nos deu um livro de instrução religiosa repleto de erros? Se ele possui erros sob a forma de uma pretensa revelação, perpetua os erros e as trevas que professa remover. Pode-se admitir que um Deus Santo adicione a sanção do seu nome a algo que não seja a expressão exata da verdade?.
Diz-se que a Bíblia é parcialmente verdadeira e parcialmente falsa. Se é parcialmente falsa, como se explica que Deus tenha posto o seu selo sobre toda ela? Se ela é parcialmente verdadeira e parcialmente falsa, então a vida e a morte estão a depender de um processo de separação entre o certo e o errado, que o homem não pode realizar.
Cristo declara que a incredulidade é ofensa digna de castigo. Isto implica na veracidade daquilo que tem de ser crido, porque Deus não pode castigar o homem por descrer no que não é verdadeiro (Sl.119:140,142; Mt.5:18; Jo.10:35; Jo.17:17). Aqueles que negam a infalibilidade da Bíblia, geralmente estão prontos a confiar na falibilidade de suas próprias opiniões. Como exemplo de opinião falível encontramos aqueles que atribuem erro à passagem de IRs.7:23 onde lemos que o mar de fundição tinha dez côvados de diâmetro de uma borda até a outra, ao passo que um cordão de trinta côvados o cingia em redor. Sendo assim, tem-se dito que a Bíblia faz o valor do Pi ser 3 em vez de 3,1416. Mas uma vez que não sabemos se a linha em redor era na extremidade da borda ou debaixo da mesma, como parece sugerir o versículo seguinte (v.24) não podemos chegar a uma conclusão definitiva, e devemos ser cautelosos ao atribuir erro ao escritor.
Outro exemplo utilizado para contrariar a inerrância da Bíblia, encontra-se em ICo.10:8 onde lemos que 23.000 homens morreram no deserto, enquanto que Nm.25:9 diz que morreram 24.000. Acontece que em Números nós temos o número total dos mortos, ao passo que em I aos Coríntios nós temos o número parcial que somado ao restante dos homens relacionados nos versículos 9 e 10, deverá contabilizar o total de 24.000.
A inerrância não abrange as cópias dos manuscritos, mas atinge somente os autógrafos, isto é, os originais. Desse modo encontramos os seguintes tipos de erros nos manuscritos:
A) Erros Involuntários: Cometidos pelos escribas do N.T. devido a sua falta ou defeito de visão, defeitos de audição ou falhas mentais.
1) Falhas de Visão: Em Rm.6:5 muitos manuscritos (MSS) tem ama (juntos), mas há alguns que trazem alla (porém). Os dois lambdas juntos deram ao copista a ideia de um mi. Em At.15:40 onde há eplexamenoc (tendo escolhido) aparece no Códice Beza epdexamenoc (tendo recebido) onde o lambda maiúsculo é confundido com um delta maiúsculo.
Há também confusão de sílabas, como é o caso de ITm.3:16 onde o manuscrito traz homologoumen ôs (nós confessamos que) em vez de homologoumenôs (sem dúvida).
O erro visual chamado parablopse (um olhar ao lado) é facilitado pelo homoioteleuton, que é o final igual de duas linhas, levando o escriba a saltar uma delas, ou pelo homoioarchon, que são duas linhas com o mesmo início.
O Códice Vaticano, em Jo.17:15, não contém as palavras entre parênteses: "Não rogo que os tires do (mundo, mas que os guardes do) maligno". Consultando o N.T. grego veremos que as duas linhas terminavam de maneira idêntica, em autos ek tou, no manuscrito que o escriba de B copiava.
Lc.18:39 não aparece nos manuscritos 33, 57, 103 e b, devido a um final de frase igual na sentença anterior no manuscrito do qual eles se derivam.
O Códice Laudiano tem um exemplo no versículo 4 do Capítulo 2 do livro de Atos: "Et repleti sunt et repleti sunt omnes spiritu sancto", sendo este em caso de adição, chamado ditografia, que é a repetição de uma letra, sílaba ou palavras.
2) Falhas de Audição: Era costume muitos escribas se reunirem numa sala enquanto um leitor lhes ditava o texto sagrado. Desse modo o ouvido traía o escriba até mesmo quando o copista solitário ditava a si próprio. Em Rm.5:1 encontramos um destes casos, onde as variantes echômen e echomen foram confundidas. IPe.2:3 também apresenta um caso semelhante com as variantes cristos (Cristo) e crestos (gentil), esta última encontrada nos manuscritos K e L.
No grego coinê as vogais e ditongos pronunciavam-se de modo igual dentro das respectivas classes. É o caso de ICo.15:54 onde o termo nikos (vitória), foi confundido por neikos (conflito), sendo que aparece em P46 e B como "tragada foi a morte no conflito".
Em Ap.15:6 onde se lê "vestidos de linho puro" a palavra grega linon é substituída por lithon nos manuscritos A e C "vestidos de pedra pura". Desse modo uma só letra que o ouvido menos apurado não entendeu direito e que produziu completa mudança de sentido, torna-se erro grosseiro e hilariante.
3) Falhas da Mente: Quando a mente do escriba o traía, chegava a cometer erros que variavam desde a substituição de sinônimos, como o caso da preposição ek por apo, até a transposição de letras dentro de uma palavra, como o caso de Jo.5:39, onde Jesus disse "porque elas dão testemunho de mim" (ai marturousai) e o escriba do manuscrito D escreveu "porque elas pecam a respeito de mim" (hamartanousai).
B) Erros Intencionais: Erros que não se originaram de negligência ou distração dos escribas, mas antes de suspeita de alteração, principalmente doutrinária.
1) Harmonização: Ao copiar os sinópticos, o escriba era levado a harmonizar passagens paralelas. E’ o caso de Mt.12:13 onde se lê "...estende a tua mão. E ele estendeu; e ela foi restaurada como a outra". Em alguns manuscritos de Marcos o texto para em "restaurada", sendo que em outros o escriba acrescentou as palavras "como a outra" para harmonizá-lo com Mateus.
Outro tipo de harmonização ocorre quando os escribas faziam o texto do N.T. conformar-se com o A.T. Por exemplo, em Mc.1:1 os escribas do W e Bizantinos mudaram "no profeta Isaias" para "nos profetas" porque verificaram que a citação não é só de Isaias.
2) Correções Doutrinárias: Certo escriba, copiando Mt.24:36 omitiu as palavras "nem o Filho", pois o escriba sabia que Jesus era onisciente, e deduziu que alguém havia cometido erro (Alefe, W, Bizantino).
Os manuscritos da Velha Latina e da Versão Gótica apresentam como acréscimo, em Lc.1:3, a frase "e ao Espírito Santo" como "empréstimo" de At.15:28.
3) Correções Exegéticas: Passagens de difícil interpretação eram alvo dos escribas que tentavam completar o seu sentido através de interpolação e supressões.
Um caso de interpolação encontra-se em Mt.26:15 onde as palavras "trinta moedas de prata" foram alteradas para "trinta estateres" nos MSS D, a e b, afim de definir o tipo de moeda mencionada. Mais tarde outros escribas (dos manuscritos 1, 209 e h) que conheciam os dois textos, juntaram-no produzindo a frase "trinta estateres de prata".
4) Acréscimos Naturais ou de Notas Marginais: Determinado leitor do Códice 1518 anotou nas margens de Tg.1:5 a expressão êgeumatikês kai ouk anthrôpines (espiritual e não humana). Quando este Códice foi copiado, o escriba do manuscritos 603 incluiu esta expressão no texto: "Se alguém de vós tem falta de sabedoria espiritual e não humana, peça-a a Deus...".
VII. AUTENTICIDADE OU GENUINIDADE: Dizemos que um livro é genuíno ou autêntico quando ele é escrito pela pessoa ou pessoas cujo nome ele leva, ou, se anônimo, pela pessoa ou pessoas a quem a tradição antiga o atribui, ou, se não for atribuído a algum autor ou autores específicos, à época que a tradição lhe atribui.
O Credo Apostólico não é genuíno porque não foi composto pelos apóstolos. As Viagens de Gulliver é genuíno, tendo sido escrito por Dean Swift, embora seus relatos sejam fictícios. Atos de Paulo não é genuíno, pois foi escrito por um sacerdote contemporâneo de Tertuliano. Desse modo a autenticidade relaciona-se ao autor e à época do livro, e todos os livros da Bíblia possuem autenticidade comprovada pela tradição histórica e pela arqueologia (Gl.6:11; Cl.4:18).
VIII. CANONICIDADE:
Por canonicidade das Escrituras queremos dizer que, de acordo com "padrões" determinados e fixos, os livros incluídos nelas são considerados partes integrantes de uma revelação completa e divina, a qual, portanto, é autorizada e obrigatória em relação à fé e à prática.
A palavra grega kanon derivou do hebraico kaneh que significa junco ou vara de medir (Ap.21:15); daí tomou o sentido de norma, padrão ou regra (Gl.6:16; Fp.3:16).
A) A fonte da Canonização: A Canonização de um livro da Bíblia não significa que a nação judaica ou a igreja tenha dado a esse livro a sua autoridade canônica; antes significa que sua autoridade, já tendo sido estabelecida em outras bases suficientes, foi consequentemente reconhecida como pertencente ao cânon e assim declarado pela nação judaica e pela igreja cristã.
B) O Critério Canônico (do Novo Testamento): Adotam-se 5 critérios canônicos.
1) Apostolicidade: O livro deveria ter sido escrito por um dos apóstolos ou por autor que tivesse relacionamento com um dos apóstolos (imprimatur apostólico).
2) Universalidade: Quando era impossível demonstrar a autenticidade apostólica, o critério de uso e circulação do livro na comunidade cristã universal era considerado para sua aferição canônica. O livro deveria ser aceito universalmente pela igreja para dela receber o seu imprimatur.
3) Conteúdo do Livro: O livro deveria possuir qualidades espirituais, e qualquer ficção que nele fosse encontrada tornava o escrito inaceitável.
4) Inspiração: O livro deveria possuir evidências de inspiração.
5) Leitura em Público: Nenhum livro seria admitido para leitura pública na igreja se não possuísse características próprias. Muitos livros eram bons e agradáveis para leitura particular, mas não podiam ser lidos e comentados publicamente, como se fazia com a lei e os profetas na sinagoga. É a esta leitura que Paulo exorta Timóteo a praticar (ITm.4:13).
C) Conclusão da Canonização (do Novo Testamento)
1) Concílio Damasino de Roma em 382 d.C.
2) Concílio de Cartago em 397 d.C.
IX. ANIMAÇÃO: É o poder inerente à Palavra de Deus para transmitir vitalidade ou vida ao ser humano.
O Sl.19:7 diz que "a lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma..." e no versículo 8 diz que "os preceitos do Senhor são retos, e alegram o coração..."
Somente algo que tem vida pode transmitir vida, e por isso mesmo somente a Bíblia, e nenhum outro livro pode fazê-lo, pois a Bíblia sendo a Palavra de Deus é viva: "A Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração"(Hb.4:12).
A) A Palavra de Deus é Viva: O elemento da vida que aqui se declara é mais do que aquilo que agora tem autoridade em contraste com o que já se tornou letra morta; é mais do que alguma coisa que fornece nutrição. Mas as Escrituras são vivas porque é o hálito (espírito) do Deus Vivo (Jo.6:63; Jó 33:4). Assim tanto a Palavra Escrita (Logos) como a Palavra Falada (rêma) são possuidoras de vida. Não há diferença essencial entre elas, pois são apenas duas formas diferentes dela existir.
O trecho de Hb.4:12 diz que a Palavra de Deus é viva, e eficaz, é cortante, penetra e discerne.
Em IPe.1:23 lemos que a Palavra de Deus vive e permanece para sempre. Assim a Palavra de Deus possui vida eternamente (Sl.19:9;119:160).
B) A Palavra de Deus é Eficaz: A palavra grega usada neste trecho é energês de onde temos a palavra energia. Trata-se da energia que a vida vital fornece. Por isso a Palavra de Deus é comparada a uma poderosa espada de dois gumes com poder para cortar, penetrar e discernir. Quando o Espirito Santo empunha a Sua espada(Ef.6:17) uma energia é liberada dela para animar e realizar o seu propósito (Is.55:10,11). E’ com este poder inerente à Palavra de Deus que o Espirito Santo convence os contradizentes (Jo.16:8; ICo.2:4) porque a Palavra de Deus é como uma dinamite com poder (dinamos, Rm.1:16) para salvar e destruir
(IICo.10:4,5;IICo.2:14,17; IJo.2:14; Jr.23:24).
A Palavra de Deus é como um nutriente alimento que fornece forças (IPe.2:2; Mt.4:4). Paulo escrevendo aos tessalonicenses, revela sua gratidão a Deus por haverem eles recebido a Palavra de Deus a qual estava operando (energizando) eficazmente neles (ITs.2:13). Paulo conhecia o poder da Palavra de Deus, por isso recomendou aos anciãos da igreja que a observassem porque ela "tem poder para edificar e dar herança entre todos os que são santificados" (At.20:32; Jo.5:39).
1) É eficaz na regeneração: Comparada com a "água" (Jo.3:5; Ef.5:26), a Palavra de Deus tem poder para regenerar, pois ela coopera com o E.S. na realização do novo nascimento (IPe.1:23; Tt.3:5; Jo.15:3; Ez.36:25-27; Jo.6:63; Tg.1:18,21; ICo.4:15; Rm.1:16).
2) É eficaz na santificação: A Palavra de Deus tem poder para santificar (Jo.17:17; Ef.5:26; Ez.36:25,27; IIPe.1:4; Sl.37:31;119:11). Com efeito, a santificação é pela fé (At.15:9 e 26:18) e a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm.10:17).
3) É eficaz na edificação: A Palavra de Deus tem poder para edificar (IPe.2:2; At.20:32; IIPe.3:18).
X. PRESERVAÇÃO: É a operação divina que garante a permanência da Palavra Escrita, com base na aliança que Deus fez acerca de Sua Palavra Eterna (Sl.119:89,152; Mt.24:35; IPe.1:23; Jo.10:35).
Os céus e a terra passarão (Hb.12:26,27; IIPe.3:10) mas a Palavra de Deus permanecerá (Mt.24:35; Hb.12:28; Is.40:8; IIPe.1:19).
A preservação das Escrituras, como o cuidado divino para a sua criação e formação do cânon, não foi acidental, nem incidental, mas sim o cumprimento de uma promessa divina. A Bíblia é eterna, ela permanece porque nenhuma Palavra que Jeová tenha dito pode ser removida ou abalada; nem uma vírgula ou um ponto do testemunho divino pode passar até que seja cumprido.
"Quando pensamos no fato da Bíblia ter sido objeto especial de infindável perseguição, a maravilha da sua sobrevivência se transforma em milagre... Por dois mil anos, o ódio do homem pela Bíblia tem sido persistente, determinado, incansável e assassino. Todo esforço possível tem sido feito para corroer a fé na inspiração e autoridade da Bíblia, e inúmeras operações têm sido levadas a efeito para fazê-la desaparecer.
Decretos imperiais têm sido passados ordenando que todas as cópias existentes da Bíblia fossem destruídas, e quando essa medida não conseguiu exterminar e aniquilar a Palavra de Deus, ordens foram dadas para que qualquer pessoa que fosse encontrada com uma cópia das Escrituras fosse morta." (Arthur W. Pink. The Divine Inspiration of the Bible = A Inspiração Divina da Bíblia).
A Bíblia permanece até hoje porque o próprio Deus tem se empenhado em preservá-la. Quando o rei Jeoiaquim queimou um rolo das Escrituras, Deus mesmo determinou a Jeremias que rescrevesse as palavras que haviam sido queimadas (Jr.36:27,28), e ainda determinou maldições sobre o rei, por haver tentado destruir a Palavra de Deus (Jr.36:29,31). Ademais Deus acrescentou ao segundo rolo outras palavras que não se encontravam no primeiro (Jr.36:32), pois a Palavra de Deus sempre há de prevalecer sobre a palavra do homem (Jr.44:17,28; At.19:19,20).
Deve ficar esclarecido que Deus tem preservado apenas a Sua Palavra inspirada, aquilo que deve ser considerado como revelação de Deus, e por isso mesmo não foi preservado e não faz parte do Cânon Sagrado (ICr.29:29; IICr.9:29;12:15;13:22;20:34; IICr.24:27;26:22;33:19). Em IICo.7:8 Paulo faz menção a uma segunda carta que não consta do Novo Testamento, sendo que a segunda carta de Coríntios que temos na nossa Bíblia, provavelmente deveria ser a terceira.
Hoje a estratégia de Satanás sobre a Palavra de Deus é diferente, pois já que ele não consegue destruí-la, procura desacreditá-la (negando sua inspiração) e corrompê-la com interpretações pervertidas da verdade (ITm.4:1,2; IITs.2:9-12). A nós pois, como igreja, cabe a responsabilidade de defender e preservar a verdade (ITm.3:15) com o mesmo anseio que caracterizava a vida de Paulo (Fp.1:7,16).
XI. INTERPRETAÇÃO: É a elucidação ou explicação do sentido das palavras ou frases de um texto, para torná-los compreensivos.
A ciência da interpretação é designada hermenêutica, e, em razão de sua abrangência, requer um estudo especial separado da Bibliologia.
A LEITURA DIVINA DA BÍBLIA (Lectio Davina)
É de suma importância que o cristão se aprofunde na Lectio Divina para o seu conhecimento e discernimento. A Lectio Divina significa a Leitura Divina da Bíblia, com fidelidade que alimente a sua fé, esperança e amor. Essa leitura sempre foi a espinha dorsal da cristandade.
No livro de Deuteronômio está registrado que “A palavra está muito perto de ti: na tua boca, e no teu coração para que ponhas em prática” (Dt. 30.14). Na boca, pela leitura; no coração, pela meditação e; pela oração e na prática pela contemplação.
Essa é a base da Lectio Divina, pois o seu objetivo é comunicar a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Jesus Cristo o Senhor (II Tm. 3.15), como também instruir, refutar, corrigir, formar na justiça e, assim, qualificar o homem de Deus para toda boa obra (II Tm. 3.16-17); também para proporcionar perseverança, consolo e esperança (Rm. 15.4) e, por fim, para ajudar-nos a aprender dos erros dos antepassados (I Cor. 10.6-10).
A Lectio Divina possui quatro fundamentos básicos para o nosso conhecimento de Deus e da Sua vontade.
• Leitura: Devemos compreender que o primeiro passo para a compreensão bíblica é a leitura. A leitura faz com que eu e você conheçamos e amemos a Palavra de Deus. Alguém já disse que não se ama o que não se conhece. Assim, a leitura deve ser perseverante e diária. Esse fundamento é de suma importância para a comunidade da fé;
• Meditação: A leitura se preocupa com o que diz o texto? A meditação vai responder à pergunta sobre o que o texto está dizendo? É na meditação que conseguimos perceber o que Deus está dizendo para nós hoje (Lc. 2.19).
• Oração: Tudo deve ser regado com oração, fundamento central de tudo. Na leitura e na meditação Deus fala conosco; na oração, nós falamos com Deus. A oração é a nossa resposta para a inquietação que a Palavra de Deus cria no nosso coração. Na oração exteriorizamos que dependemos completamente de Deus em tudo e, principalmente, da compreensão da Sua Palavra, através do Santo Espírito que nos ensina em tudo;
• Contemplação: Na contemplação, olhamos o mundo pela ótica divina, uma vez que a leitura, a meditação e a oração geram em nós uma nova visão do mundo. A contemplação não só medita na palavra, mas também realiza; não só ouve, mas também a pratica; na contemplação, não nos afastamos do mundo, mas olhamos o mundo de maneira divina, encarnando o nosso papel de ser sal e luz do mundo;
Assim, para que haja crescimento em nós, precisamos ler a Bíblia diariamente. Não podemos cair na armadilha de que já sabemos tudo, que não precisamos de mais nada. Além de orgulho carnal, isso é um atraso para a vida de qualquer crente.
O princípio de Maria, que optou por assentar-se aos pés de Jesus, deve ser um modelo para nós, na leitura da Bíblia (Lc. 10.39-40). É a partir disso que fazemos exegese contemplativa para a alma.
Como temos falado, estudar a Bíblia é algo muito prazeroso e importante para todos nós. A Bíblia nos incentiva a sempre lermos a Palavra do Senhor, sem interesse simplesmente de conhecê-la.
O salmista diz com clareza: “Guardo no coração as tuas Palavras para não pecar contra ti.” (Sl. 119.11). “E de que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra.” (Sl. 199.9). Veja o que diz o Salmo 1 sobre isso:
Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita de dia e de noite. É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!
Cremos, como cristãos, que a Bíblia foi Inspirada por Deus e que tem autoridade, por ser a Sua revelação. Neste sentido, cremos piamente que a Bíblia tem a palavra final no que tange à Ortodoxia (Doutrina) e também à Ortopraxia (Vida Cristã). Os cristãos sinceros não podem abrir mão disso.
Como devemos estudar a Bíblia
Muitas pessoas dizem que não conseguem ler a Bíblia, argumentando que ela foi escrita para os intelectuais, pastores, professores, teólogos, etc. Essas afirmações, na verdade, não expressam o que a própria Bíblia diz: é dever de todo o cristão conhecer os caminhos do Senhor, ou seja, ler a Bíblia.
É importante que os crentes compreendam que o estudo da Bíblia deve ser algo sério e constante e não apenas leviano e superficial. Assim, para que haja uma perfeita compreensão da Palavra de Deus, o cristão deve se submeter a algumas orientações:
a) Você deve arrumar tempo para ler a Bíblia: Muitos cristãos gastam tempo com tantas coisas dessa vida fugaz, mas não gastam tempo lendo, estudando e meditando sobre as mensagens da Bíblia. Marque um tempo diário e responsável para essa atividade;
b) Faça um plano de leitura: Quando a leitura é planejada, a pessoa não fica divagando, abrindo a Bíblia aleatoriamente. Para isso, você pode preparar a leitura de um livro, da Bíblia toda, ou parte dela, como as epístolas, os Salmos, etc.;
c) O cristão pode usar materiais extras no seu estudo da Bíblia, como um dicionário bíblico, a concordância bíblica, comentários bíblicos. São ferramentas que auxiliam o leitor no entendimento das Escrituras;
d) Ler diariamente a Bíblia: O cristão não deve ler a Bíblia só quando sentir vontade para isso, mas ter uma disciplina de leitura;
e) Estude a Bíblia: Enquanto estuda, faça anotações daquilo que Deus está mostrando;
f) No seu estudo, faça perguntas sobre aplicação pessoal da Bíblia: Qual é o assunto principal? Quais os princípios e valores dessa passagem que posso tirar para a minha vida? Há algum exemplo que devo seguir? Há algum erro que devo evitar? Há algum pecado que devo abandonar? Há alguma promessa que devo me apropriar? Há alguma ordem que devo obedecer? Qual é a lição principal?
g) Devemos ser leitores-repórteres: Os estudiosos dizem que devemos perguntar sobre tudo. Existem seis perguntas básicas que são importantes para o nosso aprofundamento no texto: Quem? O que? Onde? Quando? Por quê? Como?. Também podemos perguntar: A quem foi escrita a carta ou o livro? Qual foi o pano de fundo do escritor? Qual foi a experiência ou ocasião que deu origem à mensagem? Quem são os principais personagens?
h) O Espírito Santo dá o entendimento: O estudante da Bíblia deve depender completamente do Espírito Santo para o seu estudo das Escrituras Sagradas;
i) Aprendizagem inclui pedidos de ajuda: O estudante da Bíblia deve ter a humildade de pedir ajuda para os seus líderes e mestres, pois Deus capacita pessoas para auxiliar Seus filhos no caminho seguro da verdade.
Conclusão
Que cada um de nós possa meditar na Lei do Senhor de dia e de noite, pois só assim seremos prósperos na nossa caminhada. Devemos fazer conforme o salmista Davi que escondeu a Palavra no coração para não pecar contra o Senhor (Sl 119.11).
Deus condicionou a aprovar a chamada de Josué se tão somente ele meditasse na sua Lei (Js 1.8); a única maneira de o homem se purificar, se santificar, se regenerar, para poder entrar nos céus é observando conforme a sua Palavra.
Que Deus nos ajude não só a meditar, mas principalmente a guardar os seus ensinamentos para podermos entrar nos céus pelas portas.
Fiquem com Deus e a Paz do Senhor Jesus.
Em breve estaremos ce volta com a 9ª parte deste estudo.
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