Por: Jânio Santos de Oliveira
Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra
Pastor Presidente: Eliseu Cadena
Contatos 0+operadora (Zap)21 987704458
Email ojaniosantosdeoliveira@gmai.com
Resumo da matéria
1. A PROVIDÊNCIA SALVADORA
2. QUATRO ASPECTOS DA PROVISÃO DE CRISTO QUANTO À SALVAÇÃO
3. ARREPENDIMENTO
4. Fé
5. A JUSTIFICAÇÃO
6. A REGENERAÇÃO
7. A ADOÇÃO
8. A SANTIFICAÇÃO
9. ADVERTÊNCIAS E PROMESSAS
10. A GLORIFICAÇÃO
JUSTIFICAÇÃO
1. Definição
A justificação pela fé
é a verdade fundamental da provisão de Deus para a salvação dos pecadores
culpados e perdidos. Essa foi a grande verdade que a Reforma protestante
restituiu à igreja cristã. É frequentemente mencionada nas Escrituras, sendo no
entanto uma das doutrinas mais negligenciadas e mal interpretadas em toda
teologia evangélica.
Sua natureza é tão
extensa e surpreendente que muitos temem ensiná-la e crer nas declarações
bíblicas pertinentes. Ela deve ser, porém, compreendida, caso devamos tomar
ciência dela e compreender por completo a "tão grande salvação" (Hb
2:3) que Deus ofereceu graciosa e livremente.
A regeneração e a
justificação são doutrinas intimamente relacionadas.
A regeneração está
ligada ao que acontece no coração do crente. A justificação refere-se à posição
dele diante de Deus.
A regeneração diz
respeito à doação da vida; a justificação, ao homem ser declarado justo aos
olhos de Deus.
A regeneração é a
resposta divina ao problema da morte espiritual; a justificação é a resposta
divina ao problema da culpa.
Justificação é um termo
legal que descreve o pecador diante do tribunal de Deus para receber condenação
pelos pecados que cometeu. Mas, em vez de ser condenado, ele é judicialmente
pronunciado inocente, sendo declarado justo por Deus.
A justificação tem sido
definida como "o ato de Deus pelo qual Ele declara justo aquele que crê em
Cristo".
Observe que não é o pecador que é justo, mas
ele é declarado justo com base em sua fé no sacrifício do Senhor Jesus Cristo.
"Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça" (Rm 4:3).
Justificação é mais que perdão, ou perdão de pecados e
a remoção da culpa e
condenação. Essas coisas são negativas - o afastamento do pecado.
A justificação é também
positiva - o cálculo ou colocação, em nossa conta, da justiça perfeita de
Cristo. "Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte
de Deus sabedoria, e justiça ... " (1 Co 1:30). "Aquele que não
conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus" (2 Co 5:21).
A justificação inclui a
libertação do crente em relação à ira divina e também sua aceitação como justo
aos olhos de Deus.
Ao justificar o
pecador, Deus o coloca na posição de um justo.
É como se ele nunca
tivesse pecado.
Perto da cidade de
Kingston, Ontário, no Canadá, há alguns anos, um homem entrou pela porta da
cozinha e começou a se aproximar da dona da casa quando ela preparava o jantar.
Ela gritou pelo marido, que estava em outro
aposento da casa, e este imediatamente foi socorrê-la, agarrando o homem pelo
colarinho e atirando-o porta a fora.
De manhã, quando saía
de casa, o marido encontrou, para sua surpresa, o intruso caído morto nos
degraus.
Jamais ficou
determinado se o homem morreu com o impacto
da queda, ou se apenas
desmaiou e morreu enregelado pelo frio da noite de inverno.
O fazendeiro, homem
honesto, imediatamente foi à cidade e se entregou à polícia.
Dias mais tarde
realizou-se um inquérito. Toda evidência que pôde ser reunida foi apresentada e
devidamente registrada pelo escrivão da corte. Depois de ouvidas as
testemunhas, e todos os registros completamente transcritos e considerados, o
juiz virou-se para o fazendeiro e disse: "Aos olhos deste tribunal você
está justificado." Isso significa que cada traço de evidência reunido
durante o interrogatório devia ser destruído.
Se alguém fosse a Kingston hoje, não
encontraria evidência alguma desse caso.
Todos os registros
foram cancelados.
Quando Deus justifica o
pecador, que confia na graça salvadora de Jesus Cristo, toda evidência do seu
pecado e culpa é completamente apagada. "Naqueles dias, e naquele tempo,
diz o Senhor, buscar-se-á a iniquidade de Israel, e já não haverá; os pecados
de Judá, mas não se acharão; porque perdoarei aos remanescentes que eu
deixar" (Jr 50:20).
Esta é uma declaração
notável, pois certamente os reinos de Israel e Judá possuíam inúmeros pecados,
cuja culpa estava sobre eles. Mas quando Deus perdoa, Ele esquece. "Esta é
a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei nos
seus corações as minhas leis, e sobre as suas mentes as inscreverei...
Também de nenhum modo
me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre" (Hb
10:16,17). Isto é espantoso em si mesmo, pois Ele é o Deus onisciente.
Ele sabe de todas as
coisas. A única coisa que nos é dito que Deus esquece são os pecados daquele
que confia na sua grande salvação. Deus não vê assim os crentes como pecadores
perdoados, mas sim como aqueles que nunca pecaram.
2. O que está envolvido
na justificação?
a) Perdão ou remissão
de pecados. "Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia
remissão de pecados por intermédio deste; e por meio dele todo o que crê é
justificado de todas as cousas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés" (At
13:38,39). "No qual temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos
pecados, segundo a riqueza da Sua graça" (Ef 1:7). "E a vós outros,
que estáveis mortos pelas vossas transgressões, e pela incircuncisão da vossa
carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos"
(Cl 2:13).
Em vista de os pecados
do crente serem totalmente perdoados, segue-se que a culpa e o castigo desses
pecados são também removidos.
Restauração ao favor de
Deus. O pecador não incorreu simplesmente numa penalidade, mas perdeu também o
favor de Deus, estando assim sujeito à Sua ira. " ... 0 que, todavia, se
mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de
Deus" (Jo 3:36). "A ira de Deus se revela do céu contra toda
impiedade e perversão dos homens" (Rm 1:18). Através da justificação tudo
isto mudou. "Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue,
seremos por ele salvos da ira" (Rm 5:9). Um dos grandes problemas na
sociedade de hoje tem a ver com a reabilitação dos que foram presos por terem
cometido um crime. Embora tenha pago seu débito com a sociedade, é difícil para
tal pessoa entrosar-se novamente na comunidade. Ela conserva a marca do crime,
não sendo bem recebida por aqueles que a conheceram antes.
Este é o motivo pelo qual uma grande proporção
dos que foram encarcerados voltam à companhia dos elementos marginais e são
muitas vezes presos e sentenciados a outro período de prisão.
Graças a Deus, por sua
graça ser tão abundante, somos recebidos em seu favor como se jamais tivéssemos
transgredido as suas leis.
"Justificados,
pois, mediante a fé, tenhamos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça
na qual estamos firmes; e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus" (Rm
5:1,2). "Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso
Salvador, e o seu amor para com os homens, não por obras de justiça praticadas
por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar
regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós
ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados
por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida
eterna" (Tt 3:4-7).
Esta restauração ao
favor é ilustrada para nós na parábola do filho pródigo: "O Pai, porém,
disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; vesti-o, pode-lhe um
anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado.
Comamos e
regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e
foi achado.
E começaram a
regozijar-se" (Lc 15:22-24). Esta restauração é
confirmada por P.B.
Fitzwater: 1/ A partir desses textos é visto que a justificação é muito mais do
que remissão ou absolvição de pecados. O homem justificado é mais que um
criminoso posto em liberdade. Ele é restaurado à posição daquele que é justo.
Deus o trata como se
jamais tivesse pecado.'?'
c) Imputação da justiça
de Cristo. Thiessen diz muito bem: "O
pecador não deve ser
apenas perdoado de seus pecados passados, mas também provido de uma justiça
positiva antes de poder entrar em comunhão com Deus.
Esta necessidade é
suprida na imputação da justiça de Cristo ao cristão.
E é assim também que
Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça,
independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são
perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem aventurado o homem a quem o Senhor
jamais imputará pecado" (Rm 4:6-8). [ames Buchanan, D.D., LL.D. Professor
de Divindade, New College, Edinburgh, escreveu um livro abrangente sobre a
doutrina da justificação, publicado pela primeira vez em 1867, no qual diz:
"De fato, a justificação consiste parcialmente na 'não imputação' do
pecado, que pertencia ao crente, e parcialmente na 'não imputação' da justiça,
da qual ele se encontrava absolutamente destituído antes.
O sentido de um pode
ser verificado pelo sentido do outro, embora ambos sejam necessários para a
expressão do pleno significado da justificação.
Toda comunhão com um Deus santo deve ser na
base da justiça. Nos primeiros dois capítulos e meio da epístola aos Romanos,
Paulo trata de todas as classes sociais e mostra que não possuem justiça
própria.
Ele resume sua análise com as palavras:
"Ora, sabemos que tudo o que a lei diz aos que vivem na lei o diz, para
que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que
ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei
vem o pleno conhecimento do pecado" (Rm 3:19,20). Este é um quadro
sombrio, sem esperanças! Mas não é o fim da história. Paulo continua: "Mas
agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas; justiça de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, para todos e sobre
todos os que creem" (Rm 3:21,22). "Aquele que não conheceu pecado,
ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus"
(2 Co 5:21). Este versículo sugere a dupla imputação presente na justificação:
nossos pecados foram atribuídos a Cristo, que não tinha Ele mesmo pecado; a
justiça de Cristo é atribuída ao crente, que não possuía qualquer justiça.
A justiça é absolutamente necessária para a
comunicação com Deus, mas homem algum possui justiça própria. Portanto, Deus
imputa ao crente a justiça de Jesus Cristo. Muitas vezes ouvimos Romanos 1:16
citado nos testemunhos: "Pois não me envergonho do evangelho, porque é o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê." Mas o testemunho
geralmente para nesse ponto. Por que o evangelho é o poder de Deus para a
salvação? O v.17 supre a resposta: "Visto que a justiça de Deus se revela
no evangelho, de fé em fé." A justiça de Cristo é provida, através do
evangelho, àqueles que creram nele.
Um criminoso perdoado
jamais é descrito como um homem bom ou justo.
Mas quando Deus
justifica o pecador, Ele o declara justo aos seus olhos. "Quem intentará
acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8:33).
Se Deus justificasse
somente pessoas boas, não haveria então evangelho para o pecador. Mas, graças a
Deus, Ele justifica os ímpios. A justiça recebida pelo pecador é nada menos que
a justiça de Cristo atribuída a ele. Imputar significa" colocar na conta
de". A justificação pela fé não transmite nem confere ao pecador a justiça
de Cristo, de modo que se torne parte da sua natureza interior.
Esse é o resultado da
santificação, que consideraremos mais tarde. A justificação confere ao pecador
a justiça perfeita de seu Filho. "Esta justiça - sendo mérito de uma obra
e não uma simples qualidade de caráter - pode tornar-se nossa, ao ser-nos
imputada, mas não tem condições de ser comunicada por transmissão. Ela deve
continuar a pertencer, principalmente, e num aspecto importante, exclusivamente
a Ele, por quem essa obra foi realizada."?' Mas como Deus pode fazer isto?
Como um Deus santo e justo, que não pode tolerar o pecado, declara justo alguém
nascido no pecado e portanto culpado não só pela natureza como pela prática?
3. O método da
justificação
É importante
compreendermos o método pelo qual Deus justifica o pecador.
A justificação é a base
de nossa posição diante de Deus. Não se trata de algo que pode ser simplesmente
considerado como certo. Deus não pode passar por cima do pecado devido à
bondade do seu coração. Ele precisa preservar sua santidade e justiça.
Ele deve ser " ...
justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3:26).
Existe um meio definido
pelo qual os pecadores podem ser declarados justos, e em separado deste caminho
tal coisa não é possível. Uma observação estranha sobre o coração pecaminoso da
humanidade é que, merecendo a condenação eterna como merece, e sendo-lhe
oferecido um tão grande dom como a justificação da sua vida diante de Deus, o
homem se queixa do método divino. Só há um caminho - o caminho de Deus! Vamos
nos alegrar nele, tendo o cuidado de notar os detalhes que são dados na Palavra
de Deus.
a) Independente de boas
obras. Se há uma verdade que o Novo
Testamento deixa clara
é que homem algum é justificado com base em sua própria retidão - suas boas
obras.
"Porque se Abraão
foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém, não diante de Deus.
Pois que dizia a Escritura? Abrão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para
justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim,
como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio,
a sua fé lhe é atribuída como justiça" (Rm 4:2-5). "Assim, pois,
também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da
graça. E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é
graça" (Rm 11:5,6).
b) Independente do
empenho em cumprir a lei
"Ora, sabemos que
tudo o que a lei diz aos que vivem na lei o diz, para que se cale toda boca, e
todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado
diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento
do pecado ... pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm
3:19,20,23).
"Sabendo, contudo,
que o homem não é justificado por obras da lei, e sim, mediante a fé em Cristo
Jesus, também nós temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados
pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras da lei ninguém será
justificado" (GI 2:16).
Em teoria, seria
possível ser salvo cumprindo a lei, se alguém pudesse observá-la completamente.
Mas todos quebramos a lei de Deus no passado e somos incapazes de cumpri-la
perfeitamente no futuro. Paulo torna claro que não temos
esperança neste
sentido: "Tantos quantos, pois, são das obras da lei, estão debaixo de
maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas
as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las" (Gl 3:10).
Não que haja nada de
errado com a lei em si. Paulo afirma: "A lei é santa, e o mandamento
santo, justo e bom" (Rm 7:12).
O problema está com aqueles que não podem
cumpri-la. A lei serve para fazer os homens compreenderem que são pecadores.
"Pela lei vem o pleno conhecimento do pecado" (Rm 3:20). A lei é como
um despertador que tem a capacidade de acordar-nos, mas não consegue tirar-nos
da cama. É como a escala de vôo de um avião que lhe diz a hora em que ele vai
partir, mas não pode garantir que você vai estar no aeroporto a tempo. Romanos
8:3 diz que a lei é "enferma pela carne".
É triste ver aqueles
que estão dependendo de suas boas obras ou sacrifícios, na esperança de
encontrar perdão dos pecados e paz com Deus. Um missionário observou uma mãe na
Índia, aproximando-se do rio sagrado com uma criança fraca e pálida em seus
braços, enquanto um garoto robusto e sadio corria ao seu lado.
Algum tempo mais tarde
ele a viu voltando do lugar de sacrifício só com a criança doente. "Mãe da
Índia", ele perguntou, "onde está o menino sadio e bonito que a
acompanhava?" Ela respondeu: "Quando sacrificamos ao nosso Deus,
sempre damos o melhor."
Para que não haja
qualquer mal-entendido a respeito dos ensinos de Paulo e Tiago, e possa ser
assim imaginada uma contradição, note o seguinte: "Concluímos, pois",
diz Paulo, "que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras
da lei" (Rm 3:28). "Verificais", diz Tiago, "que uma pessoa
é justificada por obras, e não por fé somente" (Tg 2:24).
Não pode haver
contradição entre esses dois homens porque ambos foram inspirados pelo mesmo
Espírito Santo. Eles estão escrevendo sobre dois aspectos diferentes do mesmo
assunto. Paulo nos diz que a salvação é pela fé somente e não pelas obras;
enquanto Tiago insiste em que a fé sincera irá resultar em boas obras.
Efésios 2:8- 10 fala de
ambos os aspectos: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto
não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
Pois somos feitura
dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas." Assim sendo, a fé que salva sem obras
produzirá boas obras. A fé é invisível. Ela só pode ser julgada por aquilo que
o homem faz. Tiago diz, portanto: "Mostra-me essa tua fé sem as obras, e
eu, com as obras, te mostrarei a minha fé" (Tg 2:18). A fé possuída por
Abraão, "e isso lhe foi imputado para justiça" (Tg 2:23),
manifestou-se "quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque"
(Tg 2:21). O ato externo demonstrou claramente a fé interior.
c) Pelo dom da graça de
Deus. A justificação não pode ser obtida
através de esforço
próprio nem por mérito próprio. Ela só é recebida através da graça de Deus.
"Sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que
há em Cristo Jesus" (Rm 3:24). "A fim de que, justificados por graça,
nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna" (Tt 3:7).
O que é graça? A palavra "graça" (do grego charis, da qual obtivemos
o nosso "carismático") significava originalmente "beleza"
ou 1/ comportamento apreciado". Ela foi mais tarde usada para indicar
qualquer favor concedido a outrem, especialmente quando quem o recebia não o
merecia. Os escritores bíblicos tomaram de empréstimo esta palavra e, sob a
orientação de Deus, a revestiram de um novo significado; de modo que no Novo
Testamento ela em geral indicava o perdão de pecados concedido inteiramente
pela bondade de Deus, em
separado de qualquer
mérito por parte da pessoa perdoada. A graça abençoa o homem em face de toda a
sua falta de mérito e demérito positivo. Alguém disse: Alimentar o vadio que me
procura é favor imerecido, porém dificilmente seria considerado graça.
Mas alimentar um vadio que me roubou seria
graça." Graça é
favor mostrado quando
existe um demérito positivo.
A graça não é apenas
algo expresso por Deus. É uma expressão do que Ele é.
"A graça é a
atitude por parte de Deus que tem origem nele mesmo, não sendo absolutamente
condicionada por qualquer coisa nos objetos do seu favor." O Dr. Henry C.
Mabie é citado como tendo dito: A graça é um benefício comprado para nós pelo
tribunal que nos considerou culpados'" A definição de graça pelo Dr.
Fitzwater é a seguinte: "Aplicada à salvação, a graça significa que aquilo
que o Deus santo e justo exige de nós foi provido por Ele mesmo ... Deus, na
sua graça, não está tratando com criaturas inocentes, mas com pecadores sob uma
condenação
justa e reta. Na graça,
o que a justiça de Deus exige Ele supre.?" A.W. Pink escreveu: "A
graça é uma provisão para homens tão decaídos que não podem ajudar a si mesmos,
tão corruptos que não podem mudar a sua natureza, tão inimigos de Deus que não
conseguem voltar-se para Ele, tão cegos que não podem vê-lo, tão surdos que não
podem ouvi-lo, tão mortos que Ele mesmo precisa abrir suas sepulturas e
levantá-los para a ressurreição."
d) Através do sacrifício
substitutivo de Jesus Cristo.
Deus não pode perdoar
nossos pecados apenas por ser gracioso. Como um Deus de justiça, Ele não pode
simplesmente ignorar nosso pecado. Seu perdão baseia-se nos termos estritos da
justiça. A pena pelos nossos pecados foi paga - paga pelo próprio Senhor Jesus
Cristo. Os pecados do crente são imputados a Cristo.
"Carregando ele
mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos ao
pecado, vivamos para a justiça" (2 Pe 2:24). "Aquele que não conheceu
pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de
Deus" (2 Co 5:21). Deus pode perdoar pecados porque a lei foi preservada e
o castigo pela sua transgressão, pago. Cristo não pagou somente a pena por
nosso pecado, mas a sua perfeita obediência à lei supriu a justiça que Deus
pôde imputar à nossa conta. "Porque, como pela desobediência de um só
homem muitos se
tornaram pecadores,
assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos"
(Rm 5: 19). Temos assim a surpreendente situação em que Cristo toma sobre si
nosso pecado, enquanto sua justiça nos é concedida. Que troca incrível!
Todavia, é exatamente isso que Deus oferece aos que quiserem crer.
e) Somente através da
fé "Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção
que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação,
mediante a fé
... tendo em vista a
manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o
justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3:24-26). "Mas ao que
não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é
atribuída como
justiça" (Rm 5:1).
"Porque com o
coração se crê para a justiça" (Rm 10:10).
"Sabendo, contudo,
que o homem não é justificado por obras da lei, e sim, mediante a fé em Cristo
Jesus, também nós temos crido em Jesus para que fôssemos justificados pela fé
em Cristo, e não por obras da lei, pois por obras da lei ninguém será
justificado" (GI 2:16).
Quando declaramos que
somos justificados pela fé, devemos compreender que a fé não é algo que
oferecemos meritoriamente a Deus pela nossa salvação.
Ela é apenas o meio
pelo qual recebemos a sua provisão graciosa. Podemos dizer sobre a fé, como
dissemos sobre o arrependimento, citando Thiessen: "Não somos salvos por
nossa fé, mas através da nossa fé."
Dois outros fatos
devemos ter em mente: primeiro, a ressurreição de Cristo é a garantia da nossa
justificação. "O qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e
ressuscitou por causa da nossa justificação" (Rm 4:25).
O fato de Deus ter
levantado Jesus dentre os mortos é um testemunho de que se satisfez com o
sacrifício feito por Jesus, e que nossos pecados, que tomou sobre si,
desapareceram.
Ela é o selo de
aprovação do Pai sobre a morte expiatória de Cristo.
Segundo, a justificação é completa. Não há graus na justificação. A criança em Jesus Cristo se encontra na mesma justificação que o crente de cinquenta anos.
Não existe progresso na
justificação.
Na próxima matéria falaremos sobre a regeneração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário