Por: Jânio Santos de Oliveira
Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!
Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra no texto de Hebreus 4.13-16; Provérbios 15:3; Salmos139.7-10 que nos diz:
13 E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.
14 Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão.
15 Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
16 Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.
Provérbios 15:3
³ Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus
Salmos139.7-10
7 Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?
8 Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também.
9 Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,
10 Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.
Pessoas que tentaram se esconder de Deus e de sua missão
I. Visão geral de como deva ser o nosso caráter.
II. Personagens bíblicos que tentaram se esconder de Deus
III. Adão e Eva: Tentaram se esconder do Senhor
IV. Abraão: Engano e Medo o fez se esconder no Egito e mentir
V. Moisés: Escondeu-se em Midiã, após matar o egípcio.
VI. Gideão: Evitando o Chamado de Deus se mostrou incapaz.
VII. Saul: Escondeu-se entre as bagagens para não assumir o trono.
VIII. Elias: Escondeu-se numa caverna com medo de jezabel.
IX. Jonas: Tentou esconder-se de Deus por não gostar dos ninivitas.
X. Pedro: Tentou esconder-se entre os inimigos de Jesus e o negou.
XI. Os discípulos no Caminho de Emaús: Tentou distanciar de Jesus.
XII. Saulo: Tentou esconder-se numa falsa religião; mas Jesus o encontrou.
XIII. É impossível fugir da presença de Deus
XIV. José foi um exemplo de testemunho longe de sua família
XV. Onde você está escondido?
Estamos de volta, desta vez para apresentar uma série de conferências sobre como deva ser o nosso caráter e a nossa integridade no dia-a-dia não só diante de Deus, mas também diante dos homens.
Agora estaremos apresentando o seguinte assunto:
9. Saulo tentou esconder-se numa falsa religião.
Atos 8.1-3; 22.4-5; 26.9-11
Atos 8
1- E também Saulo consentiu na morte dele [Estevão]. E fez-se, naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos.
2- E uns varões piedosos foram enterrar Estevão e fizeram sobre ele grande pranto.
3- E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão.
Atos 9.1-9
1- E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo-sacerdote,
2- e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens, quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém.
3- E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.
4- E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
5- E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.
6- E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer.
7- E os varões, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém.
8- E Saulo levantou-se da terra e. abrindo os olhos, não via a ninguém. E guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.
9 – E esteve três dias sem ver, e não comeu, nem bebeu.
Atos 22
4- Perseguiu este Caminho até a morte, prendendo e metendo em prisões, tanto homens como mulheres,
5- como também o sumo sacerdote é testemunha, e todo o conselho dos anciãos; e, recebendo destes cartas para os irmãos, fui a Damasco, para trazer manietados para Jerusalém aqueles que ali estivessem, a fim de que fossem castigados.
Atos 26
9- Bem tinha eu imaginado que contra r o nome de Jesus, o Nazareno, devia eu. praticar muitos atos,
10- o que também fiz em Jerusalém. E, e havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os matavam, eu dava o meu voto contra eles.
11 – E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente e contra eles, até nas cidades estranhas os persegui.
A história da expansão da Igreja no livro de Atos mostra um fariseu zeloso: Saulo de Tarso. Este tinha prestígio religioso e cultural entre os judeus. Por isso, ele ganhou “carta branca” das autoridades religiosas para perseguir os seguidores de Jesus e, assim, tornar-se um implacável perseguidor da Igreja de Cristo do primeiro século.
A prisão, condenação e morte de Jesus resultaram das perseguições das autoridades religiosas de Jerusalém. Desde então, os discípulos tiveram que se esconder, e o ambiente continuava hostil contra os seguidores de Cristo. Depois do Pentecostes, aumentaram ainda mais a rejeição e o ódio contra os discípulos de Jesus. Com o poder do Espírito recebido no Pentecostes, os discípulos de Jesus tornaram-se mais ousados, e o número de discípulos foi crescendo de modo espantoso. A História da Igreja, iniciada no Pentecostes, narra as primeiras incursões dos apóstolos, com a missão de levar a mensagem do evangelho a todas as partes de Jerusalém, da Judeia e da Galileia. Jerusalém tornou-se o centro motivacional da propagação do Cristo ressurreto. A igreja, constituída pelos primeiros seguidores de Cristo, cheia do Espírito Santo, não se restringiu a Jerusalém, mas, conforme narra o livro de Atos, a igreja expandiu-se para além de Jerusalém, Judeia e, também, Samaria. O poder da mensagem do Cristo Ressurreto extrapolou as dimensões geográficas da Palestina e foi para as regiões gentílicas do Império Romano. Dos muitos discípulos que se tornaram pregadores do evangelho de Cristo, alguns se destacaram, entre os quais Barnabé e Estêvão. A igreja, formada em Jerusalém (At 2.42), tinha tudo em comum (At 2.44). Depois da instituição dos diáconos (At 6.1-7), havia entre eles dois que se destacaram falando de Cristo. Foram eles: Estêvão e Filipe (At 8.26-32); este, cheio do Espírito Santo, começou a realizar milagres e prodígios entre o povo. Alguns da sinagoga tiveram dificuldades para aceitar o ministério de milagres de Estêvão e, então, começaram a questioná-lo e discutir com ele, mas diz Lucas “que não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At 6.10). Seu discurso foi uma demonstração de sabedoria e autoridade que encheram os fariseus helenistas de ódio. Começaram, então, a caluniar e mentir contra Estêvão, até prenderem-no e levarem-no perante o conselho dos anciãos e sacerdotes (At 6.8-15). O discurso de Estêvão foi tão vigoroso e contundente que aqueles homens enfurecidos apedrejaram-no e mataram-no (At 7.2-57). A certa distância, estava o jovem rabino Saulo de Tarso, que apoiou o ato de violência contra Estêvão. Os seus algozes tomaram os seus vestidos manchados de sangue e colocaram-nos aos pés de Saulo de Tarso (At 7.58). Foi a partir desse assassinato de Estêvão que Saulo de Tarso, dominado por um zelo destruidor, tomou coragem para perseguir os cristãos, pois era o modo de ele chamar a atenção do povo e das autoridades religiosas de Jerusalém. Foi, de fato, o discurso de Estêvão que emudeceu Saulo de Tarso, fazendo dele um perseguidor implacável contra a igreja. Saulo gozava de prestígio religioso e cultural entre os judeus e, por isso, ganhou “carta branca” das autoridades religiosas para perseguir os seguidores de Cristo.
O zelo sem entendimento pode ser uma arma perigosíssima. Muitos crimes hediondos têm sido praticados em nome de Deus. Com Paulo, não foi diferente. Ele foi um perseguidor implacável (Gl 1.13). Ele usou sua influência e força para esmagar os discípulos de Cristo. Perseguiu Cristo (At 26.9), a religião de Cristo (At 22.4) e os seguidores de Cristo (At 26.11). Paulo foi o mais severo perseguidor da igreja em seus albores. Olhando pelo retrovisor, fazendo uma retrospectiva do seu passado, escreveu a Timóteo: “a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente…” (1Tm 1.13). Ele feria os cristãos com a língua e com os punhos. Fazia isso com arrogância e soberba. Usava os instrumentos legais e também a truculência física.
I – Saulo de Tarso, o perseguidor implacável
1, Saulo se descreve como “blasfemo”, “perseguidor” e “opressor” (1 Tm 1.13).
Como um fariseu fanático, Saulo tinha a convicção de que seu papel era destruir a fé cristã, matando e prendendo os seguidores de Jesus. Sua postura arrogante o fazia ser truculento, usando grande violência contra pessoas simples, homens e mulheres, sem qualquer compaixão. Ele acreditava piamente que, com esse comportamento, estava agradando a Deus. Apoiado pela casta sacerdotal que odiava o nome de Jesus, Saulo usava dos meios legais para atacar os cristãos. Por causa de sua truculência, os seguidores de Jesus tiveram que fugir para outras cidades. O perseguidor “respirava ameaças e morte” contra os discípulos de Jesus (At 9.1) e, por isso, não via problemas em prender e do de arrastar presos para Jerusalém os que professavam o contra nome do Nazareno (At 9.2).
De acordo com as suas cartas e epístolas, antes de ser um cristão, ele foi um ativo perseguidor da igreja. Como um fariseu fanático, Paulo acreditava que seu papel no mundo seria o de destruir a fé cristã, matando e prendendo os seguidores de Cristo. No registro de Atos, está escrito que ele “assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão” (At 8.3). Sua postura arrogante fazia-o usar da truculência física praticando atos de violência contra pessoas simples, homens e mulheres, sem exercer qualquer tipo de compaixão. Ele acreditava piamente que estava agradando a Deus. Ele usava dos meios legais apoiado pela casta sacerdotal que odiava o nome de Jesus para praticar esses atos de violência contra as pessoas que eram seguidoras de Cristo. Por sua truculência, os seguidores de Jesus tiveram de fugir para outras cidades, porque o famoso e duro Saulo de Tarso, respaldado pelas autoridades políticas e religiosas, respirava ameaças e mortes contra os discípulos de Jesus. Seu ódio contra Jesus e seus discípulos era tanto que ele não via dificuldade para prender, manietar e arrastar presos para Jerusalém os que professavam o nome de Jesus (At 9.1,2).
O ódio continuado de Saulo pelos cristãos como hereges está refletido em seu pedido por cartas do sumo sacerdote, que o autorizassem a prender quaisquer cristãos que ele encontrassem em Damasco. Mas como o sumo sacerdote poderia ter jurisdição sobre os cidadãos de Damasco? No Império Romano, os grupos étnicos eram considerados como governados pelas leis de suas próprias nações, mesmo quando eles se mudavam para terras estrangeiras. Assim, os quase seis milhões de judeus espalhados pelo Império Romano ainda estavam sujeitos às leis do Sinédrio em Jerusalém. As cartas do sumo sacerdote a Paulo seriam consideradas, pelas autoridades de Damasco e pela comunidade judaica, como uma autorização adequada para aprisionar qualquer judeu cristão e levá-lo de volta a Jerusalém para julgamento.
Para um homem que tinha a cultura que Paulo possuía parece um contrassenso, porque se esperava dele uma atitude mais racional. Mas Saulo de Tarso estava embebedado pela soberba e arrogância.
2, As ameaças de Saulo de Tarso.
A expressão “respirando ameaças e morte” (At 9.1) descreve Saulo, de maneira figurada, como uma fera selvagem que ameaça sua presa. No texto de Atos 9.21, o perseguidor era visto como um exterminador, pois conduzia os cristãos às prisões, além de permitir que fossem açoitados. Ele não poupava ninguém que segue a doutrina de Cristo.
Seu ódio contra os seguidores de Jesus fez com que ele fosse a Damasco, uma vez que havia uma grande população judaica naquela cidade. Os pesquisadores dizem que havia um número de 30 a 40 sinagogas em toda a Damasco. Quando Saulo resolveu ir a Damasco em busca de outros cristãos para prendê-los era porque esses cristãos certamente fugiram de Jerusalém para escapar à perseguição. A expressão “respirando ameaças e morte” (At 9.1) descrevia, figurativamente, a Saulo como uma fera selvagem que ameaça sua presa. No texto de Atos 9.21, Saulo era visto como um exterminador, porque tinha prazer em conduzir os cristãos às prisões, além de permitir que fossem açoitados. Ele não poupava ninguém que fosse seguidor da doutrina de Cristo. Os motivos que levaram a Saulo tornar-se um perseguidor inclemente contra os seguidores de Cristo era o zelo destrutivo que ele tinha pela Torá. Ele considerava um escândalo o anúncio dos cristãos de que um crucificado pudesse ser o Messias prometido pelos profetas do Antigo Testamento. A ideia era de que alguém que fosse suspenso no madeiro (numa cruz) estaria sob a maldição de Deus (Dt 21.23), e, por isso, para Saulo, Jesus foi um blasfemo e não podia ser o Messias, pondo em dúvida tudo o que ele cria. Na realidade, Saulo era “um touro bravo” que ninguém conseguia deter. Ele negava aos discípulos de Jesus o direito de existência dentro da comunidade judaica. Saulo rejeitava a ideia de que Jesus fosse o Messias prometido. Rejeitava a ideia de um Cristo que foi humilhado, rejeitado e crucificado, pois, na sua mente, o Messias não podia ser vencido pelos homens (Is 53.1-5). Posteriormente, ele tem um encontro poderoso com o Senhor Jesus e ficou completamente cego pela luz radiante. Então, ele converte-se e descobre que Cristo assumiu a maldição da Lei, da Torá, e, por isso, Cristo resgatou-nos da maldição da Lei (Gl 3.13).
Saulo não apenas testemunhou a glória resplendorosa do Senhor, mas também ouviu a voz de Jesus Cristo. (Sobre as demais palavras de Jesus, veja 22.8,10,17,21; 26.15-18). Saulo pensava estar perseguindo hereges, mas, de acordo com a voz, as suas ações eram equivalentes a atacar o próprio Senhor Jesus – Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Qualquer pessoa que persiga os crentes hoje, também é culpado por perseguir a Jesus ( Mt 25.40,45) porque os crentes são o corpo de Cristo na terra. Esta é uma declaração poderosa a respeito da união que existe entre Cristo e a sua igreja. Enquanto estava ali no solo, em meio à poeira, Saulo deve ter se recuperado do choque de compreender que Jesus, o fundador crucificado desta seita detestada, tinha sido ressuscitado por Deus e exaltado em uma glória divina. Saulo não estava servindo a Deus, como pensava, mas combatendo-o!.
2. Saulo de Tarso e Estevão.
Se por um lado Saulo era um erudito que chamava atenção, devido à sua cultura judaica, greco-romana e autoridade na Torah, Estevão era um erudito do Judaísmo com uma grande capacidade do Espirito para confrontar ideias contrárias aos ensinos de Jesus (At 6.9.10; 7.2-53). O primeiro mártir da Igreja era um homem cheio do Espírito Santo, conhecedor profundo da história de seu povo e da teologia judaica. Por isso, quando apontava para Jesus Cristo como clímax da revelação redentora para o mundo, o fazia com autoridade. O discurso inflamado de Saulo, e respaldado pelos oponentes dos seguidores de Jesus, deparou-se com outro discurso, mas este proveniente da sabedoria do Espirito (At 6.10). Essa autoridade espiritual de Estevão atraiu a ira dos inimigos de Cristo (At 6.5.11; 7.55). Por isso, com o pleno consenti mento de Saulo (At 8.1), eles o apedrejaram até a morte (At 7.59,60). Mas se por um lado eles mataram Estevão; por outro, potencializaram a mensagem do primeiro mártir da Igreja.
Nós pela Bíblia sabemos apenas do martírio de Estêvão, mas o trecho de Atos 9:1 fala sobre «ameaças e morte» da parte de Saulo de Tarso, sendo bem possível que um bom número de cristãos tenha sido condenado e morto por ordem do sinédrio e através da atuação de Saulo. As cartas que Saulo de Tarso recebera, da parte do sumo sacerdote (por autoridade do sinédrio), permitiam-lhe entrar nas sinagogas e levar qualquer um que ali professasse fé em Jesus como o Cristo, os quais eram encarcerados. Ora, tais cartas abafavam qualquer tentativa de objeção da parte dos rabinos locais ou de outros oficiais das sinagogas. A autoridade de Saulo sobre as sinagogas, pois, era irresistível. Nenhum crente em Jesus Cristo estava seguro, porque Paulo saía até pelas vilas e aldeias, em áreas distantes de Jerusalém, a caçar suas presas com uma espécie de zelo desvairado. «É vivida a gravura que Paulo aqui pinta com suas palavras, mostrando o êxito que teve em sua caçada humana contra a ‘heresia’, ‘…mesmo por cidades estranhas…’ Sabemos de Damasco, mas é evidente que Paulo planejava visitar outras cidades, fora da Palestina, e assim tê-lo-ia feito, não fora aquela viagem providencial a Damasco». (Robertson, in loc.). *…obrigando-os até a blasfemar…» Em outras palavras, Saulo forçava os crentes a proferirem palavras injuriosas, críticas, insultuosas, profanas e blasfemadoras contra Jesus em particular, mas também contra o seu «Caminho». (Quanto a notas expositivas sobre a blasfêmia, ver Mat. 9:3 e João 10:33). Traduzido literalmente, o original grego deste versículo não indicaria necessariamente que os cristãos aprisionados por Saulo chegaram ao ponto da blasfêmia; contudo, 0 curso geral do contexto indica-nos que Saulo conseguiu, mediante tortura física, fazer com que ao menos um bom número de cristãos blasfemasse do nome de Cristo, pelo menos de lábios, se não mesmo em seus corações. Não se há de duvidar que Saulo sentia um prazer mórbido em tudo isso, o que era apenas uma outra faceta do desvario que se apossara de sua mente. E, no entanto, tudo isso ele praticava em nome de Deus e da religião dos patriarcas. Plínio ajunta aqui a interessante informação que apesar de certos cristãos renegados poderem ser forçados a maledicere Christo (a «amaldiçoarem a Cristo»), outros, porém, por serem verdadeiros, não cediam a qualquer pressão que os tentasse obrigar a isso. «…enfurecido…» «Essas palavras expressam, com extraordinária vivacidade, a análise retrospectiva feita pelo apóstolo Paulo quanto ao seu estado anterior. Não é que ele tão-somente tenha agido por ignorância (I Tim. 1:3); também poderia ter-se referido à insanidade temporária do fanatismo».
«Somente um louco persegue a outro porque difere dele em suas opiniões religiosas; e o perseguidor mais feroz é justamente aquele que deve ser reputado como 0 louco mais furioso
A conversão de Saulo
1. A conversão de Saulo e sua experiência sobrenatural. Em Atos 9.3, Lucas narra a impactante experiência sobrenatural de Saulo no caminho para Damasco. Surpreendido pelo resplendor do céu, mais forte que a luz do sol do meio-dia, o perseguidor da igreja caiu por terra e ficou cego. Se pelos argumentos racionais Saulo não ouvia sobre Jesus, o Crucificado, “a luz que ofuscou seus olhos” trouxe a voz do próprio Senhor que o confrontou de forma impactante: “Saulo, Saulo, porque me persegues? (At 9.4). Com sua ida a Damasco, o perseguidor tinha a intenção de acabar de vez com os seguidores de Jesus, mas foi surpreendido por uma experiência sobrenatural pela qual nunca havia passado. Segundo seu próprio testemunho, o perseguidor viu literalmente a pessoa de Jesus, o Ressurreto, que o despojou de seu “ego” arrogante. Nessa visão, Saulo pôde compreender quem era Jesus e sua obra redentora no Calvário.
2. A iniciativa de Jesus para transformar a mente de Saulo. O impacto da visão resplandecente no caminho para Damasco tomou Saulo de surpresa. Sob o efeito do sucesso em Jerusalém contra os seguidores de Jesus, imbuído de uma coragem irracional, e bem relacionado com a casta sacerdotal, Saulo havia pedido “carta branca” das autoridades religiosas de Jerusalém para perseguir os seguidores de Jesus, com o mesmo rigor, em Damasco. Entretanto, dada a dureza do coração de Saulo, o Senhor tomou a iniciativa de sacudir a sua estrutura física, psicológica e espiritual.
Agindo pessoalmente na sua direção.
3. A graça salvadora se manifestou a Saulo. Na Carta aos Efésios 2.8, ele diz: “Pela graça sois salvos por meio da fé, isto não vem de vós, é dom de Deus”. Na epistola a Tito, diz também: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Logo, o ponto de partida da experiência de salvação de todos os homens é a graça de Deus. Essa graça é o favor imerecido de Deus em que sua justiça é satisfeita na morte expiatória de Jesus. Aqui, o mérito todo é de Cristo. Aos Romanos, ele escreve: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justifica dos gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.23-24). Ou seja, a graça é favor outorgado por Deus aos pecadores que estão debaixo de sua ira. Evidentemente, a conversão de Saulo foi mais do que um convencimento intelectual sobre Jesus; ela foi fruto da obra regeneradora do Espirito Santo em sua vida, levando-o a confessar que Jesus era o Senhor e Salvador de sua vida.
Saulo e a doutrina da conversão
1. A conversão começa no arrependimento. A palavra “arrepender-se” no grego bíblico é “metanoeo”, que significa “pensar de maneira diferente; sentir remorso”, uma disposição interior para mudar. No Novo Testamento, arrepender-se” traz a ideia de tristeza pelos próprios pecados, acompanhada de um desejo de corrigir o rumo. É a mudança na mente que induz à correção de caráter e de conduta moral (At 3.19); é a contrição do coração, o desejo de mudar de atitude quanto ao comportamento na vida cotidiana (Lc 15.10). Isso é obra do Espírito Santo (Jo 16.7,8). Portanto, a conversão é uma parte do processo de salvação do pecador. Ela assinala o início do despojamento do “velho homem” (Ef 4.22) e aponta para o revestimento do novo homem (Ef 4.24).
2. A conversão de Saulo promoveu uma transformação pessoal. Foi o que aconteceu com Saulo, pois a luz do resplendor do céu cegou-lhe os olhos carnais e o fez ver o Cristo ressuscitado. abrindo-lhe os olhos espirituais para conhecê-lo como Senhor e Salvador (9.3). Essa experiência sobrenatural e impactante o fez indagar ao Cristo ressuscitado sobre o que deveria fazer. De uma vontade egoísta e individualista, Saulo demonstra agora completa resignação à vontade soberana de Cristo (9.6).
3. A conversão faz parte da doutrina bíblica da Salvação. O choque da experiência sobrenatural do “resplendor de luz” sobre os seus olhos, transformou a mente de Saulo, levando-o a reconhecer o Cristo que, outrora tanto rejeitava, agora o fazia apóstolo (1 Co 15.8-10). Como vimos, a verdadeira conversão é a que nasce da tristeza para com o pecado e o reconhecimento de que o homem precisa “dar meia volta” para Deus. É uma mudança que tem raízes na obra regeneradora do Espirito Santo efetuada na vida do pecador. Como obra de Deus, a conversão é uma manifestação externa da regeneração operada pelo Espirito no interior do homem, que implica mudança de pensamento, vontade e ação; uma mudança que altera todo o curso da vida do pecador (Ef 4.25-30). É o ato divino pelo qual Deus faz com que o pecador volte para Ele em arrependimento e fé. Portanto, uma verdadeira conversão revela uma poderosa transformação na vida do convertido.
A conversão de Saulo foi provocada pelo impacto do resplendor de luz que ofuscou a sua visão e obrigou-o a reconhecer que não podia mais lutar contra Cristo. A conversão é, portanto, uma obra divina em que o homem responde com arrependimento e fé. Na conversão, a soberania de Deus “caminha de mãos dadas” com a responsabilidade humana. Por isso, o arrependimento e a fé conduzem o pecador a ser redimido pelo sangue de Cristo.
A próxima matéria será :
III. É impossível fugir da presença de Deus
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