terça-feira, 7 de novembro de 2023

Série: Aprendendo a Conhecer o seu caráter 5

 Por: Jânio Santos de Oliveira

 Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra

 Pastor Presidente: Eliseu Cadena

 Contatos 0+operadora (Zap)21 987704458 (Tim)

 Email ojaniosantosdeoliveira@gmai.com


 

Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor! 

Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra no texto de Hebreus 4.13-16; Provérbios 15:3; Salmos139.7-10    que nos diz:

13 E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.

14 Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão.

15 Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.

16 Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.

Provérbios 15:3

³ Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus 

Salmos139.7-10 

7 Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?

 8 Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também.

9 Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,

10 Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.

Pessoas que tentaram se esconder de Deus e de sua missão

I.                  Visão geral de como deva ser o nosso caráter.

II.               Personagens bíblicos que tentaram se esconder de Deus

III.           Adão e Eva:  Tentaram se esconder do Senhor

IV.            Abraão: Engano e Medo o fez se esconder no Egito e mentir

V.               Moisés: Escondeu-se em Midiã, após matar o egípcio.

VI.            Gideão: Evitando o Chamado de Deus se mostrou incapaz.

VII.        Saul: Escondeu-se entre as bagagens para não assumir o trono.

VIII.     Elias: Escondeu-se numa caverna com medo de jezabel.

IX.            Jonas: Tentou esconder-se de Deus por não gostar dos ninivitas.

X.               Pedro: Tentou esconder-se entre os inimigos de Jesus e o negou.

XI.            Os discípulos no Caminho de Emaús: Tentou distanciar de Jesus.

XII.        Saulo: Tentou esconder-se numa falsa religião; mas Jesus o encontrou.

XIII.     É impossível fugir da presença de Deus

XIV.     José foi um exemplo de testemunho longe de sua família

XV.         Onde você está escondido?

Estamos de volta, desta vez para apresentar uma série de conferências sobre como deva ser o nosso caráter e a nossa integridade no dia-a-dia não só diante de Deus, mas também diante dos homens.

Agora estaremos apresentando o seguinte assunto:

3.    Moisés escondeu o Egípcio na areia e se escondeu em Midiã

11 - Quando Moisés era já homem, ia ter com os seus irmãos de raça e começou a dar-se conta das terríveis condições em que viviam e trabalhavam. Certa vez, viu um egípcio a bater num dos seus irmãos hebreus e não se conteve.

 12 - Olhou para um lado e para o outro, para se certificar que ninguém o via, matou o egípcio e enterrou o corpo na areia para o esconder.

13 - No dia seguinte, tendo ido de novo visitar os seus irmãos, deparou com dois deles a agredirem-se. Interpelando o agressor, disse-lhe: “Que é que estás a fazer? Estás a bater num dos teus próprios irmãos!”

14 - O homem respondeu: “Quem te nomeou chefe e juiz sobre nós? Queres matar-me como mataste aquele egípcio?” Moisés, constatando que o seu ato tinha sido descoberto, encheu-se de medo.

15 - Na verdade, o Faraó soube disso e mandou que Moisés fosse preso e executado. Este, contudo, fugiu para a terra de Midiã.

Estava ele sentado junto dum poço,

16 - quando sete moças, filhas dum sacerdote de Midiã, se chegaram para tirar água e encher as pias para dar de beber aos rebanhos do pai.

17- Mas alguns pastores começaram a repeli-las. Moisés interveio, defendendo-as, e depois tirou ele mesmo água para os rebanhos.

18 - Quando voltaram para casa, o pai, Reuel, perguntou-lhes: “Vocês hoje vieram mais cedo! Como foi isso?”

19 -  “Foi um egípcio que não só nos defendeu dos pastores, que começaram a atacar-nos, como até nos tirou água e deu a beber aos rebanhos.”

20 - “Bom, e onde está ele?”, perguntou o pai. “Não me digam que o deixaram lá! Vão já buscá-lo, para que coma ao menos conosco!”

21 Depois Moisés aceitou mesmo o convite de Reuel para ficar a viver com eles, e veio a casar com uma das filhas que lhe deu por mulher, Zípora.

22 - Tiveram um filho a quem Moisés chamou, Gerson,[a] porque ele se considerava um estrangeiro em terra estranha.

23  - Anos mais tarde o rei do Egito morreu, mas os israelitas continuavam a sofrer sob o peso das suas cargas, escravizados e chorando amargamente perante Deus.

24 -  Ora Deus ouviu os seus clamores lá do céu e achou ter chegado o momento de cumprir a aliança feita com Abraão, Isaque e Jacó.

25 - E Deus viu e atentou para a condição dos israelitas.

A sarça ardente

3 - Um dia em que Moisés levou a pastar os rebanhos de Jetro seu sogro, sacerdote de Midiã, no deserto perto de Horebe, o monte de Deus,

2 - apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo dentro de uma sarça, e a sarça não se consumia.

3 - Moisés disse para si mesmo: “Isto é extraordinário! Porque é que a sarça não se consome? Tenho de ir ver isto.”

4 - E quando o Senhor viu que Moisés se aproximara para ver melhor, Deus chamou-o do meio da sarça: “Moisés! Moisés!” Ao que ele respondeu: “Pronto! Aqui estou!”

5 - “Não te aproximes. Descalça-te, porque estás em terreno sagrado. 6 Eu sou o Deus do teu pai, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó.”

Moisés desviou o olhar, porque teve receio de olhar para Deus.

 7 - O Senhor continuou: “Tenho visto a aflição do meu povo no Egito, e tenho ouvido os seus clamores sob a opressão daqueles que os tiranizam.

 8 - Por isso, desci a livrá-los dos egípcios e a tirá-los dali para uma belíssima e vasta terra, uma terra onde jorra leite e mel, onde habitam os cananeus, os hititas, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus.

9 - Sim, o choro do povo de Israel tem subido até mim, e tenho visto as duras condições de vida com que os egípcios os oprimem. 10 Por isso vou enviar-te ao Faraó para que lhe peças que te deixe levar o meu povo para fora do Egito.”

11-  “Mas eu não sou a pessoa indicada para tal!”, exclamou Moisés.

12 - Deus insistiu: “Eu estarei seguramente contigo. E a prova de que sou eu próprio que te envia será a seguinte: Quando tiveres levado o meu povo para fora do Egito havereis de adorar Deus aqui mesmo, nesta montanha.”

13 - Moisés replicou ainda: “Se eu for ter com o povo de Israel e lhe disser que foi o Deus dos nossos pais quem me enviou, eles vão perguntar-me de que Deus é que eu estou a falar. E o que é que eu lhes digo?”

14 - “Que foi o Deus Que é”, foi a resposta. “Diz assim: o eu sou foi quem me mandou.

15-  Sim, diz-lhes: O Senhor[b], o Deus dos nossos antepassados Abraão, Isaque e Jacob mandou-me vir ter convosco. Porque este é o meu nome eterno, através de todas as gerações.

16 - Reúne então todos os anciãos e conta-lhes como o Senhor, o Deus dos seus antepassados, te apareceu aqui nesta sarça a arder e aquilo que eu te disse: Vim ter com o meu povo e vi o que lhe está a acontecer no Egito.

17 - Prometo que hei de salvá-los das cargas e da humilhação que estão a sofrer, e que hei de levá-los para a terra que está agora ocupada pelos cananeus, hititas, amorreus, perizeus, heveus e pelos jebuseus, uma terra onde jorra leite e mel.

18 - Os anciãos do povo de Israel hão de aceitar a tua mensagem e irão contigo falar com o rei do Egito. E dir-lhe-ão: O Senhor, o Deus dos hebreus, apresentou-se a nós e mandou-nos que fôssemos a três dias de caminho no deserto oferecer-lhe sacrifícios de adoração. Deixa-nos pois ir.

19 - Eu sei que o rei do Egito não vos deixará ir a não ser sob uma pressão muito forte.

20 - Por isso, hei de estender a mão para castigar o Egito com maravilhas que se realizarão ali até que, por fim, vos deixe ir.

21 - E farei com que os egípcios vos encham de presentes, quando se forem embora. Não hão de deixar o Egito de mãos vazias. 22 Cada mulher irá pedir à vizinha e à mulher do seu patrão toda a espécie de coisas de prata e ouro e dos tecidos mais finos com que vestirão os vossos filhos; e assim despojarão o Egito do que tem de melhor!”

Observe a frase “olhou de um e de outro lado, e, vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio”. Por qual motivo Moisés olhou para os lados? Você acha que se houvesse testemunhas ele mataria o egípcio? É claro que não!

Naquele momento, ter ou não público determinou o comportamento de Moisés.

Muitas vezes agimos de forma semelhante. Porém, se você não faria algo na frente de outros, também não deveria fazer quando se encontra sozinho. Se, aquilo que você assiste num quarto de hotel quando está sozinho, não teria coragem de assistir com alguém ao seu lado, então é óbvio que não devia estar assistindo a sós.

A coragem de Moisés, de matar o egípcio, proveio da falta de testemunhas. O mesmo acontece hoje. Acreditamos que, se ninguém está vendo, ninguém ficará sabendo. Porém o texto bíblico nos ensina que, mesmo o que achamos que ninguém viu, será descoberto. Uma lição fácil de se aprender com o cadáver do egípcio, que não permaneceu escondido.

Aprender com as experiências de Moisés pode significar o sucesso de um chamado, pois o menino que foi tirado das águas (Êx 2.5 e 6) tornar-se-ia um dos maiores líderes que o mundo já viu. Pelo qual podemos extrair muitos aprendizados, como tenho feito ao longo desses mais de 30 anos de ministério.

Após ser resgatado das águas pela princesa egípcia, Moisés fora criado por sua mãe Joquebede, que estrategicamente havia planejado uma maneira de fazer o menino sobreviver à perseguição de Faraó (Êx 2.2). A própria filha do rei do Egito foi quem sustentou o menino, pagando um salário para sua mãe (Êx 2.9).

Quando Moisés já era crescido, após ter sido criado pela mãe, ele foi levado para a filha do Faraó, que ao ver o menino o amou, garantindo a ele toda a educação necessária para que fosse criado como um príncipe no Egito.

Ao crescer, a Bíblia diz que Moisés passou a observar a forma como seus irmãos hebreus eram tratados pelos egípcios, testemunhando um homem ferindo um israelita, o que provocou uma indignação incontrolável, levando Moisés a matar o egípcio.

Moisés tentou certificar-se que ninguém iria testemunhar o crime que estava prestes a cometer. A Palavra de Deus diz: “E olhou a um e a outro lado e, vendo que não havia ninguém ali, matou ao egípcio, e escondeu-o na areia” (Êx 2.12).

Muitas vezes pensamos que nossos erros, se bem planejados, não terão nenhuma consequência, agimos de maneira errada e pensamos que ninguém poderá nos cobrar por este erro, mas esquecemos de que ainda que possamos esconder do homem nossas atitudes erradas, elas não podem ser escondidas de Deus.

Quando Moisés cometeu aquele crime, acreditava estar fazendo o que era certo, o que era justo. Mas não é correto tentar solucionar um problema ignorando os mandamentos de Deus. O fato é que Moisés não orou antes de agir, não buscou uma orientação divina, mas se utilizou da sua própria força.

Eu tenho aprendido que para que as coisas espirituais possam ser alcançadas de maneira correta, precisamos primeiro nos livrar de tudo o que não agrada a Deus. Moisés certamente se deixou levar pelas emoções e buscou tomar a decisão antes de consultar a vontade do Criador.

O problema é que o crime cometido por Moisés foi testemunhado e ele teve de fugir do Egito, pois as consequências daquele erro certamente custariam sua vida. Ele agora estava caindo do posto de príncipe do Egito, para um fugitivo, procurado por um crime.

A verdade é que ele não soube a hora certa de agir, mas deixou-se levar pelos impulsos da juventude e cometeu um erro que pensou que ninguém havia testemunhado. Escondeu o corpo do egípcio morto na areia do deserto, mas não contava que sua ação teria uma consequência.

Nossa pressa em fazer escolhas muitas vezes resulta em graves erros. Estes erros podem não trazer nenhuma consequência de imediato, mas em longo prazo serão um atraso para as nossas vidas. Foi o que aconteceu com Moisés, seu erro tornou-se o maior atraso para o chamado de Deus em sua vida.

Moisés fugiu do Egito, deixando uma alta posição na sociedade, para ir habitar em Midiã, onde se sentou a beira de um poço, certamente sentindo-se tão desmotivado quanto José quando foi lançado no fundo da cisterna pelos próprios irmãos, tornando-se depois um escravo no Egito.

Porém, Deus queria dar a Moisés uma nova oportunidade para servi-lo, desta vez trabalhando como pastor de ovelhas no sol escaldante do deserto. Pois o deserto é o lugar onde Deus trabalha para nos preparar para sua grande obra.

O erro de Moisés poderia ter custado o seu chamado, mas o Senhor certamente viu o arrependimento do Seu servo e a intenção do coração dele. Por isso, quando Moisés ainda estava no deserto, após a morte de Faraó, o Senhor restaurou o chamado daquele homem (Êx 3.2).

A Sarça Ardente e Moisés

Anteriormente a sarça ardente aparecer para Moisés no monte Sinai, ele estava em Midiã. Tinha escapado do Egito, onde, ao intervir para proteger um escravo Israelita, acabou matando um feitor Egípcio. Moisés se vestia, falava e tinha a aparência de um Egípcio.

“Um homem egípcio nos livrou da mão dos pastores” Êxodo 2:19

Disseram as filhas de Jetro quando Moisés as defendeu do tratamento rude que recebiam de pastores locais.

Ele se casa com uma das filhas de Jetro e se estabelece em Midiã para viver como um pastor. E passa a ter uma vida calma, anônima, longe de Faraó e dos Israelitas.

A sarça ardente

Mas essa nova vida, agora passada quase que em câmera lenta, muito característica de interior, repentinamente começa a acelerar e mudar.

Moisés estava pastoreando suas ovelhas, e seus olhos captam a visão de um estranho fenômeno, a sarça ardente:

“E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto, e chegou ao monte de Deus, a Horebe.

E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.

E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça não se queima. E vendo o Senhor que se virava para ver, bradou Deus [ אלהים Elohiym ] a ele do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. Respondeu ele: Eis-me aqui. E disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus [ אלהים Elohiym ].” (Êx 3:1-6).

Deus fala, a Moisés, que Ele tem ouvido o clamor do Seu povo, e que em resposta a esse clamor, e à promessa que havia feito aos patriarcas, Ele traria o fim a essa escravidão. E chama Moisés para lidera-los.

O drama do Êxodo está prestes a começar.

Moisés temeu na sarça ardente

A tradição oral traz um comentário muito interessante sobre a última sentença desta passagem – “E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus”.

Comparando sua similaridade com outra passagem que ocorreria mais tarde na história do Êxodo, quando Moisés desceu do Sinai, depois do episódio do bezerro de ouro:

“E aconteceu que, descendo Moisés do monte Sinai trazia as duas tábuas do testemunho em suas mãos, sim, quando desceu do monte, Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que falara com ele.

Olhando, pois, Arão e todos os filhos de Israel para Moisés, eis que a pele do seu rosto resplandecia; por isso temeram chegar-se a ele.” (Êx 34:29-30).

A tradição oral comenta:

“Em recompensa por ter tido atitudes de fé, Moisés teve o privilégio de receber bênçãos. Em recompensa por “E Moisés encobriu o seu rosto”, lhe foi dado um rosto radiante.

Em recompensa por “temeu olhar para Deus”, lhe foi dado que “por isso temeram chegar-se a ele. Em recompensa por “temeu olhar para Deus”, foi lhe dado “que visse Deus”.

Por ter se aproximado de Deus, mais do que qualquer outra pessoa, Moisés adquiriu algumas das características divinas. Claro que ele continuava a ser um humano, mas a sua face exibia o brilho da salvação. E emanava essa luz:

“Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João 8:12

Mas uma dessas recompensas, que a tradição oral fala, parece estranha. As duas primeiras são do tipo medida por medida. Porque ele escondeu sua face, mais adiante, na história bíblica, sua face se tornou radiante.

Porque temeu olhar para Deus, os Israelitas temeram se aproximar dele. 

Mas o terceiro comentário – “porque ele temeu olhar para Deus, foi dado que visse Deus” – Era errado ou certo, olhar para Deus? Se era certo, por que Moisés temeu olhar para Deus?

Se era errado, porque então depois ele é recompensado, vendo, ou falando com o Senhor, face a face?

Moisés um homem de justiça

Segundo a tradição oral, havia uma questão que intrigava muito a Moisés: Por que os inocentes sofrem? Por que há o mal no mundo?

Moisés era um homem que tinha um elevado senso de justiça. Quando ele viu o escravo sendo espancado, ou os dois Israelitas brigando, ou duas jovens sendo maltratadas por pastores, em todos os casos ele interveio.

Mais a frente no Êxodo, quando sua abordagem a Faraó fez com que a escravidão se tornasse ainda mais pesada para os Hebreus, ele disse pra Deus:

“Senhor! por que fizeste mal a este povo? por que me enviaste? Porque desde que me apresentei a Faraó para falar em teu nome, ele maltratou a este povo; e de nenhuma sorte livraste o teu povo.” Êxodo 5:22-23

Moisés tinha o mesmo senso de justiça de Abraão, que disse a Deus:

“Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” Gênesis 18:25

Justiça; essa é a questão das questões para a fé bíblica. O paganismo antigo, bem como o secularismo atual, não tem semelhante dúvida. Por que deveríamos esperar justiça neste mundo?

Os deuses, deste mundo, estão indiferentes ao ser humano. O universo não é um local moral, foi criado por acaso, um acidente, uma explosão sem sentido.

O mundo é uma arena de conflito. Os mais fortes vencem. Os mais fracos sofrem, e os espertos se dão bem.

E se não há Deus, ou mesmo se há um monte de deuses (dá no mesmo o resultado), não há razão para se esperar por justiça, é uma questão que não faria sentido.

Mas diferentemente, para a fé bíblica, justiça faz muito sentido. Deus, o supremo poder, é justo. E foi por causa da sua justiça que Ele escolheu a Abraão, primeiramente, para que ele ensinasse aos seus filhos e a toda a sua casa:

“para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo.” (Gn 18:19).

O sofrimento do justo

Por que então os bons sofrem, enquanto que os homens maus prosperam? Esta é uma pergunta que reverbera através dos séculos, no livro de Jeremias, no livro de Jó, na tradição oral, e até na literatura judaica pós-holocausto.

Essa era a pergunta que estava em Moisés, e que não o deixava em paz. Por que os Israelitas foram escravizados? O que de errado eles teriam feito para merecer passar por este sofrimento?

Por que aquele regime Egípcio, brutal, era tão forte? Onde estava a justiça do mundo?

Dor, tristeza, sofrimento, são coisas ruins, são muito ruins. Mas ainda assim, são muitas vezes por meio delas que moldamos o nosso caráter, quando compreendemos que elas são necessárias para se atingir algo de bom.

Um bom pai sabe que muitas vezes é necessário dar um remédio de sabor amargo a seu filho, mesmo que ele chore, não querendo toma-lo por causa de seu sabor ruim.

Um médico deve muitas vezes aplicar medicamentos que podem causar alguma dor ou desconforto em seu paciente. Mas ele sabe no final que é para a sua cura e restabelecimento.

Um político pode muitas vezes ter que tomar decisões impopulares, que não vão agradar à população de imediato, mas que são imprescindíveis, pois se não forem implementadas, podem causar situações catastróficas no longo prazo.

Há tempos que precisamos passar por situações difíceis, se quisermos trazer o bem duradouro a nossas vidas. E foi por isso que Moisés temeu ao olhar para Deus:

“Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus.” (Êx 3:1-6).

Se ele apenas pudesse olhar para a face divina, ele poderia entender a história do sofrimento humano, da perspectiva dos céus. Ele ao menos saberia que este sofrimento era necessário para se ter um ganho futuro.

Ele entenderia o ultimato divino sobre a justiça na história.

Mas isto é o que Moisés não pôde fazer, não pôde suportar na sarça ardente, porque é simplesmente muito alto o preço de tamanho conhecimento.

Ele recusa olhar para a face de Deus porque teria que entender a história humana, da perspectiva divina. Mas isto teria o custo de se deixar de ser humano.

E sem a natureza humana, como Moisés continuaria a ser movido pelo choro dos escravos Israelitas, pela angústia dos oprimidos?

Se ele entendesse que todas essas coisas tem seu lugar no grande plano universal, se ele entendesse que esse sofrimento era necessário para trazer o bem, no longo prazo?

Tamanho conhecimento não é humano – mas divino. E tê-lo, significaria dizer adeus aos nossos mais humanos instintos – Compaixão e identificação com o apelo do inocente, do aflito e oprimido.

Se olhar para a face de Deus fosse igual a entender o porquê de o sofrimento ser necessário, então Moisés temeria fazê-lo.

Temeria que o ato de olhar para Deus, e entendê-lo, poderia roubá-lo da única coisa que ele sentia nos seus “ossos”, a mesma coisa que fez dele o líder que ele se tornou:

Sua indignação ao ver o mal, o que o levou, por diversas vezes, a intervir na história em nome da justiça.

Moisés temeu “olhar para a face de Deus”. Mas há dois nomes primários para Deus na bíblia:

אלהים Elohiym e o tetragrama, formado por quatro letras, יהוה‎ YAHWEH. Elohiym, diz a tradição oral, se refere ao atributo divino conhecido como justiça. YAHWEH se refere à compaixão, a sua misericórdia, a sua bondade.

No episódio da Sarça Ardente, Moisés temeu olhar para אלהים Elohiym, a justiça de Deus, representada pela sarça que queimava mas não se consumia.

Na sua recompensa, anos depois no Êxodo, Moisés pôde contemplar a forma de יהוה‎ YAHWEH. Aí ele pôde entender a compaixão e a misericórdia divina.

Mas Moisés não entendeu – ou teve medo de entender – a justiça de Deus, na sarça ardente.

Ele preferia mais lutar por justiça, da forma como ele a compreendia, do que aceitá-la da forma como ela desenvolvia o seu papel no grande plano universal criado por Deus.

Moisés olhou para sua incapacidade.

Creio que isso acontece com muitas de nós quando nos deparamos com uma missão dada por Deus. No primeiro momento nos sentimos incapacitadas, mas, logo em seguida o Espírito Santo nos convence do contrário, afinal, é Ele que nos capacita, não é verdade?

No caso em questão, Moisés teria um desafio enorme, libertar o povo de Israel das mãos de faraó. Deus conhecia as qualidades, e os defeitos de Moisés, mas mesmo assim o escolheu.

Às vezes pensamos que somente pessoas com boa aparência ou preparadas intelectualmente podem assumir desafios na obra do Senhor, e isto não é verdade. Os homens e mulheres do passado eram pessoas como você e eu. E lembre-se: você também foi chamada para fazer a diferença onde estiver.

Deus foi bem direto quando Moisés se esquivou. Deus deixou bem claro que o havia criado e estaria com ele para o ajudar.

Talvez aconteça na sua vida, uma situação parecida em que surgirá algo para você fazer que estará acima da sua capacidade. Não se preocupe! Muitas vezes, Deus permite que passemos por aquilo que nos dá um “frio na barriga”, porque Ele quer nos levar para um nível acima.

Por isto, não olhe para o que você sabe ou não sabe fazer, e diga sim para o que Deus está te pedindo, Ele te preparará para enfrentar qualquer coisa.

A questão é que ninguém pode esconder da Deus. Ele sabe o que estamos fazendo, o que fizemos e o que faremos. No final, todos nós temos que enfrentá-Lo. Isso pode ser assustador, mas também é reconfortante saber que Ele está sempre conosco, aconteça o que acontecer.


Próxima matéria:

4.    Gideão. Tentou esconder-se no lagar


Nenhum comentário:

Postar um comentário