sábado, 27 de julho de 2024

Série: A reforma protestante (2)

 Por: Jânio Santos de Oliveira

Pastor e professor da Igreja evangélica Assembleia de Deus em Santa Cruz da Serra

Pastor Presidente: Eliseu Cadena

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 Email ojaniosantosdeoliveira@gmai.com

Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!

 

 


Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra no texto de Romanos 1.17que nos diz:

 Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá pela fé.



I.             Os antecedentes da reforma protestante

De Constantino ao fim da idade média

A Igreja nos Dias de Constantino.

Os últimos Anos de Constantino.

A Igreja da Idade Média.

Wycliffe e Huss.

A Renascença.

II.           A reforma protestante

O início da reforma com Martinho Lutero

As 95 teses de Martinho Lutero

O Problema das Indulgências.

Reações Papais às Teses de Lutero.

A Excomunhão de Lutero.

III.          A extensão da reforma

Zuínglio e a Reforma na Suíça.

 Calvino e a Reforma em Genebra.

. Influências Reformistas na França.

 A Reforma nos Países Baixos.

A Reforma na Escócia.

 A Reforma na Inglaterra.

 Os Anabatistas.

IV.         Os efeitos negativos da reforma

A contra-reforma

Os Jesuítas.

Elementos de Combate à Reforma.

A Guerra dos Trinta Anos.

As Missões Católicas.

V.     A reação dos protestantes à Igreja na Europa


A França e a Igreja Católico-Romana.

O Protestantismo na Alemanha.

O Protestantismo na Inglaterra.

O Reavivamento de Wesley no Século XVIII.

Os Resultados do Reavivamento de Wesley.

O Protestantismo na Escócia e na Irlanda.

A Igreja no Oriente.


 

A reforma protestante.


No inicio do Século XVI, a Igreja atravessava uma das fases mais difíceis da sua história. Ela já não era aquela Igreja pe­quena, simples e pura dos primórdios. Ela cresceu. Surgiram concomitantemente problemas profundo e prolongados. Sacerdotes inescrupulosos fizeram suar aquela que até então era tida como a cau­sa do Senhor.

Muitos santos homens, verdadeiros apóstolos da verdade, como João Wycliffe e João Huss, apareceram na sua longa trajetória de quinze séculos, porém, por ordem dos líderes eclesiásticos foram perseguidos, encarcerados, despojados dos seus direitos, e mor­tos. Mas a morte desses não foi em vão: os livros que escreveram, as mensagens que proferiram e o sangue que deles foi derramado, Deus os fez sementes que, semeadas em terra fértil, a seu tempo nasceriam, cresceriam e frutificariam. O sol da realidade do Evangelho precisava nascer. Enquanto isso, nos campos ressequidos pelo desespero e ignorância espiritual, a esperança reverdecia: nova era viria sobre o mundo.

 0 despertar da natureza humana se processou de forma tão ex­traordinária que foi necessária uma nova palavra: Renascimento. 0 Movimento Renascentista, surgido no Século XIV, assume toda a sua pujança no final do Século XV. Todas as faculdades da natureza humana foram dimensionadas e todas as atividades humanas apresen­taram progresso gigantesco. Essa foi uma época de grandes con­quistas.

Grandes descobertas e inventos tiveram lugar nessa época: Cristóvão Colombo descobriu a América; Pedro Álvares Cabral des­cobriu o Brasil; o tamanho exato da terra foi determinado; a des­coberta do sistema solar de Copérnico revolucionou as ideias hu­manas a respeito do universo. Também, nessa época foi inventada a imprensa com tipos móveis por Guttenberg.

Graças a seus recursos, as ideias se espalhavam mais rapidamente. A mente humana foi ain­da mais despertada e fortalecida para futuros empreendimentos, o maior dos quais veio a ser a Reforma Protestante.


I.
O início da reforma com Martinho Lutero

Sentenciado por ordem papal a morrer queimado, João Huss, um dos mais famosos precursores da Reforma, no momento da sua execução, disse em alto e bom som: "Podem matar o ganso (na sua língua "huss" é ganso), mas daqui a cem anos surgi­rá um cisne que não poderão quei­mar." Cem anos após ditas estas palavras, isto é, a 10 de novembro de 1483, em Eisleben, na Saxônia, nascia Martinho Lutero.

Lutero teve um preparo religioso com base na piedade simples da família alemã da Idade Média, misturado de realismo e superstições caracterís­ticas da era medieval. Ha sua infância, foi profundamente reli­gioso, mas sem exageros, revelando alegria de viver.

0 grande desejo do seu pai, era vê-lo formado em Direito, e para tanto, com a idade de apenas dezoito anos, ingressou na mais famosa Universidade alemã, a de Erfurt. Levou quatro anos de es­tudos preliminares. Durante esse tempo, destacou-se como um moço estudioso, orador capaz, hábil polemista, amante da música e ad­mirado pelos colegas. Vocação Religiosa Já estava preparado para iniciar sua vida profissional, quando, de repente, para espanto dos amigos e desapontamento do pai, tornou-se monge, entrando para o Convento dos Agostinianos, em Erfurt. Desejava a certeza da salvação mais do que qualquer outra coisa, e com o propósito de alcançá-la empreendeu peregri­nações aos locais indicados pela Igreja, jejuns e sacrifícios que às vezes iam além do suportável por uma pessoa normal. No mosteiro, travou consigo mesmo uma grande guerra interior, pois não encontrou ali aquilo que esperava alcançar. Foi um monge de vida exemplar. Contudo, sentia-se extinguir a alma; so­frendo constantes tormentos diante da possibilidade de vir a su­cumbir sob a espada da ira divina. Quanto mais ele tentava alcan­çar a Deus de acordo com os ritos da Igreja medieval, mais dis­tante de Deus ele se sentia.

 Influências Benéficas Foi através do Evangelho que Martinho Lutero libertou-se de tanta angústia e terror espiritual. Muitas outras influências contribuíram para isso. O vigário geral da sua Ordem, Staupitz, ensinou-lhe que Deus era misericordioso, anulando assim seu pensamento de que Deus só fazia castigar, não importando-se por reve­lar o seu amor para com o homem. Nesse tempo, Staupitz deu-lhe um trabalho a realizar: a responsabilidade de lecionar filosofia na nova Universidade de Wittenberg. Então Lutero, estudando a obra de Bernardo de Claraval, encontrou a verdade a respeito da graça divina para com os pecadores. Além disso, era ardente leitor da Bíblia, especialmente naquilo que se relacionava com o seu ensino na Universidade. Visita a Roma Antes de se revelar como reformador, Lutero teve uma vida muito agitada. Entrou no mosteiro em 1505; foi ordenado em 1507.

Em 1508 foi a Wittenberg, em 1509 a Erfurt, em 1511 foi convidado para ensinar na Universidade de Wittenberg, cidade onde passou a residir desde então.

 No verão de 1511, a negócio de sua Ordem, fez uma visita a Roma. Rezou em muitas igrejas e lugares sagrados dos santos mártires. Viu muitas relíquias e ouviu muitas estórias dos seus poderes milagreiros. Para livrar-se do purgatório subiu de joelhos a Scala Santa, escadaria que se diz ter sido trazida da casa de Pilatos; em cada degrau recitava o "Pai Nosso".

Ao chegar ao topo surgiu-lhe uma pergunta: "Quem sabe se tudo is­to é verdade?" Mas isso logo passou; apesar de ter se escandali­zado com o que vira em Roma, voltou ao mosteiro e ao seu ensino. Em 1512, tornou-se doutor em teologia em Wittenberg. Depois ele mesmo confessou, que a esse tempo era ainda ignorante quanto ao Evangelho de Cristo. Uma Descoberta Revolucionária Foi no início do ano 1512, enquanto lia a Epístola de Paulo aos Romanos, que Lutero encontrou a declaração revolucionária: "0 justo viverá por fé" (Rm 1.17).

Estas palavras foi como labaredas de Deus, incendiaram lhe a mente, com vislumbres da verdade que pro­curava há tanto tempo. Descobriu que a salvação lhe pertencia, simples e unicamente por fé na obra que Cristo consumou na cruz. E foi com o intuito de melhor compreender esta verdade, que em­preendeu cuidadoso estudo das Escrituras, e das obras de grandes mestres cristãos, como Agostinho e Anselmo. Pelo estudo dos Sal­mos e das epístolas de Paulo, e nas suas preleções, ele afirmou com suficiente clareza e certeza, que Deus salva os pecadores me­diante a fé no seu amor revelado em Jesus Cristo. Esta é a verda­de da justificação por fé. Contra esta verdade descoberta e agora vivida por Lutero, militavam os ensinos e mestres da Igreja da Idade Média, que pregavam a salvação adquirida pelas obras e sacramentos ministrados pela Igreja. Mas Lutero tinha convicção da verdade que descobriu nas Escrituras e da magnitude das decisões que tomaria a partir daí na defesa da mesma.

Essa experiência trouxe novo impulso ã sua vida religiosa; impulso necessário ao seu trabalho de refor­mar a Igreja que havia sido paganizada.

Lutero em Wittenberg

Por mais de quatro anos Lutero tra­balhou em Wittenberg, decepcionado com a Igreja mas sem romper com os seus líderes.

Nessa época, adquiriu projeção como um dos mais destacados líderes da sua Or­dem. Suas lições e preleções na Univer­sidade, tinham o sabor de um vinho novo, em comparação ao vinho roto do eterno mesmismo dos demais professores confor­mados com o estado da Igreja.

Ele tinha \ima capacidade extraordinária de citar as Escrituras e aplicá-las às necessida­des espirituais e morais do povo do seu tempo. As verdades recém descobertas fi­zeram dele um pregador notável e dota­ do de evidente unção do Espirito Santo. Quanto mais ele falava das verdades bíblicas que descobriu, mais claras elas se tornavam. Afinal alguma coisa o levou a falar publicamente a respeito destas grandes verdades.

II. O problema das indulgências

Numa localidade próxima a Wittenberg, ande Lutero morava, em 1517, apareceu um frade dominicano alemão de none Tetzel, enviado pelo arcebispo de Mogúncia para vender ás indulgências emitidas pelo papa de Roma.

O Que Eram as Indulgências.

 As indulgências eram apresentadas como sendo favores divi­nos, concedidos aos homens mediante os méritos do papa, como se­ja: o poder de perdoar pecados. As mesmas eram adquiridas em tro­ca de dinheiro, que, conforme os que as vendiam, seria usado na construção da Basílica de São Pedro, em Roma. Para comprar as indulgências, vinha gente de lugares os mais distantes. Elas ofereciam diminuição de penas no purgatório. 0 que chegou ao conhecimento de Lutero através do confessionário convenceu-o de que o tráfico das indulgências estava desviando o povo do ensino de Deus, e enfraquecendo seriamente a vida moral da Igreja.

Foi aí que Lutero decidiu enfrentar tão grande erro e abuso. 0 Que as Indulgências Ofereciam Alberto, Arcebispo de Mogúncia, responsável pela comercialização das indulgências, dá as seguintes instruções quanto ao pre­ço das mesmas, e possíveis favores delas alcançados:

"A primeira graça oferecida pelas indulgências, é a completa remissão de todos os pecados; nada maior do que isto se pode con­ceber, já que os homens pecadores, privados da graça de Deus, ob­têm remissão completa por esses meios e de novo gozam a graça de Deus. Além disto, pela remissão dos pecados, o castigo que se es­tá obrigado a suportar no purgatório por causa da afronta à divi­na majestade, é totalmente perdoada e as penas do purgatório são completamente apagadas.

 E, embora nada seja por demais precioso para ser dado em troca de tal graça - visto que é um dom gratuito de Deus e a graça não tem preço - contudo, a fim de que os fiéis cristãos sejam levados mais facilmente a buscá-las, estabelecemos as seguintes regras, a saber: "Qualquer pessoa que está contrita em seu coração e fez con­fissão oral, deve visitar pelo menos sete igrejas indicadas para esse fim, a saber, aquelas nas quais estão expostas as armas pa­pais, e em cada igreja deve recitar cinco Pai-nosso e cinco Ave-Marias em nome das cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem é ganha a nossa salvação, e um Miserere, salmo que é particularmente bem apropriado para obter o perdão dos pecados. "O método de contribuição para a caixa de construção da basílica de São Pedro, o chefe dos apóstolos, é este: os penitentes e confessores, depois de terem explicado àqueles que fazem con­fissão, a grandeza dessa remissão plena e desses privilégios, de­ vem perguntar-lhes qual o tamanho da contribuição - em dinheiro ou em outros bens temporais - que desejam fazer em boa consciên­cia para lhes outorgar esse método de remissão plena e de privilégios; e isto deve ser feito de modo a contribuírem facilmente.

Mas como a condição dos homens e suas profissões são tantas e tão variadas, e não podemos considerá-las e pesá-las em particular, decidimos que as taxas podem ser determinadas da seguinte forma, segundo uma classe conhecida... "Reis e seus familiares, bispos, 25 florins de ouro; abades, condes e barões, 1 0 ; outros nobres e eclesiásticos e outras pessoas com renda de 500 florins, 6 ; cidadãos com renda própria, 1; os que ganham pouco, 1/2 florim.

Os que não têm, de­ vem fazer sua contribuição por meio de orações e jejuns, "porque o reino de Deus deve estar aberto aos pobres como aos ricos".

 "A segunda graça principal é um 'confissional' (carta confissional) contendo os maiores, mais importantes e até hoje inau­ditos privilégios: o privilégio de escolher um confessor conveniente, mesmo um regular das ordens mendicantes...

"A terceira graça importante é a participação em todos os benefícios da Igreja Universal; isto consiste em que os contri­buintes da dita construção (construção da catedral de São Pedro), juntamente com os falecidos pais, que saíram deste mundo em esta­ do de graça, agora e por toda a eternidade serão participantes de todas as petições, intercessões, esmolas, jejuns e orações e de toda e qualquer peregrinação, mesmo as feitas à Terra Santa; além disto, participação das estações de Roma, nas missas, horas canônicas, mortificações, bem como de todos os outros benefícios es­pirituais que forem ou serão produzidos pela santíssima e mili­tante Igreja Universal; ou por qualquer um dos seus membros. Os fiéis que comprarem cartas confessionais também podem tornar-se participantes de todas as coisas. Os pregadores e os confessores devem insistir com grande perseverança nessas vantagens e persua­dir os fiéis a não negligenciar em adquirir esses benefícios jun­tamente com sua carta confessional. "Também declaramos que para obter essas duas mais importan­tes graças não é preciso confessar-se, ou visitar igrejas e alta­ res, mas simplesmente adquirir a carta confessional... "A quarta graça importante é em favor das almas que estão no purgatório e é a remissão completa de todos os pecados, remissão que o papa consegue por sua intercessão para o bem dessas almas da seguinte maneira: a mesma contribuição que se faria por si mesma estando vivo deve ser depositado na caixa. É contudo de nossa vontade que nossos subcomissários possam modificar as re­gras concernentes às contribuições desta espécie, que são feitas pelos mortos e que possa usar de seu critério em todos os outros casos em que, segundo sua opinião, modificações sejam desejáveis.

"Além disso, não é necessário que as pessoas que colocam suas contribuições ha caixa em favor dos mortos estejam contritos em seus corações ou se tenham confessado, visto que esta graça baseia-se unicamente no estado de graça em que os falecidos estavam ao morrer e na contribuição dos vivos, como é evidente no texto da bula. De resto, os pregadores devem se esforçar para tornar essa graça mais largamente conhecida, pois que, através dela, certamente virá auxílio para as almas dos falecidos e a construção da igreja de São Pedro será ao mesmo tempo melhor pro­movida." (Documento da Igreja Cristã).

III. As 95 teses de Martinho Lutero

 

As 95 Teses afixadas por Martinho Lutero na Abadia de Westminster a 31 de outubro de 1517, fundamentalmente "Contra o Comércio das Indulgências" Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade, discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Rev. Padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito. Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

 

1ª Tese Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... etc., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo e ininterrupto arrependimento.

 2ª Tese E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo dos sacerdotes.

 3ª Tese Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de mortificação da carne.

 4ª Tese Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até à entrada para a vida eterna.

 5ª Tese O papa não quer e não pode dispensar de outras penas além das que impôs ao seu alvitre ou nem acordo com os cânones, que são estatutos papais.

 6ª Tese O papa não pode perdoar dívida, senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus, ou então o faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes

 7 casos, se desprezados, a dívida em absoluto deixaria de ser anulada ou perdoada.

 7ª Tese Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao ministro, seu substituto.

 8ª Tese Cânones poenitentiales, que são as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas são impostos aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.

 9ª Tese Eis por que o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluindo este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema.

 10ª Tese Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõe aos moribundos penitências canônicas ou para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.

 11ª Tese Este joio, que é o de transformar a penitência e satisfação, prevista pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado enquanto os bispos dormiam.

 12ª Tese Outrora canônica poenae, ou seja, penitência e satisfação por pecados cometidos, eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.

 13ª Tese Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.

 14ª Tese Piedade ou amor imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte, necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menos o amor, tanto maior o temor.

 15ª Tese 8 Este temor e espanto em si tão só, sem nos referirmos a outras coisas, basta para causar o tormento e o horror do purgatório, pois se avizinham da angústia do desespero.

 16ª Tese Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.

 17ª Tese Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, também deve crescer e aumentar o amor.

 18ª Tese Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas razões e nem pela Escritura, que as almas do purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.

 19ª Tese Parece ainda não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem mais por ela, não obstante nós termos esta certeza.

 20ª Tese Por isso o papa não quer dizer e nem compreender com as palavras “perdão plenário de todas as penas” o perdão de todo o tormento, mas tão só as penas por ele impostas.

 21ª Tese Eis por que erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante indulgência do papa.

 22ª Tese Com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas do purgatório das que, segundo os cânones da igreja, deviam ter expiado e pago na presente vida.

 23ª Tese Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muitos poucos.

 24ª Tese Logo, a maioria do povo é ludibriado com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas. 9

 25ª Tese Exatamente o mesmo poder geral que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.

 26ª Tese O papa faz muito bem em não conceder o perdão às almas em virtude do poder das chaves (coisa que não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.

 27ª Tese Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.

 28ª Tese Certo é que, no momento em que a moeda soa na caixa, vem lucro, e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.

 29ª Tese E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com S. Severino e Pascoal.

 30ª Tese Ninguém tem certeza da suficiência do arrependimento e pesar verdadeiros, muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.

 31ª Tese Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.

 32ª Tese Irão para o diabo, juntamente com os seus mestres, aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.

 33ª Tese Há que acautelar-se muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus. 

 34ª Tese Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória, estipulada por homens.

 35ª Tese Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.

 36ª Tese Tudo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.

 37ª Tese Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.

 38ª Tese Entretanto se não devem desprezar o perdão e a distribuição deste pelo papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão consiste numa declaração do perdão divino.

 39ª Tese Ë extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e, ao contrário, o verdadeiro arrependimento e pesar.

 40ª Tese O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo; mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para tanto.

 41ª Tese É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal, para que o homem singelo não julgue erradamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas. 11

 42ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgências de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.

 43ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos, proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta ao necessitado do que os que compram indulgência.

 44ª Tese É que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.

 45ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgência do papa, mas desafia a ira de Deus.

 46ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura, fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.

 47ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos ser a compra de indulgência livre e não ordenada.

 48ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos que se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.

 49ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.

 50ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos que se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgência, preferiria ver a basílica de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas. 12

  51ª Tese Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por um dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgência, vendendo, se necessário, a própria basílica de São Pedro.

 52ª Tese Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências e o próprio papa oferecessem sua alma como garantia.

 53ª Tese São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a palavra de Deus nas demais igrejas.

 54ª Tese Comete-se injustiça contra a palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da palavra do Senhor.

 55ª Tese A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a coisa menor, com um toque de sino, uma pompa, uma cerimônia, enquanto o evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem toques de sino, centenas de pompas e solenidades.

 56ª Tese Os tesouros da igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecidos na Igreja de Cristo.

 57ª Tese É evidente que não são bens temporais, porquanto muitos pregadores não os distribuem com facilidade, antes os ajuntam.

 58ª Tese Também não são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto este sempre são suficientes, e, independente do papa, operam graça do homem interior e são a cruz, a morte e o inferno do homem exterior.

 59ª Tese São Lourenço chama aos pobres, os quais são membros da Igreja, tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época. 13

 60ª Tese Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, que lhe foram dadas pelo merecimento de Cristo.

 61ª Tese Evidente é que, para o perdão das penas e para a absolvição em determinados casos, o poder do papa por si só basta.

 62ª Tese O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus.

 63ª Tese Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.

 64ª Tese Enquanto isso o tesouro das indulgências é notoriamente o mais apreciado, porque faz com que os últimos sejam os primeiros.

 65ª Tese Por essa razão os tesouros evangélicos foram outrora as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.

  66ª Tese Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.

 67ª Tese As indulgências, apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça, decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.

 68ª Tese Nem por isso semelhante indulgência é a mais ínfima graça, comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.

 69ª Tese Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda reverência. 14

 70ª Tese Entretanto tem muito maior dever de conservar abertos os olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não apregoem os seus próprios sonhos.

 71ª Tese Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.

 72ª Tese Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.

 73ª Tese Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.

 74ª Tese Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob pretexto de indulgências, prejudicam a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agirem.

 75ª Tese Considerar a indulgência do papa tão poderosa, a ponto de absolver alguém dos pecados, mesmo que (coisa impossível de se expressar) tivesse deflorado a mãe de Deus, significa ser demente.

 76ª Tese Bem ao contrário afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo pode anular o menor pecado venial no que diz respeito a culpa que representa.

 77ª Tese Afirmar que nem mesmo São Pedro, se no momento fosse papa, poderia dispensar maior indulgência, constitui insulto contra São Pedro e o papa.

 78ª Tese Dizemos, ao contrário, que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o evangelho, dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1 Coríntios 12.6-9. 15

 79ª Tese Alegar ter a cruz de indulgências, erguida e adornada com as armas do papa, tanto valor como a própria cruz de Cristo é blasfêmia.

 80ª Tese Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas desta atitude.

 81ª Tese Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a indulgência, torna difícil até homens doutos defenderem a honra e dignidade do papa contra a calúnia e as perguntas mordazes e astutas dos leigos.

 82ª Tese Haja vista exemplo como este: Por que o papa não livra duma só vez todas as almas do purgatório, movido pela santíssima caridade e considerando a mais premente necessidade das mesmas, havendo santa razão para tanto, quando, em troca de vil dinheiro para a construção da basílica de São Pedro, livra inúmeras delas, logo por motivo bastante infundado?

 83ª Tese Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para esse fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou prebendas oferecidos em favor dos mortos, quando já não é justo continuar a rezar pelos que se acham remidos?

 84ª Tese E: Que nova santidade de Deus e do papa é esta a consentir a um ímpio e inimigo resgate uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não livrar esta mesma alma piedosa e amada por Deus do seu tormento por amor espontâneo e sem paga?

 85ª Tese E: Por que os cânones de penitência, isto é, os preceitos de penitência, que faz muito caducaram e morreram de fato pelo desuso, tornam a remir mediante dinheiro, pela concessão de indulgência, como se continuassem em vigor e bem vivos? 16

 86ª Tese E: Por que o papa, cuja fortuna é maior do que a de qualquer Creso, não prefere construir a basílica de São Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de cristãos pobres?

 87ª Tese E: Que perdoa ou concede o papa pela sua indulgência àqueles que pelo arrependimento completo tem direito ao perdão ou indulgência plenária?

 88ª Tese Afinal: Que benefício maior poderia receber a igreja se o papa, que atualmente o faz uma vez ao dia cem vezes ao dia concedesse aos fiéis este perdão a título gratuito?

 89ª Tese Visto o papa visar mais a salvação das almas mediante a indulgência do que o dinheiro, por que razão revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, quando tem sempre as mesmas virtudes?

 90ª Tese Desfazer estes argumentos muito sutis dos leigos, recorrendo apenas à força e não por razões sólidas apresentadas, significa expor a igreja e o papa ao escárnio dos inimigos e desgraçar os cristãos.

 91ª Tese Se, portanto, a indulgência fosse apregoada no espírito e sentido do papa, estas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido. 17

 92ª Tese Fora, pois, com todos este pregadores que dizem à igreja de Cristo: Paz! Paz! Sem que haja paz!

 93ª Tese Abençoados, porém, sejam todos os pregadores que dizem à igreja de Cristo: Cruz! Cruz! Sem que haja cruz!

 94ª Tese Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu Cabeça, Cristo, através da cruz, da morte e do inferno;

 95ª Tese E desta maneira mais esperem entrar no reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessas de paz infundadas.


IV. As reações papais às teses de Lutero

0 conhecimento da verdade adquirida por Lutero, já o fazia capaz para julgar os méritos da venda das indulgências pa­pais , as quais Lutero via como um verdadeiro assalto aos poucos recursos do po­vo, e completo desrespeito ao futuro eterno do povo alemão. Foi assim que em 31 de outubro de 1517, véspera do Dia de Todos-os-Santos, quando grande multidão comparecia à Igreja do castelo, na cidade de Wittenberg, que Lutero afixara na por­ta da catedral, as suas 95 teses, que denunciavam o abuso gritante da venda das indulgências papais.

Era esse o método mais comum de se anunciar uma disputa, nos meios universitários da época, e não havia nada de dramático no ato. Lutero cria que receberia o apoio do papa ao revelar os males da venda das indulgências.

Lutero jamais pôde imaginar a repercussão que as suas teses teriam. Myconius, um contemporâneo de Lutero, escreveu sobre as teses do reformador: "As teses, em apenas 15 dias percorreram quase toda a cristandade, como se os anjos fossem os mensagei­ros ." Inicialmente o papa achou graça nas teses de Lutero, dizen­do: "Um alemão embriagado escreveu-as." Mas não tardou para que ele mesmo tivesse que mudar de ideia e começasse a agir contra esse "monge rebelde".

 Lutero Intimado a Ir a Roma

A primeira atitude do papa Leão X foi intimar Lutero a com­ parecer em Roma. Mas o Eleitor da Saxônia, admirador da capacida­de do ilustre professor de sua Universidade, temendo por sua vi­da, resolveu protegê-lo, não permitindo que ele fosse a Roma, or­denando que o caso fosse resolvido mesmo na Alemanha. Seguiram-se as conferências de Lutero com os enviados do papa, que em nada puderam fazer Lutero mudar de opinião quanto a sua nova fé. Pelo contrário, em um debate em Leipzig, Lutero declarou que o papa não possuía autoridade divina e que os concílios eclesiásticos não eram infalíveis. Foram essas declarações que marcaram o rom­pimento de Lutero com a Igreja Romana.

Lutero no Centro da Batalha

Lutero agora estava no centro da batalha. Ele mesmo começava a ver a sua causa como uma causa de redenção nacional. Sua dou­trina de salvação e justificação pela fé estava produzindo efei­tos inimagináveis. Mas, só em 1520 é que Lutero revelou-se como um grande líder nacional, ao escrever o livro A Nobreza Cris­tã da Nação Alemã, através do qual proclama a queda das muralhas romanistas atrás da qual o papa havia construído seu poder.

 Logo após, Lutero escreveu outros livros como Cativeiro Babilônico da Igreja e Sobre a Liberdade Cristã. Lutero é Ameaçado de Excomunhão Enquanto era publicado o livro A Nobreza Cristã da Alema­nha, publicava-se na Alemanha a bula de excomunhão de Lutero, coisa que ele já esperava. A bula obrigava Lutero e os simpati­zantes da sua causa, a retratarem-se de suas "heresias" dentro de sessenta dias, e ainda determinava que se eles não o fizessem se­riam tratados como hereges, isto é, seriam presos e condenados à morte.

Pelas autoridades da Igreja foi ordenado ao povo que quei­masse os livros de Lutero, ação que foi posta em prática primei­ramente pelos legados do papa. A mesma coisa fez Lutero com os livros que continham os decretos do papa.

A 10 de dezembro de 1520, em Wittenberg, foi anunciado um acontecimento notável por Felipe Melanchton. Tinha vindo ele para ali, havia dois anos como professor de grego, tendo então vinte e um anos. Punha-se ele, com todas as suas forças, ao lado de Lute­ro.

Nesse anúncio convidava-se os estudantes para assistirem na­quele dia a queima dos "livros maus dos decretos papais e dos teólogos escolásticos". Diante de grande multidão de estudantes, professores, cidadãos de todas as classes, Lutero atirou à fo­gueira os livros e a então última de todas as bulas através das quais o papa ameaçava-o de excomunhão caso não se retratasse.

V. A excomunhão de Lutero

No mês de janeiro de 1521, o papa publicou a terrível sen­tença final, excomungando Lutero e condenando-o a todas as penalidades consequentes da sua heresia. Mas, para que esta bula tives­se efeito legal, dependia das autoridades civis para levar Lutero à morte. Desse modo, o caso tinha de ir a Dieta Imperial que de­veria se reunir naquele mesmo ano, em Worms. Era a primeira Dieta do governo do Imperador Carlos V, o qual estava sofrendo forte pressão do papa para condenar Lutero à morte. Citado a comparecer perante a Dieta, certo de que marchava para a morte, Lutero não temeu. Os amigos de Lutero insistiam para que ele se recusasse a ir a Worms - não foi João Huss entregue a Roma para ser queimado, apesar da garantia de vida dada pelo imperador?! Mas em resposta a todos que se esforçavam por dissuadi-lo de comparecer perante seus terríveis inimigos, Lutero, fiel à chamada de Deus, respon­deu: "Ainda que haja em Worms, tantos demônios quanto sejam as telhas nos telhados, confiando em Deus, eu aí entrarei". Depois de dar ordens acerca da continuação do trabalho, caso ele não voltasse mais, partiu resoluto.

Lutero Vai a Worms Durante a sua viagem a Worms, o povo afluiu em massa para ver o grande homem que desafiava a autoridade do papa. Em Mora, pregou ao ar-livre, porque as igre­jas não mais comportavam as grandes mul­tidões que queriam ouvir seus sermões.

 Ao avistar as torres dos castelos e igrejas de Worms, levantou-se na carruagem em que viajava e cantou o seu hino preferido, o mais famoso da Reforma: "Castelo Forte é o Nosso Deus." Ao entrar na cidade foi acompanhado por uma grande multidão. No dia seguinte foi levado perante o Impera­dor Carlos V, ao lado do qual se achavam o delegado do Papa, seis eleitores do império, vinte e cinco du­ques, oito margraves, trinta cardeais e bispos, sete embaixado­res, os deputados de dez cidades e grande número de príncipes, condes e barões. Lutero Busca Refúgio em Deus Sabendo que tinha de comparecer perante uma das mais impo­nentes assembleias de autoridades religiosas e civis de todos os tempos, Lutero passou a noite anterior em oração e vigília. Pros­trado com o rosto em terra lutou com Deus, chorando e suplicando. Um dos seus amigos ouviu-o orar assim: "Oh Deus Todo Poderoso! a carne ê fraca, o Diabo e forte! Ah, Deus, meu Deus! que perto de mim estejas contra a razão e a sabedoria do mundo. Fá-lo , pois somente Tu o podes fazer. Não a minha causa mas sim é Tua. Que tenho eu com os grandes da terra? É a Tua causa, Senhor, a Tua justa e eterna causa . Salva-me, oh Deus fiel! Somente em ti confio , oh Deus! Meu Deus... vem, estou pronto a dar, como um cordeiro, a minha vi­da. 0 mundo não conseguira prender a minha consciência ainda que esteja cheio de demônios; e, se o meu corpo tem de ser destruído, a minha alma te pertence , e es­tará contigo eternamente..."

,O Estímulo de Um Amigo Conta-se que no dia seguinte, na ocasião de Lutero transpor a porta para comparecer perante a Dieta, o veterano general Greudsburg, colocou a mão no ombro do Reformador e disse-lhes: "Pequeno monge, vais a um encontro diferente, do qual eu, ou qualquer outro jamais experimentamos, mesmo nas nossas conquistas mais ensanguentadas. Contudo, se a causa é justa, e sabes que o é, avança em nome de Deus, e não temas nada. Deus não te abando­nará" .

Quando o porta-voz do papa exigiu que Lutero se retratasse perante a assembleia, respondeu o Reformador: "Se não me refutardes pelo testemunho das Escrituras ou por argumentos - desde que não creio somente nos papas e nos concílios, sendo evidente que já muitas vezes se enganaram e se contradisseram uns aos outros a minha consciência tem de ficar submissa à Palavra de Deus. Não posso retratar-me, nem me retratarei de qualquer coisa, desde que não é justo, nem seguro, agir contra a consciência. Deus me aju­de . Amém" .

 Lutero é Livre da Morte

A sentença de morte contra Lutero teria de ser cumprida ra­pidamente, o que não aconteceu porque o príncipe da Saxônia, si­mulando um sequestro, enquanto Lutero voltava para Wittenberg, levou-o, alta noite, ao castelo de Wartburgo.

No castelo, Lutero passou muitos meses disfarçado; tomou o nome de cavaleiro Jorge, e o mundo o considerava morto. Contudo, no seu retiro, livre dos inimigos, foi-lhe concedida a liberdade de escrever, e o mundo logo soube, pela grande quantidade de literatura, que essa obra saíra da sua pena e que, de fato, Lutero vivia. Profundo conhecedor do grego e do hebraico, traduziu o Novo Testamento para a língua do seu povo, em apenas três meses. Pou­cos meses depois a obra estava impressa e nas mãos do povo. Con­tudo, a maior obra de toda a sua vida, sem dúvida, fora a de dar ao povo alemão a Bíblia na sua própria língua.


Estaremos de volta na próxima matéria sobre este assunto falando sobre: A extensão da reforma


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