segunda-feira, 29 de maio de 2023

Série: O Sermão do Monte (8) As Lições que aprendemos com o Sermão do Monte

 


Por: Jânio Santos de Oliveira

 Pastor e professor da Igreja evangélica Assembleia de Deus em Santa Cruz da Serra

Pastor Presidente: Eliseu Cadena

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Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!

 


Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra no Evangelho segundo Mateus 5: 1 – 11 que nos diz:

“E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”

 

Conteúdo da matéria

I.       As definições do sermão do Monte.

II.      O sermão do monte e o Antigo Testamento.

III.     As bem-aventuranças do sermão do Monte.

IV.     A Oração do Pai Nosso explicada.

V.      O Jejum conforme Jesus nos ensinou.

VI.     O não matarás e o Sermão da Montanha.

VII.    O Sermão do monte e o adultério.

VIII.   As Lições que aprendemos com o Sermão do Monte.

 

O Sermão da Montanha contém muitas lições e ensinamentos importantes que continuam a ser relevantes até hoje. Algumas das principais lições incluem:

 

1. Deus é justo e recompensador

Jesus ensinou que os que são pobres de espírito, que choram, que são mansos, que têm fome e sede de justiça, que são misericordiosos, puros de coração, pacificadores e perseguidos por causa da justiça, são bem-aventurados. Essas bênçãos são uma promessa de felicidade divina e recompensas para aqueles que seguem a Deus e praticam a justiça.

 

2. Ore e pratique

Jesus ensinou uma oração que é amplamente conhecida e recitada até hoje, a oração do Pai Nosso. Nesta oração, Jesus ensina aos seus seguidores a se dirigirem a Deus como um Pai amoroso e a pedir-lhe que perdoe os seus pecados, lhes dê o pão de cada dia e os guie no caminho da justiça.

 

A lição da oração do Pai Nosso nos ensina que a oração deve ser um estilo de vida. Ou seja, devemos viver o que oramos e orar o que vivemos. Um exemplo disso é o perdão. Jesus ensina que somos perdoados na maneira que perdoamos. “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.” (Mateus 6:12).

 

3. Ame de verdade

Jesus enfatizou a importância de amar o próximo e tratar os outros com amor e compaixão. Ele ensinou que amar a Deus e amar ao próximo são os dois maiores mandamentos.

 

Além disso, Jesus ensina sobre amar até os inimigos: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:43-44)

 

4. Não sejas como os hipócritas

Jesus advertiu contra a hipocrisia e o fingimento, e enfatizou a importância de ser autêntico e sincero em nossas ações e palavras.

“Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mt 6:2).

 “E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mt 6:5).

“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mateus 6:16).

5. Seja praticante da palavra

Jesus contou a parábola da casa construída sobre a rocha e a casa construída sobre a areia para ensinar a importância de construir nossa vida sobre uma base sólida e confiável, como a palavra de Deus. “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha.” (Mt 7:24).

 

Essas são apenas algumas das lições importantes do Sermão da Montanha. As palavras de Jesus continuam a inspirar e guiar muitas pessoas em todo o mundo até hoje.

Nesse Sermão, encontrei um guia para os aspectos essenciais da vida — nossos chamados, relacionamentos, práticas, escolhas. Do sexo à oração, de conflitos a bens materiais, o Sermão cobre os tópicos mais sombrios sem constrangimento ou subterfúgios. Nele, descobri que pessoas “pequenas” como nós são os agentes de mudança no mundo. E nele aprendi que, se colocarmos as palavras de Jesus em prática, teremos vidas resilientes — vidas que se recuperam depois da dificuldade.

A multidão se reúne nas exuberantes encostas ondulantes para ouvi-lo. Ele se assenta, tomando a posição costumeira de um mestre, e olha para muitos deles nos olhos. Há tanto a lhes dizer! Inspira profundamente e começa a falar. “Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus”.

Se você for como eu, provavelmente terá lido as Bem-aventuranças, no Sermão do Monte, como virtudes que Jesus quer que persigamos. Assim, achamos que Ele quer que sejamos humildes (Mt 5:5), que tenhamos fome de justiça (5:6), que sejamos misericordiosos (5:7), puros (5:8) e pacificadores (5:9). Todas essas são qualidades maravilhosas e elas são reforçadas em outros lugares das Escrituras. E, como o Sermão de Jesus tem tudo a ver com ação, esse é um jeito natural de ler esses versículos.

No entanto, se quisermos ser consistentes na leitura das Bem--aventuranças dessa forma, algumas dessas virtudes se tornam complicadas. Será que Jesus realmente quer que nos tornemos pobres (5:3), que choremos (5:4), que sejamos perseguidos e insultados (5:10-11)? Essa maneira de ler as Bem-aventuranças pode também nos levar a um entendimento da salvação, operada por Deus, como baseada nas obras: somente quando formos humildes, gentis, misericordiosos e assim por diante, Deus nos abençoará.

Talvez Jesus quisesse afirmar outra coisa. O relato das Bem-

-aventuranças em Lucas sugere que Jesus não estava falando para pessoas que se achavam pobres, famintas ou tristes, mas para aquelas que realmente o eram (Lc 6:17-23

Aqueles que se reuniram na montanha para ouvir Jesus falar compunham um grupo variado: não de pessoas felizes e bem-sucedidas do mundo, mas daqueles que experimentaram provações e problemas (Mt 4:23-25). Era este grupo de pessoas, aqueles que se reuniram diante dele, que Jesus abençoou: os empobrecidos econômica e espiritualmente (5:3), os abatidos (5:4), os simples (5:5), aqueles que buscavam a justiça, mas a quem ela fora negada (5:6), aqueles que mostravam misericórdia e viviam justamente (5:7-8), os pacificadores, em vez de políticos radicais (5:9), aqueles perseguidos por fazerem o certo ou por seguirem Jesus (5:10-11) — todas essas pessoas, que eram descartadas tanto pela sociedade secular quanto pela elite religiosa dos dias de Jesus. Para os líderes do mundo, que valorizavam a força em vez da humildade e a complacência com seus desejos em vez de rebelião pelo amor de Deus, pessoas com essas qualidades tinham pouco valor, mas elas eram muito valiosas para Jesus.

Se é isto que Jesus está dizendo, significa que Ele começa seu Sermão com uma ideia radical. Significa que Jesus ignora a lista de popularidade do mundo. Significa que Ele aceita todos os que a sociedade rejeita. As portas do Seu reino estão escancaradas para o doente, ignorante, feio, vitimado, machucado, esquisito, morador de rua, traficante, explorador, vigarista, viciados, ou instáveis emocionalmente; para você e para mim. Então, venha, venha como está!

Jesus nos recebe a todos.

Que grupo variado de pessoas é esse reunido na encosta ouvindo Jesus! Alguns são doentes, outros sofrem de convulsões e dores crônicas, alguns são paralíticos e outros possuídos por demônios (Mt 4:24). Jesus olha para todos eles e diz: “Vocês são o sal da terra” (5:13).

Centenas se reuniram lá, correndo de todos os cantos da região, para receber Sua bênção e obter a Sua cura. Há judeus de Jerusalém e Judeia, e até gentios de Hippos e Gadara.

 Jesus olha para eles e diz: “Vocês são a luz do mundo” (5:14).

Sal da terra, luz do mundo. Sério, Jesus? O Senhor tem certeza disso? Que efeito poderia este bando de camponeses ter sobre qualquer coisa? Esses insignificantes? Esses gentios? Essa gente comum? Ele já os tinha abençoado mesmo sendo pobres, mansos, misericordiosos, humildes, tristes, repugnantes e oprimidos. Que tipo de influência poderia essa gente ter num mundo que favorece poder e status? Talvez Cristo só estivesse querendo ser legal com eles, dizendo coisas bondosas para aumentar sua autoestima.

 

Não, Ele não está fazendo isto. Logo, Jesus lhes dirá algumas coisas duras também. Jesus não está tolerando qualquer senso de vitimização psicológica aqui. Ele está lhes dizendo a verdade como Ele a vê — dizendo-lhes a verdade. Aqueles insignificantes são o sal que dará sabor e preservará a sociedade. Esses humildes são luzes que atrairão as pessoas para Deus. Essas pessoas comuns são os agentes escolhidos por Deus para trazer novamente harmonia para o mundo de acordo com o Seu plano. Como a história conta, logo eles virarão o mundo de cabeça para baixo (At 17:6).

 

Em nossos momentos de desespero — quando nos sentimos com baixo desempenho e uns “zés-ninguém”, com falta de popularidade, plataforma, poder político ou perfil, achando que não exercemos qualquer influência no mundo e que temos pouco a oferecer a Deus —, vamos lembrar quem Jesus proclamou como os reformadores do mundo: os pequenos, gente comum, agricultores, suburbanos, os humildes. Não a elite ou poderosos ou os mais inteligentes da turma. Tudo o que esses pequenos tinham era a bênção de Jesus, uma santa distinção, atos luminescentes de amor e o Senhor como seu ponto central.

A moeda de influência no reino de Deus não é poder no mundo, mas proximidade de Jesus. Seja qual for a quantidade de nossos dons, talentos, energia ou influência, Ele nos faz sal e luz, fazendo Sua obra através de nossas mãos, dando-nos um chamado na vida que não é nada menos que grandioso.

Lá no seu íntimo há um lugar santo — o lugar dos seus desejos mais profundos e do seu verdadeiro eu; um lugar onde Deus vem habitar e falar. Esse lugar é mais profundo que suas emoções, embora afete o que você sinta; é mais profundo que seus pensamentos, embora molde suas ideias e seu falar. É o lugar onde as crenças residem e de onde as ações brotam. É o centro da sua existência.

Algumas pessoas o chamam de alma, outros de ego. Jesus o chama de coração, enquanto está assentado na encosta olhando para baixo, para as planícies gramadas até a direção do mar da Galileia, e examinando o povo que se reunia diante de si — pais, mães, irmãs, irmãos, colegas e amigos, numa rede de relacionamentos—, Ele os relembra, com palavras bem fortes, da importância do coração.

Os líderes religiosos nos dias de Jesus, os fariseus, eram peritos em boas obras. Eles calcularam os 613 mandamentos dentro da lei judaica e aspiravam a obedecer a todos. Mas, para muitos deles, sua experiência é na conformidade externa em vez da pureza de coração. Eles não matam, mas odeiam (Mt 5:21-22; 43-44). Não cometem adultério, mas cobiçam (5:27-28). Eles dão aos pobres, mas o fazem para parecerem bons (6:1-2). Fazem as coisas certas, mas partindo de seu coração mau, e Jesus chama Seu povo para um padrão mais alto que esse (5:20). As obras importam, mas os motivos importam mais.

Devemos amar a Deus de todo o nosso coração. As palavras de Deus devem tocar fundo nos nosso coração (Lc 8:15). Nossos tesouros revelam o estado do nosso coração (Mt 6:21). Uma pessoa boa produz coisas boas, que brotam de seu coração (12:35). As palavras de nossos lábios refletem o que está em nosso coração (15:18-19).

E isso será aparente em tudo o que Ele diz a seguir sobre ira, cobiça e seu potencial destrutivo em suas amizades, casamentos e comunidades. Devemos ser pessoas íntegras, Ele diz, tendo congruência entre os motivos e as ações.

 

Isso pede uma reflexão cuidadosa de você e de mim, pois nós também podemos ser como aqueles que Jesus criticou. Em vez de servir aos outros voluntariamente, podemos ajudar para conseguir alguma coisa em troca. Podemos nos opor a decisões políticas imorais por ódio e não por amor. Podemos doar para a caridade somente para melhorar nossa imagem pública. Como T. S. Eliot disse, a maior traição é fazer a coisa certa pela razão errada. Mas tenha o coração certo e as coisas boas virão.

E agora Jesus fala sobre “o coração” de nossa espiritualidade. O momento é perfeito. Depois de esboçar Sua ética moral radical, Jesus explora as práticas que ajudam a nos moldar em pessoas que possam vivê-la. Ele examina o doar, a oração, o jejum, a confiança e como nós lidamos com os bens e a correção. Ações como essas moldam nosso coração e caráter. É por isso que nós as chamamos de “práticas espirituais.”

No coração de toda espiritualidade está a adoração. E no coração da verdadeira adoração está o amor a Deus, que transborda em amor pelos outros. A linha cintilante da lei do amor deve ser tecida através de nossas práticas espirituais também. Jesus assinala essas coisas e, ao mesmo tempo, algumas tendências corruptas a serem evitadas.

Todo o nosso doar, orar, jejuar e confiar deve ser centrado em Deus nosso Pai. Jesus falará muito sobre isso — sobre em quem nossas práticas devem ser focadas. A espiritualidade não tem a ver apenas com o benefício para nós, mas o benefício para o nosso próximo. Esse é o aspecto do porquê, o qual Jesus mostrará que é também vulnerável a sequestro. Podemos doar para sermos elogiados, orar para sermos aplaudidos, jejuar para sermos congratulados — em resumo, podemos parecer espirituais só para sermos admirados.

“Tenham cuidado!”, Jesus diz na introdução desta parte do Sermão, “de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial” (Mt 6:1). Esse será um refrão comum no que Ele vai dizer em seguida. Porque, embora a espiritualidade seja popular hoje, muito dela é centrada em nós mesmos. E, mesmo que as boas obras sejam sempre bem-vindas no mundo, o potencial para hipocrisia nunca está muito longe. Então, Jesus agora ajusta nossas práticas espirituais.

No cerne delas, elas são um ato de adoração. Uma adoração centrada em Deus que inspira o amor aos outros.

Quando criança, eu queria ser muitas coisas —, mas, quando cheguei na adolescência, desejava ser DJ numa casa noturna. Poupei e comprei alguns equipamentos. Aprendi a mixar, arranhar e a fazer outros truques que os DJs faziam. Montei minha coleção de músicas, aprimorei minhas habilidades e comecei a frequentar alguns clubes e ia bem nas competições. Quando tinha 19 anos, meu sonho leviano de ser DJ começava a se tornar realidade.

Aí, tornei-me cristão e logo entendi que casas noturnas não faziam parte dos planos de Deus para mim. Saí de cena, vendi meu equipamento e comecei a me perguntar o que Deus queria para minha vida. Eu não tinha a mínima ideia. Então, comecei a orar pedindo direcionamento.

Orei diligentemente por meses. Eu sabia que queria servir a Deus, mas não sabia como. Na escola eu era bom em artes, então pensei em estudar design gráfico. Eu tinha interesse em produção musical, então pensei em estudar isso também. Se fosse para servir como missionário, eu orava para saber para onde. No caso de Deus querer me usar onde eu trabalhava, também considerava opções aqui.

O primeiro vislumbre de direcionamento surgiu quando eu ouvi sobre uma rede de rádio cristã compartilhando o amor de Deus no estrangeiro. De repente, meu coração bateu ligeiro, o que foi uma surpresa, pois eu nunca tive interesse pelo rádio. Orei a respeito disso, mas não ouvi nenhuma voz do Céu, nem um sinal no Céu confirmando que eu deveria prosseguir nesse caminho. Dois anos depois, e ainda não tinha uma direção clara para minha vida.

Foi quando li as palavras de Jesus sobre pedir, buscar e bater. Jesus havia nos convidado ao Seu reino, nos dado um chamado, ensinado como amar e demonstrado o que era a verdadeira espiritualidade. Agora, neste ponto de Seu Sermão, Ele nos mostra como fazer boas escolhas num mundo de opções, distrações, tentações e falsos guias. O primeiro passo para esse direcionamento é a oração — com expectativa, persistente, uma oração dirigida a ação. “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta” (Mt 7:8).

Foi quando eu entendi! A vida com Deus requer tanto a oração quanto a ação. Quando Isaque precisava de uma esposa, o servo de Abraão orou e começou a busca (Gn 24). Quando Neemias precisou de proteção, ele orou a Deus e colocou um guarda (Ne 4:9). Quando Jesus alimentou as multidões, Ele orou e distribuiu o pão (Mt 14:19-20). Eu havia orado por direcionamento, mas fiquei esperando no meu quarto por uma epifania. Orei, mas não agi. Pedi, mas não bati.

Então fiz algumas pesquisas, alguns telefonemas, escrevi algumas cartas e tive algumas conversas. Se aquele coração batendo forte era um sinal, eu deveria servir a Deus através da rede de rádio. Eu tinha que aprender sobre o rádio, obter algum treinamento bíblico e ter dinheiro para fazer ambos. Em uma das experiências de direcionamento mais memoráveis da minha vida, tudo isso aconteceu em um dia, depois daquelas semanas que coloquei a ação após as minhas orações.

Jesus não nos diz para orar e esperar. Ele diz: peça, busque e bata — aja! O princípio se aplica a qualquer oração que fazemos e particularmente quando fazendo escolhas importantes para nossa vida. Como um amigo me disse certa vez: “Deus move um barco em movimento”.

Nos últimos anos, pesquisadores começaram a investigar os fatores que levam à resiliência humana. Depois de um trauma físico, emocional ou espiritual, o que ajuda alguém a se recuperar ao invés de sucumbir? Os estudos sugerem que há quatro fatores principais.

O primeiro fator é a aptidão emocional, a capacidade de ampliar emoções positivas como paz, gratidão, esperança ou amor, enquanto gerencia as negativas como amargura, tristeza ou raiva. O segundo é a aptidão familiar, ter casamentos e relacionamentos fortes construindo confiança, gerenciando conflito e estendendo perdão. O terceiro é a aptidão social, ter boas amizades e bons relacionamentos de trabalho desenvolvendo empatia e inteligência emocional. E o quarto é a aptidão espiritual, definida como um senso de significado e propósito que vem de servir a alguém maior do que nós mesmos.

Não demora muito para que vejamos que o Sermão de Jesus nos fortalece em todas as quatro áreas. Somos fortalecidos emocionalmente sendo os “abençoados” que são confortados em nosso luto, cuidados pelo Pai, recebendo esperança para o futuro e equipados para administrar a raiva e a preocupação. Somos fortalecidos nos relacionamentos, vivendo com fidelidade, perdão, honestidade e graça. Somos fortalecidos socialmente, vivendo a Regra de Ouro, a melhor maneira de desenvolver empatia. E somos fortalecidos espiritualmente, servindo Aquele que é maior que tudo, que nos dá a missão de ser sal, luz e amor no mundo.

Deixe-me dizer uma coisa: nós não desenvolvemos resiliência somente ouvindo ou lendo sobre ela. Desenvolvemos resiliência através da ação. Descobertos os fatores que nos levam a ela, os colocamos em prática e desenvolvemos nossa aptidão. Agora Jesus diz o mesmo: Não é suficiente ouvir Seus ensinamentos ou mesmo crer que são verdadeiros. Devemos colocá-los em prática (7:24-27).

 

A maioria dos cristãos de hoje tem uma oportunidade sem precedentes para ouvir as palavras de Jesus. Podemos descer a rua e encontrar uma igreja ou baixar horas e horas de sermões do nosso pregador favorito. Podemos ler a Bíblia em nossa própria língua, em várias versões; podemos comprá-la com capa mole, letras vermelhas ou edições mais finas; ouvir gravações da Bíblia ou assistir a dramatizações. Podemos assistir ao Natal na TV, ouvir música cristã no rádio, ler blogs cristãos, baixar música cristã; comprar calendários, camisetas, canecas e ímãs de geladeira adornados com versículos bíblicos para sermos imersos na Palavra. Mas Jesus diz que tudo conta como nada se não agirmos segundo o que ouvimos.

A resiliência é provada em tempos de dificuldades. Quando a chuva vem em torrentes, as águas de inundação sobem e os ventos batem contra nós, recuperamo-nos ou sucumbimos? A chuva certamente virá — temporais de perda, traição, enfermidade, tragédia, ataques à nossa fé ou dificuldades menores —, e o tempo para desenvolver força é antes que as primeiras gotas caiam. Jesus diz que aqueles que escutam, mas não agem de acordo com Suas palavras constroem sua vida na areia. Sem uma fundação adequada, eles vão ter problemas. Mas aqueles que agem segundo as palavras de Jesus constroem uma base para sua vida que resistirá aos ventos mais violentos (7:26-27).

Para muitos de nós, escutar outro sermão ou ler outro livro cristão é a última coisa que precisamos fazer. Pare o podcast, feche o livro (mesmo que seja este). Vá e aja! Transforme as palavras de Jesus em obras. Faça o que o Sermão o está chamando para fazer.

Por que o Sermão do Monte é tão importante?

“Por isso também Deus o exaltou sobremaneira, e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e que toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”. (Fp 2:9-11)

 

A autoridade de Deus cobriu a encosta do mar da Galiléia, enquanto Jesus ensinava o Sermão da Montanha . Este trecho da bíblia é importante porque solidifica a identidade de Cristo e a nossa nele.

“Alguns constroem suas esperanças na prosperidade mundana; outros em uma profissão externa de religião”, explica Matthew Henry em seu comentário.

Nossa esperança não está neste mundo, ou em qualquer coisa que ele possa nos oferecer. Nossa alegria e paz em Cristo são eternas. A vida na terra será difícil, dolorosa e injusta às vezes. Mas nada que este mundo possa jogar em nós pode superar o amor de Cristo que reside em nossas próprias almas.

Somos selados, Seus para sempre, e para sempre livres por causa de Seu sacrifício por nossa salvação.

Quando memorizamos alguns versículos da bíblia, ela se infiltra em nossos corações e mentes de uma forma que nunca seremos capazes de entender completamente. Um estudo diligente e diário da Palavra de Deus nos prepara e nos refina. Crescemos em sabedoria ao olharmos para a Palavra de Deus.

O Sermão da Montanha nos encoraja e nos convence! Mas a coisa mais incrível que obtemos dessa passagem é uma imagem melhor de Jesus, Sua autoridade e uma apreciação mais profunda da divindade sobrenatural que reside em cada seguidor de Cristo.

É Ele, fluindo através de nós, que realiza qualquer “bem” que fazemos.

Série: O Sermão do Monte (7) O Sermão do monte e o adultério

 Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!

 


Nesta oportunidade estaremos abrindo a Palavra de Deus que se encontra no Evangelho segundo Mateus 5: 1 – 11 que nos diz:

“E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”

 

Conteúdo da matéria

I.       As definições do sermão do Monte.

II.      O sermão do monte e o Antigo Testamento.

III.     As bem-aventuranças do sermão do Monte.

IV.     A Oração do Pai Nosso explicada.

V.      O Jejum conforme Jesus nos ensinou.

VI.     O não matarás e o Sermão da Montanha.

VII.    O Sermão do monte e o adultério.

VIII.   As Lições que aprendemos com o Sermão da Montanha.

 

Sabemos que Jesus não veio ao mundo para revogar a lei, mas, sim, para cumpri-la. Nesse sentido, é inadmissível a ideia de acrescer ou diminuir qualquer mandamento à lei:

 

“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4:2);

 

“Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30:6).

Se a multidão entendesse que, no Sermão do Monte, Jesus estivesse acrescentando à lei um novo mandamento, por menor que fosse o mandamento ou, proposta de alteração, não sofreriam o discurso passivamente.

Por que a multidão não se enfureceu e se arremeteu contra Cristo, ao ouvir o Sermão da Montanha? Jesus estava apresentando ao povo um novo código moral e de condutas, em substituição à lei?

Que ênfase considerar, ao ler o discurso de Jesus?

 

1. Adultério

“Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para cobiçá-la, já, em seu coração, cometeu adultério com ela” (Mateus 5:27-28)

Jesus aponta outro ponto da lei: “Ouvistes o que foi dito: Não adulterarás” (Mt 5:27), em seguida, alerta que não bastava aos seus ouvintes absterem-se das relações sexuais ilícitas, pois, qualquer que atentar para uma mulher para cobiçá-la, em seu coração já adulterou!

“Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para cobiçá-la, já, em seu coração, cometeu adultério com ela” (Mt 5:28).

Por que Jesus cita a lei e, em seguida, apresenta regras próprias mais rígidas que a lei?

“Eu, porém, vos digo…”

O ensinamento de Jesus era totalmente diferente dos seus antecessores. Os escribas e fariseus enfatizavam a lei, Cristo enfatiza os seus ouvintes, perante a lei.

Para compreender a proposta de Jesus, em relação ao adultério, temos de considerar o seu alerta, no início do discurso à multidão, que eles precisavam de justiça superior à dos escribas e fariseus, a fim de terem direito a entrar no reino dos céus.

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder à dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mt 5:20).

Como alcançar justiça superior à dos escribas e fariseus, se tudo o que faziam, segundo a lei, os publicanos faziam exatamente o mesmo?

 

“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos, também, o mesmo? E se saudardes, unicamente, os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos, também, assim?” (Mt 5:46-47).

O motivo de Jesus ter apresentado a lei e, em seguida, apresentado a sua determinação, visava alcançar a compreensão dos seus ouvintes, que se achavam  justos, por ouvirem a lei, porém, os publicanos que eles consideram pecadores faziam exatamente o mesmo!

Os judeus amavam aqueles que os amavam, saudavam aqueles que os saudavam, e se achavam justos diante de Deus, por causa da lei. O que os ouvintes de Jesus faziam a mais que os seus concidadãos cobradores de impostos?

O pensamento do fariseu – da parábola – que foi ao templo orar e deu graças por não ser como os demais homens: roubadores, injustos e adúlteros e nem mesmo como o publicano, além de jejuar duas vezes na semana e dar os dízimos de tudo quanto possuía (Lc 18:11-12), era a tônica dos ouvintes de Jesus.

O fariseu da parábola não roubava, não era ‘injusto’ e não adulterava, e mesmo assim, não voltou para casa justificado. Por quê? Porque o fariseu não tinha a justiça superior que o permitiria entrar no reino dos céus (Lc 18:11).

Se os ouvintes de Jesus desejavam justiça superior à dos escribas e fariseus, não deveriam fazer tão somente o que os fariseus faziam: não adulterar. Em face da necessidade dos seus ouvintes, é que entra a proposta de Jesus: nem mesmo poderiam atentar para uma mulher para a cobiçar, pois já teriam cometido adultério no coração (Mt 5:28).

 

Se fossem capazes de fazer o que Jesus estava ordenando, adotando uma regra de conduta superior à dos escribas, fariseus e publicanos, em relação ao adultério, quiçá alcançassem a justiça superior à dos seus líderes religiosos, que os permitisse entrar no reino dos céus.

Arranque o olho que escandaliza

“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros, do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca, do que seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mt 5:29-30).

Jesus apresenta uma solução aos que se deixassem levar pela concupiscência dos olhos:

– “Arranca-o e atira-o para longe de ti”!

Se o olho dos ouvintes de Jesus os fizesse tropeçar, de modo que atentassem para uma mulher e a cobiçasse, a proposta de Jesus é: arranca-o e atira-o para longe de ti! Quem dentre os ouvintes de Jesus, a pretexto de não ir para o inferno, teria coragem de arrancar um dos seus olhos?

Arrancar o olho, após incorrer no erro de atentar para uma mulher, para cobiçá-la, é uma proposta diferente à prática proposta pelos escribas e fariseus! Para alguém que necessita de justiça superior à dos escribas e fariseus, a fim de ter direito a entrar no reino dos céus, é melhor que se perca um dos seus membros, do que ser lançado todo o corpo no inferno.

 

Satisfazer qualquer exigência necessária, para se alcançar justiça superior à dos escribas e fariseus, a fim de entrar nos céus, deve ser a meta do homem e se alguma coisa o faz tropeçar (escandalizar), que seja removido. Se a mão direita é causa de tropeço, que seja cortada e lançada para longe! É melhor perder um membro, do que ter o corpo inteiro lançado no inferno.

“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti” (Mt 5:29).

 

A proposta de Jesus é prescritiva de comportamento, visando estabelecer uma moral superior à dos escribas e fariseus ou, visa provocar nos seus ouvintes uma mudança de pensamento (arrependimento/metanoia)?

2. O divorcio

“Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério e qualquer que casar com a repudiada, comete adultério” (Mateus 5:31 -32).

 

Os judeus tinham ouvido que, aquele que deixasse a sua esposa, que lhe desse carta de divórcio. Mas, para produzir uma mudança de concepção nos seus ouvintes, acerca da justiça de Deus, Jesus alerta que, qualquer que se divorcia de sua mulher, a não ser por imoralidade por parte dela, faria com que tanto a mulher repudiada, quanto quem se casasse com ela, cometessem adultério.

Jesus estava ab-rogando a lei dada por Moisés? O que Jesus intentava, ao anunciar que, o que estava estabelecido na lei, era pouco? Sabemos que qualquer alteração em uma lei estabelece uma nova, revogando a antiga, mas esse não era o objetivo de Jesus, pois Ele mesmo disse:

“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir” (Mt 5:17).

Considerando que Jesus estava falando ao povo e que ele nunca falava ao povo sem parábolas (Mc 4:34), certo é que a proposta de Jesus não era impor novas regras sociais acerca da união conjugal aos seus ouvintes, antes, a proposta é apresentar uma grande parábola, que conduzisse os seus ouvintes a compreenderem a necessidade de se buscar o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6:33), pois, somente a justiça de Cristo, o reino de Deus, é superior à justiça dos escribas e fariseus.

Devemos considerar que Jesus não veio anular, omitir ou acrescentar o estabelecido pelos profetas, portanto, é contra senso entender o anunciado no Sermão da Montanha, como sendo uma ‘nova moral’, pertinente ao reino de Deus.

“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4:2).

Embora o Senhor Jesus fosse o Verbo eterno encarnado, na condição de Filho, não tinha autonomia para alterar o estabelecido por Deus pois, na sua primeira vinda, se fez servo.

 

3. Juramentos

“Outrossim, ouvistes o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao SENHOR. Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque, o que passa disso, é de procedência maligna” (Mateus 5:33– 37).

Em seguida, Jesus aborda a questão dos juramentos, destacando o que dizia a lei: “Outrossim, ouvistes o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao SENHOR” (Mt 5:33) para, em seguida, proibi-los de jurar, visto que não pertenciam aos ouvintes de Jesus as coisas sagradas que eles evocavam nos juramentos.

Como jurar por algo que não lhe pertence, como os céus, o trono de Deus? Como jurar pela terra, se ela pertence a Deus? Como jurar pela cidade santa, se ela pertence ao Messias? Como jurar por algo que o homem tem por seu, que é o cabelo da sua cabeça, se nem poder tem para mudar a cor do seu cabelo?

Deus já havia salientado na lei que a terra lhe pertencia e o povo havia votado que fariam o que Deus ordenara:

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel. E veio Moisés, chamou os anciãos do povo, e expôs diante deles todas estas palavras, que o SENHOR lhe tinha ordenado. Então todo o povo respondeu a uma só voz e disse: Tudo o que o SENHOR tem falado, faremos. E relatou Moisés ao SENHOR as palavras do povo” (Ex 19:5-8).

Deus não está interessado em que o homem faça votos, mas,  que cumpra o que já havia votado, que é obedecer à Sua palavra.

“Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade” (Tg 2:12).

Jesus orienta os seus ouvintes a terem uma palavra firme e segura, pois os profetas já haviam alertado que a palavra deles era ‘sim’, mas que não punham por obra o que diziam.

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” (Is 29:13).

Quem honra com a boca, mas não obedece a Deus, é de procedência maligna: “Ai, nação pecadora, povo carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores; deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás”  (Is 1:4).

4. Talião

“Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes” (Mt 5:38-42).

 

Jesus continua o seu discurso, evidenciando um princípio da lei: “Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé…” (Ex 21:24) e ordena aos seus ouvintes que não resistam aos homens violentos. Que, caso fossem agredidos em uma das faces, que oferecessem a outra.

Nesse mesmo diapasão, se alguém reclamasse aos ouvintes de Jesus a túnica (vestido) litigiosamente, que deixassem o adversário levar a capa também. Ou, se alguém exigisse dos ouvintes de Jesus que se andasse uma milha, que se dispusessem a acompanhá-lo, também, por duas. Ou, se alguém pedisse algo, que dessem o que foi pedido e, jamais deixassem de emprestar a qualquer que lhe pedisse.

O que Jesus pretendia com esse discurso? Mudar as regras que disciplinavam as relações sociais? Dar a outra face ou, entregar a capa a quem quer a túnica, para obter salvação? Dar a quem pede e não negar a quem pede emprestado, para obter direito à salvação? É certo que não!

Jesus pretendia mudar a lei de Moisés, que é prescritiva de comportamento e disciplina as relações sociais em seus vários aspectos: casamento, divórcio, empréstimo, penhor, guerra, etc.? (Ex 24:1-22) O que foi estabelecido por Deus como preceito em Israel não era justo? A lei não disciplinava o princípio expresso na máxima da lei do talião: paridade entre ofensa e retribuição? É certo que sim!

No seu discurso Jesus busca provocar no povo uma mudança de concepção, pois, ao apresentar a necessidade de uma justiça maior que a dos escribas e fariseus, deixa claro que é impossível alcançar tal justiça através da total abnegação.

 

Se os fariseus e os escribas, pelas obras da lei não tinham direito a ver o reino dos céus, que ações meritórias o povo deveria praticar, de modo que fosse possível suplantar a justiça dos seus líderes religiosos?

“Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça” (Rm 9:31).

Muitos veem na sugestão de ‘dar a outra face a quem ferir’, o pináculo da sabedoria contida na doutrina de Jesus. No entanto, Jesus estava somente apresentando várias situações que colocam em xeque a religião judaica, visto que os publicanos e os gentios tinham o mesmo comportamento que os escribas e fariseus e eram tidos por pecadores.

A sabedoria de Jesus está, não em dar a outra face a quem agredir mas,  na pergunta que produz a metanoia (arrependimento):

5. O amor ao próximo

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos, também, o mesmo? E, se saudardes, unicamente, os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos, também, assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:43-48).

 

É cediço que o amor ao próximo é o cumprimento da lei:

 

“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor, com que vos ameis uns aos outros; porque, quem ama aos outros, cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13:8-10).

Mas, qual o objetivo de Jesus em lembrar ao povo o que constava na lei?

“Amará o teu próximo e odiarás o teu inimigo” (Mt 5:43).

Por que Ele dá a ordem:

“Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5:44)?

Basta alguém amar o seu inimigo, que alcançará a filiação divina? Uma oração em favor dos que perseguem, é suficiente para a pessoa ser declarada um dos filhos de Deus? Absolutamente, não!

As ações que Jesus recomenda à multidão tinham por objetivo mudar a concepção dos seus ouvintes, não impor-lhe, novas regras sociais. Para os ouvintes de Jesus entrarem no reino dos céus, o exigido por Deus era justiça superior à dos escribas e fariseus e, por isso, Ele ordena a amar os inimigos, pois, só amando ao próximo, a justiça alcançada não suplantaria a dos escribas e fariseus.

 

Somente praticando ações superiores às praticadas pelos escribas e fariseus, é que os ouvintes de Jesus seriam tidos por filhos de Deus, visto que a lei deixa claro que os filhos de Israel não eram filhos, mas, uma mancha.

“Corromperam-se contra ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é” (Dt 32:5; Is 30:9).

Se os ouvintes de Jesus queriam alcançar a filiação divina, ou seja, terem justiça maior que a dos escribas e fariseus, as suas ações deveriam ser da mesma natureza do Pai celeste, que não faz acepção de pessoas: faz nascer o sol sobre grandes e pequenos e faz vir chuva sobre justos e injustos.

Partindo do pressuposto de que quem faz somente o que é ordenado não passa de servo inútil, que recompensa alguém teria ao fazer somente o estabelecido na lei?

“Assim, também, vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17:10).

Tudo o que foi exposto por Jesus, desde o verso 21, deve ser considerado segundo o prisma dessa pergunta fundamental:

“Pois, se amais os que amam a vós, que recompensa tendes? Não é assim que os publicanos também fazem?”, ou:

“E se saudais apenas os seus irmãos, o que a mais fazeis? Não é assim que os gentios também fazem?” (Mt 5:47).

Conforme apontado pelo apóstolo Paulo, os filhos de Israel se achavam melhores que os gentios (Rm 3:9), e Jesus apresenta várias ações ao povo que, caso quisessem ser diferentes dos publicanos e gentios, deveriam considerar praticar.

Os filhos de Israel queriam ser recompensados com o reino dos céus somente amando àqueles que os amavam, dai a sugestão: amai os vossos inimigos! A proposta de Jesus ante a má compreensão dos judeus, acerca das coisas de Deus, foi apresentar um comportamento diferente da dos publicanos e gentios: dê a outra face, a qualquer que ferir a sua face!

Ir à sinagoga com os concidadãos e saudá-los nas praças não era algo que pudesse diferenciá-los dos gentios, pois os gentios também se portavam dessa forma. Através dessa abordagem, Jesus queria que considerassem que, somente ouvir a lei, não torna ninguém justo (Rm 2:13) e que os gentios, apesar de não terem a lei de Moisés, naturalmente, faziam as mesmas coisas que constavam da lei (Rm 2:14).

Ora, só é justificado quem pratica a lei (Rm 2:13) e como nenhum dos ouvintes de Jesus cumpriam, totalmente, a lei (Jo 7:19), nenhum deles era melhor que os gentios, portanto, também, não podiam herdar o reino dos céus. Devemos considerar que, se o homem tropeça em um só quesito da lei, é transgressor de toda a lei.

“Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg 2:10).

Para os ouvintes de Jesus alcançar justiça superior à dos escribas e fariseus, precisavam ser perfeitos, como o pai Abraão:

“Sede vós, pois, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:48).

Como ser perfeito diante de Deus? Basta andar na presença de Deus, assim como Deus ordenou a Abraão:

 “Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito” (Gn 17:1; Dt 18:13).

O homem jamais será perfeito, de modo a ser possível andar com Deus, antes, por andar com Deus é que o homem alcança a perfeição, assim como aconteceu com Enoque, Noé e Abraão (Gn 5:24; Gn 6:9).

A mensagem de Jesus no Sermão da Montanha estava preparando o povo para a seguinte ordem:

“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me” (Mt 19:21).

Só os que estão em Cristo são perfeitos, verdadeiros filhos do crente Abraão:

“E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade” (Cl 2:10; Gl 3:7).

Através dessa releitura do Sermão da Montanha, percebe-se que a proposta de Jesus visava causar nos seus ouvintes uma mudança de concepção, o tão apregoado ‘arrependimento’!

A mensagem de Jesus não visava mudança de comportamento, mas, uma mudança de compreensão à vista do Cristo, o reino de Deus.

“Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mt 4:17).

A ênfase do discurso do Sermão da Montanha não é moralizante, antes uma repreensão aos filhos de Israel por entenderem que eram melhores que os gentios por descenderem de Abraão, e que não precisavam de arrependimento (metanoia). A ênfase do discurso é sublinhada pelo publico alvo da mensagem, que no caso do Sermão da Montanha tinha por alvo os filhos de Israel, e não os membros do Corpo de Cristo, a Igreja ou os gentios não convertidos.

O capítulo 6 do evangelho, segundo Mateus, é continuação do Sermão da Montanha, portanto, para interpretá-lo e compreendê-lo, se faz necessário considerar os princípios que norteiam o discurso de Jesus.

Em primeiro lugar, é necessário considerar o público alvo do discurso, pois Jesus só falou, por parábolas, à multidão: “E sem parábolas nunca lhes falava.” (Mc 4:34; Mt 13:13)

Em segundo lugar, é necessário considerar que a justiça dos seus ouvintes deveria ser superior à de seus mestres (Mt 5:20),  portanto, as práticas dos ouvintes de Jesus não deveriam ser as mesmas práticas dos escribas e fariseus, vez que elas não concedem a justiça, que dá direito ao reino dos céus.

Em terceiro lugar, é necessário considerar as suas ações, sob o prisma da pergunta: ‘Que fazeis de mais?’, ou ‘Não fazem os publicanos e pecadores, também, o mesmo?’, visto que praticavam ações semelhantes àqueles que condenavam e achavam que tinham direito ao reino dos céus. (Mt 5:46-47)

Após redarguir a multidão, com base em questões da lei, o Senhor Jesus passa a questionar as práticas religiosas (esmola, oração e jejum) dos seus ouvintes. (Mt 5:21-48)

 

6. Esmolas

“GUARDAI-VOS de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.” (Mateus 6:1-4)

Após demonstrar a impossibilidade de seus interlocutores alcançarem justiça superior à dos seus líderes religiosos, através da lei, Jesus passa a abordar algumas práticas religiosas do judaísmo. A forma como a prática das esmolas era realizada é a primeira questão religiosa a ser analisada.

É importante notar que, logo após orientar os seus ouvintes a serem perfeitos, como o Pai celestial, Jesus instrui a multidão a não esmolar, com o fito de serem notados pelos religiosos, alertando que, quem dá esmola diante dos homens, não será recompensado por Deus. (Mt 5:48)

Jesus salienta que os hipócritas (líderes religiosos), tanto nas sinagogas, quanto nas ruas, procuravam dar esmolas diante de uma plateia, como quem toca uma trombeta, chamando a atenção para si, no momento que iam esmolar, somente para serem reverenciados pelos seus pares, pela prática. A atenção destes, já era recompensa bastante para os hipócritas.

Jesus não proibiu a prática religiosa de esmolar, mas orientou a multidão que, se fosse dar esmolas, que o fizesse em oculto, ou seja, sem chamar a atenção (não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita), pois, Deus é conhecedor de todas as coisas e é Ele que recompensará publicamente o doador.

Dar esmolas é uma prática humanitária adotada pelas religiões e por  seus seguidores. Jesus não condena quem dá donativos aos seus semelhantes, porém, qualquer que pensa que alcançará a salvação por meio dessa prática, precisa mudar a concepção (metanoia), pois o único caminho que conduz o homem a Deus é Cristo.

Há cinco vantagens em se dar esmola:

É reparação por pecados cometidos;

Acumula-se méritos para a vida eterna;

Permite o perdão dos pecados;

Aumentam a confiança em Deus;

Inspira os pobres a rezarem por seus benfeitores.

Observe essa reprimenda feita a um fariseu:

“E, estando ele, ainda, falando, rogou-lhe um fariseu que fosse jantar com ele; e, entrando, assentou-se à mesa. Mas, o fariseu admirou-se, vendo que não se lavara antes de jantar. E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Loucos! Quem fez o exterior não fez, também, o interior? Antes, dai esmola do que tiverdes e eis que tudo vos será limpo. Mas, ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, a arruda e toda a sorte de hortaliças e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas e não deixar as outras.” (Lc 11:37-42).

 

Ao dizer:

“Antes daí esmola do que tiverdes e eis que tudo vos será limpo.” (Lc 11:41), ou; “Vendei o que tendes e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, onde não chega ladrão e a traça não rói”, Jesus não estava orientando os fariseus a adotarem a pratica de esmolarem, pois, isso, já faziam. (Lc 12:33)

A determinação de Jesus aos fariseus é a mesma dada ao jovem rico, para que eles fossem prefeitos, como, perfeito, é o Pai Celeste:

“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me.” (Mt 19:21; Mt 5:48);

“Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.” ( Mt 13:4 -46).

O apóstolo Paulo considerou tudo o que possuía como esterco, para ganhar a Cristo, ou seja, ele se desfez de tudo:

“E, na verdade, tenho, também, por perda, todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo.” (Fl 3:8)

Ora, a multidão precisava ser perfeita, como o Pai é perfeito (Mt 5:48) e aí, a necessidade de aprender, acerca da prática das ‘esmolas’.

Para os ouvintes de Jesus serem perfeitos como o Pai celeste, precisavam ser misericordiosos como o Pai celeste: “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:26). O termo grego traduzido por esmola é ελεημοσυνη que, também, significa misericórdia, piedade.

A esmola exigida por Deus, não tinha em vista os pobres, pois Ele mesmo enfatizou:

“Porquanto, sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre.” (Mt 26:11)

Por parábola, Jesus estava ensinando os ouvintes do Sermão do Monte, como se purificarem: entregando a alma a Cristo, seguindo-O como mestre, pois essa é a justiça de Deus, a misericórdia (esmola), que deviam aprender e exercer.

“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício. Porque eu não vim chamar os justos, mas, os pecadores ao arrependimento.” ( Mt 9:13);

“Bem-aventurados os que sofrem perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.” (Mt 5:10-11);

“Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê.” (Rm 10:3-4; Rm 3:22 ; Fl 3:9; Is 42:21).

Cristo é a justiça, pela qual os seus discípulos seriam perseguidos, a justiça que excedia à justiça dos escribas e fariseus:

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e dos fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mt 5:20);

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6:33)

Os escribas e fariseus deviam por em prática o mais importante da lei: o juízo, a misericórdia e a fé e não deixarem de fazer doações aos pobres, pois o conceito de ‘justiça’ estabelecido por Deus é a obediência à sua palavra, o que, também, se designa por  ‘misericórdia’!

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, mas desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas e não omitir aquelas.” (Mt 23:23)

O que Deus estabeleceu na lei? O que era justiça para Israel? O cuidado em cumprir todos os mandamentos, como Deus ordenou.

“E o SENHOR nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos, que temêssemos ao SENHOR, nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o SENHOR, nosso Deus, como nos tem ordenado.” (Dt 6:24-25)

Mas, passou-se o tempo e o profeta Isaías protestou contra Israel, dizendo:

“CLAMA em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó os seus pecados. Todavia me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça e têm prazer em se chegarem a Deus…” (Is 58:1-2)

Se a justiça para Israel era cumprir o que Deus ordenou, por que perguntavam, a cada dia, pelos direitos da justiça? Respondo: Porque os filhos de Israel confundiam práticas religiosas, como distribuir dinheiro aos pobres (esmola), com o serem ‘misericordiosos’ de fato, ou seja, em Israel não havia quem entendesse: – ‘Misericórdia quero e não sacrifício’.

O registro da parábola do Sermão da Montanha pelo evangelista Lucas, assemelha-se, em muito, ao que Mateus registrou, com relação à ‘misericórdia’, o que nos fornece elementos para melhor compreensão da parábola do Sermão da Montanha, no que concerne às esmolas:

“E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também, os pecadores amam aos que os amam. E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também, os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também, os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto. Amai, pois, a vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno, até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:32-36)

Os versos 32 a 35, do capítulo 6, de Lucas, contém a mesma temática de Mateus 5, versos 46 a 48, exceto pela invocação do que os ouvintes ouviram, acerca da lei:

“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos, também, o mesmo? E se saudardes, unicamente, os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos, também, assim?” (Mt 5:46-48)

Como já vimos, anteriormente, Jesus não estava instituindo novas praticas ou, novos princípios morais, antes, destacando o fato de que tudo o que faziam, a pretexto da lei, os pecadores faziam o mesmo: amam aos que os amam, fazem o bem aos que lhes querem bem, emprestam para receber com juros, etc.

Daí a necessidade de práticas superiores às dos escribas e fariseus, para serem perfeitos: serem misericordiosos, ou seja, deveriam vender tudo o que possuíam e dar aos pobres, ou seja, dar esmola de tudo o que tivessem! (Lc 11:41 e 12:33; Mt 19:21; Mt 5:48)

7. A oração

“E, quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar, em pé, nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo, que já receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.” (Mt 6:5-8)

Assim como a prática de dar esmolas, a oração é prática comum aos diversos segmentos religiosos existentes no mundo e até à algumas correntes filosóficas, que adotam tal prática, a pretexto de meditação.

No judaísmo, cristianismo, islamismo, budismo, espiritismo, etc., a oração é tida por uma ação religioso que faz contato com o divino, através de uma ligação, conversa, pedido, agradecimento, reconhecimento, louvor, adoração ou, reverência, podendo ser individual ou, coletiva.

Daí a pergunta: o que diferencia a oração do cristão, da oração das outras religiões? Qual era o mote da oração dos judeus, que se fez necessário Jesus instrui-los, acerca da oração?

Não podemos esquecer que estamos analisando o Sermão da Montanha, uma grande parábola, pois tem, por público alvo, os judeus, povo religioso, mas que as Escrituras protestavam contra eles como sem compreensão: “Porque são gente com falta de conselhos e neles não há entendimento.” (Dt 32:28)

Considerando a necessidade premente dos ouvintes de Jesus obterem justiça superior à dos escribas e fariseus, para terem direito ao reino dos céus (Mt 5:20), Jesus destaca o comportamento dos lideres da religião judaica, que, continuamente, frequentavam as sinagogas, tinham prazer em fazer suas orações, em pé, nas sinagogas e nas esquinas das ruas, com o objetivo de serem notados pelos seus pares.

No mínimo, o comportamento dos ouvintes de Jesus deveria ser diferente dos seus líderes, caso quisessem justiça superior. Se os líderes judaicos já receberam a sua recompensa, ao se fazerem notar quando oram nas praças e nos templos, os ouvintes de Jesus deveriam entrar em seu local de repouso e fechar a porta para orar, sem que os outros percebam, pois é Deus quem ouve as petições e recompensa publicamente.

Semelhantemente, de nada adianta fechar a porta do quarto para orar, mas, quando for testemunhar, anunciar na tribuna, diante de todos, que é um homem ou, mulher de oração ou, exibir joelhos calejados, a pretexto de orar bastante. Muitos pregadores dão testemunho de si mesmos, de que são homens de oração, com o fito de serem reverenciados por seus expectadores!

Além de não se exibirem como os hipócritas, os ouvintes de Jesus são instruídos a não se utilizarem de vãs repetições, como os gentios, que acham que, por muito orar, de algum modo serão atendidos.  Através desse verso, torna-se evidente que o público alvo da mensagem do Sermão do Monte era composto por judeus.

Jesus deixa claro que, para Deus atender a uma oração, Ele não leva em conta o quanto a pessoa ora, como se o tempo em que a pessoa permanece em oração o sensibilizasse. Deus não se assemelha ao juiz iniquo da parábola sobre o dever de orar sempre, sem se desfalecer. (Lc 18:1-8)

Deus não é favorável a qualquer que acredita que será atendido por muito rogar, antes, Deus atende aquele que confia que Ele é misericordioso e galardoador daqueles que O obedecem.

Jesus enfatiza que Deus conhece aquilo que o homem há de pedir, antes, mesmo, de formular o pedido. O crente, quando ora a Deus, assim, o faz, porque confia na misericórdia divina,  não porque Deus desconhece os seus problemas ou, o que vai pedir.

Observe que Jesus só analisa a maneira que os escribas e fariseus oravam e recomenda a seus ouvintes que mudem a forma de fazê-lo. Ao apontar o jeito que os escribas e fariseus oravam e a maneira que os seus ouvintes deveriam orar, Jesus não estava estabelecendo que a condição para serem ouvidos por Deus era fechar a porta do aposento ou, que o quarto é um lugar especial para Deus.

A proposta de Jesus à multidão é para que, ao menos, a forma e o lugar onde orarem fosse alterada, caso buscassem alcançar justiça superior à dos escribas e fariseus.

A resposta que um jovem, cego de nascença, deu aos escribas e fariseus, após ser curado por Jesus, é a melhor definição de quem Deus ouve a oração e de quem Deus não ouve:

“Ora, nós sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus e faz a sua vontade, a esse ouve.” (Jo 9:31).

Isaías já havia profetizado, explicando o motivo pelo qual Deus não ouvia os filhos de Israel:

“Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e, ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.” (Is 1:15).

Enquanto Deus exigia do povo obediência (1Sm 15:22; Os 6:6), os filhos de Jacó apresentavam-se no templo com sacrifícios, ou seja, com a mão manchada de sangue, pois, quem oferece um boi é como quem mata um homem. (Is 66:3).

 

 8. Perdão

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.” (Mt 6:14 -15)

Para interpretar esses dois versos, devemos considerar:

a) denotação: sentido real, literal da frase, ou o estado de coisas que a frase afirma ser o caso;

b) conotação: a associação subjetiva, cultural e/ou emocional, que está para além do significado estrito ou, literal de uma palavra, frase ou, conceito ou, seja, diz dos sentimentos, ideias ou emoções provocadas pela frase no auditor, e;

c) ênfase: refere-se ao grau de importância que o autor atribui aos diferentes elementos constitutivos da frase.

Portanto, a instrução de Jesus, com relação ao perdão às ofensas dos outros, deve ser analisado, segundo os princípios estampados nos versos 43 à 48, do capítulo 5, de Mateus ou, segundo os princípios de Lucas 6, versos 32 à 36. Observe:

“E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. E se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também, os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto. Amai, pois, a vossos inimigos e fazei bem e emprestai, sem nada esperardes e será grande o vosso galardão e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno, até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:32-36)

 

Analisando os versos acima, do ponto de vista denotativo, o que é ensinado? Que o perdão de Deus só é concedido àqueles que perdoam? Que o perdão de Deus está condicionado ao perdão que os homens dispensam aos seus semelhantes? Que os ouvintes de Jesus tinham que primeiramente perdoar as ofensas dos seus semelhantes para só, então, alcançarem o direito de serem perdoados por Deus?

Sabemos que o perdão que Deus dispensa aos homens tem por base a sua misericórdia e graça, manifesta em Cristo (Rm 4:7; Ef 4:32), o dom de Deus, portanto, é contrário interpretar os versos 14 e 15 de Mateus 6, como se o perdão de Deus estivesse atrelado ao perdão que o homem primeiro dispensa aos seus semelhantes.

Nas nossas Bíblias, a oração do Pai nosso termina com um ‘amém’, porém, em muitos manuscritos do Novo Testamento não há o ‘assim seja’ encerrando o ensinamento acerca de como orar. Há que se considerar que os antigos manuscritos do Novo Testamento não possuíam sinais de pontuação como: vírgula, ponto final, interrogação, exclamação, etc., e, que esses sinais foram introduzidos muito mais tarde.

 

Considerando o que é ensinado na oração do Pai nosso, de que quem roga a Deus pelo perdão das ofensas, espera que Deus o faça graciosamente (como perdoamos os nossos devedores), não se pode aquiescer de uma ideia prescritiva de comportamento, de que Jesus estava ensinando que Deus só perdoa àqueles que perdoam aos seus semelhantes.

 

Já explicamos que, o ‘assim como’, estampado na oração do ‘Pai nosso’, com relação ao perdão (perdoamos os nossos devedores), introduz a ideia de gratuidade, não de dívida, pois se o homem perdoar ou não quem o ofende, Deus nada deve ao homem. (Jó 35:7-8)

“Ora, àquele que faz qualquer obra, não lhe é imputado o galardão, segundo a graça, mas, segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.” (Rm 4:4-5)

O ‘assim como perdoamos os nossos devedores’ não é elemento que torna o homem merecedor do perdão divino e nem estabelece uma dívida de Deus para com os homens, antes, indica a base do perdão divino: benevolência, gratuidade.

Antes de abordar as questões relacionadas à religiosidade dos judeus, como esmolas e orações, a ordem expressa de Cristo para os seus ouvintes era para que fossem ‘perfeitos’, ou seja, ‘misericordiosos’ como o Pai celeste, portanto, após questionar as práticas religiosas (esmolas e oração) dos líderes judaicos e ensinar o ‘Pai nosso’, o que se segue são perguntas que exigem dos ouvintes de Jesus respostas, segundo a perfeição divina (que faz que o sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos), e não uma ordem que estabeleça uma barganha pelo perdão divino.

O núcleo da indagação dos versos 14 e 15 de Mateus 6, ou seja, a ênfase, retoma a ideia abordada anteriormente: ‘Se vocês amam somente os que vos amam e cumprimentam somente os que vos cumprimentam, não fazem os publicanos e os gentios o mesmo?’, pois, se os ouvintes de Jesus desejavam entrar nos céus, não podiam se contentar com práticas semelhantes às dos escribas e fariseus; além do mais, não estavam fazendo nada de mais, se comparada as práticas dos ouvintes às práticas dos seus líderes, os publicanos e gentios!

A partícula ‘se’, no verso 14, de Mateus 6, introduz uma argumentação conclusiva, com base no que já foi exposto, não um mandamento a ser observado, que represente uma espécie de barganha com Deus, para alcançar o Seu perdão.

A ideia expressa é: Se os ouvintes de Jesus (homens falhos) perdoavam as ofensas dos seus semelhantes, o Pai celeste também haveria de perdoá-los!

“se Pois perdoardes às pessoas as ofensas delas, perdoará também a vós o Pai vosso o celeste”.

Esse argumento será repetido no capítulo 7, do seguinte modo:

“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7:11)

Se os ouvintes de Jesus, sendo maus, perdoavam as ofensas dos seus semelhantes, o Pai celeste, também, haveria de perdoá-los!

Com base no verso 45, do capítulo 5 de Mateus: “Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos”, se os ouvintes de Jesus não perdoassem as pessoas, considerando que Deus é perfeito, seria o caso de ‘nem mesmo’ (οὐδὲ) Deus perdoá-los?

Vale destacar que o ensinamento do apóstolo Paulo às igrejas, no quesito perdão, difere da temática do ensinamento de Jesus à multidão, visto que os públicos alvos das mensagens são diferentes: Cristo falava por parábolas ao povo, enquanto que o apóstolo Paulo falava abertamente aos cristãos.

O apóstolo Paulo exorta os cristãos a perdoarem uns aos outros, sendo benignos e misericordiosos. Entretanto, já estavam perdoados por Deus, através de Cristo e precisavam tomar Cristo como exemplo, perdoando os irmãos. Em momento algum é posta a condição de ser necessário perdoar o outro para ser perdoado.

“Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.” (Cl 3:13)

“Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como, também, Deus vos perdoou em Cristo.” (Ef 4:32).

Os cristãos, também, são exortados a terem paz, uns com os outros, e com relação aos não cristãos, se depender do cristão, que tenham paz com todos os homens:

“Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens” (Rm12:18);

“Tende paz entre vós.” (1 Ts 5:13)

Diferentemente, Jesus demonstra aos seus interlocutores que, se queriam ser perfeitos, ou seja, obterem justiça superior à dos escribas e fariseus, deveriam imitar a Deus como filhos, que faz vir chuva sobre bons e maus.

 

9. O jejum

“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados, como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade, vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará, publicamente” (Mt 6:16-18).

A questão do jejum é a última prática religiosa dos judeus que Jesus aborda e deve ser analisado, através das mesmas premissas que analisamos a esmola e a oração.

Devemos considerar a ordem para serem perfeitos e misericordiosos:

“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:48), ou;

“Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:36).

Em que os judeus eram diferentes dos gentios e publicanos, quando davam donativos, se os gentios e os publicanos faziam o mesmo? Em que os judeus eram diferentes dos gentios e publicanos, se os judeus, semelhantemente, aos gentios e publicamos, oravam se utilizando de vãs repetições? Como os jejuns dos judeus se diferenciavam dos jejuns dos publicanos, que eles consideravam pecadores?

Após informar aos seus ouvintes, que era impossível entrarem no reino dos céus se não alcançassem justiça superior à dos escribas e fariseus, e abordar a questão da esmola e da oração, Jesus faz uma observação, acerca do jejum praticado pelos escribas e fariseus.

 

Quando jejuavam, os escribas e fariseus, simplesmente, se ocupavam em desfigurar os seus rostos (fazer cara fechada), para que os outros percebessem que eles estavam em jejum; os escribas e fariseus, nem mesmo lavavam e ungiam a cabeça, segundo o costume, para demonstrarem a sua devoção e religiosidade.

Nesse sentido, Jesus alerta os seus ouvintes a não jejuarem para serem notados pelos homens, mas que não se mostrassem contristados, quando jejuassem, pois Deus tudo vê. Os ouvintes de Jesus deveriam se portar, naturalmente, quando jejuassem: lavar o rosto, ungir a cabeça, alegrar o semblante, etc.

O jejum era uma prática religiosa muito utilizada pelos escribas e fariseus, tanto que questionaram Jesus sobre o motivo dos seus discípulos não jejuarem, e inclusive, comparam os discípulos de Cristo, com os discípulos de João Batista.

“Disseram-lhe, então, eles: Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes e fazem orações, como, também, os dos fariseus, mas os teus comem e bebem?” (Lc 5:33).

A resposta de Jesus foi surpreendente:

“Podeis vós fazer jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles?” (Lc 5:34).

O que é o jejum? O jejum é contristar-se diante de Deus e foi instituído por Deus, atrelado ao dia de descanso, ou seja, um sábado (dia aprazível ao Senhor Deus).

“É um sábado de descanso para vós e afligireis as vossas almas; isto é estatuto perpétuo.” (Lv16:31).

 

O ‘afligir’ da alma, ou seja, o jejum, não é uma prática que infligisse ao corpo a algum tipo de sofrimento, como flagelo, abstenção, ascetismo, etc. Por outro lado, as ervas amargas já tinham o viés de lembrá-los do sofrimento do Egito e que Deus, com mão forte, os resgatou da servidão.

Os filhos de Israel deveriam afligir a alma, não o corpo. O que seria afligir a alma? Reconhecer a sua real condição, diante de Deus, a partir do exposto em sua palavra, não a partir de convicções próprias.

Não encontramos no Pentateuco uma ordem expressa de Deus para que o povo jejuasse, antes, deveriam afligir a alma.

Um filho de Jacó afligiria a alma no momento que reconhecesse que não foi por causa de suas justiças que Deus resgatou os filhos de Israel do Egito, mas, sim, porque Deus cumpriu o prometido a Abraão (Dt 9:4-6). Reconhecer a sua real condição, diante do que Deus revela e passar a agir conforme a palavra de Deus, é afligir a alma.

Mas, com o passar do tempo, o que deveriam considerar segundo a palavra Deus, tornou-se um elemento de culto e, em vez de afligirem a alma, passaram a não comer, não lavar o rosto e nem a utilizar perfume, o que designaram por jejum.

Jejuar, ou melhor, afligir a alma não consiste em ficar cabisbaixo, moribundo, melancólico, etc., ou, sem lavar o rosto, sem ungir a cabeça ou, sem se alimentar.

“Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao SENHOR?” (Is 58:5)

Observe a repreensão de Deus, por intermédio do profeta Isaías, de que o verdadeiro jejum não consistia em ficar cabisbaixo, antes seria deixar de ser altivo, de dura cerviz. Jejuar, também, não consistia em deitar-se sobre pano de saco ou sobre cinzas, antes é humilhar-se a si mesmo, fazendo-se servo de Deus.

Deus nunca chamou o ato de andar cabisbaixo ou, de deitar-se sobre saco e cinza, como jejuar ou, como afligir a alma. O verdadeiro jejum se dá quando o homem considera a sua condição de dura servis e abaixa a cabeça, sujeitando-se ao jugo de Deus, ou seja, reconhecendo a sua condição e se fazendo servo, obedecendo à palavra de Deus.

Os filhos de Israel confundiam o ato de jejuar com o afligir a alma (Is 58:3). Reclamavam que jejuavam e Deus não atendia, porém, Deus nunca requereu que jejuassem, ficando sem comer, cabisbaixos, vestindo pano de saco ou, assentando-se em cinzas. (Is 58:5)

O verdadeiro Sábado (dia) de jejum, não visava chamar a atenção de Deus para as desventuras diárias daqueles que jejuassem, antes, o jejum demandava obediência a Deus, cuidando em soltar os cativos do pecado, as ataduras que prendem o homem ao jugo da servidão, que é a morte.

Deus ordena a quem jejua que distribua pão ao faminto. Jejuar é distribuir pão gratuitamente? Deus não estava falando de pão cotidiano, quando apontou o jejum verdadeiro. O pão dos verdadeiros israelitas diz da salvação, que há em Deus, que dá liberalmente aos pobres de espírito pão e vestes de justiça aos nus.

“Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos e despedaces todo o jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras e não te escondas da tua carne?” (Is 58:6-7);

“Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre” (2 Co 9:9; Sl 102:9);

“Dizendo: Por que jejuamos nós e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais, achais o vosso próprio contentamento e requereis todo o vosso trabalho” (Is 58:3).

O verdadeiro jejum não era ficar com fome, mas abrir a alma ao faminto. Faminto de que? Ao faminto de justiça! O faminto se farta do pão providenciado do Deus que é dado a qualquer que tenha fome e sede de justiça.

“E se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita; então, a tua luz nascerá nas trevas e a tua escuridão será como o meio-dia.” (Is 58:10; Is 55:1-3).

Como se abre a alma ao faminto? Anunciando as palavras de Deus: que Ele fez uma aliança perpétua, ao prometer o Cristo a Davi. (Is 55:3)

O jejum, como o afligir da alma, assim, como todos os elementos instituídos pela lei, era sombra de uma realidade, que remete a Cristo. Cristo é Senhor do Sábado, a alegria do Senhor, portanto, em Cristo o homem já entrou no repouso (descanso) de Deus, que o sábado na Antiga Aliança representava.

 

“Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas” (Hb 4:10);

“PORQUE tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem, cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam.” (Hb 10:1)

A festa anual de expiação, no dia dez do sétimo mês, era uma festa de jejum (Lv 16:29). Era um dia de descanso, ou seja, um sábado, que poderia ser qualquer dia da semana, pois era o décimo dia do sétimo mês (Lv 16:31). Como Deus ouve o aflito que clamar (Lv 22:23), quando foi dito para afligir a alma, Deus estava conclamando os filhos de Israel a clamarem ao Senhor, confiando em sua misericórdia (Jl 2:32), não para ficarem sem comer, pois era um dia de festa ao Senhor e nesses dias havia muita comida e bebida.

Ao instruir aos seus ouvintes para não se mostrarem contristados, quando jejuassem, Jesus estava dando elementos para que questionassem as práticas dos seus líderes religiosos e, concomitantemente, fazer uma releitura do que é o jejum exigido por Deus. (Mt 6:16)

Quando os ouvintes de Jesus jejuassem, deveriam lavar o rosto e ungir a cabeça com óleo, ou seja, manterem-se de semblante alegre. Se não parecia aos homens que jejuavam (Mt 6:18), mas a Deus, certo é que haveriam de compreender o exposto pelo profeta Isaías.

“Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?” (Is 58:6-7)

10. Cuidados gerais

Os tesouros no céu (6:19-24): quem se preocupa demais com os bens materiais, se preocupa com aquilo que irá naturalmente se degradar ou se perder. Quem se preocupa com as coisas do céu, se preocupa com o que é eterno. Jesus ensina que ao invés de nos preocuparmos em acumular tesouros nessa vida, devemos nos empenhar em acumular tesouros na vida eterna.

As preocupações da vida (6:25-34): Jesus instrui que as pessoas devem se preocupar com as coisas eternas, em vez de coisas passageiras. O Reino de Deus e a sua justiça deve ser a maior preocupação do cristão, não roupa, comida ou emprego.

Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês.

Mateus 6:33

Julgamento ao próximo (7:1-6): esse é um trecho muito mal interpretado, pois Jesus não está proibindo as pessoas de julgarem, mas as instrui para julgarem de maneira correta. Antes de dizer que alguém está errado ou fazendo algo errado, deve-se investigar a si mesmo para ver se não está tropeçando na mesma coisa, pois seria hipocrisia.

Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.

Mateus 7:5

 

Persistência na oração (7:7-12): nesse trecho Jesus ressalta a confiança que as pessoas devem ter em Deus, e que Ele suprirá nossas necessidades. Por isso, devemos continuar orando e pedindo a Deus.

11. A prática da verdade

Porta estreita e porta larga (7:13-14): uma das falas mais duras que Jesus já disse. Aqui ele explica que entrar no Reino dos Céus não é algo fácil e a vida de quem segue a Deus também não será, envolverá perdas e restrições. Por outro lado, o caminho do mundo e da libertinagem é muito mais fácil, mas certamente não levará ninguém à Deus.

Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela.

Mateus 7:13

A Árvore e seu Fruto (7:15-23): Esse trecho serve para saber quem é de Deus e quem não é: pelas suas obras. Quem possui bons frutos, deve ser uma pessoa boa. Mas quem tem maus frutos, deve ser uma pessoa má. Ainda assim, deve-se ter em vista que Jesus está se referindo, em especial, aos falsos mestres (7:15), ou seja, sua maior preocupação é com a qualidade do ensino que as pessoas estão consumindo.

O Prudente e o Insensato (7:24-29): Nesse trecho Jesus mostra a importância do seu ensino. Quem o ouve e pratica é sábio e salva sua vida. Quem o ouve mas não pratica é tolo e encontrará somente perdição.

Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha.

Mateus 7:24

 

Construindo sobre a rocha Quem não gostaria de ter uma casa com vista para o mar? Mas muitas casas de praia são construídas sobre areia, sem um alicerce sólido. Resultado: as casas desabam facilmente. Toda casa precisa de um bom alicerce, e toda vida também.

Jesus - o bom alicerce

Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mateus 7:24-25

— Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha.

Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela não desabou, porque tinha sido construída sobre a rocha.

- Mateus 7:24-25

Sua vida é como uma casa. Você a constrói, passo a passo, e dedica tempo e esforço à construção. Na base de tudo aquilo que você faz estão suas crenças e convicções, que precisam estar alicerçadas sobre alguma coisa.

 

Jesus é a rocha que pode segurar sua vida. Ele é a verdade, a base sólida para sua vida. Quando você vive de acordo com os ensinamentos de Jesus, você mostra que sua fé está firmada nele. A fé em Jesus molda toda a arquitetura de sua vida.

A solidez da casa reflete a solidez do alicerce. Quando você alicerça sua fé em Jesus, a rocha, você encontra firmeza para superar as tempestades da vida. As dificuldades podem ser muito grandes mas a casa não vai cair! Jesus segura sua vida.

12. O alicerce errado

Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda. Mateus 7:26-27

E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia.

Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.

- Mateus 7:26-27

 

Todas as outras coisas deste mundo são como a areia - mudam e desaparecem. Pôr sua fé nelas é loucura!

 

Riqueza, família, trabalho, amizades, saúde... São coisas boas, mas não são um alicerce sólido para sua vida. Se você constrói sua casa sobre elas, de um dia para outro elas podem desaparecer e sua vida vai desmoronar. Não são material para alicerce.

 

Não basta ouvir a palavra de Deus. É preciso pôr em prática. Quem ouve, mas não pratica mostra que não crê de verdade. Seu alicerce ainda está na areia, embora saiba que a rocha é melhor. E o resultado é trágico.

 

Alicerce sua fé em Jesus e construa sua vida sobre seus ensinamentos. Em Jesus sua vida está segura.