Sabemos que Jesus não
veio ao mundo para revogar a lei, mas, sim, para cumpri-la. Nesse sentido, é
inadmissível a ideia de acrescer ou diminuir qualquer mandamento à lei:
“Não acrescentareis à
palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos
do SENHOR vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4:2);
“Nada acrescentes às
suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30:6).
Se a multidão
entendesse que, no Sermão do Monte, Jesus estivesse acrescentando à lei um novo
mandamento, por menor que fosse o mandamento ou, proposta de alteração, não
sofreriam o discurso passivamente.
Por que a multidão não
se enfureceu e se arremeteu contra Cristo, ao ouvir o Sermão da Montanha? Jesus
estava apresentando ao povo um novo código moral e de condutas, em substituição
à lei?
Que ênfase considerar,
ao ler o discurso de Jesus?
1. Adultério
“Ouvistes o que foi
dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer
que atentar numa mulher para cobiçá-la, já, em seu coração, cometeu adultério
com ela” (Mateus 5:27-28)
Jesus aponta outro
ponto da lei: “Ouvistes o que foi dito: Não adulterarás” (Mt 5:27), em seguida,
alerta que não bastava aos seus ouvintes absterem-se das relações sexuais
ilícitas, pois, qualquer que atentar para uma mulher para cobiçá-la, em seu
coração já adulterou!
“Eu, porém, vos digo,
que qualquer que atentar numa mulher para cobiçá-la, já, em seu coração,
cometeu adultério com ela” (Mt 5:28).
Por que Jesus cita a
lei e, em seguida, apresenta regras próprias mais rígidas que a lei?
“Eu, porém, vos digo…”
O ensinamento de Jesus
era totalmente diferente dos seus antecessores. Os escribas e fariseus
enfatizavam a lei, Cristo enfatiza os seus ouvintes, perante a lei.
Para compreender a
proposta de Jesus, em relação ao adultério, temos de considerar o seu alerta,
no início do discurso à multidão, que eles precisavam de justiça superior à dos
escribas e fariseus, a fim de terem direito a entrar no reino dos céus.
“Porque vos digo que,
se a vossa justiça não exceder à dos escribas e fariseus, de modo nenhum
entrareis no reino dos céus” (Mt 5:20).
Como alcançar justiça
superior à dos escribas e fariseus, se tudo o que faziam, segundo a lei, os
publicanos faziam exatamente o mesmo?
“Pois, se amardes os
que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos, também, o mesmo? E
se saudardes, unicamente, os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os
publicanos, também, assim?” (Mt 5:46-47).
O motivo de Jesus ter
apresentado a lei e, em seguida, apresentado a sua determinação, visava
alcançar a compreensão dos seus ouvintes, que se achavam justos, por ouvirem a lei, porém, os
publicanos que eles consideram pecadores faziam exatamente o mesmo!
Os judeus amavam aqueles
que os amavam, saudavam aqueles que os saudavam, e se achavam justos diante de
Deus, por causa da lei. O que os ouvintes de Jesus faziam a mais que os seus
concidadãos cobradores de impostos?
O pensamento do fariseu
– da parábola – que foi ao templo orar e deu graças por não ser como os demais
homens: roubadores, injustos e adúlteros e nem mesmo como o publicano, além de
jejuar duas vezes na semana e dar os dízimos de tudo quanto possuía (Lc
18:11-12), era a tônica dos ouvintes de Jesus.
O fariseu da parábola
não roubava, não era ‘injusto’ e não adulterava, e mesmo assim, não voltou para
casa justificado. Por quê? Porque o fariseu não tinha a justiça superior que o
permitiria entrar no reino dos céus (Lc 18:11).
Se os ouvintes de Jesus
desejavam justiça superior à dos escribas e fariseus, não deveriam fazer tão
somente o que os fariseus faziam: não adulterar. Em face da necessidade dos
seus ouvintes, é que entra a proposta de Jesus: nem mesmo poderiam atentar para
uma mulher para a cobiçar, pois já teriam cometido adultério no coração (Mt
5:28).
Se fossem capazes de
fazer o que Jesus estava ordenando, adotando uma regra de conduta superior à
dos escribas, fariseus e publicanos, em relação ao adultério, quiçá alcançassem
a justiça superior à dos seus líderes religiosos, que os permitisse entrar no
reino dos céus.
Arranque o olho que
escandaliza
“Portanto, se o teu
olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é
melhor que se perca um dos teus membros, do que seja todo o teu corpo lançado
no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para
longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca, do que seja
todo o teu corpo lançado no inferno” (Mt 5:29-30).
Jesus apresenta uma
solução aos que se deixassem levar pela concupiscência dos olhos:
– “Arranca-o e atira-o
para longe de ti”!
Se o olho dos ouvintes
de Jesus os fizesse tropeçar, de modo que atentassem para uma mulher e a
cobiçasse, a proposta de Jesus é: arranca-o e atira-o para longe de ti! Quem
dentre os ouvintes de Jesus, a pretexto de não ir para o inferno, teria coragem
de arrancar um dos seus olhos?
Arrancar o olho, após
incorrer no erro de atentar para uma mulher, para cobiçá-la, é uma proposta
diferente à prática proposta pelos escribas e fariseus! Para alguém que
necessita de justiça superior à dos escribas e fariseus, a fim de ter direito a
entrar no reino dos céus, é melhor que se perca um dos seus membros, do que ser
lançado todo o corpo no inferno.
Satisfazer qualquer
exigência necessária, para se alcançar justiça superior à dos escribas e
fariseus, a fim de entrar nos céus, deve ser a meta do homem e se alguma coisa
o faz tropeçar (escandalizar), que seja removido. Se a mão direita é causa de
tropeço, que seja cortada e lançada para longe! É melhor perder um membro, do
que ter o corpo inteiro lançado no inferno.
“Portanto, se o teu
olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti” (Mt 5:29).
A proposta de Jesus é
prescritiva de comportamento, visando estabelecer uma moral superior à dos
escribas e fariseus ou, visa provocar nos seus ouvintes uma mudança de
pensamento (arrependimento/metanoia)?
2. O divorcio
“Também foi dito:
Qualquer que deixar sua mulher dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo
que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz
que ela cometa adultério e qualquer que casar com a repudiada, comete
adultério” (Mateus 5:31 -32).
Os judeus tinham ouvido
que, aquele que deixasse a sua esposa, que lhe desse carta de divórcio. Mas,
para produzir uma mudança de concepção nos seus ouvintes, acerca da justiça de
Deus, Jesus alerta que, qualquer que se divorcia de sua mulher, a não ser por
imoralidade por parte dela, faria com que tanto a mulher repudiada, quanto quem
se casasse com ela, cometessem adultério.
Jesus estava ab-rogando
a lei dada por Moisés? O que Jesus intentava, ao anunciar que, o que estava
estabelecido na lei, era pouco? Sabemos que qualquer alteração em uma lei
estabelece uma nova, revogando a antiga, mas esse não era o objetivo de Jesus,
pois Ele mesmo disse:
“Não cuideis que vim
destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir” (Mt 5:17).
Considerando que Jesus
estava falando ao povo e que ele nunca falava ao povo sem parábolas (Mc 4:34),
certo é que a proposta de Jesus não era impor novas regras sociais acerca da
união conjugal aos seus ouvintes, antes, a proposta é apresentar uma grande
parábola, que conduzisse os seus ouvintes a compreenderem a necessidade de se
buscar o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6:33), pois, somente a justiça de
Cristo, o reino de Deus, é superior à justiça dos escribas e fariseus.
Devemos considerar que
Jesus não veio anular, omitir ou acrescentar o estabelecido pelos profetas,
portanto, é contra senso entender o anunciado no Sermão da Montanha, como sendo
uma ‘nova moral’, pertinente ao reino de Deus.
“Não acrescentareis à
palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos
do SENHOR vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4:2).
Embora o Senhor Jesus
fosse o Verbo eterno encarnado, na condição de Filho, não tinha autonomia para
alterar o estabelecido por Deus pois, na sua primeira vinda, se fez servo.
3. Juramentos
“Outrossim, ouvistes o
que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao
SENHOR. Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis; nem pelo céu,
porque é o trono de Deus; Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem
por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; Nem jurarás pela tua cabeça,
porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, o vosso falar:
Sim, sim; Não, não; porque, o que passa disso, é de procedência maligna”
(Mateus 5:33– 37).
Em seguida, Jesus
aborda a questão dos juramentos, destacando o que dizia a lei: “Outrossim,
ouvistes o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus
juramentos ao SENHOR” (Mt 5:33) para, em seguida, proibi-los de jurar, visto
que não pertenciam aos ouvintes de Jesus as coisas sagradas que eles evocavam
nos juramentos.
Como jurar por algo que
não lhe pertence, como os céus, o trono de Deus? Como jurar pela terra, se ela
pertence a Deus? Como jurar pela cidade santa, se ela pertence ao Messias? Como
jurar por algo que o homem tem por seu, que é o cabelo da sua cabeça, se nem
poder tem para mudar a cor do seu cabelo?
Deus já havia
salientado na lei que a terra lhe pertencia e o povo havia votado que fariam o
que Deus ordenara:
“Agora, pois, se
diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis
a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é
minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as
palavras que falarás aos filhos de Israel. E veio Moisés, chamou os anciãos do
povo, e expôs diante deles todas estas palavras, que o SENHOR lhe tinha
ordenado. Então todo o povo respondeu a uma só voz e disse: Tudo o que o SENHOR
tem falado, faremos. E relatou Moisés ao SENHOR as palavras do povo” (Ex
19:5-8).
Deus não está
interessado em que o homem faça votos, mas,
que cumpra o que já havia votado, que é obedecer à Sua palavra.
“Assim falai, e assim
procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade” (Tg 2:12).
Jesus orienta os seus
ouvintes a terem uma palavra firme e segura, pois os profetas já haviam
alertado que a palavra deles era ‘sim’, mas que não punham por obra o que
diziam.
“Porque o Senhor disse:
Pois que este povo se aproxima de mim, com a sua boca e com os seus lábios me
honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo
consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” (Is 29:13).
Quem honra com a boca,
mas não obedece a Deus, é de procedência maligna: “Ai, nação pecadora, povo
carregado de iniquidade, descendência de malfeitores, filhos corruptores;
deixaram ao SENHOR, blasfemaram o Santo de Israel, voltaram para trás” (Is 1:4).
4. Talião
“Ouvistes que foi dito:
Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal;
mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; E, ao
que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E,
se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te
pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes” (Mt 5:38-42).
Jesus continua o seu
discurso, evidenciando um princípio da lei: “Olho por olho, dente por dente,
mão por mão, pé por pé…” (Ex 21:24) e ordena aos seus ouvintes que não resistam
aos homens violentos. Que, caso fossem agredidos em uma das faces, que
oferecessem a outra.
Nesse mesmo diapasão, se
alguém reclamasse aos ouvintes de Jesus a túnica (vestido) litigiosamente, que
deixassem o adversário levar a capa também. Ou, se alguém exigisse dos ouvintes
de Jesus que se andasse uma milha, que se dispusessem a acompanhá-lo, também,
por duas. Ou, se alguém pedisse algo, que dessem o que foi pedido e, jamais
deixassem de emprestar a qualquer que lhe pedisse.
O que Jesus pretendia
com esse discurso? Mudar as regras que disciplinavam as relações sociais? Dar a
outra face ou, entregar a capa a quem quer a túnica, para obter salvação? Dar a
quem pede e não negar a quem pede emprestado, para obter direito à salvação? É
certo que não!
Jesus pretendia mudar a
lei de Moisés, que é prescritiva de comportamento e disciplina as relações
sociais em seus vários aspectos: casamento, divórcio, empréstimo, penhor,
guerra, etc.? (Ex 24:1-22) O que foi estabelecido por Deus como preceito em
Israel não era justo? A lei não disciplinava o princípio expresso na máxima da
lei do talião: paridade entre ofensa e retribuição? É certo que sim!
No seu discurso Jesus
busca provocar no povo uma mudança de concepção, pois, ao apresentar a
necessidade de uma justiça maior que a dos escribas e fariseus, deixa claro que
é impossível alcançar tal justiça através da total abnegação.
Se os fariseus e os
escribas, pelas obras da lei não tinham direito a ver o reino dos céus, que
ações meritórias o povo deveria praticar, de modo que fosse possível suplantar
a justiça dos seus líderes religiosos?
“Mas Israel, que
buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça” (Rm 9:31).
Muitos veem na sugestão
de ‘dar a outra face a quem ferir’, o pináculo da sabedoria contida na doutrina
de Jesus. No entanto, Jesus estava somente apresentando várias situações que
colocam em xeque a religião judaica, visto que os publicanos e os gentios
tinham o mesmo comportamento que os escribas e fariseus e eram tidos por
pecadores.
A sabedoria de Jesus
está, não em dar a outra face a quem agredir mas, na pergunta que produz a metanoia
(arrependimento):
5. O amor ao próximo
“Ouvistes que foi dito:
Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a
vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso
Pai que está nos céus; Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e
a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que
galardão tereis? Não fazem os publicanos, também, o mesmo? E, se saudardes,
unicamente, os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos,
também, assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está
nos céus” (Mt 5:43-48).
É cediço que o amor ao
próximo é o cumprimento da lei:
“A ninguém devais coisa
alguma, a não ser o amor, com que vos ameis uns aos outros; porque, quem ama
aos outros, cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não
furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro
mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti
mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o
amor” (Rm 13:8-10).
Mas, qual o objetivo de
Jesus em lembrar ao povo o que constava na lei?
“Amará o teu próximo e
odiarás o teu inimigo” (Mt 5:43).
Por que Ele dá a ordem:
“Amai os vossos
inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5:44)?
Basta alguém amar o seu
inimigo, que alcançará a filiação divina? Uma oração em favor dos que
perseguem, é suficiente para a pessoa ser declarada um dos filhos de Deus? Absolutamente,
não!
As ações que Jesus
recomenda à multidão tinham por objetivo mudar a concepção dos seus ouvintes,
não impor-lhe, novas regras sociais. Para os ouvintes de Jesus entrarem no
reino dos céus, o exigido por Deus era justiça superior à dos escribas e
fariseus e, por isso, Ele ordena a amar os inimigos, pois, só amando ao
próximo, a justiça alcançada não suplantaria a dos escribas e fariseus.
Somente praticando
ações superiores às praticadas pelos escribas e fariseus, é que os ouvintes de
Jesus seriam tidos por filhos de Deus, visto que a lei deixa claro que os
filhos de Israel não eram filhos, mas, uma mancha.
“Corromperam-se contra
ele; não são seus filhos, mas a sua mancha; geração perversa e distorcida é”
(Dt 32:5; Is 30:9).
Se os ouvintes de Jesus
queriam alcançar a filiação divina, ou seja, terem justiça maior que a dos
escribas e fariseus, as suas ações deveriam ser da mesma natureza do Pai
celeste, que não faz acepção de pessoas: faz nascer o sol sobre grandes e
pequenos e faz vir chuva sobre justos e injustos.
Partindo do pressuposto
de que quem faz somente o que é ordenado não passa de servo inútil, que
recompensa alguém teria ao fazer somente o estabelecido na lei?
“Assim, também, vós,
quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque
fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17:10).
Tudo o que foi exposto
por Jesus, desde o verso 21, deve ser considerado segundo o prisma dessa
pergunta fundamental:
“Pois, se amais os que
amam a vós, que recompensa tendes? Não é assim que os publicanos também
fazem?”, ou:
“E se saudais apenas os
seus irmãos, o que a mais fazeis? Não é assim que os gentios também fazem?” (Mt
5:47).
Conforme apontado pelo
apóstolo Paulo, os filhos de Israel se achavam melhores que os gentios (Rm 3:9),
e Jesus apresenta várias ações ao povo que, caso quisessem ser diferentes dos
publicanos e gentios, deveriam considerar praticar.
Os filhos de Israel
queriam ser recompensados com o reino dos céus somente amando àqueles que os
amavam, dai a sugestão: amai os vossos inimigos! A proposta de Jesus ante a má
compreensão dos judeus, acerca das coisas de Deus, foi apresentar um
comportamento diferente da dos publicanos e gentios: dê a outra face, a
qualquer que ferir a sua face!
Ir à sinagoga com os
concidadãos e saudá-los nas praças não era algo que pudesse diferenciá-los dos
gentios, pois os gentios também se portavam dessa forma. Através dessa
abordagem, Jesus queria que considerassem que, somente ouvir a lei, não torna
ninguém justo (Rm 2:13) e que os gentios, apesar de não terem a lei de Moisés,
naturalmente, faziam as mesmas coisas que constavam da lei (Rm 2:14).
Ora, só é justificado
quem pratica a lei (Rm 2:13) e como nenhum dos ouvintes de Jesus cumpriam,
totalmente, a lei (Jo 7:19), nenhum deles era melhor que os gentios, portanto,
também, não podiam herdar o reino dos céus. Devemos considerar que, se o homem
tropeça em um só quesito da lei, é transgressor de toda a lei.
“Porque qualquer que
guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg
2:10).
Para os ouvintes de
Jesus alcançar justiça superior à dos escribas e fariseus, precisavam ser
perfeitos, como o pai Abraão:
“Sede vós, pois,
perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:48).
Como ser perfeito diante
de Deus? Basta andar na presença de Deus, assim como Deus ordenou a Abraão:
“Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha
presença e sê perfeito” (Gn 17:1; Dt 18:13).
O homem jamais será
perfeito, de modo a ser possível andar com Deus, antes, por andar com Deus é
que o homem alcança a perfeição, assim como aconteceu com Enoque, Noé e Abraão
(Gn 5:24; Gn 6:9).
A mensagem de Jesus no
Sermão da Montanha estava preparando o povo para a seguinte ordem:
“Disse-lhe Jesus: Se
queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um
tesouro no céu; e vem e segue-me” (Mt 19:21).
Só os que estão em
Cristo são perfeitos, verdadeiros filhos do crente Abraão:
“E estais perfeitos
nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade” (Cl 2:10; Gl 3:7).
Através dessa releitura
do Sermão da Montanha, percebe-se que a proposta de Jesus visava causar nos
seus ouvintes uma mudança de concepção, o tão apregoado ‘arrependimento’!
A mensagem de Jesus não
visava mudança de comportamento, mas, uma mudança de compreensão à vista do
Cristo, o reino de Deus.
“Desde então, começou
Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”
(Mt 4:17).
A ênfase do discurso do
Sermão da Montanha não é moralizante, antes uma repreensão aos filhos de Israel
por entenderem que eram melhores que os gentios por descenderem de Abraão, e
que não precisavam de arrependimento (metanoia). A ênfase do discurso é
sublinhada pelo publico alvo da mensagem, que no caso do Sermão da Montanha
tinha por alvo os filhos de Israel, e não os membros do Corpo de Cristo, a
Igreja ou os gentios não convertidos.
O capítulo 6 do
evangelho, segundo Mateus, é continuação do Sermão da Montanha, portanto, para
interpretá-lo e compreendê-lo, se faz necessário considerar os princípios que
norteiam o discurso de Jesus.
Em primeiro lugar, é
necessário considerar o público alvo do discurso, pois Jesus só falou, por
parábolas, à multidão: “E sem parábolas nunca lhes falava.” (Mc 4:34; Mt 13:13)
Em segundo lugar, é
necessário considerar que a justiça dos seus ouvintes deveria ser superior à de
seus mestres (Mt 5:20), portanto, as
práticas dos ouvintes de Jesus não deveriam ser as mesmas práticas dos escribas
e fariseus, vez que elas não concedem a justiça, que dá direito ao reino dos
céus.
Em terceiro lugar, é
necessário considerar as suas ações, sob o prisma da pergunta: ‘Que fazeis de
mais?’, ou ‘Não fazem os publicanos e pecadores, também, o mesmo?’, visto que
praticavam ações semelhantes àqueles que condenavam e achavam que tinham
direito ao reino dos céus. (Mt 5:46-47)
Após redarguir a
multidão, com base em questões da lei, o Senhor Jesus passa a questionar as
práticas religiosas (esmola, oração e jejum) dos seus ouvintes. (Mt 5:21-48)
6. Esmolas
“GUARDAI-VOS de fazer a
vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis
galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não
faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas
ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já
receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão
esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e
teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.” (Mateus
6:1-4)
Após demonstrar a
impossibilidade de seus interlocutores alcançarem justiça superior à dos seus
líderes religiosos, através da lei, Jesus passa a abordar algumas práticas
religiosas do judaísmo. A forma como a prática das esmolas era realizada é a
primeira questão religiosa a ser analisada.
É importante notar que,
logo após orientar os seus ouvintes a serem perfeitos, como o Pai celestial,
Jesus instrui a multidão a não esmolar, com o fito de serem notados pelos
religiosos, alertando que, quem dá esmola diante dos homens, não será
recompensado por Deus. (Mt 5:48)
Jesus salienta que os
hipócritas (líderes religiosos), tanto nas sinagogas, quanto nas ruas,
procuravam dar esmolas diante de uma plateia, como quem toca uma trombeta,
chamando a atenção para si, no momento que iam esmolar, somente para serem
reverenciados pelos seus pares, pela prática. A atenção destes, já era
recompensa bastante para os hipócritas.
Jesus não proibiu a
prática religiosa de esmolar, mas orientou a multidão que, se fosse dar
esmolas, que o fizesse em oculto, ou seja, sem chamar a atenção (não saiba a
tua mão esquerda o que faz a tua direita), pois, Deus é conhecedor de todas as
coisas e é Ele que recompensará publicamente o doador.
Dar esmolas é uma
prática humanitária adotada pelas religiões e por seus seguidores. Jesus não condena quem dá
donativos aos seus semelhantes, porém, qualquer que pensa que alcançará a
salvação por meio dessa prática, precisa mudar a concepção (metanoia), pois o
único caminho que conduz o homem a Deus é Cristo.
Há cinco vantagens em
se dar esmola:
É reparação por pecados
cometidos;
Acumula-se méritos para
a vida eterna;
Permite o perdão dos
pecados;
Aumentam a confiança em
Deus;
Inspira os pobres a
rezarem por seus benfeitores.
Observe essa reprimenda
feita a um fariseu:
“E, estando ele, ainda,
falando, rogou-lhe um fariseu que fosse jantar com ele; e, entrando,
assentou-se à mesa. Mas, o fariseu admirou-se, vendo que não se lavara antes de
jantar. E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do
copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Loucos!
Quem fez o exterior não fez, também, o interior? Antes, dai esmola do que
tiverdes e eis que tudo vos será limpo. Mas, ai de vós, fariseus, que dizimais
a hortelã, a arruda e toda a sorte de hortaliças e desprezais o juízo e o amor
de Deus. Importava fazer estas coisas e não deixar as outras.” (Lc 11:37-42).
Ao dizer:
“Antes daí esmola do
que tiverdes e eis que tudo vos será limpo.” (Lc 11:41), ou; “Vendei o que
tendes e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos
céus que nunca acabe, onde não chega ladrão e a traça não rói”, Jesus não
estava orientando os fariseus a adotarem a pratica de esmolarem, pois, isso, já
faziam. (Lc 12:33)
A determinação de Jesus
aos fariseus é a mesma dada ao jovem rico, para que eles fossem prefeitos,
como, perfeito, é o Pai Celeste:
“Disse-lhe Jesus: Se
queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um
tesouro no céu; depois vem e segue-me.” (Mt 19:21; Mt 5:48);
“Outrossim, o reino dos
céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando
uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.” ( Mt
13:4 -46).
O apóstolo Paulo
considerou tudo o que possuía como esterco, para ganhar a Cristo, ou seja, ele
se desfez de tudo:
“E, na verdade, tenho,
também, por perda, todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo
Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero
como escória, para que possa ganhar a Cristo.” (Fl 3:8)
Ora, a multidão
precisava ser perfeita, como o Pai é perfeito (Mt 5:48) e aí, a necessidade de
aprender, acerca da prática das ‘esmolas’.
Para os ouvintes de
Jesus serem perfeitos como o Pai celeste, precisavam ser misericordiosos como o
Pai celeste: “Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é
misericordioso.” (Lc 6:26). O termo grego traduzido por esmola é ελεημοσυνη
que, também, significa misericórdia, piedade.
A esmola exigida por
Deus, não tinha em vista os pobres, pois Ele mesmo enfatizou:
“Porquanto, sempre
tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre.” (Mt 26:11)
Por parábola, Jesus
estava ensinando os ouvintes do Sermão do Monte, como se purificarem: entregando
a alma a Cristo, seguindo-O como mestre, pois essa é a justiça de Deus, a
misericórdia (esmola), que deviam aprender e exercer.
“Ide, porém, e aprendei
o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício. Porque eu não vim chamar
os justos, mas, os pecadores ao arrependimento.” ( Mt 9:13);
“Bem-aventurados os que
sofrem perseguição, por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo,
disserem todo o mal contra vós, por minha causa.” (Mt 5:10-11);
“Porquanto, não
conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça,
não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça
de todo aquele que crê.” (Rm 10:3-4; Rm 3:22 ; Fl 3:9; Is 42:21).
Cristo é a justiça,
pela qual os seus discípulos seriam perseguidos, a justiça que excedia à
justiça dos escribas e fariseus:
“Porque vos digo que,
se a vossa justiça não exceder a dos escribas e dos fariseus, de modo nenhum
entrareis no reino dos céus.” (Mt 5:20);
“Mas, buscai primeiro o
reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”
(Mt 6:33)
Os escribas e fariseus
deviam por em prática o mais importante da lei: o juízo, a misericórdia e a fé
e não deixarem de fazer doações aos pobres, pois o conceito de ‘justiça’
estabelecido por Deus é a obediência à sua palavra, o que, também, se designa
por ‘misericórdia’!
“Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, mas
desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis,
porém, fazer estas coisas e não omitir aquelas.” (Mt 23:23)
O que Deus estabeleceu
na lei? O que era justiça para Israel? O cuidado em cumprir todos os
mandamentos, como Deus ordenou.
“E o SENHOR nos ordenou
que cumpríssemos todos estes estatutos, que temêssemos ao SENHOR, nosso Deus,
para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje. E
será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos
perante o SENHOR, nosso Deus, como nos tem ordenado.” (Dt 6:24-25)
Mas, passou-se o tempo
e o profeta Isaías protestou contra Israel, dizendo:
“CLAMA em alta voz, não
te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua
transgressão e à casa de Jacó os seus pecados. Todavia me procuram cada dia,
tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça e não
deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça e têm
prazer em se chegarem a Deus…” (Is 58:1-2)
Se a justiça para
Israel era cumprir o que Deus ordenou, por que perguntavam, a cada dia, pelos
direitos da justiça? Respondo: Porque os filhos de Israel confundiam práticas
religiosas, como distribuir dinheiro aos pobres (esmola), com o serem ‘misericordiosos’
de fato, ou seja, em Israel não havia quem entendesse: – ‘Misericórdia quero e
não sacrifício’.
O registro da parábola
do Sermão da Montanha pelo evangelista Lucas, assemelha-se, em muito, ao que
Mateus registrou, com relação à ‘misericórdia’, o que nos fornece elementos
para melhor compreensão da parábola do Sermão da Montanha, no que concerne às
esmolas:
“E se amardes aos que
vos amam, que recompensa tereis? Também, os pecadores amam aos que os amam. E
se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também, os
pecadores fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a
receber, que recompensa tereis? Também, os pecadores emprestam aos pecadores,
para tornarem a receber outro tanto. Amai, pois, a vossos inimigos, fazei bem e
emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão e sereis filhos
do Altíssimo; porque ele é benigno, até para com os ingratos e maus. Sede,
pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:32-36)
Os versos 32 a 35, do
capítulo 6, de Lucas, contém a mesma temática de Mateus 5, versos 46 a 48,
exceto pela invocação do que os ouvintes ouviram, acerca da lei:
“Pois, se amardes os
que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos, também, o mesmo? E
se saudardes, unicamente, os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os
publicanos, também, assim?” (Mt 5:46-48)
Como já vimos,
anteriormente, Jesus não estava instituindo novas praticas ou, novos princípios
morais, antes, destacando o fato de que tudo o que faziam, a pretexto da lei,
os pecadores faziam o mesmo: amam aos que os amam, fazem o bem aos que lhes
querem bem, emprestam para receber com juros, etc.
Daí a necessidade de
práticas superiores às dos escribas e fariseus, para serem perfeitos: serem
misericordiosos, ou seja, deveriam vender tudo o que possuíam e dar aos pobres,
ou seja, dar esmola de tudo o que tivessem! (Lc 11:41 e 12:33; Mt 19:21; Mt
5:48)
7. A oração
“E, quando orares, não
sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar, em pé, nas sinagogas e nas
esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo, que já
receberam o seu galardão. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e,
fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará publicamente. E, orando, não useis de vãs repetições,
como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos. Não vos
assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes
de vós lho pedirdes.” (Mt 6:5-8)
Assim como a prática de
dar esmolas, a oração é prática comum aos diversos segmentos religiosos
existentes no mundo e até à algumas correntes filosóficas, que adotam tal
prática, a pretexto de meditação.
No judaísmo,
cristianismo, islamismo, budismo, espiritismo, etc., a oração é tida por uma
ação religioso que faz contato com o divino, através de uma ligação, conversa,
pedido, agradecimento, reconhecimento, louvor, adoração ou, reverência, podendo
ser individual ou, coletiva.
Daí a pergunta: o que
diferencia a oração do cristão, da oração das outras religiões? Qual era o mote
da oração dos judeus, que se fez necessário Jesus instrui-los, acerca da
oração?
Não podemos esquecer
que estamos analisando o Sermão da Montanha, uma grande parábola, pois tem, por
público alvo, os judeus, povo religioso, mas que as Escrituras protestavam
contra eles como sem compreensão: “Porque são gente com falta de conselhos e
neles não há entendimento.” (Dt 32:28)
Considerando a
necessidade premente dos ouvintes de Jesus obterem justiça superior à dos
escribas e fariseus, para terem direito ao reino dos céus (Mt 5:20), Jesus
destaca o comportamento dos lideres da religião judaica, que, continuamente,
frequentavam as sinagogas, tinham prazer em fazer suas orações, em pé, nas
sinagogas e nas esquinas das ruas, com o objetivo de serem notados pelos seus
pares.
No mínimo, o
comportamento dos ouvintes de Jesus deveria ser diferente dos seus líderes,
caso quisessem justiça superior. Se os líderes judaicos já receberam a sua
recompensa, ao se fazerem notar quando oram nas praças e nos templos, os
ouvintes de Jesus deveriam entrar em seu local de repouso e fechar a porta para
orar, sem que os outros percebam, pois é Deus quem ouve as petições e
recompensa publicamente.
Semelhantemente, de nada
adianta fechar a porta do quarto para orar, mas, quando for testemunhar,
anunciar na tribuna, diante de todos, que é um homem ou, mulher de oração ou,
exibir joelhos calejados, a pretexto de orar bastante. Muitos pregadores dão
testemunho de si mesmos, de que são homens de oração, com o fito de serem
reverenciados por seus expectadores!
Além de não se exibirem
como os hipócritas, os ouvintes de Jesus são instruídos a não se utilizarem de
vãs repetições, como os gentios, que acham que, por muito orar, de algum modo
serão atendidos. Através desse verso,
torna-se evidente que o público alvo da mensagem do Sermão do Monte era
composto por judeus.
Jesus deixa claro que,
para Deus atender a uma oração, Ele não leva em conta o quanto a pessoa ora,
como se o tempo em que a pessoa permanece em oração o sensibilizasse. Deus não
se assemelha ao juiz iniquo da parábola sobre o dever de orar sempre, sem se
desfalecer. (Lc 18:1-8)
Deus não é favorável a
qualquer que acredita que será atendido por muito rogar, antes, Deus atende
aquele que confia que Ele é misericordioso e galardoador daqueles que O
obedecem.
Jesus enfatiza que Deus
conhece aquilo que o homem há de pedir, antes, mesmo, de formular o pedido. O
crente, quando ora a Deus, assim, o faz, porque confia na misericórdia
divina, não porque Deus desconhece os
seus problemas ou, o que vai pedir.
Observe que Jesus só
analisa a maneira que os escribas e fariseus oravam e recomenda a seus ouvintes
que mudem a forma de fazê-lo. Ao apontar o jeito que os escribas e fariseus
oravam e a maneira que os seus ouvintes deveriam orar, Jesus não estava
estabelecendo que a condição para serem ouvidos por Deus era fechar a porta do
aposento ou, que o quarto é um lugar especial para Deus.
A proposta de Jesus à
multidão é para que, ao menos, a forma e o lugar onde orarem fosse alterada,
caso buscassem alcançar justiça superior à dos escribas e fariseus.
A resposta que um
jovem, cego de nascença, deu aos escribas e fariseus, após ser curado por
Jesus, é a melhor definição de quem Deus ouve a oração e de quem Deus não ouve:
“Ora, nós sabemos que
Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém é temente a Deus e faz a sua vontade,
a esse ouve.” (Jo 9:31).
Isaías já havia
profetizado, explicando o motivo pelo qual Deus não ouvia os filhos de Israel:
“Por isso, quando
estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e, ainda que
multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão
cheias de sangue.” (Is 1:15).
Enquanto Deus exigia do
povo obediência (1Sm 15:22; Os 6:6), os filhos de Jacó apresentavam-se no
templo com sacrifícios, ou seja, com a mão manchada de sangue, pois, quem
oferece um boi é como quem mata um homem. (Is 66:3).
8. Perdão
“Porque, se perdoardes
aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se,
porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não
perdoará as vossas ofensas.” (Mt 6:14 -15)
Para interpretar esses
dois versos, devemos considerar:
a) denotação: sentido
real, literal da frase, ou o estado de coisas que a frase afirma ser o caso;
b) conotação: a
associação subjetiva, cultural e/ou emocional, que está para além do
significado estrito ou, literal de uma palavra, frase ou, conceito ou, seja,
diz dos sentimentos, ideias ou emoções provocadas pela frase no auditor, e;
c) ênfase: refere-se ao
grau de importância que o autor atribui aos diferentes elementos constitutivos
da frase.
Portanto, a instrução
de Jesus, com relação ao perdão às ofensas dos outros, deve ser analisado,
segundo os princípios estampados nos versos 43 à 48, do capítulo 5, de Mateus
ou, segundo os princípios de Lucas 6, versos 32 à 36. Observe:
“E se amardes aos que
vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. E se
fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores
fazem o mesmo. E se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que
recompensa tereis? Também, os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem
a receber outro tanto. Amai, pois, a vossos inimigos e fazei bem e emprestai,
sem nada esperardes e será grande o vosso galardão e sereis filhos do
Altíssimo; porque ele é benigno, até para com os ingratos e maus. Sede, pois,
misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:32-36)
Analisando os versos
acima, do ponto de vista denotativo, o que é ensinado? Que o perdão de Deus só
é concedido àqueles que perdoam? Que o perdão de Deus está condicionado ao
perdão que os homens dispensam aos seus semelhantes? Que os ouvintes de Jesus
tinham que primeiramente perdoar as ofensas dos seus semelhantes para só,
então, alcançarem o direito de serem perdoados por Deus?
Sabemos que o perdão
que Deus dispensa aos homens tem por base a sua misericórdia e graça, manifesta
em Cristo (Rm 4:7; Ef 4:32), o dom de Deus, portanto, é contrário interpretar
os versos 14 e 15 de Mateus 6, como se o perdão de Deus estivesse atrelado ao
perdão que o homem primeiro dispensa aos seus semelhantes.
Nas nossas Bíblias, a
oração do Pai nosso termina com um ‘amém’, porém, em muitos manuscritos do Novo
Testamento não há o ‘assim seja’ encerrando o ensinamento acerca de como orar.
Há que se considerar que os antigos manuscritos do Novo Testamento não possuíam
sinais de pontuação como: vírgula, ponto final, interrogação, exclamação, etc.,
e, que esses sinais foram introduzidos muito mais tarde.
Considerando o que é
ensinado na oração do Pai nosso, de que quem roga a Deus pelo perdão das
ofensas, espera que Deus o faça graciosamente (como perdoamos os nossos
devedores), não se pode aquiescer de uma ideia prescritiva de comportamento, de
que Jesus estava ensinando que Deus só perdoa àqueles que perdoam aos seus
semelhantes.
Já explicamos que, o
‘assim como’, estampado na oração do ‘Pai nosso’, com relação ao perdão
(perdoamos os nossos devedores), introduz a ideia de gratuidade, não de dívida,
pois se o homem perdoar ou não quem o ofende, Deus nada deve ao homem. (Jó
35:7-8)
“Ora, àquele que faz
qualquer obra, não lhe é imputado o galardão, segundo a graça, mas, segundo a
dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a
sua fé lhe é imputada como justiça.” (Rm 4:4-5)
O ‘assim como perdoamos
os nossos devedores’ não é elemento que torna o homem merecedor do perdão
divino e nem estabelece uma dívida de Deus para com os homens, antes, indica a
base do perdão divino: benevolência, gratuidade.
Antes de abordar as
questões relacionadas à religiosidade dos judeus, como esmolas e orações, a
ordem expressa de Cristo para os seus ouvintes era para que fossem ‘perfeitos’,
ou seja, ‘misericordiosos’ como o Pai celeste, portanto, após questionar as
práticas religiosas (esmolas e oração) dos líderes judaicos e ensinar o ‘Pai
nosso’, o que se segue são perguntas que exigem dos ouvintes de Jesus
respostas, segundo a perfeição divina (que faz que o sol se levante sobre maus
e bons e a chuva desça sobre justos e injustos), e não uma ordem que estabeleça
uma barganha pelo perdão divino.
O núcleo da indagação
dos versos 14 e 15 de Mateus 6, ou seja, a ênfase, retoma a ideia abordada
anteriormente: ‘Se vocês amam somente os que vos amam e cumprimentam somente os
que vos cumprimentam, não fazem os publicanos e os gentios o mesmo?’, pois, se
os ouvintes de Jesus desejavam entrar nos céus, não podiam se contentar com
práticas semelhantes às dos escribas e fariseus; além do mais, não estavam
fazendo nada de mais, se comparada as práticas dos ouvintes às práticas dos
seus líderes, os publicanos e gentios!
A partícula ‘se’, no
verso 14, de Mateus 6, introduz uma argumentação conclusiva, com base no que já
foi exposto, não um mandamento a ser observado, que represente uma espécie de
barganha com Deus, para alcançar o Seu perdão.
A ideia expressa é: Se
os ouvintes de Jesus (homens falhos) perdoavam as ofensas dos seus semelhantes,
o Pai celeste também haveria de perdoá-los!
“se Pois perdoardes às
pessoas as ofensas delas, perdoará também a vós o Pai vosso o celeste”.
Esse argumento será
repetido no capítulo 7, do seguinte modo:
“Se vós, pois, sendo
maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está
nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7:11)
Se os ouvintes de
Jesus, sendo maus, perdoavam as ofensas dos seus semelhantes, o Pai celeste,
também, haveria de perdoá-los!
Com base no verso 45,
do capítulo 5 de Mateus: “Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons
e a chuva desça sobre justos e injustos”, se os ouvintes de Jesus não
perdoassem as pessoas, considerando que Deus é perfeito, seria o caso de ‘nem
mesmo’ (οὐδὲ) Deus perdoá-los?
Vale destacar que o
ensinamento do apóstolo Paulo às igrejas, no quesito perdão, difere da temática
do ensinamento de Jesus à multidão, visto que os públicos alvos das mensagens
são diferentes: Cristo falava por parábolas ao povo, enquanto que o apóstolo
Paulo falava abertamente aos cristãos.
O apóstolo Paulo exorta
os cristãos a perdoarem uns aos outros, sendo benignos e misericordiosos.
Entretanto, já estavam perdoados por Deus, através de Cristo e precisavam tomar
Cristo como exemplo, perdoando os irmãos. Em momento algum é posta a condição
de ser necessário perdoar o outro para ser perdoado.
“Suportando-vos uns aos
outros e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro;
assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.” (Cl 3:13)
“Antes, sede uns para
com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como,
também, Deus vos perdoou em Cristo.” (Ef 4:32).
Os cristãos, também,
são exortados a terem paz, uns com os outros, e com relação aos não cristãos,
se depender do cristão, que tenham paz com todos os homens:
“Se for possível,
quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens” (Rm12:18);
“Tende paz entre vós.”
(1 Ts 5:13)
Diferentemente, Jesus
demonstra aos seus interlocutores que, se queriam ser perfeitos, ou seja,
obterem justiça superior à dos escribas e fariseus, deveriam imitar a Deus como
filhos, que faz vir chuva sobre bons e maus.
9. O jejum
“E, quando jejuardes,
não vos mostreis contristados, como os hipócritas; porque desfiguram os seus
rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade, vos digo que já
receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava
o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está
em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará, publicamente” (Mt
6:16-18).
A questão do jejum é a
última prática religiosa dos judeus que Jesus aborda e deve ser analisado,
através das mesmas premissas que analisamos a esmola e a oração.
Devemos considerar a
ordem para serem perfeitos e misericordiosos:
“Sede vós, pois,
perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:48), ou;
“Sede, pois,
misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:36).
Em que os judeus eram
diferentes dos gentios e publicanos, quando davam donativos, se os gentios e os
publicanos faziam o mesmo? Em que os judeus eram diferentes dos gentios e
publicanos, se os judeus, semelhantemente, aos gentios e publicamos, oravam se
utilizando de vãs repetições? Como os jejuns dos judeus se diferenciavam dos jejuns
dos publicanos, que eles consideravam pecadores?
Após informar aos seus
ouvintes, que era impossível entrarem no reino dos céus se não alcançassem
justiça superior à dos escribas e fariseus, e abordar a questão da esmola e da
oração, Jesus faz uma observação, acerca do jejum praticado pelos escribas e
fariseus.
Quando jejuavam, os
escribas e fariseus, simplesmente, se ocupavam em desfigurar os seus rostos
(fazer cara fechada), para que os outros percebessem que eles estavam em jejum;
os escribas e fariseus, nem mesmo lavavam e ungiam a cabeça, segundo o costume,
para demonstrarem a sua devoção e religiosidade.
Nesse sentido, Jesus
alerta os seus ouvintes a não jejuarem para serem notados pelos homens, mas que
não se mostrassem contristados, quando jejuassem, pois Deus tudo vê. Os
ouvintes de Jesus deveriam se portar, naturalmente, quando jejuassem: lavar o
rosto, ungir a cabeça, alegrar o semblante, etc.
O jejum era uma prática
religiosa muito utilizada pelos escribas e fariseus, tanto que questionaram Jesus
sobre o motivo dos seus discípulos não jejuarem, e inclusive, comparam os
discípulos de Cristo, com os discípulos de João Batista.
“Disseram-lhe, então,
eles: Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes e fazem orações, como,
também, os dos fariseus, mas os teus comem e bebem?” (Lc 5:33).
A resposta de Jesus foi
surpreendente:
“Podeis vós fazer
jejuar os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles?” (Lc 5:34).
O que é o jejum? O
jejum é contristar-se diante de Deus e foi instituído por Deus, atrelado ao dia
de descanso, ou seja, um sábado (dia aprazível ao Senhor Deus).
“É um sábado de
descanso para vós e afligireis as vossas almas; isto é estatuto perpétuo.”
(Lv16:31).
O ‘afligir’ da alma, ou
seja, o jejum, não é uma prática que infligisse ao corpo a algum tipo de
sofrimento, como flagelo, abstenção, ascetismo, etc. Por outro lado, as ervas
amargas já tinham o viés de lembrá-los do sofrimento do Egito e que Deus, com
mão forte, os resgatou da servidão.
Os filhos de Israel
deveriam afligir a alma, não o corpo. O que seria afligir a alma? Reconhecer a
sua real condição, diante de Deus, a partir do exposto em sua palavra, não a
partir de convicções próprias.
Não encontramos no
Pentateuco uma ordem expressa de Deus para que o povo jejuasse, antes, deveriam
afligir a alma.
Um filho de Jacó
afligiria a alma no momento que reconhecesse que não foi por causa de suas
justiças que Deus resgatou os filhos de Israel do Egito, mas, sim, porque Deus
cumpriu o prometido a Abraão (Dt 9:4-6). Reconhecer a sua real condição, diante
do que Deus revela e passar a agir conforme a palavra de Deus, é afligir a
alma.
Mas, com o passar do
tempo, o que deveriam considerar segundo a palavra Deus, tornou-se um elemento
de culto e, em vez de afligirem a alma, passaram a não comer, não lavar o rosto
e nem a utilizar perfume, o que designaram por jejum.
Jejuar, ou melhor,
afligir a alma não consiste em ficar cabisbaixo, moribundo, melancólico, etc.,
ou, sem lavar o rosto, sem ungir a cabeça ou, sem se alimentar.
“Seria este o jejum que
eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça
como o junco e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e
dia aprazível ao SENHOR?” (Is 58:5)
Observe a repreensão de
Deus, por intermédio do profeta Isaías, de que o verdadeiro jejum não consistia
em ficar cabisbaixo, antes seria deixar de ser altivo, de dura cerviz. Jejuar,
também, não consistia em deitar-se sobre pano de saco ou sobre cinzas, antes é
humilhar-se a si mesmo, fazendo-se servo de Deus.
Deus nunca chamou o ato
de andar cabisbaixo ou, de deitar-se sobre saco e cinza, como jejuar ou, como
afligir a alma. O verdadeiro jejum se dá quando o homem considera a sua
condição de dura servis e abaixa a cabeça, sujeitando-se ao jugo de Deus, ou seja,
reconhecendo a sua condição e se fazendo servo, obedecendo à palavra de Deus.
Os filhos de Israel
confundiam o ato de jejuar com o afligir a alma (Is 58:3). Reclamavam que
jejuavam e Deus não atendia, porém, Deus nunca requereu que jejuassem, ficando
sem comer, cabisbaixos, vestindo pano de saco ou, assentando-se em cinzas. (Is
58:5)
O verdadeiro Sábado
(dia) de jejum, não visava chamar a atenção de Deus para as desventuras diárias
daqueles que jejuassem, antes, o jejum demandava obediência a Deus, cuidando em
soltar os cativos do pecado, as ataduras que prendem o homem ao jugo da
servidão, que é a morte.
Deus ordena a quem
jejua que distribua pão ao faminto. Jejuar é distribuir pão gratuitamente? Deus
não estava falando de pão cotidiano, quando apontou o jejum verdadeiro. O pão
dos verdadeiros israelitas diz da salvação, que há em Deus, que dá liberalmente
aos pobres de espírito pão e vestes de justiça aos nus.
“Porventura não é este
o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as
ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos e despedaces todo o jugo?
Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em
casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras e não te escondas da
tua carne?” (Is 58:6-7);
“Conforme está escrito:
Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre” (2 Co 9:9; Sl
102:9);
“Dizendo: Por que
jejuamos nós e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas e tu
não o sabes? Eis que no dia em que jejuais, achais o vosso próprio
contentamento e requereis todo o vosso trabalho” (Is 58:3).
O verdadeiro jejum não
era ficar com fome, mas abrir a alma ao faminto. Faminto de que? Ao faminto de
justiça! O faminto se farta do pão providenciado do Deus que é dado a qualquer
que tenha fome e sede de justiça.
“E se abrires a tua
alma ao faminto e fartares a alma aflita; então, a tua luz nascerá nas trevas e
a tua escuridão será como o meio-dia.” (Is 58:10; Is 55:1-3).
Como se abre a alma ao
faminto? Anunciando as palavras de Deus: que Ele fez uma aliança perpétua, ao
prometer o Cristo a Davi. (Is 55:3)
O jejum, como o afligir
da alma, assim, como todos os elementos instituídos pela lei, era sombra de uma
realidade, que remete a Cristo. Cristo é Senhor do Sábado, a alegria do Senhor,
portanto, em Cristo o homem já entrou no repouso (descanso) de Deus, que o
sábado na Antiga Aliança representava.
“Porque aquele que
entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas”
(Hb 4:10);
“PORQUE tendo a lei a
sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos
sacrifícios que continuamente se oferecem, cada ano, pode aperfeiçoar os que a
eles se chegam.” (Hb 10:1)
A festa anual de
expiação, no dia dez do sétimo mês, era uma festa de jejum (Lv 16:29). Era um
dia de descanso, ou seja, um sábado, que poderia ser qualquer dia da semana,
pois era o décimo dia do sétimo mês (Lv 16:31). Como Deus ouve o aflito que
clamar (Lv 22:23), quando foi dito para afligir a alma, Deus estava conclamando
os filhos de Israel a clamarem ao Senhor, confiando em sua misericórdia (Jl
2:32), não para ficarem sem comer, pois era um dia de festa ao Senhor e nesses
dias havia muita comida e bebida.
Ao instruir aos seus
ouvintes para não se mostrarem contristados, quando jejuassem, Jesus estava
dando elementos para que questionassem as práticas dos seus líderes religiosos
e, concomitantemente, fazer uma releitura do que é o jejum exigido por Deus.
(Mt 6:16)
Quando os ouvintes de
Jesus jejuassem, deveriam lavar o rosto e ungir a cabeça com óleo, ou seja,
manterem-se de semblante alegre. Se não parecia aos homens que jejuavam (Mt
6:18), mas a Deus, certo é que haveriam de compreender o exposto pelo profeta
Isaías.
“Porventura não é este
o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as
ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?
Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em
casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas
da tua carne?” (Is 58:6-7)
10. Cuidados gerais
Os tesouros no céu
(6:19-24): quem se preocupa demais com os bens materiais, se preocupa com
aquilo que irá naturalmente se degradar ou se perder. Quem se preocupa com as
coisas do céu, se preocupa com o que é eterno. Jesus ensina que ao invés de nos
preocuparmos em acumular tesouros nessa vida, devemos nos empenhar em acumular
tesouros na vida eterna.
As preocupações da vida
(6:25-34): Jesus instrui que as pessoas devem se preocupar com as coisas
eternas, em vez de coisas passageiras. O Reino de Deus e a sua justiça deve ser
a maior preocupação do cristão, não roupa, comida ou emprego.
Busquem, pois, em
primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão
acrescentadas a vocês.
Mateus 6:33
Julgamento ao próximo
(7:1-6): esse é um trecho muito mal interpretado, pois Jesus não está proibindo
as pessoas de julgarem, mas as instrui para julgarem de maneira correta. Antes
de dizer que alguém está errado ou fazendo algo errado, deve-se investigar a si
mesmo para ver se não está tropeçando na mesma coisa, pois seria hipocrisia.
Hipócrita, tire
primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do
olho do seu irmão.
Mateus 7:5
Persistência na oração
(7:7-12): nesse trecho Jesus ressalta a confiança que as pessoas devem ter em
Deus, e que Ele suprirá nossas necessidades. Por isso, devemos continuar orando
e pedindo a Deus.
11. A prática da verdade
Porta estreita e porta
larga (7:13-14): uma das falas mais duras que Jesus já disse. Aqui ele explica
que entrar no Reino dos Céus não é algo fácil e a vida de quem segue a Deus
também não será, envolverá perdas e restrições. Por outro lado, o caminho do
mundo e da libertinagem é muito mais fácil, mas certamente não levará ninguém à
Deus.
Entrem pela porta
estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são
muitos os que entram por ela.
Mateus 7:13
A Árvore e seu Fruto
(7:15-23): Esse trecho serve para saber quem é de Deus e quem não é: pelas suas
obras. Quem possui bons frutos, deve ser uma pessoa boa. Mas quem tem maus
frutos, deve ser uma pessoa má. Ainda assim, deve-se ter em vista que Jesus
está se referindo, em especial, aos falsos mestres (7:15), ou seja, sua maior
preocupação é com a qualidade do ensino que as pessoas estão consumindo.
O Prudente e o
Insensato (7:24-29): Nesse trecho Jesus mostra a importância do seu ensino.
Quem o ouve e pratica é sábio e salva sua vida. Quem o ouve mas não pratica é
tolo e encontrará somente perdição.
Portanto, quem ouve
estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua
casa sobre a rocha.
Mateus 7:24
Construindo sobre a
rocha Quem não gostaria de ter uma casa com vista para o mar? Mas muitas casas
de praia são construídas sobre areia, sem um alicerce sólido. Resultado: as
casas desabam facilmente. Toda casa precisa de um bom alicerce, e toda vida
também.
Jesus - o bom alicerce
Portanto, quem ouve
estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua
casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e
deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha.
Mateus 7:24-25
— Todo aquele, pois,
que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente
que construiu a sua casa sobre a rocha.
Caiu a chuva,
transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela
casa, e ela não desabou, porque tinha sido construída sobre a rocha.
- Mateus 7:24-25
Sua vida é como uma casa.
Você a constrói, passo a passo, e dedica tempo e esforço à construção. Na base
de tudo aquilo que você faz estão suas crenças e convicções, que precisam estar
alicerçadas sobre alguma coisa.
Jesus é a rocha que
pode segurar sua vida. Ele é a verdade, a base sólida para sua vida. Quando
você vive de acordo com os ensinamentos de Jesus, você mostra que sua fé está
firmada nele. A fé em Jesus molda toda a arquitetura de sua vida.
A solidez da casa
reflete a solidez do alicerce. Quando você alicerça sua fé em Jesus, a rocha,
você encontra firmeza para superar as tempestades da vida. As dificuldades
podem ser muito grandes mas a casa não vai cair! Jesus segura sua vida.
12. O alicerce errado
Mas quem ouve estas
minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa
sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram
contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda. Mateus 7:26-27
E todo aquele que ouve
estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que
construiu a sua casa sobre a areia.
Caiu a chuva,
transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela
casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.
- Mateus 7:26-27
Todas as outras coisas
deste mundo são como a areia - mudam e desaparecem. Pôr sua fé nelas é loucura!
Riqueza, família,
trabalho, amizades, saúde... São coisas boas, mas não são um alicerce sólido
para sua vida. Se você constrói sua casa sobre elas, de um dia para outro elas
podem desaparecer e sua vida vai desmoronar. Não são material para alicerce.
Não basta ouvir a
palavra de Deus. É preciso pôr em prática. Quem ouve, mas não pratica mostra
que não crê de verdade. Seu alicerce ainda está na areia, embora saiba que a
rocha é melhor. E o resultado é trágico.
Alicerce sua fé em Jesus e construa sua vida sobre seus ensinamentos. Em
Jesus sua vida está segura.